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195A partir de 2005, há uma redefinição dos ob-

1 BRAGA, Jun

195A partir de 2005, há uma redefinição dos ob-

jetos e objetivos de intervenção em relação ao Bairro do Recife, visto que a forma adotada até então não havia garantido os resultados pretendidos pela pro- posta vigente. Levantamentos realizados por Vieira (2008, p. 209) no ano de 2005, revelaram que a for- ma de condução do projeto não garantiu a sustenta- bilidade econômica almejada, fato que se revela de forma mais clara nas baixas taxas de ocupação dos imóveis. Da mesma forma, estes dados comprovam o não incentivo à habitação na área do Pólo Bom Jesus.

Segundo a autora (VIEIRA, 2008, p. 209), que fez o levantamento de cinquenta imóveis neste Pólo, entre os anos de 1993 e 1996, houve um pe- ríodo de reversão da deterioração. No entanto, em 2005, havia novamente a necessidade de recupe-

ração. Dos imóveis levantados, 28 (56%) estavam totalmente ocupados, três (6%) estavam ocupados em dois pavimentos, dois (4%) tinham apenas o tér-

reo ocupado e dezessete (34%) estavam desocupa-

dos. Quanto aos usos encontrados, três (6%) eram de uso misto (podendo incluir habitação), 26 (56%)

abrigavam atividades de comércio e serviço, quatro

(8%) eram de uso institucional, dezessete (34%) es- tavam desocupados e não havia nenhum imóvel de uso residencial.

A nova proposta para a área central, em elaboração a partir desta data, previa a consolidação

da revitalização do Bairro do Recife, a revitalização de outros bairros de igual importância patrimonial e a integração destes como um único território de valor histórico, com o intuito de garantir a Sustentabilida- de. Esta passou a ser entendida, no contexto desta reformulação, como um conjunto de diretrizes que englobam a incorporação de usos diervsos, como o resgate da moradia (VIEIRA, 2008, p. 195).

Esta redefinição dos objetivos e das formas

de preservação vislumbradas em Recife vão de en- contro às alterações propostas às intervenções no Centro Histórico de Salvador. Podemos observar que nas duas propostas busca-se consolidar os se- tores em intervenção e, ao mesmo tempo, ampliar a área de atuação dos planos. Intenciona-se, dessa forma, vincular o referido território a uma área maior, em uma tentativa de articulá-lo à cidade, ao contrário da forma de atuação até então aplicada, em que as áreas de intervenção são tratadas de forma indepen- dente, isoladas das dinâmicas da cidade, dirigidas a

usos e usuários específicos, atreladas à especializa- ção funcional para o turismo.

No que diz respeito à questão habitacional, as duas propostas se assemelham pelo fato de não terem dado prioridade a este uso, sobretudo nas primeiras fases de intervenção. Nestas, observou- se que foi dada prioridade às atividades ligadas ao turismo e lazer. As problemáticas enfrentadas pelos dois casos, como a queda da atividade turística e

10.2.4. Momento de Mudança. A Desarticulação do Plano de Revitalização e o

Início de uma Nova Proposta

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esvaziamento dos imóveis, fez com que no momento de reformulação das propostas de intervenção, a ha- bitação fosse incorporada como um elemento agora considerado essencial.

No entanto, há uma particularidade em Sal- vador que a diferencia de Recife, posto que, no pri- meiro caso, a incorporação da habitação ao processo ocorreu devido à participação e interação da popula-

ção local. Este fato fica mais evidente também pela

localização da área habitacional, inserida no circuito turístico que se desejava promover. Em Recife, por outro lado, a problemática habitacional, vinculada à população de menor renda, por estar concentrada na Comunidade do Pilar, tem pouca visibilidade na

área, envolta por edificações industriais de grande

porte. Soma-se ainda o fato desta comunidade, se- gundo Leite (2007, p. 151) não ter “(...) necessária representação pública e desprovidos de mínima or- ganização política comunitária”.

Como conseqüência desse processo de re- formulação, em 2006 foi criada a Unidade Munici- pal Executora do Projeto Recife-Olinda, que passa a incorporar atividades anteriormente desenvolvidas pelo ERBR. Dentre elas estão a retomada do projeto Luz no Recife Antigo (interrompido em 1999, quando

voltava-se apenas ao embutimento da fiação elétri- ca, este tem os objetivos ampliados para telecomu- nicações e escavações) e a reurbanização das ruas Madre de Deus, Moeda e Avenida Alfredo Lisboa, entre outras (VIEIRA, 2008, p. 197). Outros dois pro- jetos fundamentais que devem ser destacados são o Complexo Turístico Cultural Recife-Olinda e a reto- mada da elaboração do Programa de Requalificação

Urbanística e Inclusão Social da Comunidade do Pi- lar, que veremos a seguir.

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O Complexo Turístico Cultural Recife-Olin- da é fruto de um convênio assinado em abril de 2005 (com previsão de implantação de quinze anos) entre as prefeituras de Recife e Olinda e os governos fe- deral e estadual. Ele decorre da junção de projetos anteriormente desenvolvidos de forma independen-

te, sem articulação, com a finalidade de “contribuir com o desenvolvimento histórico, cultural, tecnoló- gico e econômico de toda a região” (VIEIRA, 2008, p. 199, 200). Nesse sentido, ele não cria uma nova proposta, apenas reúne sob a mesma denominação projetos diversos distribuidos em sua área de abran- gência.

Segundo Figuerola (2006, p. 46-55), o pro- jeto, cujo início estava previsto para 2007, abrange uma área de oito quilômetros de extensão, na Região Metropolitana do Recife. As ações por ele engloba- das objetivam a articulação da cidade com a frente marítima, áreas livres, equipamentos comunitários e turísticos, urbanização das áreas degradadas e me- lhoria e ampliação de infra-estrutura urbana.

O Plano do Complexo Turístico Cultu- ral Recife / Olinda tem como objetivo central valorizar e dar visibilidade in- ternacional ao patrimônio cultural ma- terial (patrimônio histórico) e imaterial (manifestações culturais) das duas ci-

dades, através de uma requalificação

urbana da área central da Região Me- tropolitana do Recife e a estruturação de uma Rede de Equipamentos Cul-

turais. Trata-se de um plano estrutura- dor que tem a cultura e o turismo como eixo central do processo de desenvol- vimento, envolvendo ainda áreas do urbanismo, meio ambiente, tecnologia e desenvolvimento econômico e so- cial. (www.recife.pe.gov.br, Boletim de

Notícias de 27/04/2005, por ocasião

da assinatura do convênio de Coope- ração Técnica para implementação do Plano). In VIEIRA, 2008, p. 199

Desta forma, as ações sobre o Bairro do Recife, redistribuídas entre os setores da Prefeitura após a dissolução do Plano de Revitalização, foram também incluídas nos novos objetivos formulados através do Complexo Turístico Recife-Olinda, sendo a área agora tratada dentro de um conjunto maior de

intervenções. Este novo projeto redefine as divisões

das áreas anteriormente abrangidas pelo Plano de Revitalização.

O Porto do Recife foi englobado pelo novo projeto fazendo agora parte do Setor 3 de interven- ção. O Pólo Bom Jesus passou a fazer parte do Nú- cleo Marco Zero, enquanto o Pólo Alfândega passou a ser denominado Núcleo Alfândega. Ainda que, de modo geral, o projeto proponha incorporar a mora- dia a estas áreas, na descrição de cada um destes núcleos prevalecem as atividades de comércio, ser- viços e lazer, da mesma forma como apresentado no plano anterior. Segundo Botler (2012), o conjunto de ações previstas para a área acabou dando lugar a

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um processo de especulação imobiliária que desvir- tua os objetivos iniciais da concepção do Complexo. O Pólo Pilar, que reaparece neste projeto como Setor 7 de intervenção, tem por característica a retomada do Programa de Requalificação Urba- nística e Inclusão Social da Comunidade do Pilar, já formulado no âmbito do Plano de Revitalização do Bairro do Recife, mas não implantado (Figura 12) que ocorre também vinculado ao Projeto de Traba- lho Técnico Social (PTTS) Comunidade do Pilar e Comunidade do Pilar / Bairro do Recife – ZEPH 09, este último de responsabilidade da Diretoria de Pre- servação do Patrimônio Cultural – DPPC Gerência de Projetos & Gerência de Documentação, Promo- ção e Educação Patrimonial.

Para a viabilização deste Programa estão previstas parcerias entre diversos atores69 – públi- cos, privados e o terceiro setor. Com isso, intencio- na-se a retomada dos objetivos contidos no plano inicial, pautados na melhoria das condições de vida da população local, através da ampliação dos usos instalados na área, valorização do Patrimônio Arqui- tetônico ainda existente (muitos dos imóveis, pela falta de conservação, estão hoje em estado de ruí- nas, sem possibilidade de recuperação de suas fei- ções históricas) e reinserção da área ao contexto do Bairro do Recife.

Para atender tais objetivos, a proposta con- siste, quanto ao Patrimônio Arquitetônico, no restau-

ro da Igreja do Pilar (finalizada em janeiro de 2013) e 69. Os atores públicos são a Prefeitura e os Portos do Recife e Digital, os privados correspondem a Moinho Recife, Alfândega Empreendimen-

tos, Diagonal Urbana e Fábrica Pilar e, por fim o terceiro setor é formado

pelo Comitê para democratização da informação – CDI (VIEIRA, 2008, p. 190, 191).

na prospecção arqueológica do Forte São Jorge. No que diz respeito à ampliação dos usos na área, há a implantação tanto do Centro Comercial de apoio às atividades portuárias quanto de atividades que sirvam à população residente, também atendendo à necessidade de melhoria do aspecto social local. Nesse sentido, estão previstas a implantação de um centro de comercialização de alimentos (Mercado,

Quadra 60, 80 unidades) e equipamentos comuni- tários, como uma escola-creche, posto de saúde e praça de lazer (VIEIRA, 2008; Prefeitura do Recife, ERBR, 2001; LACERDA, MARINHO, ZANCHETI, s.d.).

Quanto às unidades habitacionais, a pro- posta consiste na reconstrução das quadras que abrigam a Comunidade do Pilar70, através da cons- trução de condomínios habitacionais verticais para a população moradora da Comunidade, contribuindo também para o controle das ocupações irregulares.

70. A construção das habitações populares se daria através do Pro- grama Morar no Centro, com participação da Caixa Econômica e a Ong

francesa Pact Arim, que fornece metodologia de requalificação de sítios

históricos urbanos para habitação (Prefeitura do Recife, ERBR, 2001; LACERDA, MARINHO, ZANCHETI, s.d.). Este foi retomado, segundo Vieira (2008, p. 192), a partir de 2001. Através do PRSH, anteriormente descrito, seria estabelecida a coordenação técnica entre a Caixa Econô- mica Federal e o Governo Francês, em parceria com a prefeitura, para realização de estudos de viabilidade de reabilitação de imóveis habita- cionais no Recife Antigo e Boa Vista. Hoje, o Programa Morar no Centro faz parte de um grupo de ações dentro da Secretaria de Planejamento Participativo, Obras e Desenvolvimento Urbano e Ambiental, através do programa Reabilitação do Centro Expandido criado, de acordo com da- dos da prefeitura, a partir das políticas patrimoniais de revitalização do Bairro do Recife, ampliada para a Política de Reabilitação Integrada do Bairro e entorno, com a ampliação do foco de atuação para o centro

expandido, uma área urbana adensada com significativo estoque patri-

monial construído (são 1606 hectares, 7,31% da área total da cidade,

com uma população residente de 78.098 habitantes). No entanto, não há

dados suficientes que indiquem a viabilidade do Programa, que apresen- ta apenas um projeto piloto, no bairro de São José (Prefeitura do Recife, Secretaria de Planejamento Participativo, Obras e Desenvolvimento Ur- bano e Ambiental).

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