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5 O PROCESSO DE AMPLIAÇÃO DO CONCEITO DE

5.2 A EXPERIÊNCIA ITALIANA: DO TRABALHO PARASSUBORDINADO AO

5.2.5 A reforma Biagi e o contrato a projeto

5.2.5.7 Os direitos dos trabalhadores que celebram um contrato a projeto

Seguindo a técnica de extensão seletiva, o Decreto Legislativo de n. 276/2003 conferiu alguns direitos trabalhistas aos trabalhadores contratados mediante um contrato a projeto.

Inicialmente, o art. 64, §1º, do diploma legal em questão possibilita ao prestador de serviços o labor concomitante em favor de outros tomadores de serviço, desde que tal hipótese esteja prevista contratualmente.

Todavia, o próprio Decreto, agora no §2º do art. 64, limita o direito em questão prevendo que o prestador dos serviços não pode desenvolver atividade em concorrência com o tomador dos serviços, agir de forma a prejudicar as atividades deste nem tampouco divulgar notícias ou pareceres relacionados aos programas ou organização do mesmo.

Por fim, cumpre ainda ressaltar que o Decreto Legislativo de n. 276/2003 é omisso com relação à necessidade ou não de pagamento de uma vantagem salarial ao prestador de serviços caso o contrato a projeto traga em seu bojo uma cláusula de exclusividade, como ocorre nos casos dos trabalhadores subordinados em face da regra prevista no art. 2.125 do Código Civil italiano.

O artigo 65 do Decreto Legislativo de n. 276/2003 garante também ao prestador de serviços o direito de ser reconhecido autor da invenção feita durante a execução do contrato.

Já o artigo 66 do Decreto Legislativo de n. 276/2003 reconhece direitos relativos a normas de medicina e segurança do trabalho. Nesse sentido, prevê o §1º do referido artigo que, em caso de gravidez, acidente ou doença ocupacional, o contrato celebrado entre as partes não será extinto, mas sim ficará suspenso, sem, contudo, o pagamento de qualquer contraprestação.

A percepção de auxílio-doença somente tem razão de ser quando a doença ocupacional acarretar internação hospitalar do trabalhador. Já no que tange ao auxílio-acidente, para que o trabalhador seja credor do referido benefício – que equivale a 60% da remuneração recebida pelo colaborador e é devida a partir do 4º dia seguinte ao acidente –, faz-se necessário que o mesmo contribua para o Instituto Nacional do Seguro contra Acidentes de Trabalho (INAIL), sendo que, no caso do contrato a projeto, tal contribuição é repartida entre trabalhador e tomador de serviços, sendo que o primeiro arca com 1/3 e o segundo com 2/3 do total da contribuição devida.393

Ressalte-se ainda que, no que tange às suspensões decorrentes de doenças e acidentes de trabalho, prevê o §2º do art. 66 que, salvo previsão em sentido contrário, tal suspensão não terá o condão de prorrogar a duração do contrato que, assim, se extinguirá com o término do prazo estipulado inicialmente. Pode ainda o tomador dos serviços, nos termos da segunda parte do §2º do art. 66, dispensar o trabalhador caso o período de suspensão, nesses casos, supere 1/6 da duração do contrato, quando esta for de natureza determinada, ou exceda 30 dias, caso a duração seja determinável.

Já com relação à suspensão em virtude de gravidez, prevê o §3º do art. 66 que o contrato será prorrogado automaticamente pelo prazo de 180 dias, salvo se este garantir prazo superior.

Como se vê, o rol de direitos dos trabalhadores que celebram um contrato a projeto relaciona-se somente aos campos do direito processual (aplicação do processo do trabalho), fiscal e tributário, não havendo tutela legal relacionada, por exemplo, a direitos coletivos e sindicais; jornada de trabalho; férias e etc.

Em verdade, até mesmo os direitos conferidos aos trabalhadores que celebram um contrato a projeto o são de maneira desfavorável se comparados aos trabalhadores subordinados. Para ilustrar, cite-se o fato de que, no caso do trabalhador subordinado, a contribuição destinada ao INAIL é custeada

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integralmente pelo tomador dos serviços, enquanto que no caso do trabalhador a projeto, este arca com 1/3 do total da contribuição.

Outrossim, em que pese o Decreto Legislativo de n. 276/2003 fixe parâmetros para o valor da remuneração do trabalhador, não há, por parte deste diploma legal, garantias para os casos de atraso no pagamento, o que comprova que, em verdade, “[...] o trabalhador parassubordinado a projeto (‘co.co.pro’), assim como

os parassubordinados em geral, recebe do ordenamento jurídico, em termos de direitos e garantias, uma proteção extremamente inferior àquela assegurada ao empregado”.394

Desta forma, pode-se concluir que, na Itália, tanto o desenvolvimento do trabalho parassubordinado como a criação do trabalho a projeto implicaram precarização do trabalho ao passo que permitiram aos tomadores de serviços contratarem trabalhadores em um sistema mais flexível e liberal, no qual, inclusive, há uma flagrante redução de direitos e garantias sociais, realidade esta fundamentada única e exclusivamente no fato de que tais trabalhadores não podem ser classificados como empregados em razão da ausência do elemento da subordinação clássica, leia-se: sujeição às ordens diretas do tomador de serviços, ou, como na lição de Luiz de Pinho Pedreira da Silva, trabalhador este individualizado “[...] pela sujeição plena à heterodireção, isto é, à obrigação

permanente de obediência do prestador em face do credor”.395

Ocorre que tanto o trabalho parassubordinado quanto o contrato a projeto acabaram servindo como instrumento para contratações fraudulentas de trabalhadores tipicamente subordinados. Ressalte-se inclusive que foi justamente esta utilização fraudulenta e abusiva que levou o legislador italiano a criar o contrato a projeto e, assim, incluir o requisito da vinculação a um projeto ou programa específico para contratação dessa espécie de trabalhador.

Todavia, na Itália, já se verificou que tal exigência não alcançou os objetivos almejados, tanto que a Lei Orçamentária de 2007 igualou os custos da prestação

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Ibidem, p. 141.

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do trabalho parassubordinado e subordinado, aumentando a contribuição previdenciária devida pelo tomador de serviços nos casos de trabalhos parassubordinados.

Portanto, mais uma vez, diante da utilização abusiva e fraudulenta de trabalhadores parassubordinados, o legislador italiano adotou medidas visando desestimular a utilização de um instituto criado, à época da Lei Orçamentária de 2007, há cerca de quatro anos, uma vez que esta Lei revela “[...] a intenção do

legislador de robustecer os direitos dos trabalhadores parassubordinados e de combater o uso fraudulento desse tipo de prestação de serviço”.