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CAPÍTULO 3 O PROJETO POLÍTICO-PEDAGÓGICO COMO ESTRATÉGIA DE

4.3 A organização do Sistema Municipal de Ensino de Natal

A Secretaria Municipal de Educação (SME) integra o Sistema de Ensino do Município de Natal55 e tem a responsabilidade de gerenciar as 72 escolas da rede. Uma de suas

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O Sistema de Ensino do Município de Natal é constituído pela Secretaria Municipal de Educação (SME), pelo Conselho Municipal de Educação (CME), pelas unidades escolares, pelas escolas privadas de educação infantil conveniadas, pelas creches públicas municipais, pelas creches privadas conveniadas, pela Secretaria Municipal de Esporte e Lazer – SEL, pela Secretaria Municipal de Trabalho e Ação Social (SEMTAS) e pela Fundação Cultural Capitania das Artes (FUNCART).

principais metas é diminuir a taxa de reprovação de seus educandos, que, apesar desse esforço, permanece elevada no Ensino Fundamental diurno, tendo crescido de 12,3% para 15, 2%, entre os anos de 1999 e 2004 (SOARES; SOUZA, 2006).

A partir de 1999, a organização da rede do ensino fundamental seguiu a orientação legal de ciclos de aprendizagem substituindo as quatro séries iniciais do Ensino Fundamental, o que redundou no aumento das taxas de aprovação. Os ciclos estavam organizados da seguinte forma: o 1º, com duração de dois anos e com a possibilidade de o aluno cursar mais um ano, caso não atingisse os objetivos de aprendizagem previstos. O 2º ciclo, também com dois anos, destinado ao acolhimento aos alunos do segundo ano que não apresentassem os conhecimentos necessários para seguir para a quinta série, podendo aí permanecer por mais um ano.

Nos primeiros anos de cada ciclo, observamos uma taxa mínima de reprovação, enquanto que, nos anos finais, esses índices mantiveram-se altos. Os maiores índices de retenção foram identificados na 5ª série, na qual a defasagem na aprendizagem dos alunos tornou-se mais evidente. A Tabela 4 mostra esse descompasso com relação à reprovação dos alunos, especialmente na 5ª série.

Tabela 4 – Taxas de rendimento e desperdício segundo a série de ensino – turno diurno 2001 2002 2003 2004 Série Ciclo

Apr Rep Aba Apr Rep Aba Apr Rep Aba Apr Rep Aba 1ª 88,5 2,1 9,4 92,1 0,8 7,1 89,6 0,6 9,8 93,0 1,0 6,0 2ª 1º ciclo 80,3 13,6 6,2 91,1 4,4 4,5 89,4 5,5 5,2 93,0 3,0 4,0 3ª 85,7 8,8 5,6 86,1 8,2 5,7 88,9 6,4 4,7 88,7 7,9 3,7 4ª 2º ciclo 73,2 21,5 5,3 70,0 25,4 4,6 67,4 27,7 4,9 68,0 28,0 4,0 5ª Seriação 58,1 32,8 9,1 53,4 37,9 8,7 54,4 35,5 10,1 53,6 36,0 10,4

Fonte: Secretaria Municipal de Educação/APA (censo escolar 2001 a 2004)

Conforme essa tabela, a organização do ensino em ciclos não garantiu a aprendizagem satisfatória, uma vez que houve um crescimento considerável dos índices de retenção nos últimos anos do ciclo, principalmente na 5ª série, verificando-se o crescimento dos índices ano a ano. Talvez isso se deva ao modo como a organização foi imposta às escolas da rede, desconsiderando a cultura secular baseada na seriação e na prova como único recurso de avaliação. Além do mais, as condições físicas das escolas, a indisponibilidade de professores para receberem os alunos com dificuldades em aprender (fora do horário de aula), assim como

a descontinuidade da capacitação dos professores por ocasião da implantação do projeto, são fatores que, historicamente, comprometem o sucesso escolar dos estudantes56.

No que se refere à Escola Municipal Professor Ascendino de Almeida, onde funcionam turmas de Educação Infantil e do 1º segmento do Ensino Fundamental, as taxas de rendimento são superiores às apresentadas pela rede de ensino, segundo a Tabela 5.

Tabela 5 – Rendimento e desperdício do Ensino Fundamental na Escola Municipal Professor Ascendino de Almeida – 2001 a 2006

Ciclos (1º ao 5º ano) Ano

Aprovação (%) Abandono (%) Reprovação (%)

2002 93,6 1,4 5,0 2003 94,8 1,4 3,8 2004 92,7 2,8 4,5 2005 95,3 0,7 3,9 2006 96,6 0,6 2,8 Fonte: Secretaria Municipal de Educação – Natal-RN (Escola Municipal Professor Ascendino de Almeida).

No decorrer dos anos, as taxas de retenção na Escola Municipal Professor Ascendino de Almeida tem regredido, porém os profissionais consideram que esses índices ainda são elevados, visto que representam pessoas (pelas quais se sentem responsáveis) que não conseguiram se alfabetizar. Conforme Letícia (2007), mesmo a escola atendendo alunos com necessidades especiais, cujas dificuldades de aprendizagem já foram diagnosticadas, persiste a preocupação extensiva a todos os alunos que apresentam rendimento insatisfatório, o que reacende o desejo de trabalhar com afinco para reduzir as taxas de retenção.

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Vale ressaltar que, para corrigir as distorções na relação: idade x ano de escolaridade dos alunos, foi implantada, na rede, a proposta pedagógica de Aceleração da Aprendizagem I (1º ciclo – para crianças de 9 a 14 anos de idade) e II (2º ciclo – contempla alunos de 12 a 14 anos de idade). Essa estratégia utilizou-se de uma metodologia específica de ensino dirigida aos alunos que ingressam nos anos iniciais do Ensino Fundamental com idade defasada e sem escolaridade prévia (NATAL, 2006). Na particularidade da Escola Municipal Professor Ascendino de Almeida, as turmas de Aceleração funcionaram entre 1998 e 2002, como experiência. Depois disso, os seus profissionais decidiram não continuá-la, pois, além de não surtir os resultados esperados, não contavam com o apoio prometido por parte da Secretaria de Educação.

A Lei nº 11.114, de 16 de maio de 200557 (BRASIL, 2006), que torna obrigatório o início do ensino fundamental para os alunos a partir dos seis anos de idade, modificou a organização do ensino fundamental em todo o país. Sendo assim, a Secretaria Municipal de Educação (NATAL, 2006) determinou o cumprimento dessa legislação obedecendo a critérios cronológicos. Nesse caso, a reprovação só ocorreria no último ano do 2º ciclo (5º ano de escolaridade), quando o aluno não apresentasse os conhecimentos necessários para prosseguir ao 6º ano de escolaridade (antiga 5ª série). Diante dessas modificações, cabe aos profissionais da escola, a tarefa de auxiliar àqueles com dificuldade de aprendizagem, criando as condições para superá-las.

A responsabilidade sobre a aprendizagem do educando é, então, transferida para as unidades de ensino, que, por sua vez, devem ser autônomas no atendimento aos educandos. Entendemos que não será a retenção dos alunos ao final de determinados anos de escolaridade que garantirá a sua aprendizagem. Cabe ao sistema, incentivar ações e apresentar as condições necessárias ao trabalho pedagógico dos docentes e dos discentes de modo a superar as dificuldades que impedem o sucesso escolar.

Entendido dessa forma, o processo de implantação dos ciclos de aprendizagem apresenta determinados agravantes. A rede municipal de Natal, por exemplo, não se baseou no atendimento às diferenças individuais nem às necessidades dos educandos, mas se voltou para objetivos políticos (redução dos índices negativos) e financeiros. Assim, mesmo que o projeto não tenha produzido bons resultados na aprendizagem dos alunos, proporcionou uma diminuição nas taxas de retenção na rede escolar no primeiro segmento do ensino fundamental. Do ponto de vista financeiro, reduziu o desperdício de recursos públicos para a manutenção dos alunos reprovados, porque, na perspectiva de universalização das matrículas, se manteve o fluxo contínuo de vagas escolares.

4.4 Escola Municipal Professor Ascendino de Almeida: localização geográfica e

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