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12.9 Contributos das entidades entrevistadas

12.9.3 Dr Isaltino Afonso Morais

O Exmo. Sr. Dr. Isaltino Morais, licenciado em Direito, foi entrevistado na qualidade de Presidente da Câmara Municipal de Oeiras, eleito a título independente (de partidos políticos), tendo desempenhado funções de Magistratura antes das atuais funções. Sob a sua dependência atua a Polícia Municipal de Oeiras.

1) Filiação partidária;

No entendimento do Dr. Isaltino Morais o Polícia, no exercício das suas funções da ordem, tem que ser rigorosamente apartidário. Determinadas atividades, determinadas

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profissões, pelo melindre e pelas implicações que revelam na sociedade e para o Estado (estamos a falar de funções com exercício de autoridade), podem levar a que o seu exercício seja mal interpretado, concretamente no que à isenção da função respeita, se por ventura a pessoa é identificada com uma determinada filiação partidária. O primado da igualdade que a Constituição consigna, não o facto de o Polícia ou o magistrado terem que ser apartidários, no exercício dessas funções, exige que sejam apartidários, perante o cidadão, sendo portanto uma defesa para eles próprios também para poderem atuar livremente, sem constrangimentos, sem preconceitos

Não significa que não tenham opções políticas, pois entende-as como são coisas distintas. Na opinião do entrevistado, há sempre circunstâncias em que não há secretismo da filiação, e esse é o problema, a partir do momento em que um polícia é identificado como de um partido A ou B, e está na rua a atuar, obviamente o visado vai considerar que o polícia, ou o magistrado, não está a ser isento. Esta questão visa salvaguardar justamente as garantias de isenção e imparcialidade, por parte do agente de autoridade ou do magistrado.

Confiando-nos um exemplo próprio, o Dr. Isaltino Morais considera o seu caso como um case study, na medida em que sendo era Magistrado do Ministério Público, quando se candidatou à Câmara Municipal de Oeiras, considerou ter tido um tratamento injusto, uma vez que foi obrigado a meter uma situação de licença ilimitada sem vencimento. Até aqui tudo bem, no entanto considera ser uma violação dos seus direitos de cidadania o facto de ocorrer uma interrupção da antiguidade no caso da concessão de licença sem vencimento durante o período em que vigorar. Quando chegar o momento de regressar à área profissional de origem, perde todos os direitos relacionados com o vínculo respeitantes ao período temporal em que esteve ausente, resultando claro prejuízo para a carreira exercida. Nas palavras do entrevistado “ninguém deve ser prejudicado na sua carreira, e a Constituição diz isso, pelas suas opções políticas, partidárias, etc., etc., e portanto se alguém vai desempenhar uma função política, que por natureza é nobre, não é, não tem que ser prejudicada na sua carreira”.

2) Exercício de atividades político-partidárias e vínculo funcional;

É entendimento do Dr. Isaltino Morais que se um agente policial pretender desempenhar funções de natureza política, nada o impede, podendo prosseguir com as suas intenções. Terá, no entanto, que renunciar ao exercício das funções que desempenha na instituição policial. Esta situação enquadra o “risco que compõe as condicionantes de determinadas atividades profissionais. É o risco que é conhecido quando se adere, quando se abraça uma missão. Quando se vai para a Polícia sabe-se quais são as condicionantes que se têm, e aí é a própria Constituição que determina. É a Lei Fundamental”. O entrevistado coloca o principal

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destaque na capacidade de coerção e autoridade a que a polícia está adstrita, pois “o cidadão vulgar não anda com um cassetete, o cidadão vulgar não anda com uma pistola, e portanto estamos a falar de pessoas que estão revestidas de autoridade”. Estamos a falar de funções mito delicadas que interferem com direitos, liberdades e garantias das pessoas e portanto não é possível. Há funções que são incompatíveis

Tal revela que o cidadão que é polícia ou que é juiz não está impedido de desempenhar funções políticas. Ninguém o impede. Tem é que optar, e desvincular-se, pois só o não pode fazer ao mesmo tempo, ou seja cumulativamente

3) Exercício e restrição de direitos cívicos face ao pessoal não policial;

Relativamente a este ponto, Isaltino Morais entende que a lei prevê determinadas restrições de direitos, relativamente a determinadas atividades, para salvaguardar, não tanto o cidadão, mas o próprio agente de polícia ou Magistrado, o funcionário público. E fá-lo porque o Polícia tem que estar centrado na sua atividade. Um funcionário Público pode ter uma atividade profissional diferente daquela. Agora, uma coisa é ser funcionário público, outra coisa é ser funcionário de uma empresa privada. Um funcionário de uma empresa privada, depois das suas horas de serviço pode fazer o que ele quiser. Pode ser sócio, pode ser gerente, pode trabalhar. Agora, o servidor público tem outras obrigações.

4) Histórico e tendência para o futuro do exercício de direitos cidadania.

Relativamente à tendência futura, Isaltino Morais considera apontar no sentido de a Polícia ser cada vez mais civilista, cada vez mais perto dos civis e da administração pública e seus ditames. O entrevistado acredita mais na tendência civilista da Polícia pois quanto mais democrática for uma sociedade mais sentido faz que a Polícia seja civil. No entanto acarreta certas cautelas, uma vez que quanto mais civilista ou civil for a Polícia menos autoridade terá. Nas palavras do próprio “Eu acho que é bom, que é um bom sinal, se a Polícia for num sentido civilista, porque isso quer dizer que temos uma Democracia muito madura. E portanto eu acho que em Portugal a tendência é esta”.