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3 VISÃO DE CAPACIDADES DINÂMICAS

3.2.2 Capacidade dinâmicas como processos instáveis

Eisenhardt e Martin (2000) contribuem com observações fundamentais acerca das capacidades dinâmicas que, por um lado, tentam respondem a críticas dirigidas à visão baseada em recursos e, por outro lado, levantam novas polêmicas acerca das capacidades dinâmicas. As críticas diziam respeito à definição vaga e tautológica e à carência de fundamentação empírica. As questões polêmicas diziam respeito à equifinalidade, homogeneidade e substituibilidade das capacidades dinâmicas, ao grau de dinamismo do mercado, à insuficiência das capacidades dinâmicas para sustentar a vantagem competitiva e à temporariedade da vantagem competitiva. Tanto as críticas quanto as questões polêmicas ocuparam as discussões entre os pesquisadores nos anos que se seguiram, com ilustra e sintetiza o debate em entre Arend e Bromiley (2009) e Helfat e Peteraf (2009).

Como resposta às críticas, Eisenhardt e Martin (2000, p. 1106) defendem que as capacidades dinâmicas não são definidas de maneira vaga nem tautológica, mas consistem de processos estratégicos e organizacionais específicos, tais como desenvolvimento de produtos, alianças, aquisições e tomada de decisão estratégica. Portanto, as capacidades dinâmicas consistem de rotinas específicas e identificáveis que são objeto de extensiva pesquisa empírica.

Eisenhardt & Martin (2000, p. 1107) definem capacidades dinâmicas como

Os processos da empresa que usam recursos – especificamente os processos para integrar, reconfigurar, ganhar e liberar recursos – que acompanham e até mesmo criam mudança de mercado. Capacidades dinâmicas são, assim, as rotinas organizacionais e estratégicas através das quais as empresas alcançam novas configurações de recursos à medida que mercados emergem, colidem, se dividem, evoluem e morrem.

A visão baseada em recursos associa a vantagem competitiva à posse de recursos escassos, especialmente de processos únicos e idiossincráticos, difíceis de serem imitados, que emergem de histórias dependentes de trajetória (TEECE; PISANO; SHUEN, 1997, p. 513). Eisenhardt & Martin (2000, p. 1108), porém, entendem que as capacidades dinâmicas são idiossincráticas nos detalhes, mas exibem características comuns, associadas a processos efetivos das empresas. Esses aspectos comuns, chamados de “melhores práticas”, representam formas mais ou menos efetivas de se lidar com os desafios organizacionais, interpessoais e técnicos específicos. Os autores introduzem, assim, a primeira questão polêmica, pois, se as

capacidades dinâmicas têm aspectos comuns através de empresas efetivas, elas apresentam maior equifinalidade, homogeneidade e substituibilidade entre empresas do que implica o pensamento tradicional da visão baseada em recursos.

A segunda questão polêmica introduzida por Eisenhardt & Martin (2000, p. 1110–1114) tem relação com a variação no padrão das capacidades dinâmicas em função do dinamismo do mercado. Em mercados moderadamente dinâmicos, nos quais as mudanças ocorrem frequentemente, mas ao longo de trajetórias previsíveis e lineares, as capacidades dinâmicas lembram a concepção tradicional de rotinas (CYERT; MARCH, 1963; NELSON; WINTER, 1982). Elas são processos analíticos detalhados, estruturados e complicados, processos de decisão lineares que progridem através de estágios e marcos, que se baseiam em conhecimento existente para produzir resultados previsíveis. Em mercados de alta velocidade, em contraste, a estrutura da indústria é indistinta e mudanças se tornam não-lineares e menos previsíveis. Nesses mercados, as capacidades dinâmicas são processos instáveis, experienciais e simples, que se baseiam em conhecimento novo, criado em tempo real, execução iterativa e formação de intuição acerca do mercado, para produzir resultados adaptativos, mas imprevisíveis.

Em mercados de alta velocidade, as capacidades dinâmicas são rotinas propositadamente simples, embora não completamente desestruturadas, para permitirem a pronta adaptação a circunstâncias que mudam (EISENHARDT; MARTIN, 2000, p. 1116). O preço dessa adaptabilidade são processos instáveis com resultados imprevisíveis. Uma concepção mais rica de rotinas deve ultrapassar, então, a visão usual de processos eficientes e robustos, e incluir esses processos semiestruturados mais frágeis que são efetivos em mercados de alta velocidade (EISENHARDT; MARTIN, 2000, p. 1117).

O efeito do dinamismo do mercado tem como implicação que a sustentabilidade das capacidades dinâmicas varia com o dinamismo do mercado. Em mercados de alta velocidade, as capacidades dinâmicas geram pouca estrutura em que os administradores possam se agarrar e são, por isso, fáceis de serem esquecidas e mais difíceis de serem sustentadas.

A literatura caracteriza as capacidades dinâmicas como rotinas complicadas que emergem de processos dependentes de trajetória (NELSON; WINTER, 1982; TEECE; PISANO; SHUEN, 1997; ZOLLO; WINTER, 2002). Eisenhardt & Martin (2000, p. 1114– 1117) argumentam, porém, que mecanismos de aprendizagem bem conhecidos estão por trás da dependência de trajetória. Esses mecanismos de aprendizagem guiam a evolução das capacidades dinâmicas. A evolução das capacidades dinâmicas depende também do dinamismo do mercado. Em mercados moderadamente dinâmicos, rotinas eficientes e robustas resultam de pequenas variações frequentes que acompanham o ritmo das mudanças no mercado, de modo

que as capacidades se aprofundam. Em mercados de alta velocidade, nos quais a aprendizagem pode ser muito rápida, a variação ocorre prontamente, mas a seleção do que se deve reter se torna difícil, por ser desafiador imaginar qual experiência deve ser generalizada a partir do extensivo conhecimento específico de situação.

Capacidades dinâmicas são, frequentemente, a combinação de capacidades mais simples e rotinas fundamentais que precisam ser aprendidas antes. Assim, a implementação efetiva requer conhecer tanto os ingredientes – os aspectos comuns importantes das capacidades – quanto a receita – a ordem de implementação (EISENHARDT; MARTIN, 2000, p. 1116).

Sendo assim, quer dizer, se as capacidades dinâmicas correspondem a “melhores práticas” comuns através de empresas efetivas e se elas evoluem através de mecanismos de aprendizagem bem conhecidos, então elas podem ser duplicadas pelas empresas e, portanto, elas são condições necessárias, mas não suficientes da vantagem competitiva. Seu valor para a vantagem competitiva está nas configurações de recursos que elas criam, não nas próprias capacidades (EISENHARDT; MARTIN, 2000, p. 1117).

As capacidades dinâmicas podem ser usadas para melhorar as configurações de recursos existentes em busca de vantagem competitiva de longo-prazo. Porém, vantagem competitiva de longo prazo é alcançada com pouca frequência em mercados dinâmicos. A vantagem competitiva é frequentemente de curto prazo. Nesse tipo de mercado, os administradores devem adotar a lógica estratégica da oportunidade, criando uma série de vantagens temporárias (EISENHARDT; MARTIN, 2000, p. 1117).

Eisenhardt & Martin (2000, p. 1118) concluem que os mercados de alta velocidade são uma condição de fronteira para a visão baseada em recursos. Nesses mercados, a duração da vantagem competitiva é imprevisível; os administradores têm que lidar com o desafio de capacidades dinâmicas instáveis, com tendência ao colapso. Eles devem tirar a ênfase da alavancagem de recursos como estratégia para alcançar vantagem competitiva de longo-prazo, como sugere a visão baseada em recursos, e se concentrar em quando, onde e quão frequentemente mudar.