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Capacidades dinâmicas como rotinas que evoluem pela aprendizagem

3 VISÃO DE CAPACIDADES DINÂMICAS

3.2.3 Capacidades dinâmicas como rotinas que evoluem pela aprendizagem

Zollo e Winter (2002, p. 340) consideram que os processos de aprendizagem são responsáveis pela evolução de rotinas operacionais e capacidades dinâmicas. As rotinas operacionais são conjunto de atividades relativas ao funcionamento operacional da empresa. As capacidades dinâmicas são conjunto de atividades dedicada à modificação das rotinas operacionais. Os autores fazem distinção entre três mecanismos de aprendizagem: o acúmulo

de experiência, a articulação de conhecimento e a codificação de conhecimento. Os processos experienciais de aprendizagem são mais passivos, enquanto que a articulação e a codificação de aprendizagem coletiva são processos cognitivos mais deliberados.

Uma vez que esses mecanismos de aprendizagem conformam tanto as rotinas operacionais quanto as próprias capacidades dinâmicas, seguindo a sugestão de Collis (1994), eles poderiam ser considerados capacidades dinâmicas de “segunda ordem” (ZOLLO; WINTER, 2002, p. 340).

Zollo e Winter (ZOLLO; WINTER, 2002, p. 340) definem capacidade dinâmica como “um padrão aprendido e estável de atividade coletiva através do qual a empresa sistematicamente gera e modifica suas rotinas operacionais em busca de melhoria da efetividade”.

Em comparação com a definição de Teece, Pisano e Shuen (1997), argumentam Zollo e Winter (2002, p. 340), sua definição tem a vantagem de se referir diretamente a rotinas operacionais ao invés do conceito mais genérico de “competências” como o objeto sobre o qual operam as capacidades dinâmicas. As palavras “padrão aprendido e estável” e “sistematicamente” destacam a estabilidade e a persistência das capacidades dinâmicas.

Rotinas são padrões estáveis de comportamento que caracterizam a reações organizacionais aos mais variados estímulos internos ou externos. Rotinas operacionais envolvem a execução de procedimentos conhecidos. Rotinas de busca (NELSON; WINTER, 1982) são responsáveis por suscitar mudanças desejáveis no conjunto existente de rotinas operacionais no intuito de melhorar o lucro no futuro (ZOLLO; WINTER, 2002, p. 341).

Zollo e Winter (2002, p. 341) entendem que a necessidade de aprendizagem e de capacidades dinâmicas depende do dinamismo do ambiente. Em um ambiente relativamente estático, um episódio único de aprendizagem pode ser suficiente para definir rotinas operacionais adequadas por um longo período. Nesse caso, capacidade dinâmicas são desnecessárias e onerosas de se manter. Porém, em um contexto de mudança rápida, a persistência das rotinas operacionais se tornar perigosa. Esforços sistemáticos são necessários para se acompanhar as mudanças do ambiente, pois tanto a superioridade quanto a viabilidade se mostrarão transitórias para uma organização que não tenha nenhuma capacidade dinâmica. Se além de rápidas as mudanças forem imprevisíveis, as capacidades dinâmicas e até mesmo as abordagens de aprendizagem de mais alto nível precisarão de atualização rápida, para se evitar que as competências essenciais se tornem inflexibilidades essencial.

O “acúmulo de experiência” tem caráter tácito. Ele decorre da aprendizagem experiencial capturada em rotinas que ficam armazenadas como memória procedimental e que proporcionam uma resposta praticamente automática (ZOLLO; WINTER, 2002, p. 341).

A articulação de conhecimento ocorre através de compartilhamento de experiências entre os indivíduos e da comparação das suas opiniões uns com os outros. Através dessa forma de aprendizagem coletiva, os membros organizacionais podem melhorar seu nível de entendimento acerca dos mecanismos causais entre as ações envolvidas na execução de tarefas e o desempenho produzido (ZOLLO; WINTER, 2002, p. 341). A articulação exige esforços significativos e comprometimento por parte dos membros da organização, mas o entendimento melhorado das conexões entre ação e desempenho facilita os ajustes adaptativos das rotinas existentes e o reconhecimento da necessidade de mudanças mais fundamentais (ZOLLO; WINTER, 2002, p. 342).

A codificação de conhecimento, quer dizer, desse entendimento das implicações de desempenho das rotinas internas, exige um nível ainda mais elevado de esforço cognitivo, tanto para criação dos artefatos que capturam a codificação quanto para mantê-los contínua e consistentemente atualizados. O objetivo desses artefatos é capturar as conexões causais entre as decisões a serem tomadas e seu resultado esperado em termos de desempenho. A codificação é importante como mecanismo de apoio para o processo de evolução do conhecimento, pois pode facilitar a geração de propostas de mudanças das rotinas vigentes, bem como a análise das consequências dessas propostas (ZOLLO; WINTER, 2002, p. 342).

A evolução do conhecimento – isto é, a aprendizagem – se dá por meio de uma série de estágios encadeados em um ciclo recursivo (ZOLLO; WINTER, 2002, p. 343–344). O ponto de partida é o estágio de variação, no qual um conjunto de ideias é gerado como resposta a estímulos externos e informações geradas internamente. Esse conjunto de ideias está sujeito a pressões internas de seleção que avaliam seu potencial para melhorar a efetividade das rotinas existentes ou a oportunidade que representam de criar novas rotinas. O terceiro estágio do ciclo consiste na difusão de novas iniciativas e soluções, através do processo de replicação. O quarto estágio consiste na retenção de novos conhecimentos e soluções através da rotinização. A aplicação das rotinas e diversos contextos e suas consequências para o desempenho motivam o início de um novo ciclo.

Zollo e Winter (2002, p. 344) propõem então, que capacidades dinâmicas surgem a partir da coevolução de processos de acumulação de experiência tácita com atividades de articulação e codificação de conhecimento explícito. Em outras palavras, as empresas aprendem a modelar suas rotinas adotando um misto oportuno de processos comportamentais e cognitivos,

de articulação e codificação de conhecimento, por um lado, e acumulação e absorção de saber experiencial, por outro.

Há custos diretos e indiretos associados ao processo de codificação do conhecimento (ZOLLO; WINTER, 2002, p. 347–348). Na seguintes condições as vantagens da aprendizagem e da difusão associadas à codificação (e, em uma extensão menor, de articulação) de conhecimento se tornam mecanismos superiores em comparação com o acúmulo de expertise, ou seja, mais que equiparam seus custos: (1) a frequência das experiências é reduzida; (2) a heterogeneidade das experiências com as tarefas aumenta; e (3) a ambiguidade causal entre as ações e o desempenho resultante da tarefa aumenta.

Os autores sugerem quatro princípios para orientar a codificação (ZOLLO; WINTER, 2002, p. 349): (1) desenvolver e transferir “know why” tanto quanto “know how”; (2) escolher um momento apropriado no curso da aprendizagem; (3) testar sua aderência à prática; e (4) criar uma estrutura de apoio.