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Tanto a coleta quanto a análise dos dados seguiram a estrutura das proposições teóricas previamente formuladas neste trabalho. Especialmente em relação à análise, a tarefa orientou-se pela comparação dos conceitos que surgiram em decorrência do trabalho de campo com aqueles existentes na teoria, como sustentado por Eisenhardt (1989). Sob essa orientação, os resultados que diferem daqueles encontrados na literatura representam oportunidades para a reflexão do pesquisador, por meio da organização de novos conceitos e teorias, ao passo que os resultados similares à literatura anterior indicam o fortalecimento da validade interna do estudo, ganhos nas possibilidades de generalização e a obtenção de uma teoria de nível conceitual mais amplo. (EISENHARDT, 1989).

Dois procedimentos básicos foram adotados na análise dos dados: a análise de conteúdo e a triangulação dos dados. A análise de conteúdo foi utilizada no tratamento dos dados primários, notadamente as entrevistas, as quais foram transcritas na íntegra e analisadas com o auxílio do software NVivo 11.0. A triangulação dos dados foi realizada por meio do cruzamento das informações obtidas de diferentes fontes de dados, incluindo diversos tipos de dados primários e secundários.

De forma geral, um dos problemas persistentes da análise de dados qualitativos reside na redução da quantidade de dados escritos para proporções gerenciáveis e compreensíveis. Essa redução é um elemento-chave da análise qualitativa, realizada de forma a se preservar a qualidade dos dados. Um procedimento comum para isso é a análise de conteúdo (COHEN; MANION; MORRISON, 2007). De forma simples, a análise de conteúdo pode ser definida pelo processo de síntese e geração de relatórios dos dados escritos ou como um conjunto estrito e sistemático de procedimentos para a análise rigorosa e verificação dos conteúdos dos dados escritos. (FLICK, 2009).

70 A análise de conteúdo pode ser realizada com qualquer material escrito e frequentemente é utilizada para a análise de grandes quantidades de texto, facilitada por sua natureza sistemática e orientada por regras, principalmente pela análise assistida por computador. Seu objetivo é gerar ou testar uma teoria trilhando os seguintes passos: a) codificação – utilizada para condensar ou simplificar os dados, ao mesmo tempo em que enfatiza suas características para conectá-los a conceitos mais amplos; b) categorização – refere-se ao desenvolvimento de categorias significativas para as quais as unidades de análise (palavras, frases, etc.) podem ser agrupadas; c) comparação – realizada por meio das conexões entre as categorias; d) conclusão – consiste na elaboração de considerações teóricas com base no texto e nos resultados da análise. (COHEN; MANION; MORRISON, 2007).

Na análise de conteúdo, um código é uma palavra ou abreviação suficientemente próxima daquilo que está descrevendo, de modo que o pesquisador consiga rapidamente captar seu significado, devendo ser derivado dos próprios dados em análise. Isso permite maior fidelidade aos dados utilizados, em detrimento de formas preestabelecidas. As categorias são os principais agrupamentos de construtos ou características-chave do texto e servem como elos entre as unidades de análise. Geralmente, são derivadas de constructos teóricos ou áreas de interesse, planejadas previamente à análise ao invés de desenvolvidas a partir do próprio material, embora possam ser modificadas com base nos dados empíricos. (COHEN; MANION; MORRISON, 2007; FLICK, 2009).

O estudo em questão adotou os passos propostos por Cohen, Manion e Morrison (2007) e a análise foi iniciada pela codificação e pela categorização do material transcrito. Como sugerido, os códigos emergiram do conteúdo das entrevistas e as categorias se originaram da literatura utilizada. As categorias e subcategorias geradas, detalhadas no Quadro 7, são decorrentes das proposições teóricas previamente elaboradas. Na sequência, as conexões entre as categorias foram estabelecidas por meio da comparação e a etapa final das considerações teóricas foi realizada com base nos resultados da análise.

Como segundo procedimento adotado na análise dos dados, a triangulação envolveu um escopo mais amplo das fontes de dados, incluindo todos os tipos de dados primários e secundários coletados. Yin (2010) explica que, ao associar as entrevistas realizadas com as fontes secundárias e as anotações do pesquisador, é possível realizar a triangulação dos dados. Essa estratégia auxilia análises mais completas, pois leva em consideração mais de uma fonte de informação (FLICK, 2007). Utilizando tanto dados primários quanto secundários, a triangulação visa obter maior validade e confiabilidade, ao se coletarem dados em momentos

71 diferentes, de fontes distintas ou por meio de mais de um instrumento, no estudo do mesmo fenômeno. (COLLIS; HUSSEY, 2005; STAKE, 1998).

Quadro 7 - Categorias temáticas de análise

Categorias Subcategorias Principais referências de apoio

Gestão estratégica (P1)

- Postura estratégica da gestão - Ações estratégicas voluntaristas - Fatores influenciadores

- Marcos históricos

Bignetti e Paiva (2002); Child (1972, 1997); Clark (2004, 2006); Etzkowitz (2013b); Etzkowitz et al. (2000); Lewin e Volberda (1999); Philpott et al. (2011); Stensaker e Benner (2013). Dimensões conceituais basilares (P2) - Proatividade - Tomada de risco - Capacidade de inovação

- Adequação ao contexto acadêmico - Ações recorrentes

Abreu e Grinevich (2013); Anderson et al. (2015); Clark (2003); Covin e Slevin (1991); Dess e Lumpkin (2005); Etzkowitz (2013b); Lumpkin e Dess (1996); Miller (1983); Todorovic, McNaughton e Guild (2011).

Relação com as missões tradicionais (P3)

- Áreas do conhecimento abrangidas - Atividades soft e hard

- Interdisciplinaridade - Integração ao ensino - Integração à pesquisa

Abreu e Grinevich (2013); Etzkowitz (2013a); Kalar e Antoncic (2015); Philpott et al. (2011); Tijssen (2006).

Trajetória institucional (P4) - Trajetória da universidade - Entorno de atuação - Relacionamentos interorganizacionais

Clark (2001); Covin e Miller (2014); Etzkowitz (2003b, 2013a); Lazzarotti et al. (2015); Miller (2011); Philpott et al. (2011); Stensaker e Benner (2013); Uzzi (1996); Williams e Kitaev (2005). Fonte: Elaborado pelo autor.

A triangulação utilizada neste estudo foi a metodológica, como proposta por Denzin (1978), que remete ao uso de diferentes métodos para a obtenção de dados mais completos e detalhados sobre o fenômeno. A triangulação metodológica alicerça-se na combinação de diversos métodos, a fim de melhor compreender os aspectos de uma realidade e evitar os vieses do uso de um único método. (AZEVEDO et al., 2013).

As entrevistas realizadas com informantes-chave, de diferentes áreas ou setores, em cada universidade possibilitaram o cruzamento das referências sobre o mesmo fenômeno, relacionadas ao mesmo objeto. As informações coletadas nas entrevistas foram contrastadas com os dados secundários, como aquelas dispostas em livros, documentos institucionais, materiais de divulgação, entre outros. De forma geral, os dados originados nas diferentes fontes foram contrastados em vários pontos sobre o tema em questão, o que permitiu maior validade e confiabilidade do que foi coletado.

Por exemplo, as informações recolhidas nas entrevistas sobre as principais políticas e os marcos históricos de cada instituição, relacionadas ao intento de uma universidade empreendedora, foram contrastadas entre os próprios entrevistados e também com os

72 diferentes materiais de fontes secundárias, como planos estratégicos, livros, websites institucionais, entre outros. A adoção desses procedimentos proporcionou validade interna da informação, como indicado por Azevedo et al. (2013), pois a utilização de ampla gama de informantes, com experiências e pontos de vista individuais que podem ser comparados, juntamente com o uso de diversos documentos institucionais, contribui para a credibilidade das informações em uma perspectiva qualitativa.

A fim de sintetizar todos os procedimentos metodológicos adotados neste estudo, a Figura 2 apresenta um breve esquema sobre os passos seguidos. Como ponto de partida, a pesquisa está embasada em uma questão do tipo ‘como’, a qual caracteriza o estudo de caso, conforme abordado por Yin (2010). Com base nessa indagação, quatro proposições teóricas foram formuladas, a exemplo de Lumpkin e Dess (1996) e Stevenson e Jarillo (1990), as quais orientaram a coleta e a análise dos dados. Essas proposições representam possíveis lacunas na literatura e/ou a relação de elementos teóricos e constituem as bases para a evidenciação empírica, sendo utilizadas desde o protocolo da pesquisa até a análise dos dados. Alicerçado na perspectiva qualitativa e nas proposições teóricas geradas, o estudo aborda individualmente os casos estudados e, posteriormente, apresenta a análise cruzada dos três casos investigados. Este desenho de pesquisa não foi encontrado na literatura consultada, especialmente pelo cunho qualitativo e pela orientação da pesquisa a partir de proposições teóricas, submetidas, na sequência, à evidenciação empírica. O uso de diferentes fontes sobre as trajetórias das universidades investigadas possibilitou o resgate histórico dos principais fatos ou aspectos que marcaram as transformações dessas instituições em direção a um modelo de universidade empreendedora, o que viabilizou o caráter retrospectivo deste estudo.

Como estrutura de apresentação e discussão dos resultados, optou-se pela apresentação, primeiro, dos três casos pesquisados e, na sequência, da discussão dos casos por meio das proposições teóricas previamente elaboradas. O capítulo a seguir apresenta os três casos estudados de forma individualizada. As principais características das universidades pesquisadas são apresentadas, especialmente aquelas inerentes ao desenvolvimento da terceira missão no ambiente acadêmico.

73 Figura 2 - Desenho da pesquisa

Fonte: elaborada pelo autor.

- Dados primários: entrevistas, anotações do pesquisador e observação não participante.

- Dados secundários: web-pages institucionais, documentos institucionais, teses, livros, artigos, etc. - Triangulação metodológica: cruzamentos dos dados primários e secundários.

Análise cruzada dos casos Questão de pesquisa:

Como se estabelece a orientação empreendedora no ambiente acadêmico, que embasa os processos de transformação institucional,

em direção a um modelo de universidade empreendedora?

Proposição 1 (P1) Proposição 2 (P2) Proposição 3 (P3) Proposição 4 (P4) Caso 1: PUCRS Caso 2: PUC-Rio Caso 3: LU Formulação das proposições teóricas Definição da unidade de análise: nível organizacional Estudo de caso Pesquisa qualitativa Método Eisenhardt

Estudo de casos múltiplos

Análise individual dos casos

Elaboração do protocolo de pesquisa

Nível estratégico institucional

Unidades complementares ou de apoio (diretamente relacionadas à orientação empreendedora)

74 4 APRESENTAÇÃO DOS CASOS

O presente capítulo se ocupa dos casos das três universidades pesquisadas. Além das características básicas de cada universidade, as principais estruturas e as formas de organização ou mecanismos que expressam a orientação empreendedora no ambiente acadêmico também são apresentados.