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Propostas Iniciais Os Primeiros Planos de Preservação

171dizem respeito à dificuldade de intervenção em áre-

10.2. Bairro do Recife Do Plano de Revitalização do Bairro do Recife ao Complexo Recife-Olinda

10.2.1. Propostas Iniciais Os Primeiros Planos de Preservação

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os quais se identifica. Neste sentido, a definição de

preservação deveria considerar a relação de convi- vência entre o indivíduo e o ambiente, sendo a pre- servação dependente da atuação conjunta de todos os interessados (LUBAMBO, 1992, p. 121).

A prefeitura decidiu, assim, pensar e testar uma metodologia de restaura- ção e revitalização do Bairro do Reci- fe, através da participação e atuação da população, num processo perma- nente de debates: não se apresentou uma proposta de intervenção fechada, assim pôs-se em prática um proces- so de intervenção permanente com os técnicos vivendo / trabalhando no próprio Bairro, visando a uma propos- ta ajustada aos interesses coletivos. (LUBAMBO, 1992, p. 122)

Neste contexto é estabelecido, em 1985, o Plano de Reabilitação do Bairro do Recife, que per- dura até o ano de 1988. Dentro do período de atu- ação deste plano, em 1986, é criado o Escritório de Revitalização do Bairro do Recife (ERBR), que pas- sa a ser articulador e executor de todo o processo de intervenção no Bairro do Recife60.

60. O Escritório de Revitalização do Bairro do Recife (ERBR) foi cria- do para coordenar as equipes de trabalho que deveriam desempenhar

ações específicas dentro do projeto de intervenção, tais como planeja- mento e controle, infra-estrutura urbana, eventos, documentação, inte-

ração social, apoio jurídico e apoio administrativo, a fim de se alcançar o

“(...) desenvolvimento sustentável do Bairro do Recife (...)”. Vieira (2008, p. 163, 177) destaca que em 1997 foi criada uma sociedade civil que deveria substituí-lo, a Agência de Desenvolvimento da Ilha do Recife S/C LTDA (AD – Ilha do Recife), composta pela prefeitura, Fidem, Instituto

Arqueológico, Histórico e Geográfico Pernambucano, Fiepe, Associação

Comercial de Pernambuco, Companhia das Docas do Estado do Rio Grande do Norte (CODERN), Associação dos Empresários do Bairro do Recife, IAB/PE e URB/Recife. Estas entidades dividiriam a responsabili- dade de gerir o Bairro mas, no entanto, as ações não foram concretiza-

das. Entre os anos de 2001 e 2003, o ERBR foi definitivamente desati-

Inserido dentro de um projeto maior de re- abilitação do centro do Recife, o Plano de Reabilita- ção do Bairro do Recife tinha por função realizar es-

tudos a fim de elaborar meios para a recuperação do

Bairro. Dentre seus objetivos consta a atribuição de novos usos e funções para a área, a partir da recu- peração do Patrimônio Arquitetônico, aproveitando- se da ociosidade de utilização do aporte construído

(edificações desocupadas e subutilizadas). Esta ne- cessidade de estabelecimento de novos usos é de- corrente do processo de obsolescência da atividade portuária, bem como da posterior transferência desta para o porto de Suape, acarretando no esvaziamen- to do Bairro. Esse processo contribuiu para a redu- ção cada vez mais acentuada da população morado- ra local, marcando a necessidade de preservação da população ainda existente, privilegiando para tanto a habitação, que se tornava cada vez mais reduzida no Bairro, provocando o esvaziamento do mesmo no período noturno61.

Quanto à implantação do projeto, Lubam- bo (1992, p. 122) destaca como um dos aspectos fundamentais a estratégia de deslocamento do local de trabalho para o próprio Bairro, já apontada pelas diretrizes do DPSH. Com esta medida buscava-se

vado, transformando-se no acervo histórico do Bairro, processo que fará parte da desarticulação de todo o Plano de Revitalização do Bairro do

Recife, a partir de 2005.

61. Outro aspecto relevante do plano diz respeito à preservação das características do ambiente físico (quanto aos aspectos urbanísticos, observava-se na época a perda do contato com mar, desconforto para o pedestre devido ao excesso de insolação, escassa vegetação, precário

sombreamento de vias e calçadas e dificuldade de ventilação devido ao traçado urbano), social e dos atributos históricos, geográficos e de sítio

do ambiente natural e construído, bem como a gestão democrática deste (LUBAMBO, 1992, p. 122; LACERDA, MARINHO, ZANCHETI, s.d., p. 27, 28).

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garantir a presença da população imediatamente en- volvida e a “Nova” maneira de pensar e conceber o espaço urbano, que o projeto representaria. A autora ressalta ainda que esse processo era realizado ao mesmo tempo em que se faziam as discussões em Genebra sobre o “Demolir ou Renovar” (1986), e em Kreuzberg sobre as experiências de “Renovação de Cidades” no mundo ocidental como Barcelona, Évo- ra e outras (1989).

Os resultados imediatos desse plano foram visíveis: conseguiu-se a adesão e simpatia da população que passou a participar e discutir os projetos es-

pecíficos, como habitações coletivas,

restaurantes populares, creches, pra- ças, ruas e calçadas. A iniciativa priva- da também aderiu ao plano, propondo e participando da restauração de edi- fícios, adquirindo terrenos e implan- tando serviços e revitalizando antigos usos. (LUBAMBO, 1992, p. 122)

No entanto, as ações empreendidas resul- taram em intervenções pontuais como a limpeza de galerias, pintura de postes e melhoria em segurança

(VIEIRA, 2008, p. 121, 122). O Plano teve fim com

o término da gestão do prefeito Jarbas Vasconcelos porque, segundo Vieira (2008, p. 123), os atores en- volvidos não tiveram condições de manter o anda- mento do projeto. Dentre os aspectos que marcam

a dificuldade de dar continuidade ao Plano, a autora

destaca o discurso associado ao projeto, que favo- receria os grupos populares, a falta de recursos do município para investimentos públicos e a falta de perspectiva dos empresários com a valorização eco-

nômica dos imóveis.

Esta primeira fase já nos permite identificar o estabelecimento de conflitos de interesses que en- volvem as intervenções urbanas em Áreas Centrais Históricas. Isso porque, por mais que os planos de intervenção até então propostos intencionassem ter um caráter social, buscando valorizar o uso habita- cional na área e a relação entre a população e a identidade que esta cria com o local onde vive ou trabalha, esbarravam na difícil equação com os inte- resses econômicos, notadamente voltados ao lazer e turismo. A temática da preservação, desta forma,

também neste caso, ficaria sujeita às possibilidades

de rentabilidade econômica associada ao Patrimônio

Cultural, dificultando a possibilidade de conciliação

entre as necessidades de cada setor envolvido, a população moradora local, o poder público e a ini- ciativa privada.

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Com o término do Plano de Reabilitação do Bairro do Recife, teve início a formulação do Plano de Revitalização do Bairro do Recife, que se esten- deu de 1989 a 1992, passando a ser efetivamente implementado a partir de 1993. As intervenções des- te plano perduraram até o ano de 2005, momento em que este foi encerrado. A confecção deste Pla- no de Revitalização surgiu como uma encomenda, parte de um grande projeto turístico para o estado, lançado pelo então governador Joaquim Francisco. Sua viabilização se daria através do Programa Inte- grado de Desenvolvimento do Turismo no Nordeste (PRODETUR), gerenciado pelo Banco do Nordeste

(BNB) e financiado pelo BID. O Bairro do Recife ser- viria de ponto de apoio ao programa, transformado em centro de atrações para visitantes nacionais e internacionais, gerando uma valorização econômica do patrimônio histórico.

Este novo discurso distanciaria este Plano

de Revitalização, definitivamente, das diretrizes até

então estabelecidas para ações no Bairro. A manu- tenção da população moradora, que se pretendia an- teriormente, contribuiria para atender à necessidade de preservação das características físicas, sociais e culturais do Bairro. Este aspecto seria essencial para o reconhecimento e preservação do Patrimônio Cultural, Arquitetônico e Imaterial, que caracteriza a área.

Se a manutenção dos moradores locais

serve à conservação dos aspectos culturais locais, é também fundamental no contexto das análises dos

marcos conceituais definidos, Urbanalização e Con- tainerização do Espaço Urbano. Isso porque, tanto

na descrição destes, bem como da definição das for- mas de intervir, a permanência da população local serviria de contraponto ao Processo de Privatização do Espaço Urbano, característica destes, evitando a

apropriação da área por grupos específicos, muitas vezes definidos pela renda.

As novas propostas partiram dos diagnósti- cos já levantados para a área pelo Escritório de Revi- talização do Bairro do Recife, quando da elaboração do Plano de Reabilitação (1985-88), como a deca- dência da atividade portuária, redução do uso habita- cional, precariedade da infra-estrutura local, serviços

urbanos ineficientes e necessidade de preservação das edificações. As primeiras ações de intervenção

propostas pelo Plano de Revitalização do Bairro do Recife alegavam ter por intenção o resgate do centro aos habitantes da cidade, através de ações de recu- peração e manutenção das estruturas, que estavam

obsoletas, e melhoria dos serviços urbanos deficien- tes (Prefeitura do Recife, ERBR, 2001, p. 20).

A partir de três grandes núcleos principais, que reúnem os aspectos que devem nortear as ações de intervenção em áreas urbanas consolidadas e es- tão, de certa forma, presentes em muitos projetos dessa natureza, foi estabelecido o novo quadro de

10.2.2. A Estruturação de Novas Bases de Intervenção. A Demanda Social e a