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4 A CRISE DA SUBORDINAÇÃO JURÍDICA ENQUANTO

4.2 A ORIGEM E A EVOLUÇÃO DA SUBORDINAÇÃO JURÍDICA

4.2.2 A natureza da subordinação

A investigação da natureza da subordinação remete ao estudo do tema abordado no capítulo anterior, quando se caminhou da teoria da dependência à teoria da subordinação.

Assim é que, quando se procura investigar qual a natureza da subordinação, exploram-se, em verdade, os adjetivos empregados ao substantivo em questão. Sendo assim, já analisada, no presente trabalho, sob as óticas técnica, econômica e social, resta à subordinação uma natureza jurídica.

262

O próprio vocábulo subordinação jurídica já induz a compreensão de que a subordinação que caracteriza a relação de emprego possui uma natureza contratual, ou seja, deriva do contrato de trabalho celebrado entre empregado e empregador.

Portanto, como afirma Amauri Mascaro do Nascimento:

[...] a subordinação encontra o seu fundamento no contrato de trabalho, significando uma limitação à autonomia do empregado, porém em decorrência da sua própria vontade ao se propor a prestar serviços sob o poder de direção de outrem.263

Fica claro, portanto, que toda a construção teórica da subordinação jurídica tem como fundamento o contrato de trabalho, partindo-se do pressuposto de que o empregado se propõe a prestar serviços sob o poder de direção de outrem, o empregador.

Assim, primeiro define-se que a relação de emprego nasce de um acordo de vontades entre empregador e empregado (contrato de trabalho) e; segundo, conclui-se que, por meio deste contrato, o empregado se propõe a prestar serviços sob a direção de outrem. Somente a partir destas duas premissas é que se consegue conferir à subordinação uma conotação jurídica, ou seja, vê-se na subordinação uma conseqüência do contrato de trabalho.

Como se vê, dentro dessa linha de raciocínio, não importa o motivo pelo qual o trabalhador celebrou um contrato de trabalho. O que importa, em verdade, é que o trabalhador manifestou, tácita ou expressamente, sua vontade de trabalhar prestando serviços sob o poder de direção de um terceiro, o empregador.

Encontra-se, assim, na natureza jurídica contratual da relação de emprego – tema já abordado anteriormente nesse trabalho – a natureza jurídica da subordinação, vista até então como contraface do poder de direção do empregador.

263

É bem verdade que, inicialmente, chegou-se a difundir a idéia de que a subordinação possuía fundamento em uma relação de sujeição pessoal do empregado ao empregador. Esta idéia, difundida na Alemanha nos anos 20 e 30 do século passado, encontra no trabalhador não um sujeito com direitos e obrigações contrapostas ao empregador, mas sim um sujeito membro de uma comunidade empresarial.264

Na doutrina brasileira, os livros do início do século passado tratavam, de forma recorrente, da subordinação como sinônimo de sujeição pessoal. Orlando Gomes, após eleger a subordinação como elemento diferenciador do contrato de trabalho, afirmara que:

Adotado o critério da subordinação jurídica ou hierárquica como o único que realmente permite a caracterização do contrato de trabalho, mister se faz expor e analisar as razões pelas quais a dependência pessoal do trabalhador é inerente à relação de emprego.265

Essa subordinação, também denominada de subordinação pessoal ou subordinação hierárquica266, acabava por vincular a pessoa do trabalhador – sob o argumento de que não seria possível separar a pessoa do trabalhador do trabalho a que se obrigou a realizar267 – ao poder de direção do tomador dos serviços.

Ocorre que o enquadramento da subordinação como sujeição pessoal poderia fazer da relação de emprego algo semelhante às relações mantidas nos períodos escravocratas e servis, quando ao trabalhador não era conferida liberdade, sendo este, no primeiro momento, propriedade (res) do senhor e, no segundo momento, sujeito que deveria ceder aos mais diversos desejos do senhor feudal, devendo a este a “[...] obrigação geral de fidelidade”.268

Desta forma, conforme esclarece Arion Sayão Romita:

264

ROMITA, op. cit., p. 72.

265

GOMES, op. cit., p. 114.

266

CATHARINO, op. cit., p. 204.

267

Ibidem, p. 206.

268

A concepção corporativa, autoritária e hierárquica, foi naturalmente repudiada em face de mudanças políticas e substituída por uma concepção igualitária, segundo a qual a posição de supremacia do empregador é reduzida ao mínimo indispensável à existência ao funcionamento da empresa.269

No mesmo sentido, Paulo Emílio Ribeiro de Vilhena esclarece que:

Não se admite, em primeiro plano, a sujeição, a subordinação pessoal, que são resquícios históricos, etapas vencidas nas lutas políticas seculares, desde a consideração do prestador de trabalho como res (locatio) e quando o credor se qualificava como condutor (conductio). Em suma, à atividade, como objeto de uma relação jurídica, não pode ser assimilado o trabalhador como pessoa. Qualquer acepção em sentido diverso importará em coisificá-lo.270

Diante disso, passou-se, então, a conceber-se a subordinação como algo decorrente do contrato de trabalho e, assim, limitada pelo conteúdo das prestações nele previstas. Encontrar no contrato de trabalho a natureza da subordinação, por isso subordinação jurídica, é limitar o poder de direção do empregador aos contornos do contrato de trabalho, algo extremamente importante se considerado que, conforme já ressaltado, em contratos desta natureza, sujeito e objeto se misturam na pessoa do trabalhador.

A subordinação, portanto, longe de ser uma manifestação de hierarquia, afinal esta impõe uma relação de um superior para um inferior da qual este, de forma unilateral, não pode se libertar271, o que não ocorre no âmbito de um contrato de trabalho por força do princípio da liberdade de trabalho consagrado no inciso XIII do artigo 5º da Constituição Federal de 1988272, revela-se, em verdade, uma expressão do contrato de trabalho.

É jurídica, portanto, a dita subordinação, uma vez que esta encontra sua razão de ser na celebração do contrato de trabalho, instrumento jurídico através do qual o

269

ROMITA, op. cit., p. 73.

270

VILHENA, Paulo Emílio Ribeiro de. Relação de emprego. Estrutura legal e supostos. 3. ed. São Paulo: LTr, 2005, p. 525.

271

SILVA, Otavio, op. cit., p. 17.

272

BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Disponível em: < http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constitui%C3%A7ao.htm> Acesso em: 01 abr. 2010.

empregado se compromete a prestar seus serviços em favor de outrem que, na qualidade de tomador dos serviços, possui o direito de dirigir e comandar a referida prestação.