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5 O PROCESSO DE AMPLIAÇÃO DO CONCEITO DE

5.2 A EXPERIÊNCIA ITALIANA: DO TRABALHO PARASSUBORDINADO AO

5.2.6 O trabalhador parassubordinado no Brasil

5.2.6.3 O posicionamento dos tribunais

Diante da ausência de previsão legal sobre o trabalho parassubordinado, a jurisprudência nacional vem adotando, em alguns casos, a técnica da assimilação, equiparando o trabalhador parassubordinado ao empregado, garantindo a ele todos os direitos e garantias trabalhistas e, em outros casos, a técnica da exclusão, enquadrando tais trabalhadores como espécies de trabalhadores autônomos, deixando-os desamparados de qualquer tipo de tutela jurídica trabalhista.

Aqueles que seguem a teoria da assimilação e equiparam o trabalhador parassubordinado ao trabalhador subordinado, o fazem a partir de uma ampliação da noção da subordinação jurídica. Nesse sentido, o acórdão a seguir, aqui

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Idem. A supersubordinação. Invertendo-se a lógica do jogo. Disponível em: < http://www.google.com.br/search?hl=pt-

BR&source=hp&q=a+supersubordina%C3%A7%C3%A3o&aq=f&aqi=&aql=&oq=&gs_rfai=> Aceso em 02 maio 2010.

representado por um trecho de sua ementa, é paradigmático uma vez que, a partir de uma análise crítica, fundamentada e profunda sobre o tema, conclui que:

[...] A preposição para significa, segundo Cândido Jucá, "na direção de; com destino a" (Dicionário Escolar de Dificuldades da Língua Portuguesa), pelo que a parassubordinação denota um tipo de trabalho que se dirige, que se destina à subordinação e não à autonomia, senão a expressão seria outra para-autônomo. A legislação trabalhista brasileira não prevê a figura do parassubordinado, que, se admitida por migração, deve ter uma inteligência de natureza inclusiva, de modo a valorizar o trabalho do homem numa sociedade em mudanças e em fase de assimilação de valores neoliberais. Não precisamos reproduzir cegamente soluções alienígenas, distante das nossas experiências, para que não corramos o risco de positivar o que não vivenciamos. O Direito deve ser o reflexo de experiências vividas pela sociedade onde se pretende seja instituído e aplicado e não o receptáculo de uma vivência de país estrangeiro. Nem tudo que é bom para os europeus é bom para os brasileiros e vice-versa. Assim, se se quer copiar a figura do parassubordinado, não previsto na nossa legislação com direitos próprios, então que se faça essa movimentação na direção do subordinado com todos as vantagens previstas na CLT e não no sentido contrário de sua identificação com o autônomo, gerando um tercius genus, isto é, o para-autônomo. Portanto, parassubordinação dentro e não além do modelo traçado no art. 3o.., da CLT, que necessita de uma intro legere em consonância com a realidade social.426

O acórdão em questão deixa claro que uma nova concepção de subordinação jurídica, adaptada à realidade socioeconômica atual, implica reconhecimento dos trabalhadores dito parassubordinados como trabalhadores verdadeiramente subordinados e, portanto, empregados destinatários de todas as normas e garantias trabalhistas previstas no ordenamento jurídico nacional.

Em contrapartida, surgem decisões que enquadram o trabalhador parassubordinado como uma espécie de trabalhador autônomo, retirando daquele, portanto, a possibilidade de acesso aos direitos e garantias trabalhistas conferidos aos trabalhadores empregados. Nesse sentido, segue abaixo o trecho do voto da Desembargadora do Tribunal Regional do Trabalho da 05ª Região

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BRASIL. Tribunal Regional do Trabalho da 3ª Região. Recurso Ordinário n.º 00546-2007-091-

03-00-0 RO. Rel. Des. Luiz Otávio Linhares Renault. Publicado no DJ, 23 fev. 2008. Disponível

em:

<http://as1.trt3.jus.br/consultaunificada/mostrarDetalheLupa.do?evento=Detalhar&idProcesso=RO ++0724952&idAndamento=RO++0724952PACO20080222++++11162600> Acesso em 23 out. 2010.

Graça Laranjeira que, julgando um caso que envolvia o pedido de reconhecimento de vínculo de emprego de um trabalhador contratado nos termos da Lei n. 4.886/65 (Representante Comercial Autônomo), concluiu que tais trabalhadores seriam verdadeiros parassubordinados, distintos, portanto, do trabalhador empregado:

[...] Nesse sentido, a representação comercial autônoma guarda traços similares ao contrato de trabalho, tendo em vista que os elementos pessoalidade e não eventualidade na prestação dos serviços estão contidos no texto legal. Nesse compasso, o reconhecimento da relação de emprego com a conseqüente descaracterização do contrato de representação comercial demanda prova forte e induvidosa, notadamente quanto ao elemento que os distinguem - a subordinação jurídica.

Por isso, deve ser extremamente cuidadoso o exame do julgador quanto aos fatos que envolvam questões dessa ordem, porquanto os artigos 27 e 28 da Lei 4.8886/65 trazem inúmeras obrigações por parte do representante que, à primeira vista, podem ser confundidas com a subordinação jurídica decorrente do poder diretivo do empregador. Está obrigado o representante comercial autônomo a acolher as orientações transmitidas pelos representados e, ainda a fornecer informações detalhadas sobre o andamento dos negócios a seu cargo, não podendo, salvo autorização expressa, conceder abatimentos, descontos ou dilações, nem agir em desacordo com as instruções do representado.

De modo que os fatos denominados pelo Recorrido como caracterizadores da subordinação jurídica nada mais são do que poderes conferidos pela Lei aos representados e obrigações próprias da atividade de representação comercial, que vem sendo classificada dentro de uma nova fattispecie de relação de trabalho – a parassubordinação, impondo-se a reforma da decisão para reconhecer-se a improcedência da pretensão ao vínculo de emprego.[...]427

No âmbito da jurisprudência nacional, portanto, a proteção ao trabalhador parassubordinado submete-se ora à técnica da assimilação, ora à técnica da exclusão, dependendo, em todo caso, da interpretação dada ao fato pelo julgador: encarando o trabalhador parassubordinado como uma nova espécie de trabalhador subordinado, a este são conferidos todos os direitos e garantias trabalhistas previstas no ordenamento juslaborista nacional; encontrando no

427

Idem. Tribunal Regional do Trabalho da 5ª Região. Recurso Ordinário n.º 01432-2002-492-05-

00-1. Rel.ª Des.ª Graça Laranjeira. Publicado no DJ, 17 fev. 2004. Disponível em:

<http://www.trt5.jus.br/jurisprudencia/modelo/AcordaoConsultaBlob.asp?v_id=93720> Acesso em 23 out. 2010.

trabalhador parassubordinado uma nova espécie de trabalhador autônomo, acaba-se por deixá-lo à margem de qualquer tipo de proteção juslaborista.

5.3 A EXPERIÊNCIA ESPANHOLA: A PROTEÇÃO AO TRABALHADOR