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Definição, natureza e evolução das capacidades dinâmicas

3 VISÃO DE CAPACIDADES DINÂMICAS

3.3.1 Definição, natureza e evolução das capacidades dinâmicas

As seções anteriores apresentam um resumo da teoria de capacidades dinâmicas conforme os autores seminais. Outros autores tomaram para si a difícil tarefa de elaborar uma definição única para esse conceito integrativo e multifacetado que são as capacidades

Teece et al. (1997) Trajetórias anteriores Posições (recursos/ ativos) Processos Capacidades dinâmicas Novas trajetórias e posições Desempenho / vantagem competitiva da empresa

Eisnehardt and Martin (2000)

Teece (2007)

Recursos Capacidades dinâmicas / processos Novos recursos e configurações de recursos Desempenho / vantagem competitiva da empresa Trajetórias anteriores e bases de ativos (posições) Processes Capacidades dinâmicas: identificação de oportunidades (percepção) Capacidades dinâmicas : investimento (aproveitamento) Capacidades dinâmicas : recombinação/ reconfiguração Novas trajetórias e bases de ativos (posições) Desempenho / vantagem competitiva da empresa

dinâmicas. O Quadro 2 apresenta uma visão comparativas das diferentes definições, bem como a natureza das capacidades dinâmicas e o processo da sua evolução implícitos na definição.

Quadro 2 – Capacidades dinâmicas: definição, natureza e evolução segundo diferentes autores

Referência Definição Natureza Evolução

TEECE; PISANO; SHUEN, 1997

Capacidades dinâmicas são a habilidade da empresa de integrar, construir e reconfigurar competências internas e externas para lidar com ambientes que mudam rapidamente (p. 516).

Processos gerenciais e organizacionais, moldados pela posição da empresa em termos de ativos específicos e pelas trajetórias que lhe estão disponíveis (p. 518). Os processos são as rotinas da empresa, ou seja, seus padrões vigentes de prática e aprendizagem (p. 518).

Competência e capacidades não podem ser compradas; elas têm que ser construídas (p. 518).

EISENHARDT;

MARTIN, 2000 Capacidades dinâmicas são os processos da empresa que usam recursos – especificamente os processos para integrar, reconfigurar, ganhar e liberar recursos – que acompanham e até mesmo criam mudança de mercado. Capacidades dinâmicas são, assim, as rotinas organizacionais e estratégicas através das quais as empresas alcançam novas configurações de recursos à medida que mercados emergem, colidem, se dividem, evoluem e morrem (p. 1107) Em mercados moderadamente dinâmicos, lembram a concepção tradicional de rotinas: processos analíticos, complicados e lineares (p. 1106). Em mercados de alta velocidade, são processos instáveis: rotinas simples, experienciais e iterativas (p. 1106).

Mecanismos de

aprendizagem bem

conhecidos guiam a evolução das capacidades dinâmicas (p. 1106).

Em mercados

moderadamente dinâmicos, evoluem lentamente através de pequenas variações frequentes que acompanham o ritmo das mudanças no mercado (p. 1115).

Em mercados de alta velocidade, a aprendizagem é iterativa e incremental, com informação em tempo real (p. 1112).

ZOLLO; WINTER, 2002

Uma capacidade dinâmica é um padrão aprendido e estável de atividade coletiva através do qual a empresa sistematicamente gera e modifica suas rotinas operacionais em busca de melhoria da efetividade (p. 340).

Um conjunto de atividades estáveis e persistentes dedicada à modificação das rotinas operacionais (p. 340). Padrões de comportamento estáveis (p. 340).

Processos de aprendizagem de três tipos são responsáveis pela evolução de rotinas operacionais e capacidades dinâmicas: acúmulo de experiência, articulação de conhecimento e codificação de conhecimento (p. 340). WANG; AHMED, 2007

Capacidade dinâmica é uma orientação comportamental da empresa para integrar, reconfigurar, renovar e recriar constantemente seus recursos e capacidades e, mais importante, atualizar e

reconstruir suas

capacidades essenciais em resposta ao ambiente em mudança para obter e sustentar vantagem competitiva (p. 35).

Não apenas processos, mas inseridas em processos (p. 35).

Capacidade de desenvolver recursos, normalmente em combinação, e encapsular tanto processos explícitos quanto elementos tácitos (p. 35).

Desenvolvidas com o tempo através de interações complexas entre os recursos da empresa (p. 35).

Quadro 2 – (continuação)

Referência Definição Natureza Evolução

HELFAT; PETERAF, 2009 Capacidade dinâmica é a capacidade da organização de criar, estender e modificar

propositadamente sua base de recursos (p. 94).

Síntese das definições dos autores mais influentes (p. 94).

O termo “propositadamente” explicita um grau mínimo de intencionalidade,

diferenciando a capacidade organizacional de mera sorte (p. 95).

BARRETO,

2010 Uma capacidade dinâmica é o potencial da empresa de resolver problemas sistematicamente, formada por sua propensão a perceber oportunidade e ameaças, de tomar decisões oportunamente e orientadas ao mercado, e mudar sua base de recursos (p. 271).

Construto multidimensional, que agrega quatro dimensões ou facetas distintas, mas relacionadas: perceber oportunidades e ameaças,

tomar decisões

oportunamente, tomar decisões orientadas ao mercado, e mudar a base de recursos da empresa (p. 271). Fonte: Elaborado pelo autor

Wang e Ahmed (2007, p. 35) definem capacidades dinâmicas como “uma orientação comportamental da empresa para integrar, reconfigurar, renovar e recriar constantemente seus recursos e capacidades e, mais importante, atualizar e reconstruir suas capacidades essenciais em resposta ao ambiente em mudança para obter e sustentar vantagem competitiva.”

Segundo essa definição, as capacidades dinâmicas não são apenas processos, mas estão inseridas em processos. As capacidades se referem ao poder de desenvolver recursos, normalmente em combinação, e de encapsular tanto processos explícitos quanto elementos tácitos. As capacidades geralmente são específicas da empresa e desenvolvidas com o tempo através de interações complexas entre os recursos da empresa (WANG; AHMED, 2007, p. 35). Em resposta à crítica que Arendt e Bromiley (2009) com respeito à falta congruência nas definições teóricas utilizadas por pesquisadores diferentes, Helfat e Peteraf (2009) elaboram uma definição de capacidades dinâmica para sintetizar as definições dos autores mais influentes, que são Teece, Pisano e Shuen (1997, p. 515), Eisenhardt e Martin (2000) e de Zollo e Winter (2002). Assim, Helfat e Peteraf (2009, p. 95) definem capacidade dinâmica como “a capacidade da organização de criar, estender e modificar propositadamente sua base de recursos”. O termo “propositadamente” foi acrescentado na definição para explicitar um grau mínimo de intencionalidade que anteriormente estava implícito, diferenciando a capacidade organizacional, dinâmica ou não, de mera sorte.

Para eliminar qualquer possibilidade de tautologia, um risco que se corre quando se define capacidades dinâmicas pelos seus resultados (AREND; BROMILEY, 2009, p. 83), c

sugerem a adoção de duas medidas de desempenho para as capacidades dinâmicas: a adequação técnica (technical fitness) e a adequação evolutiva (evolutionary fitness). A adequação técnica denota “quão eficientemente uma capacidade dinâmica desempenha sua função esperada quando normalizada (dividida) pelos seus custos” (HELFAT et al., 2007, p. 7). A adequação evolutiva refere-se a “quão bem uma capacidade dinâmica permite que a organização se sustente através da criação, extensão e modificação da sua base de recursos” (HELFAT et al., 2007, p. 7).

Barreto (2010, p. 271) assumiu o desafio de tornar a natureza do construto mais específica e sem dicotomia; de integrar tanto as propostas inicias quanto as mais recentes acerca do papel das capacidades dinâmicas; de especificar se o contexto relevante do conceito inclui ambientes altamente dinâmicos (TEECE; PISANO; SHUEN, 1997), ambientes moderadamente dinâmicos (EISENHARDT; MARTIN, 2000), ou ambientes mais estáveis (ZOLLO; WINTER, 2002); de resolver o paradoxo da heterogeneidade do conceito, isto é, de reconhecer tanto a existência de fatores comuns quanto a natureza idiossincrática que explica o impacto das capacidades dinâmicas no desempenho ou na vantagem competitiva; de escolher entre não declarar propósito algum, declarar um propósito específico ou aceitar qualquer propósito para o conceito.

Em face desse desafio, Barreto (2010) sugere a seguinte definição:

Uma capacidade dinâmica é o potencial da empresa de resolver problemas sistematicamente, formada por sua propensão a perceber oportunidades e ameaças, de tomar decisões oportunamente e orientadas ao mercado, e mudar sua base de recursos. De acordo com essa definição, a capacidade dinâmica é vista como um construto multidimensional, que agrega quatro dimensões ou facetas distintas, mas relacionadas: (1) perceber oportunidades e ameaças, (2) tomar decisões oportunamente, (3) tomar decisões orientadas ao mercado, e (4) mudar a base de recursos da empresa. Essa definição reconhece a existência de fatores comuns entre as empresas sem impedir o desempenho diferencial.