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A organização administrativa de Penrose e a visão sistêmica

SIMPLES COMPLEXO

5 UMA ANÁLISE DA TEORIA DE CAPACIDADES DINÂMICAS À LUZ DA VISÃO SISTÊMICA

5.2.2 A organização administrativa de Penrose e a visão sistêmica

O Quadro 6 apresenta o mapeamento do conceito de organização administrativa, conforme descrito por Penrose (1959) no contexto da teoria do crescimento da firma, no VSM de Beer (1979).

O modelo de empresa como uma organização administrativa descrito por Penrose (1959) é congruente com o VSM de Beer (1972, 1979, 1985). Pode-se dizer que Penrose praticamente rascunhou, através da sua descrição textual de organização administrativa, um modelo que Beer elaborou em detalhes com base na teoria de sistemas e na cibernética. Diante desta constatação, sugere-se que o VSM oferece consistência cibernética e sistêmica ao modelo

de organização administrativa, elaborado por Penrose como um modelo adequado para apoiar sua teoria sobre o desenvolvimento e o crescimento da firma.

Quadro 6 – A organização administrativa de Penrose (1959) e a visão sistêmica

VSM

Beer (1979) Organização Administrativa Penrose (2009)

O VSM consiste de uma

organização hierárquica de níveis recursivos (p. 335)

Políticas gerais governam operação de uma hierarquia administrativa (p. 14).

Estruturas organizacionais e procedimentos evoluíram para permitir a tomada de decisão de forma distribuída, através dos níveis administrativos, garantindo-se a consistência das decisões (p. 15, 16). S1 (p. 113)

O VSM sugere interferência mínima do metassistema sobre as unidades operacionais para não prejudicar sua autonomia das unidades operacionais (p. 110).

A empresa é uma unidade autônoma de planejamento administrativo (p. 14).

Em um ambiente estável, uma vez criada uma estrutura administrativa ótima e estabelecidas políticas ótimas, a empresa pode operar sem maiores intervenções da administração central (p. 15, 16).

S2 (p. 176) As atividades da empresa são inter-relacionadas e coordenadas (p. 14). S3 (p. 202) A adaptação a mudanças impõe o ajuste a condições de curto-prazo (p. 15,

16).

S4 (p. 227) A adaptação a mudanças impõe o ajuste a condições de longo-prazo e a elaboração de políticas de longo-prazo (p. 15)

S5 (p. 259)

Responsável pela definição de políticas organizacionais cujo objetivo é conferir sinergia ao sistema organizacional.

A administração central é a autoridade máxima do arcabouço organizacional, responsável pelo estabelecimento das políticas gerais que governam operação da hierarquia administrativa (p. 14).

Sua responsabilidade é estabelecer e atualizar a estrutura organizacional, propor políticas gerais e tomar as decisões estratégicas da empresa (p. 14) A autoridade da administração central deve ser o suficiente para que se tome decisões com um certo grau de acordo (p. 14).

Liberdade (autonomia) versus

restrição (sinergia) (p. 173) Uma vez que a estrutura administrativa tenha sido definida e as políticas tenham sido estabelecidas pela administração central, idealmente, nenhuma intervenção adicional é necessária por parte da administração central. As políticas estabelecem o escopo para a tomada de decisões na empresa (p. 14).

Redução de variedade entre as funções S1 e S3 (p. 214) e entre as funções S3 e S4 (p. 255, 259)

A administração central não conseguiria se ocupar com os ajustes de curto-prazo, por causa das muitas decisões necessárias. Técnicas e procedimentos permitem à administração central lidar com as questões de longo-prazo sem ser sobrecarregada (p. 15, 16).

Segundo o princípio da

recursividade (p. 73, 315, 321), o VSM não limita o número de níveis organizacionais.

Chegou-se a admitir em um certo momento que, por causa da capacidade humana ser finita, haveria um ponto em que a capacidade de coordenação da administração se esgotaria, limitando o crescimento e o tamanho da empresa. Isso nunca chegou a ser corroborado pelos fatos. Na prática, as pessoas conseguem se organizar de modo a formar uma entidade capaz de trabalhar de modo suficientemente consistente e eficiente (p. 16). O administrador é um engenheiro

de variedade (p. 39) Uma das responsabilidades da administração central é estabelecer e atualizar a estrutura organizacional (p. 14) Fonte: Elaborado pelo autor.

Penrose (1959) admite que estruturas organizacionais, procedimentos e técnicas foram criadas e evoluíram para permitir que a administração central pudesse lidar com a complexidade cada vez maior à medida que a organização cresce. Esse processo, uma evolução através de criação viabilizou a existência de organizações cada vez maiores. Essa é uma alusão à Lei de

Gal (1986) no domínio das organizações: organizações complexas que funcionam evoluíram a partir de organizações mais simples que funcionavam.

O mapeamento apresentado no Quadro 6 mostra que a descrição da empresa administrativa de Penrose (1959) é bastante congruente com o VSM (BEER, 1972, 1979, 1985). De fato, com base no Quadro 6, pode-se esboçar um VSM da organização administrativa, conforme ilustra a Figura 21.

Figura 21 – A organização administrativa de Penrose (2009) como um sistema viável

Fonte: Elaborado pelo autor com base em Beer (1979, p. 321) e Penrose (2009, p. 15, 16).

O VSM da Figura 21 mostra a empresa como um conjunto de recursos, cuja utilização ao longo do tempo é determinada através de decisão administrativa, conforme defende Penrose

?

S5 Administração Central Planejamento administrativo Política gerais que governam

a hierarquia administrativa S4 Adaptação a mudanças Ajuste a condições de longo-prazo S3 Política ótimas Ajuste a condições de curto-prazo S1 Ajuste a condições de curto-prazo S1 Ajuste a condições de curto-prazo Recursos Recursos S2 Coordenação do uso de recursos Ajuste a condição de curto-prazo

(2009, p. 21). A empresa é uma unidade autônoma de planejamento administrativo, cujas atividades (S1) são inter-relacionadas e coordenadas (S2) através de políticas definidas com base no seu efeito sobre a empresa como um todo. Uma administração central (S5) é responsável pelo estabelecimento das políticas gerais que governam a operação da hierarquia administrativa, conferindo-lhe sinergia (S3). A administração central é a autoridade máxima do arcabouço organizacional. Sua autoridade não deve ser exacerbada, mas apenas o suficiente para que se tome decisões com um certo grau de acordo. Sua responsabilidade é estabelecer e atualizar a estrutura organizacional, propor políticas gerais e tomar as decisões estratégicas da empresa. Uma vez que a estrutura administrativa tenha sido definida e as políticas tenham sido estabelecidas, idealmente, nenhuma intervenção adicional é necessária por parte da administração central. As políticas estabelecem o escopo para a tomada de decisões na empresa (PENROSE, 2009, p. 14).

Em um ambiente estável, uma vez criada uma estrutura administrativa ótima e estabelecidas políticas ótimas, a empresa pode operar sem maiores intervenções da administração central. Quando a empresa tem que lidar com um ambiente dinâmico, a adaptação a mudanças impõe desafios maiores, que incluem tanto o ajuste a condições de curto- prazo quanto o ajuste a mudanças de longo-prazo (S4), além de definição de políticas de longo prazo. Embora não haja uma linha divisória clara entre os dois tipos de problema, a administração central não conseguiria se ocupar com os ajustes de curto-prazo, por causa das muitas decisões necessárias. Por isso, estruturas organizacionais e procedimentos evoluíram para permitir a tomada de decisão de forma distribuída, através dos níveis administrativos, garantindo-se a consistência das decisões. Da mesma forma, técnicas e procedimentos permitem à administração central lidar com as questões de longo-prazo sem ser sobrecarregada (PENROSE, 2009, p. 15, 16).

Para se fazer justiça à teoria do VSM, é importante ressaltar que a função do S5 extrapola o conceito de administração central proposto por Penrose (1959). Beer (1979, 1985) concebeu o S5 para ser responsável pelo fechamento estrutural do VSM, ao supervisionar o equilíbrio entre as funções S3 e S4. O S5 é responsável por prover o ethos organizacional. Ele incorpora a visão e a missão que expressam o propósito essencial do sistema organizacional. Quando se fala em administração central, no contexto da Figura 21, que a associa ao S5 do VSM, é preciso frisar que o significado do termo está sendo estendido para corresponder ao conceito de S5 do VSM. As demais associações de conceitos descritos por Penrose ao VSM seguem a mesma ideia. Prevalecem os conceitos formais do VSM, fundamentados na

cibernética. É isso que se quer dizer, nesta dissertação, quando se fala que Penrose esboçou uma modelo de organização que Beer formalizou através do VSM, com base na cibernética.

Em resumo, em um ambiente estável, a administração central (S5) define políticas, estrutura e processos otimizados que estabelecem um ethos organizacional que garante a sinergia (S3) da organização, ao mesmo tempo em que preserva a autonomia das unidades organizacionais (S1). Em um ambiente dinâmico, a administração central se ocupa com o ajuste a mudanças de longo-prazo (S4), enquanto que o ajuste a condições de curto-prazo é distribuído através dos níveis administrativos (recursividade do modelo).

Penrose (1959) defende que o alcance da coordenação estabelece limites ao tamanho de uma empresa industrial (2009, p. 17, 18). Beer formaliza essa conclusão de Penrose através da recursividade do VSM, um princípio que permite descrever, para efeito de análise ou projeto, um número ilimitado de níveis organizacionais. Beer (1979, p. 336) considera o processo contínuo de planejamento através dos níveis recursivos como a cola coesiva da empresa. Contanto que haja esse tipo de planejamento, que mantém coeso o sistema organizacional, não deve haver limites para o tamanho da empresa.