• Nenhum resultado encontrado

1.2 Objetivos

2.1.1 A Multidimensionalidade do Construto da Orientação Empreendedora

O conceito de orientação empreendedora tem sido alvo de debate envolvendo a dimensionalidade do construto, a interdependência entre as subdimensões e o relacionamento teórico entre o construto e seus construtos antecedentes e consequentes (GEORGE, 2011; GEORGE; MARINO, 2011; LUMPKIN; DESS, 1996). Central para esse debate é o relacionamento entre o construto de ordem superior e suas subdimensões (inovação,

30 proatividade, tomada de risco), o que é crítico para construtos de segunda ordem como o da orientação empreendedora e está diretamente relacionado à sua definição teórica. (GEORGE, 2011).

Argumentos teóricos são, de um lado, consistentes com um modelo de segunda ordem formativo do construto de orientação empreendedora. Neste caso, a orientação empreendedora é formada pela combinação das subdimensões e suas alterações resultam das alterações em uma ou mais subdimensões e não vice-versa. De outro, a maioria dos estudos empíricos analisa implícita ou explicitamente a orientação empreendedora como um construto de segunda ordem reflexivo, no qual mudanças na orientação empreendedora resultam em mudanças em cada uma de suas subdimensões, de tal forma que elas refletem o construto de ordem superior (GEORGE, 2011). Devido a isto, formulam-se argumentos em favor de que a orientação empreendedora é melhor modelada pelo construto de segunda ordem formativo, como em Anderson et al. (2015), assim como pelo construto de segunda ordem reflexivo, sustentado por Covin e Wales (2012) e George e Marino (2011).

Na conceituação original de Miller (1983), empresas empreendedoras são aquelas que se caracterizam simultaneamente por proatividade, capacidade de inovação e tomada de risco. Esta conceituação tornou-se comumente aceita no que se refere a uma empresa ‘ser empreendedora’. Adicionalmente, outros autores estenderam o domínio do construto com a inclusão de novas dimensões (GEORGE, 2011; GEORGE; MARINO, 2011). Lumpkin e Dess (1996), por exemplo, ampliaram o conceito com base em cinco dimensões: autonomia, capacidade de inovação, tomada de risco, proatividade, agressividade competitiva. Estes autores também adicionaram novos elementos, como o ato essencial do empreendedorismo de new entry, com a explicação de que a orientação empreendedora refere-se a processos, práticas e atividades de tomada de decisão que levam à entrada em mercados novos ou estabelecidos, com produtos ou serviços novos ou existentes. Esta contribuição é discutida por Wales, Wiklund e McKelvie (2015), com foco no papel de new entry, concebido como parte integrante ou como resultado do construto da orientação empreendedora.

Quando a organização se engaja em atividades empreendedoras, todas as dimensões podem estar presentes ou apenas algumas delas. A influência de cada uma dessas dimensões na atividade empreendedora pode ser dependente de fatores externos, como a indústria ou o ambiente de negócios, ou de fatores internos, como a estrutura da organização ou as características dos fundadores ou executivos. É possível que essas dimensões variem

31 independentemente, de acordo com o contexto ambiental e organizacional. (LUMPKIN; DESS, 1996; WALTER; AUER; RITTER, 2006).

Contribuindo para esse debate, Anderson et al. (2015) propõem a redefinição do conceito de orientação empreendedora como um construto de segunda ordem formativo no âmbito da empresa, composto de duas dimensões de ordem inferior: comportamentos empreendedores, abrangendo capacidade de inovação e proatividade, e atitude gerencial, voltada ao risco (assunção de riscos). Tais autores definem comportamentos empreendedores como a busca, no contexto da empresa, de novos produtos, processos ou modelos de negócios (capacidade de inovação), com a pretendida comercialização dessas inovações em novos domínios de produtos/mercados (proatividade), e a atitude gerencial voltada ao risco como uma inclinação inerente ao nível estratégico da empresa, que favorece ações estratégicas com consequências incertas.

Sob essa concepção, os três componentes da orientação empreendedora são reorganizados em duas dimensões de ordem inferior, ou seja, a assunção ao risco como uma dimensão atitudinal e a capacidade de inovação e a proatividade como uma dimensão comportamental. Dois requisitos críticos fundamentais para a caracterização de empresas empreendedoras são reconhecidos nessa concepção: a) a empresa deve se engajar em comportamentos empreendedores, que envolvem a busca de novas ideias, processos e tecnologias, e intentar agressivamente a comercialização dessas ideias, a fim de expandir suas fronteiras para novos domínios de produto/mercado; b) a empresa deve se engajar em comportamentos empreendedores, com consistência razoável ao longo do tempo, ou seja, com estabilidade temporal. (ANDERSON et al., 2015).

Apesar das diferenças na definição do construto e tendo em vista o objeto ora pesquisado, o conceito de orientação empreendedora aqui adotado segue as três dimensões comumente utilizadas pela literatura – proatividade, capacidade de inovação e tomada de risco –, a exemplo de Anderson et al. (2015), George (2011) e George e Marino (2011). Além disso, sua utilização está voltada para o foco comportamental, por meio da análise dos movimentos realizados pelas universidades pesquisadas, em detrimento da análise de desempenho. Uma síntese conceitual dessas três dimensões é apresentada no Quadro 1.

A orientação empreendedora estabelece que as organizações podem se beneficiar por meio da execução de atividades de forma empreendedora (TODOROVIC; MCNAUGHTON; GUILD, 2011), manifestada em padrões de comportamentos empreendedores, recorrentes ao longo do tempo (ANDERSON et al., 2015; COVIN; MILLER, 2014; COVIN; SLEVIN,

32 1991). Ou seja, a orientação empreendedora representa uma dimensão ou postura estratégica (ANDERSON et al., 2015; COVIN; SLEVIN, 1991) que descreve a autonomia organizacional, a disposição para assumir riscos, a capacidade de inovação e a assertividade proativa. (WALTER; AUER; RITTER, 2006).

Quadro 1 - Dimensões de uma orientação empreendedora

Dimensões Definições

Proatividade

Refere-se à forma como uma organização direciona-se a oportunidades de mercado em atividades empreendedoras. A proatividade pode ser crucial para uma orientação empreendedora, pois sugere uma perspectiva futura, acompanhada por atividades inovadoras ou por novos empreendimentos. O oposto conceitual da proatividade é a passividade, ou seja, a indiferença ou a incapacidade de aproveitar as oportunidades ou persuadir o mercado. (DESS; LUMPKIN, 2005; LUMPKIN; DESS, 1996).

Natureza pioneira da empresa evidenciada em sua propensão em competir de forma agressiva e proativa com os rivais da indústria. (COVIN; SLEVIN, 1991).

Comportamento demonstrado pela gestão estratégica da empresa que visa competir, de forma agressiva, com outras empresas. (MILLER, 1983).

Capacidade de inovação

Reflete a tendência da organização ao engajamento e ao apoio a novas ideias, novidade, experimentação e processos criativos que podem resultar em novos produtos, serviços ou processos tecnológicos. A inovação é um importante componente de uma orientação empreendedora, pois reflete um meio pelo qual as empresas buscam novas oportunidades. (DESS; LUMPKIN, 2005; LUMPKIN; DESS, 1996).

Comportamento da gestão estratégica da organização no que tange à amplitude e à frequência de inovação de produto e à tendência de ações em direção à liderança tecnológica. (COVIN; SLEVIN, 1991).

Comportamento demonstrado pela gestão estratégica que favorece a mudança e a inovação, a fim de obter vantagem competitiva para a empresa. (MILLER, 1983).

Tomada de risco

O conceito de risco possui vários significados, dependendo do contexto de aplicação, sendo frequentemente utilizado para descrever empreendedorismo. Pode-se dizer que todos os negócios envolvem algum grau de risco e que não é útil pensar em termos de ‘absolutamente nenhum risco’. (DESS; LUMPKIN, 2005; LUMPKIN; DESS, 1996). A atitude gerencial em direção ao risco evidencia-se quando os executivos seniores decidem perseguir comportamentos empreendedores como parte da estratégia de sua empresa. (ANDERSON et al., 2015).

Comportamento da gestão estratégica da organização relacionado às decisões de investimentos e ações estratégicas diante da incerteza. (COVIN; SLEVIN, 1991).

Fonte: Elaborado pelo autor.

Além das diferenças em torno do conceito de orientação empreendedora, há variações em diferentes tipos de organização que se evidenciam nos objetivos que guiam a formulação

33 de estratégias, nas características da estrutura organizacional e de governança e nas condições de mercado. A aplicação da orientação empreendedora em outros contextos organizacionais, diferentes daqueles de grandes organizações comerciais, permanece pouco explorada. (TODOROVIC; MCNAUGHTON; GUILD, 2011).

O estudo acerca do estabelecimento da orientação empreendedora no ambiente acadêmico mostra-se relevante e tem despertado crescente interesse tanto no meio acadêmico quanto para formuladores de políticas públicas. A utilização do conceito de orientação empreendedora no ambiente acadêmico tem sido pouco explorada, à luz das conceituações basilares de Miller (1983), Covin e Slevin (1988) e Lumpkin e Dess (1996), incluindo suas dimensões, como em Todorovic, McNaughton e Guild (2011) e Walter, Schmidt e Walter (2016). A literatura empírica sobre o fenômeno da universidade empreendedora é, porém, ampla e diversificada, ancorada nos estudos seminais de Etzkowitz (1983) e Clark (1998). A seção a seguir aborda os principais preceitos formadores da literatura empírica acerca do fenômeno em questão.