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As contribuições desta pesquisa direcionam-se à literatura acadêmica – teórico- conceitual e empírica –, ao campo empírico, bem como aos aspectos metodológicos. De forma transversal a essas diferentes direções, as contribuições geradas assentam-se em dois

165 pontos principais: a geração prévia de proposições teóricas e a posterior evidenciação empírica de tais proposições por meio da técnica de estudo de casos múltiplos. As contribuições sustentam-se na confirmação de estudos anteriores, na identificação de novos elementos teóricos e empíricos, e no estabelecimento de novas relações teórico-empíricas.

Para a literatura teórico-conceitual sobre orientação empreendedora, a evidenciação empírica mostra o vínculo estreito de suas dimensões conceituais basilares – proatividade, tomada de risco e capacidade de inovação – com a perspectiva indeterminista do ambiente, à luz do abordado por Bignetti e Paiva (2002), Child (1972, 1997), Lewin e Volberda (1999) e Miles et al. (1978). Essa relação se subsidia na capacidade de adaptação organizacional abordada por Hodgson (2013) e Lewin e Volberda (1999) e na adoção de comportamentos voluntaristas pela gestão estratégica, sustentados na perspectiva da escolha estratégica ou gerencial de Child (1972, 1997) e Miles et al. (1978).

A orientação empreendedora evidenciada nas universidades pesquisadas corrobora o engajamento em comportamentos empreendedores recorrentes, o que está na essência do conceito em questão, como abordado por Anderson et al. (2015), Covin e Miller (2014) e Covin e Slevin (1991). Para o campo empírico, esses aspectos possuem importantes implicações, pois indicam que a orientação empreendedora no ambiente acadêmico se estabelece por meio de um mindset estratégico, baseado na perspectiva indeterminista do ambiente, o qual envolve decisões comprometidas com a terceira missão acadêmica, especialmente de longo prazo, e ações de cunho não esporádico. Adicionalmente, as evidências mostram que o engajamento do corpo docente – incluindo a realização de movimentos bottom-up – exerceu relevante participação nos processos de transformação organizacional para implementação da terceira missão acadêmica.

Nessa relação com o campo empírico, a utilização da orientação empreendedora apresenta necessidade de adequação, permeada por suas dimensões conceituais basilares, tendo em vista as características específicas do ambiente acadêmico. Nos casos estudados, um dos principais indicativos dessa particularidade diz respeito à preparação prévia para a adoção de uma orientação empreendedora, notadamente pelo foco nas atividades de pesquisa. As evidências revelam que as universidades pesquisadas desenvolveram trajetórias baseadas nas atividades de pesquisa, as quais possuem vínculo de origem com a implementação da terceira missão acadêmica e exerceram significativa influência no incremento das relações universidade–empresa–governo, por meio da capacidade de realização de projetos de elevado nível técnico-científico com fomento externo.

166 Quanto à contribuição para a literatura empírica relacionada à universidade empreendedora, as evidências desvelam que as universidades pesquisadas utilizaram-se de variadas ações e mecanismos para implementação da terceira missão acadêmica, o que também é abordado por Bishop, D’Este e Neely (2011), Grimaldi et al. (2011) e Wright et al. (2008) , com institucionalização gradual ao longo do tempo. De forma geral, a análise destaca as sinergias e o alinhamento entre as diferentes missões acadêmicas, como mencionado por Boardman e Ponomariov (2009), Etzkowitz et al. (2000), Nelles e Vorley (2010c), Philpott et al. (2011) e Van Looy et al. (2011).

Especialmente na relação com as missões acadêmicas tradicionais, os resultados mostram a relação seminal e aproximada da terceira missão acadêmica com as atividades de pesquisa e a aproximação mais recente com as atividades de ensino, a fim de estender a abrangência das atividades empreendedoras para todas as áreas do conhecimento, como proposto por Abreu e Grinevich (2013) e Clark (1998), de forma interdisciplinar. Exceto no caso da PUC-Rio, a relação da terceira missão acadêmica com o ensino possui vínculo de origem, assim como as relações estabelecidas com as atividades de pesquisa.

Outra importante contribuição para a literatura empírica refere-se ao enraizamento no entorno de atuação. Os casos estudados mostram significativa aderência a suas comunidades locais/regionais, por meio de diversos elos com atores externos e da contribuição para o desenvolvimento econômico e social, como sustentado por Clark (1998), Etzkowitz (2013a, 2013b) e Philpott et al. (2011). O enraizamento local/regional contribuiu para a formação de trajetórias particulares em direção a um modelo de universidade empreendedora, como mencionado por Nelles e Vorley (2010b), O’Shea et al. (2005), Philpott et al. (2011) e Stensaker e Benner (2013), o que refuta o caminho ‘one size fits all’.

Do ponto de vista metodológico, esta pesquisa contribui pela utilização da perspectiva retrospectiva em um estudo de casos múltiplos, como abordado por Flick (2007). Esta combinação é singular nas investigações acerca da orientação empreendedora no ambiente acadêmico e foi viabilizada tanto pelo uso de dados primários, como as entrevistas realizadas com diversos gestores das universidades pesquisadas, os quais resgataram suas próprias vivências durante o processo de transformação institucional, quanto de dados secundários, como os livros pesquisados com o resgate histórico dos casos analisados.

Outra contribuição metodológica refere-se ao desenho de pesquisa adotado, como sintetizado na Figura 2. O estudo orientou-se por proposições formuladas a partir de lacunas ou novas combinações teóricas, as quais foram utilizadas como base para posterior

167 evidenciação empírica. Este desenho de pesquisa que combina o desenvolvimento prévio de proposições teóricas e a submissão, a posteriori, à evidenciação empírica não foi encontrado na literatura pesquisada. O campo empírico estudado igualmente merece destaque, tendo em vista a investigação de universidades pertencentes a diferentes contextos econômicos: uma economia emergente (Brasil) e uma economia avançada (Suécia).

Apresentadas as contribuições da pesquisa, a seção a seguir expõe alguns aspectos que podem ser considerados como limitações do estudo ou apenas como ressalvas das escolhas realizadas.