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Perfil dos solicitantes e refugiados em São Paulo

Fonte: Banco de Dados da Cáritas Arquidiocesana de São Paulo, julho/2011. O fluxograma identifica um panorama do perfil dos solicitantes e refugiados que procuram o Brasil. A partir dele pode-se também constatar que a maioria dos

solicitantes não conta com uma qualificação profissional, e isso decerto dificulta a inserção dos mesmos no mercado de trabalho.

Comparando-se o quadro 02 com o quadro 03 o qual apresenta a demanda por nacionalidade, observa se que 48,20% advêm da África, dos países de Angola e do Congo, os que mais demandam por refúgio. Analisando-se a situação desses países verifica-se que a realidade social dos mesmos é de extrema miséria, situação esta que permite inferir sobre os reais motivos pelos quais as pessoas se deslocam em busca de melhores condições de vida, isto é, melhores oportunidades de sobrevivência.

Esse dado também questiona a definição de refúgio, uma vez que segundo a Lei nº 9.474/97 a proteção pode ser concedida mediante “[...] fundado temor de perseguição por motivos de raça, religião, nacionalidade, grupo social, opiniões políticas e violação de direitos humanos”.

Diante do exposto, considera-se que, embora os refugiados gozem de uma lei voltada às suas especificidades, seus resultados ainda não refletem condições de melhorias efetivas. A legislação, criada com o fito de proteger os indivíduos refugiados que tiveram seus direitos violados em seu país de origem, ou dele não receberam a proteção suficiente para sentirem-se seguros, não garante sozinha os direito expressos nela, tampouco provoca mudanças. Faz-se necessário que o Estado brasileiro, representado pelos governos dos estados, exija e fiscalize o seu cumprimento. Faz-se necessário também maior envolvimento do Estado brasileiro no sentido de fazer valer os direitos e garantias de cidadania expressos na referida lei.

Assim, o Estado brasileiro conferirá maior segurança jurídica e consequentemente maior efetivação na acolhida, a qual não pode ser entendida apenas como um ato permissivo, em que o Brasil concede permanência ao solicitante de refúgio, mas que, além disso, manifeste e oferte a devida proteção, a devida condição de habitabilidade no país, de vida plena e com todos os direitos garantidos, pois, entende-se a acolhida nesse contexto.

Desta feita, faz-se necessário repensar as condições ofertadas de fato àqueles que chegam ao país como solicitantes de refúgio, que segundo o ACNUR são potenciais refugiados. Sendo o Brasil signatário da Convenção de 1951, em seu protocolo há o estabelecimento da base jurídica para os Estados-membros, no qual destaca o princípio do non-refoulement, conforme art. 7º da Lei nº 9474/97, que

estabelece que nenhum refugiado poderá ser enviado para um país onde sua vida ou a sua liberdade possam estar em perigo, concedendo, mediante essas condições, o status de refugiado.

A partir disso as chances desse indivíduo permanecer no país no qual ele solicita o refúgio são grandes, daí a necessidade em se repensar o que de fato e efetivamente o país oferta a um solicitante de refúgio. Nesse contexto, indaga-se: Qual a contribuição do país para a integração e inclusão do refugiado, considerando- se a inclusão em vias de fato, apesar de este ser um país capitalista, o qual, como assinala Silva (2011), “exclui em massa e inclui seletivamente”?

Diante do aumento significativo nas últimas décadas no mundo de solicitantes de refúgio e de refugiados, cabe aos Estados membros ou signatários da Convenção de 1951 reverem suas políticas públicas de modo que possam garantir de fato as especificidades e necessidades advindas desse grupo social.

A atual conjuntura política e econômica do capitalismo mundial expõe grandes contingentes populacionais a condições de miséria. Um número cada vez mais crescente de pessoas desloca-se de seus países, fogem de perseguições, de misérias, de guerras, quase sempre impossibilitados de retornarem ao seu país de origem. Nesse contexto, considera-se a importância do apoio dos países que recebem essas pessoas, a fim criarem estratégias que visem o desenvolvimento e a autonomia dos mesmos.

Por fim, pode-se concluir que o Brasil, mesmo sendo considerado um país precursor em leis de proteção aos refugiados, precisa desenvolver e fazer valer de fato o direito emanado por sua lei, a qual deriva na acolhida. Dar esse passo, que vai além da entrega de uma filipeta (protocolo de solicitação de refúgio) por ocasião da chegada do estrangeiro no país, solicitante de refúgio, significa avançar em políticas públicas com vistas à plena inclusão desse sujeito, possibilitando-lhe resgatar suas potencialidades, direitos e o gosto pela vida, percebendo-se capaz de reconstruir um novo modo de viver, em novas terras, distante de sua casa materna.

Entende-se que somente a partir de uma postura de real comprometimento os países poderão de fato contribuir na reconstrução de vidas tão vilipendiadas em suas essências, propiciando-lhes refazer suas vidas com respeito e dignidade, possibilidades estas que somente um novo horizonte pode lhes oferecer, ainda que seja em terras distantes, com costumes diferentes, amor de mãe adotiva, que mesmo não o tendo gerado, no desejo e na vontade de tê-lo, ama-o sem limites.

Cabe também a sociedade civil não fechar os olhos a essa realidade, apesar de se defender que a obrigação para com esses sujeitos é do Estado, porém entende-se que esta pode contribuir, ampliando o seu olhar e ofertando oportunidades a esse outro que se apresenta com sua “fala diferente”, com seus costumes e modo de ser diferente.

Este é apenas o início dessa discussão. Nos próximos capítulos serão abordadas questões específicas da mulher refugiada, objeto de pesquisa do presente trabalho. Pretende-se prosseguir o caminho da reflexão dialógica sem a intenção de levantar culpados, mas de modo intencional trazer à luz do debate a situação real do grupo em questão, desvelando-se suas realidades, a fim de oferecer-lhes possibilidades de uma vida digna, tão almejada por essas mulheres, que as fazem partir de sua Pátria para viver noutra cultura, diferente da sua outrora.

No próximo capítulo, no intuito de corroborar com as reflexões até aqui expostas, adentra-se à discussão sobre a Precarização do trabalho e a mulher refugiada no Brasil.

As constantes mudanças e

exigências do mercado de trabalho exigem políticas públicas que levem em conta as especificidades dos vários grupos sociais e da sua relação com a dinâmica do

mercado de trabalho. Como as atuais políticas de emprego não seguem essa linha, sua revisão é urgente e inadiável.

Márcio Pochmann 4 PRECARIZAÇÃO DO TRABALHO E A