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12.9 Contributos das entidades entrevistadas

12.9.8 Professor Doutor Manuel Monteiro Guedes Valente

O Exmo. Sr. Professor Doutor Guedes Valente foi entrevistado na qualidade de Doutor em Direito e Oficial da Polícia de Segurança Pública.

1) Filiação partidária;

Entende Guedes Valente que enquanto membro das forças de segurança não deve ter filiação partidária. A razão de ser da Polícia ser apartidária tem a ver com a sua missão, que é supra partidos. Mesmo não sendo filiado num partido verifica-se que há tendências partidárias dentro da polícia, o que afeta o seu funcionamento, bem assim como, por consequência, a população. Perante este panorama, é preferível haver uma norma que imponha o afastamento ou a filiação partidária. Trata-se de um limite meramente formal mas de extrema importância. Diferente será dizer que a pessoa não tem o seu pensamento, a sua maneira de ser ou pensar a política, no entanto invadir esse espaço representaria entrar na cabeça das pessoas, e caminhar-se num sentido para além do alcance e do conteúdo central do direito fundamental do artigo 18º n.º3, que o não permite. O papel da Polícia é supra partidário, é supra o cidadão, porque ele está ao serviço do povo e é assim que deve ser entendido. Não é um princípio negativo, isso é altamente positivo. É no sentido de o elemento policial ter que estar acima de qualquer suspeita.

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Quando o elemento policial pretender candidatar-se a um cargo político, tem toda a legitimidade em o fazer. Agora nesse caso tem que suspender as suas funções policiais.

A título meramente exemplificativo refere que não nos podemos permitir a chegar ao caso do Brasil, em que os elementos da Polícia Federal, dos Delegados, se podem candidatar ao Congresso, mesmo sendo Polícias. Se assim fosse poder-se-iam gerar os designados corporativismos dentro dos próprios partidos. E é precisamente o que se quer evitar. Uma democracia tem a ver com as limitações ao máximo de possibilidades de gerir grupos de poder, e logo das chamadas corporações , podemos então não ter democracia, mas grupocracia. O que está em causa é salvaguardar a transparência e objetividade do Estado, a imparcialidade do Estado. uma Polícia que atue de acordo com o primado da igualdade. Um primado formal e material, isso é fundamental.

3) Exercício e restrição de direitos cívicos face ao pessoal não policial;

O próprio exercício da profissão e o dever que tem que é um dever acrescido de respeito. Agora isso não quer dizer que não seja uma voz ativa na mudança e do melhoramento daquilo a que se chama o estado de direito, não um estado de direito não formal, mas um estado de direito material, social e democrático. Hoje pede-se uma Polícia completamente diferente, é essencial concordar e ver hoje a polícia com um rosto diferente, não um rosto de um estado ditatorial, e de um estado de polícia, mas como um rosto do estado democrático. Diz-me a Polícia que tens dir-te-ei o Estado que és. São frases entregues a vários pensadores franceses, principalmente consiste no mesmo de dizer diz-me que Constituição tens, dir-te-ei que República está construída.

4) Histórico e tendência para o futuro do exercício de direitos cidadania.

“Cidadania implica, para já, que seja o chamado quiuas, enquanto cidadão de uma comunidade. Como cidadão dessa comunidade tem direitos e tem deveres, neste caso os elementos policiais têm os seus direitos, como cidadãos, e têm os seus deveres enquanto cidadão, acrescendo a esses outros deveres. Os chamados deveres de garante que o polícia tem perante a sociedade. Portanto esse é um aspeto. Mas também num estado de direito democrático em que a democracia quer uma Polícia como eu costumo dizer que tenha em conta a vida da sociedade e que conheça os problemas da sociedade, não pode afastar em demasia essa polícia dela. Quer dizer, a Polícia aqui, os elementos policiais, têm o dever, obrigatoriamente, de serem cidadãos de pleno direito, ainda por cima é uma polícia civil, não é uma polícia militar.

A cidadania não tem só sentido jurídico e político, mas também sentido cultural, sentido social, sentido económico e principalmente sentido do respeito pelo outro. É claro que esta

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mudança de paradigma em que o polícia se assume como um sujeito da sociedade, não como objeto da sociedade, como sujeito que promove o desenvolvimento societário, é preciso ver isso, cabe-lhe, faz parte a manutenção e o seu papel de salvaguarda da própria democracia. Nós temos de ver que este plano de cidadania política, jurídica, cultural, social e económica que hoje se pede a todos os cidadãos e em especial neste caso à polícia, tem a ver com a sua relação com o povo. Eu costumo dizer que a Polícia existe para servir o povo, para servir a comunidade, ser a voz do povo, pelo povo e para o povo, porque estamos em democracia. Agora há deveres que são acrescidos por terem uma condição de polícia, como o caso do médico, como o caso do professor, como o caso do enfermeiro. Tendo em conta o seu papel na sociedade, aqui o seu papel social e profissional, mas especialmente social e económico que tem na sociedade, acrescem-lhe determinados deveres. Até a própria legislação em geral, quer a própria legislação administrativa, quer a legislação penal impõem ou exigem do elemento policial um comportamento diferente dos demais cidadãos, porque se pede que tenha também quesitos mais evoluídos que a média dos cidadãos, ou devida ter, isso é outra questão.

O que se passa é que as forças armadas e as forças policiais foram durante muito tempo como eu costumo dizer, instrumento do poder político. O braço armado do poder político. E este modelo que está na nossa Constituição tem a ver com isso. A ideia foi porque o poder político podia utilizar os polícias para os seus intentos. A atividade da Polícia atravessa todos os poderes, atravessa o poder executivo, trabalha dentro do poder judicial e também tem influências no poder político, no sentido que ela própria é motora da mutação e desenvolvimento societário, do pensamento societário. Mas isso numa Polícia altamente evoluída como sabe, e científica. A Polícia também se afirma aqui como uma voz da democracia, como alguém que participa ativamente. E essa legitimidade é mais forte por não estarmos ligados a partidos políticos.