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3. OBRAS MUSICAIS JOANINAS

3.2. OBRAS SACRAS

As obras sacras enriqueceram o repertório musical joanino no Brasil. Uma grande quantidade de obras desse género foi composta pelos três principais compositores do período estudado. Como já descrito, a forte predileção pela música religiosa por parte da corte portuguesa e o catolicismo enquanto religião oficial do período joanino no Brasil, foram fatores importantes para o resultado da grande produção das obras religiosas.

Após a chegada da corte em 1808, sabe-se que José Maurício foi o único mestre da capela real durante três anos. Segundo Pacheco (2009), nesse período a linha vocal se transformou gradativamente. O padre pôde compor suas obras livre da concorrência que estaria para vir, se adequando ao gosto musical da corte e aproveitando dos solistas europeus que aos poucos estavam chegando ao Rio de Janeiro.

Segundo Mattos (1970), em 1808, o referido compositor compôs um credo, com estrutura simples de solo apenas para a linha do baixo, para a catedral do bispado do Rio de Janeiro. No mesmo ano, José Maurício compôs a Missa em Fá, a quatro vozes com acompanhamento de órgão, para o dia da purificação de Nossa Senhora. Tudo indica que esta obra seja a mesma registrada como Missa da Natividade por Joaquim José Maciel32, no

catálogo de obras de José Maurício. Segundo o autor:

A única Missa composta em 1808 para 4 vozes com acompanhamento de órgão, desaparecida do arquivo da C.I. entre 1887 (data do Catálogo de Maciel, que a registra), e 1902 (data do Catálogo de M. P. Vasco, onde essa obra não é mais citada no arquivo), é precisamente a “Missa da Natividade” (Mattos 1970: 149)

32 Joaquim José Maciel foi arquivista da Capela Imperial de 1885 a 1888. Foi autor do Catálogo de obras de composição do Padre José Maurício Nunes Garcia, arquivadas na Capela Imperial, datado em 9 de julho de 1887.

Mattos também ressalta que, no Quoniam desta missa, se exibe um fragmento do Hino Nacional Brasileiro. Para o autor, “o fato, não único na temática mauriciana, já foi assinalado por Andrade Murici e reforça a ideia da presença de J.M. no nosso hino pela impregnação de motivos seus na personalidade de seu aluno F.M.S” (Mattos 1970: 149). Na figura abaixo, pode-se observar o fragmento citado na partitura:

Figura 12 – Trecho do Quoniam de José Maurício

Fonte: Mattos 1970: 149.

Os dois primeiros compassos são executados pelo órgão e, na sequência, divide-se em tenor 1 e 2, na pauta superior, e baixo, na pauta inferior. Como pode se observar no fragmento sinalizado existe uma proximidade ao Hino Nacional Brasileiro, principalmente nas figuras rítmicas, tanto em relação aos tenores, como também na linha do baixo. Pode se perceber com mais clareza na figura 13, o arranjo para 3 vozes pelo professor Miguel Pereira Normandia, datado em 1897, comparado à figura 14, a partitura original do Hino Nacional33.

Figura 13 – Trecho da Missa em Fá – Arranjo Miguel P Normandia (Tenor 1, 2 e baixo)

Fonte: Neto 2014: 13.

Figura 14 – Trecho do Hino Nacional Brasileiro – Francisco Manuel da Silva (Flauta, Oboé e Fagote)

Fonte: Acervo da Secretária da Cultura do Estado do Ceará34.

Segundo Mattos, ainda em 1808, José Maurício compôs a missa para o dia 9 de outubro; trata-se da Missa de S. Pedro de Alcântara, destinada à capela real. Também neste ano, Mattos relata que foi composto o Sollo Qui Sedes, cujo solo vocal ainda não foi encontrado, restando apenas as partes instrumentais onde, segundo o referido autor, existe um belo trabalho de diálogo entre o clarinete e a flauta.

O ano de 1809 foi bem produtivo para José Maurício. Segundo Mattos, o músico compôs a Seqüencia de 5a fr.a do Corpo de Deos; ao referir se à estrutura da peça, o autor ressalta que sua construção se trata de “um só bloco, coeso, forte, concertante, seguida do Aleluia sobre o motivo da Introdução” (Mattos 1970: 232). Segundo Pacheco (2007), nesta obra as linhas tenor e baixo se destacam em relação aos sopranos e contraltos, apesar de também terem uma simples estrutura. Ambas as peças retratam forte o seu estilo de compor no período anterior ao joanino. Se tratando de sequências, Mattos descreve que o padre músico também compôs no mesmo ano a obra Stabat Mater, para quatro vozes e órgão da qual, segundo o autor, foi cantado o primeiro motivo por S.A.R. e depois arranjado e composto por José Maurício com flautas e fagotes “ad Libitum para o Setenário de N. S. na Real Capella” (Mattos 1970: 232).

No mesmo ano, dois motetos também foram escritos por José Maurício. O primeiro, segundo Mattos (1970), foi o Ascendens Christus35, um moteto a quatro vozes e órgão. O

segundo trata-se de Felix Namque, escrito a cinco vozes e órgão, conforme descreve Mattos. Segundo o autor, esta obra possivelmente pode ser o mesmo moteto registrado como sem data no catálogo de obras feito por Joaquim José Maciel, um “Moteto, sem data, Para a Purificação

34 Partitura disponível em

http://www2.secult.ce.gov.br/Recursos/PublicWebBanco/Partituraacervo/HIN000016.pdf

de N. Sra. a 5 vozes e organo, do 1.° Responsório do Ofício da Purificação. A coincidência com o texto dêste moteto pode significar fôsse a 5 vozes o original acima” (Mattos 1970: 96).

Segundo Mattos (1970), ainda em 1809, o referido músico compôs o Te Deum das Matinas de São Pedro, para quatro vozes e instrumental, a Missa de São Pedro de Alcântara, escrita em 19 de outubro, as Matinas de S. Pedro, e uma Missa de Réquiem, sendo, as três últimas obras citadas, escritas para quatro vozes e acompanhamento de órgão. O referido autor descreve que duas obras destinadas à semana santa foram escritas também em 1809. Trata-se de Judas Mercator e Matinas da Ressurreição36, a primeira escrita para seis vozes e

sem acompanhamento para órgão, a segunda para quatro vozes e acompanhamento de instrumental37 e órgão.

Na opinião de Mattos (1970), no ano de 1810 José Maurício compôs cinco obras sacras. Dentre estas obras, encontra-se a única antífona composta pelo músico no período joanino,

Ecce Sacerdos, a oito vozes, dois fagotes, dois violoncelos, contrabaixo e órgão. O único

cântico de José Maurício também foi escrito em 1810, o Magnificat das Vésperas de S. José, a quatro vozes, acompanhamento de órgão e baixos, formação que pode ser observada no manuscrito38 original da obra na figura abaixo:

36 O manuscrito desta obra não traz data definida, mas as fontes que mencionam “Matinas da Ressurreição” registram data de 1809 (Mattos 1970).

37 Segundo Mattos (1970: 297), o instrumental provavelmente era formado por: Violino 1 e 2, viola, contrabaixo, clarinete 1 e 2 e trompa 1 e 2.

Figura 15 – Manuscrito Magnificat das Vésperas de São José – COM 17. Autor: J. M. Nunes Garcia.

Fonte: Escola de Música – UFRJ39.

No mesmo ano, também foi composto o moteto Praecursor Domini, escrito para quatro vozes e instrumental (Flautas 1 e 2, clarinetes 1 e 2, trompas 1 e 2 e clarins 1 e 2, violinos 1 e 2, viola, violoncelo e contrabaixo), a Novena de Santa Barbara, a quatro vozes e órgão, e

Missa de N. Sra. Da Conceição, escrito em 8 de dezembro, para coro a quatro vozes e

instrumental, com a seguinte formação: Flautas 1 e 2, clarinetes 1 e 2, fagotes 1 e 2, trompas 1 e 2, clarins 1 e 2, trompete, violinos 1 e 2, violas 1 e 2, violoncelos 1 e 2, contrabaixo, tímpano e bombo. (Mattos 1970: 155).

Como já descrito acima, durante três anos José Maurício foi o único compositor da Capela Real. A partir de 1811, o músico passa a dividir o cargo com Marcos Portugal, compondo então quatro obras sacras. Segundo o catálogo de Mattos (1970), neste ano José Maurício compôs a Ladainha de N. Senhora do Carmo, com violinos, flauta, trompa, vozes e órgão. No período também foi escrito um Te Deum, a quatro vozes com violoncelos, fagotes, contrabaixo e órgão, além da Missa em Mi Bemol e a Missa Pastoril. Segundo Mattos (1970), a Missa Pastoril foi composta para a noite de Natal, para quatro vozes, órgão, e instrumental

com clarinetes 1 e 2, trompas 1 e 2, trompetes 1 e 2, fagotes 1 e 2, violas 1 e 2, e violoncelos 1 e 2. Já a Missa em Mi Bemol foi escrita a quatro vozes com acompanhamento de órgão, sendo instrumentada em 1836, por Francisco da Luz Pinto, aluno de José Maurício. O mencionado autor descreve que encontram-se dois arquivos da orquestração desta obra, um Kyrie e Glória e um Credo, e além de escrever a instrumentação da missa, Francisco acrescentou algumas introduções inexistentes na partitura original do compositor, com fortes traços estilísticos mauricianos. Nas palavras do autor podem-se observar esses factos:

Essas “Introduções”, escritas pelo aluno dentro dos hábitos melódicos, ou, possivelmente, utilizando-se de fragmentos musicais do próprio mestre, têm proporções variáveis: 6 compassos no “Kyrie”, 1 compasso no “Sanctus” (onde reproduz, surpreendentemente, a “Introdução” do Hino Nacional Brasileiro) e 22 compassos, no “Gloria”. Ao “et in terra” também F.L.P. acrescentou uma Introdução que recorda o mesmo hino (Mattos 1970: 158).

Segundo César de Carvalho (2008), as obras de Marcos Portugal compostas no Brasil são essencialmente religiosas. Em 1811, o músico compôs as Matinas de Natal para a real capela do Rio de Janeiro, escrita para clarinetes, trompas fagotes, violoncelos e violetas, por ordem de S.A.R., o príncipe regente D. João. Também no mesmo ano, e destinada à real capela, o compositor escreveu uma Missa Breve com grande instrumental, e a Novena de

Nossa Senhora do Monte do Carmo. Em 1812, o referido autor acrescenta as Matinas da Epifania, sendo as únicas obras compostas pelo mencionado músico neste ano (Carvalho

2008).

Cleofe Mattos descreve que, em 1812, José Maurício compôs Tamquam Auram, um moteto para os Santos Mártires, escrito para coro a quatro vozes (S. A. T. B.), flauta 1 e 2, clarinetes 1 e 2, fagotes 1 e 2, trompas 1 e 2, trompetes 1 e 2, violinos 1 e 2, violoncelo e contrabaixo (Mattos 1970).

O ano de 1813 é cheio de novas composições. O autor acima menciona dois salmos de José Maurício Nunes Garcia: O primeiro foi Laudate Dominum Omnes Gentes, para quatro vozes, flauta, clarinete e violino 1 e 2. O segundo salmo foi Laudate Pueri (Figura 13), também para coro a quatro vozes e instrumental com clarinete, trompas 1 e 2, violinos 1 e 2, viola, baixo, contrabaixo e tímpano. Mattos também se refere a Missa Pequena e Credo

Abreviado, escrita para pequena orquestra, com a formação de quatro vozes (S. A. T. B.),

clarinetes 1 e 2, trompas 1 e 2, violinos 1 e 2, viola, violoncelo e contrabaixo. A última obra composta neste ano foram as Matinas da Assunção, escritas no dia 15 de agosto, para a festa da Boa Morte, na Igreja do Hospício. A formação da referida obra é: quatro vozes (S. A. T.

B.), clarinetes 1 e 2, trompas 1 e 2, trompete, violino 1 e 2, viola, violoncelo e contrabaixo (Mattos 1970).

Figura 16 – Manuscrito: Laudate Pueri, 1813, CPM 77 – J. M. Nunes Garcia.

Fonte: Escola de Música – UFRJ40.

Segundo César de Carvalho (2008), em 1813, sob ordem de S.A.R. Dom João, Marcos Portugal compôs uma Missa Breve, destinada à real capela da Quinta da Bela Vista. No mesmo ano, também compôs três sequências por ordem do regente, Veni Sancte Spiritus,

Lauda Sion e Victimae Paschali, sendo a última destinada à real capela do Rio de Janeiro.

Ainda em 1813, Marcos Portugal compôs um jogo de Vésperas41, escrito para violoncelo,

fagotes, contrabaixos e órgão, além de uma Novena de São João Batista, para a real quinta da Bela Vista (Carvalho 2008).

Cleofe Mattos (1970) relata que, em 1814, foi composto por José Maurício o Bemdito, e

louvado seja o SS.mo Sacramento, para 4 vozes, flautas 1 e 2, clarinetes 1 e 2, fagottes 1 e 2,

trompas 1 e 2, clarins 1 e 2, violinos 1 e 2, viola, violoncelo e contrabaixo. Em junho do

40 Número de registro: 400/2007. Localização JMNG 77(a). Partitura 6 – anexo. 41 Salmos soltos, escritos sem ser por ordem real.

mesmo ano, o referido músico compôs a Novena do Apostolo São Pedro que, segundo o autor, foi escrita para quatro vozes, duas rabecas, clarinete, trompa, violoncelo e órgão. Segundo Mattos:

A novena tem de notável, além da mestria com que é escrita, a célula melódica e rítmica do Hino Nacional Brasileiro (Tantum Ergo). Embora não mencionado na primeira página da partitura, o cb. (Rabecão) aparece com muito frequência, especialmente nos solos (Mattos 1970: 106)

Como se observa acima, o Tantum Ergo, composto para a referida Novena, apresenta novamente um fragmento muito parecido com o Hino Nacional Brasileiro, escrito em solo uníssono das vozes, facto já ocorrido também em outras obras do padre músico. Na figura abaixo, pode se observar o trecho entre os compassos 13 e 20 da obra.

Figura 17 – Trecho da obra Tantum Ergo.

Fonte: Mattos 1970: 106.

No ano de 1815, Marcos Portugal compôs um jogo de Vésperas, com acompanhamento completo de instrumental e órgão, assim como dois Responsórios, segundo Carvalho destinados à real capela do Rio, “para se cantarem no Domingo do Espirito Santo, com órgão e instrumentos de vento” (Carvalho 2008: 87). Neste mesmo ano, o músico compõe um Te

Deum, para oito vozes e instrumental completo, “por convite do Eminentíssimo Cardeal

Patriarca, para se cantar no dia de S. Silvestre, na Igreja da Patriarcal” (Carvalho 2008: 87). Cleofe Mattos descreve que, em 1815, José Maurício compôs o Bendito e Louvado Seja, destinado à Real Quinta de Santa Cruz. Diferente do bendito de 1814, este foi escrito para grande orquestra42, por ordem de S. A. R., segundo o autor: “Uma das poucas obras

compostas por ordem de D. João VI após a chegada de Marcos Portugal” (Mattos 1970: 70). As Matinas do Apóstolo S. Pedro também foram escritas neste ano pelo referido músico, com

42 Escrito para quatro vozes (S. A. T. B.), flautas 1 e 2, clarinetes 1 e 2, fagotes 1 e 2, clarins 1 e 2, trompete, violinos 1 e 2, viola, violoncelo e contrabaixo (Catálogo de Mattos 1970: 70).

formação de seis vozes (sopranos 1 e 2, contraltos 1 e 2, tenor e baixo), fagotes (1 e 2) e órgão. Segundo Mattos, o último responsório dessa obra, construído na forma rondó, “intercala-se o ‘solo’ de Baixo ‘et ego dico tibi’ entre as intervenções corais. 15 solistas diferentes é o número impressionante previsto para a execução dessa obra, com cantores da R.C” (Mattos 1970: 244). O autor ainda menciona que: “Merece ser assinalado entre os solistas, como soprano, o nome do autor do Hino Nacional Brasileiro: Francisco Manoel da Silva” (Mattos 1970: 244).

No ano de 1816 foram compostos dois ofícios fúnebres. O primeiro, segundo o catalogo de Mattos, é uma Missa de Réquiem, uma de suas obras mais importantes e conhecidas e, para o autor, “É a única obra de José Maurício que de tempos em tempos tem sido ouvida no decorrer do século” (Mattos 1970: 271). O mencionado crítico relata que não é possível descrever a formação exata do instrumental, pois não se encontram todos os arquivos originais e a quantidade de cópias é numerosa e diversificada. No título da obra pode ser observada a inclusão das “flautas, Clarins e Timbales ad Libitum” (Mattos 1970: 271), mas desses instrumentos, apenas as partes de flautas e fagotes foram encontradas. Na primeira página do violoncelo encontra-se uma cifragem, que para o referido autor significa uma probabilidade da existência do órgão no Réquiem. Com base nas partituras autógrafas utilizadas por Mattos, provavelmente José Maurício escreveu para quatro vozes (S. A. T. B), trompas 1 e 2, violinos 1 e 2, violas 1 e 2, violoncelo e contrabaixo, além das flautas, os fagotes e o órgão, já citado, e possivelmente os clarins e o tímpano, descritos no título da obra.

No mesmo ano, o mesmo compositor compôs o Ofício de Defuntos e, com base na partitura autógrafa43, a obra foi escrita para quatro vozes, clarinetes 1 e 2, trompas 1 e 2,

violinos 1 e 2, viola 1 e 2, violoncelo e contrabaixo. Se tratando das cópias das partes, provavelmente Francisco Manuel da Silva fez a instrumentação das duas obras fúnebres mauricianas. Segundo Mattos:

Francisco Manoel deixou sinais de ter instrumentado o “Ofício” e a “Missa de Requiem” do mestre, no estilo que era o seu, sobrecarregado e de não muito bom gôsto. O presumível material de sua orquestração mistura-se, no arquivo da E.M, com as cópias autênticas, sob o mesmo citado registro. Não há partes da Missa copiadas por êle (como é o caso do “Ofício”), mas apenas com a sua rubrica: muitas partes trazem, porém, indicações que lhe podem ser atribuídas (Mattos 1970: 271).

Como já mencionado, entre maio e junho de 1816 Sigismund Neukomm compõe

Motetos e Antifonas, durante a viagem de vinda para o Brasil. Este também foi um ano de

novas obras para Marcos Portugal, pois Carvalho descreve que o músico escreve o Dixit

Dominus, Laudate Pueri, para órgão e instrumental completo, além da já citada Missa de Réquiem, “com todo o instrumental, para servir nas exéquias da Rainha D. Maria I” (Carvalho

2008: 84).

A partir de 1817, Neukomm compõe uma série de obras sacras no Brasil. Segundo Meyer (2000), em 3 de abril foi escrita a Missa Solene para a Aclamação de S. M. Dom João VI e, em 06 de novembro, a Missa Solene São Leopoldo. Mattos descreve que, no mesmo ano, José Maurício compôs a Trezena de S. Francisco de Paula, para quatro vozes, clarinete, trompa, violinos, violoncelo e contrabaixo (Mattos 1970: 119).

Meyer (2000) afirma que, em 1818, duas Missas foram compostas por Neukomm, a

Missa Brevis, duabus vocibus committante organo, no dia 13 de maio, e a Missa44 para duas

vozes masculinas e grande orquestra militar, em 18 de agosto. Além das Missas, no dia 29 de dezembro um Te Deum foi escrito também pelo mesmo compositor (Meyer 2000).

Para José Maurício, o ano de 1818 foi de muitas obras deste género. Segundo Mattos, nesse ano foi composta a Novena de Nossa Senhora do Carmo, assim como a Ladainha para a mesma novena, ambas escritas para quatro vozes, clarinetes, trompa, violinos 1 e 2, violoncelo e contrabaixo, o moteto para os apóstolos Isti sunt qui viventes, para quatro vozes e instrumental45 e Media nocte, um moteto para as Virgens, escrito por ordem de S. M. para a

Capela de Santa Cruz, para quatro vozes (S.A.T.B) violinos, flautas, clarinetes, fagotes, trompas, clarins, violoncelo, e contrabaixo. No mesmo ano, o referido músico compôs também a Tantum Ergo da Novena do Carmo, para quatro vozes, clarinetes, trompa, violinos 1 e 2, violoncelo. Além do Qui Sedes e Quoniam, escrito para dois tenores, flauta, dois clarinetes, duas trompas, dois violinos, violoncelo e contrabaixo. Também foi composta, no dia 16 de julho do mesmo ano, a Missa de N. Sra. do Carmo que, segundo Mattos, trata-se de uma “missa a 4 Vozes Com Rabecas, Clarinetas, Trompas, e Basso” (Mattos 1970: 164).

Segundo Meyer (2000), no ano de 1819, em 1 de março, Neukomm escreveu a obra

Tantum ergo e, no dia seguinte, Ave verum corpus, ambas para soprano solo e órgão. No dia

17 de março do mesmo ano, o referido músico compôs a Adoração do Santo Sepulcro, para a Sexta-feira Santa; trata-se de uma fantasia para instrumentos de sopro. Meyer (2000) descreve

44 Esta Missa precede de uma introdução em forma de Marcha.

45 Instrumental formado por flauta 1 e 2, clarinete 1 e 2, fagote 1 e 2, trompa 1 e 2, clarins 1 e 2, violinos 1 e 2 e baixo (partitura cópia – reg. 30 059).

que, entre julho e setembro de 1819, Neukomm fez a instrumentação de uma missa com data de 1778, de David Perez46 (Meyer 2000).

Em 1820, Sigismund Neukomm compôs duas Missas, em 22 de fevereiro, a Missa

Solene Santo Ernesto e, em 18 de novembro, a Missa Solene São Francisco, destinada ao S.

M. o imperador Francisco I, por ordem de sua filha, Leopoldina, a princesa real. Segundo Meyer (2000), esta Missa foi enviada ao chefe do império austríaco, juntamente com uma carta de Leopoldina, que a seguir se transcreve:

Querido Papai:

Mando-vos nesta ocasião uma missa cantada de Neukomm que, como súdito austríaco e discípulo de Haydn, merecerá sem dúvida as vossas boas graças, e, além disto, contém duas fugas que, todos sabemos, vós muito gostais. O meu marido é compositor, também, e faz- vos presente de uma Sinfonia e Te-Deum, compostos por ele; na verdade são um tanto teatrais, o que é por culpa do seu professor, mas o que vos posso assegurar é que ele próprio os compôs sem auxílio de ninguém.

Beijo-vos muitas vezes as mãos e sou com o mais profundo respeito e amor filial, caro Papai, vossa filha obediente (Leopoldina apud Meyer 2000).

Segundo Mattos, no mesmo ano José Maurício compõe três obras: uma Missa, um

Laudate pueri e um Credo. A Missa Mimosa foi composta para quatro vozes, flauta, clarinete,

trompa, violinos 1 e 2, viola, violoncelo, contrabaixo e bombo; o Laudate pueri para as

Vésperas do Espirito Santo, traz na partitura autógrafa a formação de coral à quatro vozes e

órgão, com acompanhamento orquestral47; o Credo em Dó maior, também composto por José

Maurício, traz registro de 1820 em uma partitura cópia, arranjada para vozes masculinas (T.T.B), em 1897 por Normandia. Cleofe Mattos acredita que Normandia elaborou esse arranjo reunindo vários trechos de José Maurício, do Kyrie e Glória da Missa em Fá, de 1808, e este credo, “ao qual atribuiu data de 1820” (Mattos 1970: 196). No próprio registro, citado por Mattos, pode-se observar os factos acima: “Credo J. Mauricio 1820, in: Missa da Purificação de N.a Sen.a Composição do Padre Joze Mauricio. Em 1808, a 4 vozes. Arranjada para 3 vozes, pelo Professor Miguel Pereira de Normandia em 1897” (Mattos 1970: 196). Segundo o referido autor, em outra partitura cópia, de Bento das Marcês, escrita para quatro vozes e órgão, existe uma nota escrita na parte do órgão constando “4 vozes, piston, basso, fagote, trompa” (Mattos 1970: 196), que traz indícios de que a obra tenha sido orquestrada.

46 Compositor italiano que exerceu grande influência nos compositores portugueses entre o fim do século XVIII e início de XIX, inclusive Marcos Portugal. Esta Missa foi composta no mesmo ano de sua morte, em 1778 em Lisboa.

47 Flauta, clarinetes 1 e 2, oboé 1 e 2, fagotes 1 e 2, clarins 1 e 2, trompas 1 e 2, violinos 1 e 2, violoncelo e contrabaixo (Mattos 1970: 255).