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11.3 Polícia

11.3.2 A organização, o poder e a missão

A Constituição da República Portuguesa estabelece, desde logo, as grandes linhas que consagram o conceito de segurança pública no Estado de Direito. São elas o facto de estarmos perante um Estado de Direito Democrático (artigo 2º da CRP), de os cidadãos terem direito fundamental à liberdade e à segurança (artigo 27º da CRP) e de a polícia ter por missão defender a legalidade democrática, a segurança interna e os direitos dos cidadãos (artigo 272º da CRP).

Assim, após sustentação constitucional, temos a “segurança interna” enquanto atividade fundamental desenvolvida pelo Estado para garantir o normal funcionamento das instituições democráticas, o regular exercício dos direitos e liberdades fundamentais e o respeito pela legalidade. Esta tarefa é crucial para a existência do Estado, e para o desenvolvimento pacífico e harmonioso da comunidade social. Tal desígnio de segurança está a cabo das forças e serviços de segurança, no entanto não é um fim em si mesma, devendo

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Cfr. Gomes Canotilho e Vital Moreira, Constituição da República Portuguesa Anotada, Vol. I, Coimbra Editora, 2006, pp. 843 e ss.

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sempre subserviência aos princípios de um Estado de direito e pelos direitos e liberdades fundamentais155.

Conforme estipulado na Lei Orgânica da PSP, e obviamente logo no seu artigo 1º, a PSP “é uma força de segurança, uniformizada e armada, com natureza de serviço público e dotada de autonomia administrativa”. Mais refere que a sua missão é “assegurar a legalidade

democrática, garantir a segurança interna e os direitos dos cidadãos, nos termos da Constituição e da lei” (realçado nosso). Ao nível da organização, e não podendo ser de outra maneira, estatui-

se que “está organizada hierarquicamente em todos os níveis da sua estrutura, estando o pessoal com

funções policiais sujeito à hierarquia de comando e o pessoal sem funções policiais sujeito às regras gerais da hierarquia da função pública”.

O papel das forças de segurança está sujeito a rigorosa estruturação hierárquica, dominada pelo princípio de comando e não de simples chefia ou direção administrativa que caracteriza os serviços administrativos em geral. No princípio de comando, o vínculo jurídico assume traços mais abrangentes, significativos e intensos do que os existentes na chefia administrativa em geral. A prossecução das finalidades das forças de segurança, por permitir o emprego organizado da força, exige uma estrutura, organização e funcionamento mais fortes, e ao mesmo tempo, mais limitados, díade esta habitualmente designada “relação especial de poder”.

Conforme refere António Maximiano, a problemática das polícias versus cidadãos tem no seu núcleo a questão da conflitualidade latente entre a autoridade e a liberdade, a segurança e a privacidade, e sempre a liberdade. Numa democracia, é a polícia que exerce, de forma de veras concreta, o poder da autoridade do Estado, em ordem a garantir a segurança das pessoas, o que interfere claramente na sua própria liberdade156.

De acordo com Antunes Dias, a polícia deve adotar uma ética de convergência, procurando garantir o interesse público, os interesses do coletivo ou da comunidade e simultaneamente os direitos e interesses individuais. Exige, desde logo, um apego dos agentes policiais a dois padrões de ação que se complementam e interagem: a moral e o direito. Ambos são regras sociais, culturais, gerais, abstratas e imperativas, que norteiam a complexidade da vida em sociedade, de onde sobressai a necessidade da ordem157.

155 Cfr. António Francisco de Sousa, op. cit., p. 170. 156

Cfr. António Henrique Rodrigues Maximiano, CONTROLO EXTERNO DA ATIVIDADE POLICIAL, Inspeção Geral da Administração Interna, 1999, p. 34.

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A função policial, sendo multidisciplinar, abrange competências de investigação criminal, de ação penal, de prevenção criminal, administrativas especiais (trânsito, armas, explosivos), manutenção da ordem, terrorismo e segurança pessoal158.

A função primordial da polícia é zelar pelo interesse público, em ordem a cumprir os fundamentos básicos da Política e da organização da sociedade aos quais atrás aludimos. Com Antunes Dias interpretamos este conceito como o “mínimo com que todos os indivíduos podem concordar, uma vez que não implica a preferência de determinados fins individuais. O único interesse comum acaba por, então, por ser o de que cada um tenha as melhores possibilidades de alcançar a satisfação dos seus interesses”159

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A missão genérica da polícia, e a sua estrutura e poder já foram devidamente enquadradas. No entanto, há agora que abordar uma questão fundamental. A Política de Segurança Interna, que atribui uma missão mais específica e adaptada ao contexto social da comunidade, em cada período temporal, uma vez que as constantes mutações da sociedade exigem uma constante adaptação e direcionamento das atenções securitárias, ora mais de acordo a uns parâmetros, ora mais de acordo a outras necessidades. Aclaremos.

A política de segurança interna versa o conjunto de princípios, orientações e medidas tendentes à prossecução permanente dos fins legalmente estabelecidos para a segurança interna, sob égide direta do Governo. A orientação política de segurança interna, envolve duas grandes áreas de execução e coordenação a nível central, a saber a segurança e as informações. A área da segurança é composta pelo conselho Superior de Segurança Interna e pelo Gabinete Coordenador de Segurança. O primeiro é presidido pelo Primeiro-Ministro, assistido pelos Vice Primeiro Ministros e Ministros de Estado, os Ministros da Administração Interna, Justiça e Finanças, bem como órgãos de cópula das diferentes polícias e serviços de segurança. As funções deste Conselho são de auscultação e consulta em matérias de segurança interna, competindo-lhe, nomeadamente a definição das políticas de segurança interna, as bases gerais da organização, funcionamento e disciplina das forças e serviços de segurança e a delimitação das respetivas funções e competências.

Por seu lado, ao Gabinete Coordenador de Segurança compete a assessoria e consulta no que à coordenação das diferentes forças e serviços de segurança diz respeito, nomeadamente ao nível da cooperação institucional, funcionando na direta dependência do

158 Cfr. Idem, op. cit., p. 34. 159 Cfr. Idem, op. cit., p. 32.

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Primeiro-ministro, e contando também nos seus quadros com elementos do topo das cadeias hierárquicas das forças e serviços de segurança.