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Escola Municipal Professor Ascendino de Almeida: localização geográfica e população a

CAPÍTULO 3 O PROJETO POLÍTICO-PEDAGÓGICO COMO ESTRATÉGIA DE

4.4 Escola Municipal Professor Ascendino de Almeida: localização geográfica e população a

A Escola Municipal Professor Ascendino de Almeida foi autorizada em 04 de setembro de 1994, sendo uma das 72 unidades que integram, atualmente, o Sistema Municipal

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A Lei nº 11.114, de 16 de maio de 2005 (BRASIL, 2006), alterou a redação dos artigos 6º, 30, 32 e 87 da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, Lei 9.394, de 20 de dezembro de 1996 (BRASIL, 2000a). Anteriormente a essa lei, no Estado do Rio Grande do Norte, o decreto nº 17.446, de 14 de abril de 2004 (RIO GRANDE DO NORTE, 2004), da Governadora Wilma Maria de Faria, já ampliava para nove anos a duração do Ensino Fundamental, na Rede Estadual de Ensino do Rio Grande do Norte, assegurando o Ensino Fundamental para crianças de seis anos de idade.

de Ensino de Natal. O prédio é bem cuidado, não havendo pichações nos muros nem em seu interior, o que demonstra uma boa relação com a comunidade interna e externa. Atende a alunos da Educação Infantil e do primeiro segmento do Ensino Fundamental58, funcionando no turno matutino e vespertino. Localiza-se na Avenida Engenheiro Joaquim Cardoso, número 220, Vale do Pitimbu, Zona Sul da Cidade de Natal – RN, em um local de fácil acesso, com linhas de ônibus regulares, rua calçada, iluminada e com faixa de pedestre para facilitar o deslocamento dos alunos.

O bairro em que a escola se situa, formou-se em 1983, a partir da construção de três conjuntos habitacionais: o Residencial Cidade Satélite, o dos Bancários e o Vale do Pitimbu. Conforme Leonor (2006), a maioria dos alunos da escola não habita em seu entorno, procedendo de bairros como o Planalto59 (Zona Oeste de Natal) bem distante da escola. Nesse bairro, inicialmente habitavam muitos posseiros, mas as condições de vida das pessoas estão se modificando e os alunos da escola estão “[...] sendo empurrados para mais longe”, de modo que a instituição sempre atendeu às crianças de classes sociais menos abastadas.

A maioria dos alunos da Escola Municipal Professor Ascendino de Almeida é constituída por crianças e jovens de famílias que têm acesso restrito às informações veiculadas mundialmente, com um padrão de consumo aquém das necessidades básicas de subsistência e também não alcançaram os padrões de conhecimentos requeridos pelo mercado corporativo. Assim, as famílias não vivem em condições satisfatórias, integram o exército de desempregados e subempregados, constituindo uma força de trabalho desvalorizada. Muitos sobrevivem à custa dos projetos e programas de governo focalizados na pobreza60.

Esse não é considerado um fenômeno local. Salama e Destremau (1999) ressaltam que a pobreza já não é um requisito das áreas rurais dos países subdesenvolvidos, mas também das cidades de países subdesenvolvidos e desenvolvidos. Com a urbanização acelerada e desordenada e a conseqüente dificuldade de se criar empregos suficientes para a população economicamente ativa, a pobreza tornou-se um fenômeno mundial, expressa em atos de

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Até 2005, funcionaram na escola turmas de Educação de Jovens e Adultos, no turno noturno. 59

O Bairro do Planalto situa-se na margem do Rio Potengi e pertenceu, em parte, ao Loteamento Reforma, que foi desmembrado em lotes, vendidos a prazo, para uma clientela de baixo poder aquisitivo, originando granjas, sítios, residências isoladas e conjuntos habitacionais (NATAL, 2007).

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A aplicação das políticas neoliberais tem imposto aos países, em especial aos da América Latina, a contenção dos gastos sociais, de modo que uma série de direitos e proteções à classe trabalhadora tem sido substituída por políticas focalizadas de assistência aos setores mais pobres da sociedade atingidos pelo desemprego e pela pobreza. Como parte dessas políticas, o governo brasileiro vem implementando programas como o Bolsa Escola, criado em 2001, que mais tarde foi agregado ao Bolsa Família. No que se refere ao Rio Grande do Norte, a partir de 1997, a Prefeitura Municipal implantou o Programa Tributo à Criança, beneficiando com uma bolsa/salário famílias carentes, que, por sua vez, se comprometem em manter regularmente as crianças na escola (NATAL, 2006b). Acerca desse programa, ver Pessoa (2003).

violência e no desenvolvimento de culturas alternativas, sendo ao mesmo tempo um fato (socioeconômico e político) e um sentimento. Aqueles que se sentem excluídos dos atributos da cidadania não se reconhecem nos padrões em que a sociedade capitalista funciona.

Nesse estudo a que nos referimos, o Brasil é classificado, dentre os países do mundo, como aquele que apresenta a maior desigualdade na distribuição de renda, posto que “[...] os 20% mais ricos se beneficiam de mais de 60% das riquezas produzidas, as camadas médias, de 30%, e os quarenta por cento mais pobres, de 10% dessas riquezas”. Salama e Destremau (1999) ainda revelam que essa desigualdade, caracterizada por uma pobreza extensa e profunda, tem raízes na colonização e na escravidão que marcam a história do País, aumentadas pela crise inflacionária dos anos de 1980. Assim, tanto a pobreza quanto a desigualdade continuam significativas no Norte e Nordeste do País, tendo aumentado após 1996, em certas regiões industrializadas.

Situando Natal – RN nessa realidade, percebemos que o corpo discente da escola sobre a qual estudamos traduz a situação de pobreza a que os autores se referem. Nesse particular, Alice (2006), define que os alunos provêm de uma categoria de baixa renda, vivendo em condições subumanas e em situação de risco ante o tráfico e o consumo de drogas, ou submetidos a outras formas de violência que circundam o bairro. Os educadores assim descrevem a realidade das crianças com quem trabalham e as dificuldades que sentem para lidar com os problemas decorrentes do quadro delineado:

Eu tinha um aluno que chegava quase todos os dias [...] Era uma tristeza, era uma coisa, depois do recreio que o menino ia se animar. Quando foi um dia ele chorou, chorou. [...] Aí eu deixei a turma inteira de lado e fui falar com ele, ele estava trêmulo e disse que era de fome. Aí é difícil, porque tem criança que morre de vergonha de dizer (MINERVA, 2007).

Hoje com a mudança da sociedade, a mudança da estrutura da família, a escola praticamente assumiu o papel dela. [...] Praticamente, a criança vive só, ele é responsável por ele mesmo e pelos irmãos (ALICE, 2006).

Por tais depoimentos, entendemos que as crianças trazem consigo experiências históricas marcadas pela opressão, por condições socioeconômicas precárias, que as colocam à margem da sociedade61 e isso, conforme Pérez Gómez (2001), tem levado a escola a

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Um exemplo das condições subumanas a que estas crianças são submetidas está no relato de uma situação descrita por Sofia, ocorrida após uma apresentação do coral da escola, que, freqüentemente, é convidado a apresentar-se em diversos eventos. Na ocasião, os alunos foram muito aplaudidos e uma criança dirigiu-se a Sofia comentando que as pessoas estavam sorrindo para eles e os tratavam como se fossem ricos. Atônita, a educadora demorou um certo tempo para responder. Por fim, respondeu à criança que as pessoas não os tratavam como ricos, mas como gente. Percebemos, então, que a essa criança é negado o sorriso e o respeito que ela considera atributos de certas classes socioeconômicas e não características próprias a todos os seres humanos.

assumir funções e desempenhar papéis anteriormente reservados à família, como o estímulo às atenções afetivas e a socialização primária das novas gerações. Vemos que a escola desempenha mais do que o papel de instruir e de educar; a ela também cabe prestar assistência aos alunos. E esse trabalho é reconhecido pelos pais, que trazem seus filhos de longas distâncias, mesmo havendo outras escolas mais próximas. Alice (2006) confirma essa observação:

A gente vê que eles vêm de longe, eles poderiam muito bem estar em uma escola próxima. Existem duas escolas na comunidade deles. O depoimento que eu tive de um pai, sábado, foi: Essa escola não é uma escola do Pitimbu, [...] essa escola é do Planalto! Um depoimento fortíssimo: os meninos aqui são bem tratados, são respeitados. Isso é gratificante para a gente, não é que a gente esteja fazendo demais, mas é um direito que eles têm.

Essas evidências de que a comunidade valoriza a escola correspondem ao fato de essa ser muito procurada na época da matrícula. Refletindo sobre o fato, Sofia (2007) declara: “[...] é uma enxurrada de gente querendo vir para essa escola [...]”. Mais do que instruir, os profissionais da escola procuram ensinar, mostrar às crianças a sua capacidade, a sua humanidade, valorizar os “renegados” pela vida. Mas, conforme analisam Letícia (2007) e Sofia (2007), eles ainda têm de avançar no apoio à aprendizagem das crianças, esforçando-se para que isso ocorra de forma significativa.

Conforme Neves (2001), a procura de vagas por parte da comunidade em algumas escolas públicas traduz uma demanda por qualidade no ensino, uma vez que são reconhecidas pelo trabalho que realizam. Neves (2001, p. 96) entende que isso acontece porque na escola existe “[...] um espaço de autonomia que faz com que elas se organizem e ajam de forma diferente das demais” que integram o mesmo sistema educacional. Entendemos, pois, que a comunidade não valoriza apenas os cuidados dedicados aos educandos mas também a autonomia dos profissionais em promover inovações pedagógicas para atenderem às especificidades e às dificuldades dos alunos, a transparência nas decisões tomadas pelos profissionais e o estímulo a que participem do trabalho educativo. Relações dessa natureza também transparecem no uso que os sujeitos fazem do espaço escolar, que denota as relações construídas nesse meio entre as pessoas da escola e a parcela da população local que a integra.

4.5 Organização espacial na Escola Municipal Professor Ascendino de Almeida: entre o

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