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12.9 Contributos das entidades entrevistadas

12.9.7 Professor Doutor José Adelino Maltez

O Exmo. Sr. Professor Doutor José Maltez foi entrevistado enquanto licenciado em Direito e Doutor em Ciências Sociais, sendo Professor Catedrático em Ciências Jurídico- Políticas.

p.41 Controlo externo da atividade policial vII – prof. Adelino Maltez conjugar com a entrevista dele

1) Filiação partidária;

A opinião do Exmo. Sr. Professor Doutor Adelino Maltez, assaz reveladora, aponta para que a questão da filiação partidária do pessoal policial dependa muito da opinião política e da polícia relativamente à interpretação que o ministro da tutela conduz o governo tenha sobre esta matéria. Aplica-se, portanto, um juízo político e os responsáveis políticos não têm enfrentado a questão com toda a clareza.

A posição pessoal que defende é clara: A formação hoje de um polícia custa imenso ao estado, é um investimento. Já existe neste momento, finalmente, formação específica no corpo

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policial, tipicamente civilista e especializada. Relativamente ao concreto do polícia no ativo, e à participação cívica, defende o pragmatismo: “como é que vão controlar as redes sociais? É conveniente haver uma polícia que se confunda com a sociedade. O polícia cívico é uma polícia que tem toda a vantagem em estar penetrante nestes meios, ou um polícia não pode ir a uma discoteca? A educação de um polícia cívico é um educação de osmose. E sobretudo se houver um bom sistema preventivo ao nível de informações. Como é que a polícia vive na sociedade? Gerando confiança. É a mesma coisa que eu proibir uma polícia de numa situação de necessidade especial ou de emergência fazer parte de uma entidade de apoio social porque é que não há-de fazer parte disso? Tirar a farda e no dia seguinte vai trabalhar para a Cova da Moura, com os miúdos, ou numa escola. Como é que um polícia pode ser um bom polícia, por exemplo, numa situação de violência numa escola? Tem de se envolver e ganhar a confiança. Grande parte do não uso da violência, deriva do envolvimento. Um polícia que não goste de futebol? É muito difícil ele perceber o que é uma claque. Em síntese, acho que tem que ter participação porque enriquece, claro que sim. O contacto intersocietário não é ilimitado. Para isso é que há a hierarquia”.

2) Exercício de atividades político-partidárias e vínculo funcional;

Respeitando ao presente ponto, José Adelino Maltez não considera estarmos perante uma zona conflituante, onde haja um receio particular quanto ao estado policial. Não encontra sinais absolutamente nenhuns e se um polícia fosse inculto em termos políticos, este sim seria o perigo da democracia portuguesa. Portugal, neste aspeto concreto não tem forças extra sistémicas, como noutros países da Europa, não tem terrorismo, não tem determinada forma de violência complicada, sociológica que nos permita ver com desconfiança o trabalho das forças motrizes da sociedade, onde se insere a polícia. Considera, portanto, perfeitamente viável a atividade política ou partidária do elemento policial.

3) Exercício e restrição de direitos cívicos face ao pessoal não policial;

Não deve haver restrições baseada em funções, e assim mesmo acontece com os sindicatos das forças policiais, as regras do jogo têm que ser claras e bem definidas. Um número determinado de entidades têm o monopólio da violência legítima e têm que ser profissionais.

4) Histórico e tendência para o futuro do exercício de direitos cidadania.

Entende Adelino Maltez que o presente ponto depende muito da maneira como por exemplo a polícia, num momento de tensão política, vá responder. No entanto, no momento presente, não vê qualquer inconveniente em o agente policial poder desempenhar de funções políticas, pois toda a estrutura policial tem, tecnicamente, estado à altura. E quando não está,

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decorrem os respetivos processos disciplinares, de inspeção e criminais, se for o caso, mas a polícia tem sabido corresponder aos anseios da comunidade democrática. Há erros, e normalmente são punidos. Portanto eu acho que cada pais tem a sua cultura e isso depende muito da maneira como a polícia se vai comportar ou o tipo de tensões sociais que possamos ter.

Vemo-nos obrigados a aqui colocar um dos excertos da entrevista concedida, dado, a nosso ver, a expressividade e linearidade utilizadas: “a situação conforme está só reduz a condição de político. Estamos a rebaixar o nível de isenção de um político, com desprimor contra os políticos. Então um militante de uma Juventude, de um partido, não pode ir a ministro? Se ele não tem condições de isenção, ele não pode ser ministro. E o problema é que nós estamos a degradar a visão do político. Grande parte das restrições são pelo receio, pela visão negativa do político”. Estamos mais perante um problema de cultura, e esse problema cultural depende muito daquilo que o polícia manifestar; temos que ir observando, depende da experiência, das qualificações, e da aplicação que se dá a essas qualificações. Eu estou a dar uma resposta experimental, daquilo que eu observo. A nossa resposta experimental é: alguém tem razões, erros clamorosos obtidos na relação entre a polícia e oi estado de direito democrático? Não me parece. Estamos é perante um problema de comunicação.

Tipos de participação cívica? Eu acho que não vai haver limites para esse efeito. Depende do bom senso. E de outra maneira qual é a diferença entre um polícia e um professor universitário, como é o meu caso? Como é que eu posso julgar alguém num júri, julgar alguém como professor, um aluno, se não tiver isenção? A isenção obtém-se, mas isso é um problema moral, um problema de credos. E nós ainda vivemos muito no ambiente de decretos e eu com toda a franqueza já exprimi essa opinião, é prejudicial para o país”.

Portanto o que eu estou a dizer é o seguinte, hoje o mundo das redes sociais é absolutamente mirífico poder haver um controle desse género. Porque sem nenhuma realidade, com um nick name, com o seu computador pessoal pode querer... pode ter intervenção profunda nesse domínio, portanto, há novas formas de participação política, mas isso é uma pena... antigamente as formas de participação política só viam envolver jornais, ou participação partidária. E nem só a participação partidária é o melhor elemento dinâmico de novas formas de cidadania. Então quais são os limites? Os limites é só num momento ou é no a posteriori? Qual é o perigo hoje? Isto é muito difícil de estabelecer e eu não vejo nenhuma regra contra a liberdade de participação que possa ser implementada a curto prazo sob pena haver de flagrante violação do princípio da igualdade. Eu acho que para o Oficial de Polícia não é apenas um tipo técnico. Também é técnico, ele próprio foi formado, e é, nós sabemos que isso

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acontece, em deontologia, cidadania. E sobretudo, como eu acho que neste momento está a ocorrer, com forte deontologia de defesa de um estado de direito. Eu acho que não deve existir nenhum oficial de polícia que não seja claramente educado na educação defesa de um estado de direito. Se ele tem que ser um dos intérpretes com violência, a polícia detém monopólio da violência legítima num estado de direito, ele todos os dias tem que se debater exatamente como é que é agir, deve proteger o estado de direito. Eu acho que há aqui um bocado de atraso nalgumas concessões. Porquê? Porque os problemas do sindicalismo e da participação cívica dos polícias debateram-se num momento de transição. A Polícia tinha sido formada na ditadura, maioritariamente. Hoje, até já o Comandante da Polícia é Oficial de Polícia, de formação própria. Quer dizer, nós já estamos com polícias formados num estado de direito e portanto já passamos a fase de transição. Os problemas já não podem ser os antigos, com os preconceitos e os fantasmas onde havia um problema grave de transição de poder. Ou então o estado reconhece que não forma bem os seus polícias, nas suas escolas. E se não os forma bem deontologicamente, eu acho que é um mundo bastante perigoso. Como isso não acontece, acho que temos que ter mais confiança uns nos outros”.