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5.4 Três Universidades, Diferentes Caminhos e Uma Direção

5.4.3 Proposição 3 – Vínculos e Sinergias Acadêmicas

A orientação empreendedora estabelecida pelas universidades estudadas evidencia-se em diferentes áreas do conhecimento, como proposto por Abreu e Grinevich (2013) e Clark (1998), e encontra significativa relação com as missões acadêmicas tradicionais, especialmente com a pesquisa. Embora a integração da terceira missão acadêmica com as missões anteriores não tenha sido livre de conflitos e tensões no ambiente acadêmico, como abordado na literatura por Kalar e Antoncic (2015), Rasmussen, Moen e Gulbrandsen (2006) e Urbano e Guerrero (2013), os casos estudados revelam, de forma mais saliente, as sinergias e o alinhamento das diferentes missões acadêmicas, como exposto por Boardman e Ponomariov (2009), Etzkowitz et al. (2000), Nelles e Vorley (2010c), Philpott et al. (2011) e Van Looy et al. (2011).

Nas três universidades em pauta, o desenvolvimento das atividades empreendedoras possui vínculo de origem com as atividades de pesquisa, as quais forneceram as bases para maior interação com o governo e as empresas, por meio da realização de projetos conjuntos e/ou da captação de recursos externos. Esse vínculo estreito mostra-se de forma bastante clara, nas situações analisadas, calcado na trajetória antecessora das universidades com foco nas atividades de pesquisa.

No caso da PUCRS, esse vínculo acentua-se com a criação da AGT, em 1999, a partir da qual a interação universidade–empresa–governo passou a ser um mote institucional, por meio da realização de projetos de pesquisa com fomento externo e da estruturação de institutos de pesquisa em âmbito nacional. A centralização dos projetos de pesquisa com maior envergadura na AGT representou o ímpeto institucional em direção à nova missão acadêmica que aflorava na instituição.

De forma similar, a PUC-Rio estabeleceu sua orientação empreendedora baseada, em boa medida, na capacidade de realização de projetos de pesquisa com elevado nível técnico- científico, o que possibilitou a execução de centenas de contratos de pesquisa com empresas e governo. No entanto, a PUC-Rio seguiu um caminho descentralizado, assentado no desenvolvimento de grupos de pesquisa do tipo ‘quase-firma’, como caracterizado por

158 Guaranys (2006), e no fortalecimento de suas unidades de pesquisa, como o Tecgraf, o ITUC e o CETUC, especialmente desde a crise institucional da década de 1990.

Na LU, o estabelecimento das atividades empreendedoras baseia-se, em boa parte, em sua vocação histórica na realização de investigações de forma aplicada e geração de inúmeros produtos ou serviços com base na pesquisa acadêmica. Essa vocação foi impulsionada por fatores externos, como a reforma universitária realizada pelo governo sueco, em 1977, e o início das atividades do Ideon, em 1983, os quais pavimentaram a transformação da LU em direção a um modelo de universidade empreendedora.

No que tange ao ensino, as três universidades averiguadas apresentam diversos vínculos na integração com a terceira missão acadêmica, envolvendo diferentes áreas do conhecimento. Todas elas possuem perfil abrangente, o que naturalmente gera variadas percepções pela comunidade acadêmica acerca da inovação e do empreendedorismo, como abordado por Kalar e Antoncic (2015), Philpott et al. (2011) e Todorovic, Mcnaughton e Guild (2011), e as desafia na disseminação das atividades empreendedoras.

Para enfrentar esse desafio, as três universidades em pauta apresentam esforços na disseminação da inovação e do empreendedorismo nas atividades de ensino em todas as áreas do conhecimento, como defendido por Clark (2001), por meio de ações e mecanismos institucionalizados e interdisciplinares, tais como as iniciativas do Idear, na PUCRS; o Domínio Adicional em Empreendedorismo, na PUC-Rio; e as atividades do Sten K. Johnson Centre for Entrepreneurship, na LU.

No caso da PUC-Rio, a relação com o ensino mostra-se desde a origem da terceira missão acadêmica na instituição, a exemplo da relação com a pesquisa. Isso se evidencia em diversas ações realizadas na década de 1990, como a inclusão do empreendedorismo na grade curricular das Engenharias por meio do REENGE; o início das atividades da Empresa Júnior; o lançamento do Programa de Formação de Empreendedores, remodelado, em 2005, para Domínio Adicional em Empreendedorismo. Nos casos da LU e da PUCRS, a relação se estabeleceu durante o desenvolvimento da terceira missão acadêmica e se institucionalizou mais recentemente, por exemplo, na criação do Sten K. Johnson Centre for Entrepreneurship, em 2012, e do Idear, em 2016, respectivamente.

Em relação ao espectro das atividades de uma universidade empreendedora proposto por Philpott et al. (2011), as ações realizadas pelas instituições investigadas possuem similaridades, por exemplo, o desenvolvimento interno de incubadoras e ETTs, e também peculiaridades. De forma individual, destaca-se o caso da PUCRS, com o desenvolvimento

159 interno de variadas formas do empreendedorismo acadêmico, incluindo o parque tecnológico Tecnopuc, sua expressão mais significativa e saliente, que a aproxima do paradigma empreendedor. A fim de realçar a relação da orientação empreendedora com as atividades de ensino e pesquisa, nas universidades em pauta, o Quadro 16 sintetiza as principais evidências acerca da Proposição 3 deste estudo.

Quadro 16 - Principais evidências da Proposição 3 nos casos estudados

Similaridades

- Vínculo de origem da terceira missão acadêmica com as atividades de pesquisa, as quais formaram as bases para seu desenvolvimento.

- Desenvolvimento de ações e mecanismos institucionalizados e interdisciplinares para disseminação da terceira missão acadêmica nas atividades de ensino, com abrangência a todas as áreas do conhecimento.

Particularidades principais

PUCRS

- Centralização dos projetos de pesquisa de maior envergadura na AGT, na busca por fomento externo.

- Criação do Idear, em 2016, para fomento do empreendedorismo e da inovação nas atividades de ensino, em todas as áreas do conhecimento. - Disponibilização de diversos mecanismos para o empreendedorismo acadêmico, realçando-se o Tecnopuc.

PUC-Rio

- Foco na realização descentralizada de contratos de pesquisa, por meio dos grupos e unidades de pesquisa.

- Vínculo de origem com as atividades de ensino, por meio de diversas ações iniciadas na década de 1990.

LU

- Vocação histórica na realização de pesquisa de forma aplicada e na geração de produtos e serviços baseados na pesquisa acadêmica.

- Criação do Sten K. Johnson Centre for Entrepreneurship, em 2012, para disseminação do empreendedorismo e da inovação nas atividades de ensino, de forma abrangente, a toda a instituição.

Fonte: elaborado pelo autor.

Apresentadas as principais evidências acerca da Proposição 3 deste estudo, a subseção a seguir avança para as similaridades e principais particularidades encontradas na Proposição 4, a qual relaciona a orientação empreendedora com a trajetória institucional, o entorno de atuação e os elos interorganizacionais.