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A Administração Pública, já em ponto anterior caracterizada, na sua multiplicidade e variedade de estruturas que a compõem, para desempenhar cabalmente a sua função, necessita de meios humanos. Falamos de trabalhadores que executem a vontade coletiva da Administração. Claro está que será no mercado de trabalho que serão recrutados os funcionários, e serão alvo da constituição de uma relação jurídica de emprego público, tutelada e disciplinada por normas de direito público administrativo. Não pretendendo alongar-nos no caso geral, mas antes direcionado aos funcionários da PSP, somos forçados a aqui abordar, sucintamente, a sua área de sujeição, pois também esta entidade é um dos mecanismos constituintes da máquina da Administração.

De acordo com a Lei 12-A/2008, de 27 de Fevereiro, que aprovou o Regime de Vinculação de Carreiras e de Remunerações dos Trabalhadores da Administração Pública (RVCRTAP), temos no seu artigo 3º n.º 1 que a relação jurídica de emprego público prevalece apenas nos casos dos “serviços da administração direta e indireta do Estado”, e nos demais previstos nos artigos seguintes, casos específicos que não interessam aqui relevar. Será então, a este conjunto de pessoas que, de forma profissional e especializada, emprestam o seu trabalho à Administração, e que têm a sua relação de trabalho disciplinada por um regime jurídico próprio e específico de direito público administrativo, que apelidamos de Função Pública170.

168 Cfr. Pedro Clemente, op. cit., ibidem.

169 Cfr. Eurico João Silva, in Conferências da IGAI – 2002/2003, Inspeção Geral da Administração Interna,

2004, p.55.

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O ordenamento jurídico próprio de natureza administrativa é designado de Estatuto da Função Pública. Marcello Caetano definia o estatuto como “o conjunto das normas legais que define e regula os poderes e deveres correspondentes à qualidade de funcionário”171

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Francisco Pimentel define o estatuto já de forma mais precisa, e adaptada às alterações legislativas prosseguidas recentemente, como “o conjunto de nomas legais de direito público que definem e regulam os poderes, direitos, deveres, impedimentos e incompatibilidades dos trabalhadores que exercem funções públicas emergentes das respetivas relações jurídicas de emprego público, bem como das demais relações jurídicas com elas conexas, nomeadamente em matéria de preenchimento e vacatura de postos de trabalho, de responsabilidade e proteção social”172

(sublinhado nosso).

A dependência dos trabalhadores da função pública de um regime jurídico próprio e distinto dos demais trabalhadores, justifica-se na necessidade do reconhecimento da relevância das funções públicas, sempre ao serviço do interesse público, atribuindo-lhes as devidas prorrogativas de autoridade173.

De acordo com o atrás dito, o Direito existe para disciplinar as relações entre os membros de uma determinada comunidade. Estas relações necessitam, para se fazerem notar, de quatro elementos constitutivos: o sujeito, o objeto, o facto jurídico e a garantia. Da parte do sujeito haveremos sempre de considerar o sujeito ativo e o passivo, sendo no caso em apreço o sujeito ativo a pessoa coletiva de direto público, a entidade patronal, o Estado, e o sujeito passivo, o trabalhador, enquanto pessoa singular. Por seu lado o objeto pressupõe a constituição da relação jurídica de emprego público, ou seja, a obtenção de trabalho por parte da Administração Pública, recebendo remuneração e direitos pelo seu trabalho. O facto jurídico dirá respeito às normas próprias de direito administrativo que caracterizam, modificam ou extinguem a relação jurídica de emprego público. Finalmente a garantia diz respeito à tutela e à disciplina dos conflitos de interesses surgidos da relação jurídica de emprego público, estes dirimidos através do direito público e por órgãos judiciais próprios.

Assim sendo, é na Lei 12-A/2008, de 27 de Fevereiro, que encontramos a definição e regulação dos regimes de vinculação, carreiras e remunerações, dos trabalhadores que

171 Marcello Caetano, op. cit., p. 661. 172 Francisco Pimentel, op. cit., p. 42. 173 Cfr. Idem, op. cit., p. 43.

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exercem funções públicas, bem assim como o regime jurídico-funcional aplicável às diferentes modalidades de constituição da relação jurídica de emprego público174.

No citado Regime vemos que são duas as modalidades de relações jurídicas que podem ser estabelecidas com a Administração Pública:

A relação jurídica de prestação de serviços e a relação jurídica de emprego público. Relativamente à primeira temos aquela relação estabelecida com pessoas coletivas, ou excecionalmente singulares, em que estas se propõem a prestar àquela um trabalho não subordinado. Esta relação faz-me através da celebração de contratos de prestação de serviços, nas formas de contrato de tarefa ou contrato de avença, conforme o estatuído pelo artigo 35º da mesma lei.

Por seu turno, a relação jurídica de emprego público, já definida como uma relação de trabalho constituída entre uma pessoa de direito coletivo de direito público e um trabalhador, é caracterizada por reconhecer e atribuir à entidade empregadora uma posição de sujeito dominante da relação, fruto do interesse público por ela objetivado, consoante o tipificado nos artigos 8º e 9º do tratado Regime.

Encontramos, então, que são três as modalidades da relação jurídica de emprego público: a nomeação, o contrato de trabalho em funções públicas e a comissão de serviço. Recorrendo ao artigo 9º n.º 2, “é o ato unilateral da entidade empregadora pública cuja eficácia depende da aceitação do nomeado”. Esta modalidade de relação jurídica só é prosseguida nos

casos previstos no artigo 10º do mesmo diploma, ou seja, “trabalhadores a quem compete, em função da sua integração nas carreiras adequadas para o efeito, o cumprimento ou a execução de atribuições, competências e atividades” relativas à aplicação de poderes de autoridade e soberania, ou seja, munidas de jus imperii, especificamente como o caso da Polícia de Segurança Pública. Tal consagração aparece expressa na alínea e) do artigo 10º.

O contrato de trabalho em funções públicas será uma modalidade de constituição de uma relação jurídica de emprego público bilateral entre a entidade empregadora pública, agindo em nome ou representação do Estado.

Por último a comissão de serviço é admissível nos casos do exercício de cargos não inseridos em carreiras, nomeadamente cargos dirigentes, ou de frequência de cursos de formação específicos ou ainda da aquisição de graus académicos antes do período experimental com que se inicia a nomeação ou o contrato, em ordem ao exercício de funções integradas em carreiras. Trata-se de uma relação por tempo indeterminado (artigo 9º n.º 4).

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