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5 O PROCESSO DE AMPLIAÇÃO DO CONCEITO DE

5.2 A EXPERIÊNCIA ITALIANA: DO TRABALHO PARASSUBORDINADO AO

5.2.3 O conceito, os requisitos e as espécies de trabalhador

Ao promover a alteração do Código de Processo Civil italiano e estender o processo do trabalho às relações de agência, de representação comercial e outras relações de colaboração que se concretizem numa prestação de serviços continuada e coordenada, prevalentemente pessoal, ainda que não em caráter subordinado, a Lei n. 533 de 11.08.1973 acabou por trazer os elementos do trabalhado parassubordinado, quais sejam: coordenação, continuidade e prestação prevalentemente pessoal.

No que tange ao requisito da continuidade, este se presta a qualificar o trabalhador parassubordinado como aquele que presta um serviço que, em que pese autônomo, se mantém durante um determinado período de tempo prolongado, ou seja, não se esgota em uma só prestação.

Desta forma, a distinção entre o trabalhador parassubordinado e o trabalhador autônomo, nesse ponto, residiria no fato de que enquanto este presta um serviço de natureza instantânea, ou seja, que se extingue com o cumprimento de apenas um resultado, aquele persegue a consecução de resultados que não se restringem à realização de apenas uma atividade.343

341

ALVES, op. cit., p. 87.

342

PORTO, op. cit., p. 119.

343

AMANTHÉA, Dennis Veloso. A Evolução da Teoria da Parassubordinação. O Trabalho a Projeto. São Paulo: LTr, 2008, p. 48.

Dentro dessa linha de raciocínio, conforme destaca Otávio Pinto e Silva, “[...] o

critério da continuidade é incompatível com a efetivação de uma única obra, ainda

que para sua execução se faça necessário um tempo não breve”.344 Completa o

autor afirmando que “[...] a continuidade deve estar vinculada a uma série de

resultados que as partes pretendem atingir [...]”.345

Trata-se, portanto, de um requisito que busca retirar do conceito de trabalhador parassubordinado o trabalhador esporádico, ocasional, trabalhador este também excluído do conceito de empregado, leia-se trabalhador subordinado. Assim, o requisito em questão não é novidade.

O segundo requisito exige que o trabalho parassubordinado seja prestado de forma prevalentemente pessoal. Disto resulta o fato de que o trabalhador parassubordinado, em que pese possa contar com o auxílio de terceiros, deve atrair para si “[...] a principal carga de atividades [...]”, devendo o trabalho dos auxiliares ser apenas complementar.346

De acordo com Otávio Pinto e Silva, disso resulta “[...] que o prestador dos

serviços atua como um pequeno empreendedor, organizando em torno de si todas as atividades voltadas ao atendimento das necessidades do tomador”.347

No que tange ao requisito da pessoalidade, entretanto, cumpre destacar que a sua relativização já havia sido introduzida pelo legislador italiano no âmbito do próprio contrato de emprego, notadamente com relação ao trabalho em domicílio.

Conforme destaca Lorena Vasconcelos Porto, a Lei n. 877/73, em seu art. 1º, previu a possibilidade do trabalhador em domicílio receber ajuda acessória de membros da família, não sendo, portanto, um requisito que efetivamente distinga o trabalhador subordinado do trabalhador parassubordinado.348

344

SILVA, Otávio, op. cit., p. 104.

345 Ibidem, p. 104. 346 Ibidem, p. 105. 347 Ibidem, p. 105. 348 PORTO, op.cit., p. 121.

O último dos requisitos, sem dúvida, é o que desperta maiores debates: o que seria um trabalho coordenado? Segundo Otávio Pinto e Silva, a coordenação “[...]

surge com o sentido de ‘ordenar juntos’: significa que ambas as partes possuem medidas a propor para alcançar o objetivo comum”.349

Assim, o trabalhador parassubordinado não colabora na empresa, como ocorre com o trabalhador subordinado previsto no art. 2.094 do Código Civil italiano350, mas sim colabora para a empresa, havendo, portanto, uma união de interesses,351 fazendo com que o contratante organize o trabalho do contratado, sem que isso configure subordinação.352

Se, no trabalho subordinado, a colaboração é estrutural, no trabalho parassubordinado, a colaboração se faz funcional, ou seja, a colaboração do prestador de serviços concorre para a realização dos objetivos do contratante, sendo marcada, portanto, pela inserção da atividade do contratado na estrutura empresarial do contratante. Sobre o tema, destaca Amauri Cesar Alves que:

A coordenação da prestação é entendida como a sujeição do trabalhador às diretrizes do contratante acerca da modalidade da prestação, sem que haja, neste contexto, subordinação no sentido clássico e já analisado do termo. É a atividade empresarial de coordenar o trabalho sem subordinar o trabalhador. É, ainda, a conexão funcional entre a atividade do prestador do trabalho e a organização do contratante, sendo que aquele se insere no contexto laborativo deste – no estabelecimento ou na dinâmica empresarial – sem ser empregado, mas inserido em tal contexto de forma harmônica. Pode significar, ainda, que na coordenação há, em diversos casos, a organização conjunta da prestação laborativa entre contratante e contratado, cabendo exclusivamente àquele, entretanto, a responsabilidade sobre o empreendimento.353

Como se vê, a coordenação – pedra de toque na distinção entre o trabalhador subordinado e o trabalhador parassubordinado –, revela uma conexão entre a

349

SILVA, Otávio, op. cit., p. 106.

350

“Art. 2.094. Prestador de trabalho subordinado. – É prestador de trabalho subordinado quem se obriga mediante retribuição a colaborar na empresa, prestando o próprio trabalho intelectual ou manual na dependência e sob a direção do empresário”. (PORTO, op. cit., p. 118).

351

BULGUERONI, op. cit., p. 126.

352

AMANTHÉA, op. cit., p. 44.

353

atividade prestada pelo contratado e a estrutura empresarial do contratante, fazendo com que o prestador de serviços se insira na dinâmica empresarial de modo a alcançar um objetivo comum.

O trabalho parassubordinado, então, não admite o exercício direto do poder diretivo do contratante, ou seja, que o contratado execute seus serviços “[...]

mediante ordens e controles penetrantes [...]”354 do contratante.

Segundo Lorena Vasconcelos Porto, a jurisprudência italiana oferece, como exemplos de trabalhadores parassubordinados, os profissionais intelectuais (médicos, jornalistas, advogados etc.), os moto-boys, os telefonistas e operadores de telemarketing, os consultores empresariais, os administradores de condomínio, os gestores de postos de gasolina, os animadores de centros turísticos, dentre outros que não se sujeitam de forma intensa ao poder diretivo do tomador dos serviços.355

Definidos o conceito e os requisitos dessa nova relação de trabalho, verifica-se que, na Itália, inserem-se nesse conceito as relações de agência e de representação comercial, bem como todas as demais relações de colaboração que se concretizem numa prestação de serviços continuada e coordenada, prevalentemente pessoal, ainda que não em caráter subordinado.