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A Consagração como Patrimônio da Humanidade Uma Retomada do Projeto Turístico para a Área

141mento central para a identificação e ação política do

10. Discurso e Prática em Intervenções Urbanas em Áreas Centrais Históricas As experiências de Salvador e Recife

10.1. Centro Histórico de Salvador Do Programa de Recuperação do Centro Histórico ao Plano de Reabilitação do Centro Antigo

10.1.2. A Consagração como Patrimônio da Humanidade Uma Retomada do Projeto Turístico para a Área

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ciamentos de bancos de fomento internacionais e do Brasil, através de venda, desapropriação, pagamen- to de indenização, concessão de usufruto (de cinco a dez anos) e troca (de imóvel ou área construída). Em relação à população residente, foram adotadas as medidas de desapropriação e pagamento de in- denização. O Fundo Geral de Turismo – Embratur, viabilizou as primeiras etapas das obras que tiveram início no Pelourinho, o Banco do Brasil participou através de convênios nas obras de restauração e o Desenbanco, Banco de Desenvolvimento do Estado da Bahia, ao término da primeira etapa, criou uma

linha de financiamento para os comerciantes que se

transfeririam para o Centro Histórico43.

O processo de escolha das áreas a serem recuperadas teve por critério a importância artístico- cultural dos imóveis e os respectivos estados de arruinamento e degradação. Foram consideradas, como unidades de intervenção, os quarteirões, e

não as edificações individualmente e buscou-se im- plantar infra-estrutura em rede de água, contra in- cêndio, esgotamento sanitário, telefone e energia elétrica (IPAC, 1996). As estratégias de intervenção foram divididas em cinco categorias – Restauro (edi- fícios de maior importância), Recuperação Estrutural e Funcional (dar condições de uso a edifícios sem condições de serem restaurados integralmente), Reconstrução (imóveis parcialmente desabados), Conservação (imóveis em bom estado), Construção (utilizar terrenos de imóveis completamente desa- parecidos para construção de novos equipamentos) e Agenciamento, Urbanização e Paisagismo (trata- 43. Governo do Estado da Bahia, IPAC, Conder, 1995.

mento dos espaços internos das quadras para lazer e convivência)44.

As instituições envolvidas no Projeto de

Requalificação do Pelourinho eram, a princípio, o

Instituto do Patrimônio Artístico e Cultural da Bahia (IPAC), a Companhia de Desenvolvimento da Região Metropolitana de Salvador e a Prefeitura da cidade. Foram ainda envolvidos diretamente com o projeto o Governo do Estado da Bahia, os proprietários dos imóveis, as organizações culturais e sociais e os proprietários de negócios na área. O projeto foi ain- da apoiado pelo IPHAN e BNDES. O Plano Diretor para a intervenção no Centro Histórico de Salvador foi colocado sob a responsabilidade da Secretaria de Cultura, através do IPAC.

Uma Carta de Referência (NOBRE, s.d.) foi lançada pelo Governo do Estado da Bahia em 1991,

na qual é possível identificar os objetivos da pro- posta. Estes abrangiam aspectos desde o aumento da oferta de estacionamentos e melhoria da infra- estrutura (redes de água, esgoto, energia, telefone e combate a incêndios), até a recuperação dos espa- ços públicos e dos imóveis (monumentos históricos

e demais edificações de valor patrimonial)45.

Quanto à distribuição das novas atividades,

esta deveria respeitar a vocação da área e dos espa- ços, não degradar os imóveis, gerar emprego e atrair consumidores (IPAC, 1996). Considerando o poten- cial econômico, a função destes em relação à cida-

de e região metropolitana seria redefinida, a fim de

44. Idem.

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promover condições sustentáveis46 de preservação

através do desenvolvimento de atividades econômi- cas. Estas seriam ainda subsidiadas pelo Estado da Bahia através de aluguéis reduzidos, manutenção

de imóveis sem custo ao proprietário e financiamen- to de um programa de animação do espaço público com shows gratuitos, o Programa Pelourinho Dia & Noite. A área recebeu também um policiamento dife- renciado do restante da cidade.

A expectativa em relação à recuperação do Pelourinho era de que a mesma pudesse gerar uma valorização dos imóveis e com isso possibilitar o retorno dos investimentos públicos e o aumento da visitação turística (BOTELHO, 2005). Para atingir tal expectativa, as atividades de intervenção foram divididas em duas fases, sendo estas, por sua vez, subdivididas em mais quatro etapas cada uma. As características das fases de intervenção, bem como as implicações destas, são descritas a seguir.

46. A referência ao tema da Sustentabilidade, como forma de legitima- ção das ações intencionadas, não é acompanhada de nenhum esclare-

cimento quanto ao significado deste no contexto do Programa. O mesmo

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A primeira fase de intervenção do Progra- ma de Recuperação do Centro Histórico de Salva- dor, realizada entre os anos de 1992 e 1995, e que corresponde às etapas de um a quatro, deu início ao processo de intervenção maciça por parte do gover- no estadual no Centro Histórico de Salvador. Esta se ateve, sobretudo, em trechos do Passo, Terreiro de Jesus e principalmente no antigo bairro do Maciel

(este sendo definitivamente incorporado ao corredor

turístico entre o Terreiro de Jesus e o Passeio do

Pelourinho), abrangendo um total de 334 imóveis. A justificativa para as ações realizadas nesta fase foi

baseada na perspectiva de se atender às deman- das de atração do maior número possível de turistas para a cidade. Dessa forma, as principais atividades previstas neste momento diziam respeito à realoca- ção de usuários e à readequação das atividades à vocação da área e aos espaços dos imóveis, privile- giando bares, restaurantes, galerias, lojas e eventos. Na segunda fase, dividida entre as etapas de cinco a oito e iniciada em 1995, foram realizadas obras de estabilização de imóveis em risco (setenta unidades), consolidação do Espaço Cultural / Cen- tro de Vivência – “Pelourinho Dia & Noite”, manu- tenção da infra-estrutura, proteção de monumentos e recuperação de edifícios históricos (305 ao todo), como a restauração da Catedral Basílica e da Igreja e Convento de São Francisco, e a criação do Es- critório de Gestão do Pelourinho. O trânsito dentro

do Pelourinho foi fechado depois de concluído um estacionamento de sete pavimentos para carros, com entrada pela Baixa do Sapateiro, dando acesso aos pedestres pela rua das Laranjeiras (FREITAG, 2005). Nesta fase, o projeto caracterizou-se, de um

lado, pela busca de financiamento externo e, de ou- tro, por uma maior cautela do Estado em implantar as intervenções. Este cuidado deriva dos questiona- mentos, cada vez mais incisivos, quanto às ações que vinham sendo realizadas, que deixavam cada vez mais claro o viés turístico da intervenção e o não atendimento à demanda social local. Estas críticas se tornariam mais evidentes a partir da sétima eta- pa de intervenção, culminando na revisão do plano, hoje em curso.

A “refuncionalização” dos edifícios históri- cos favoreceu a concessão de créditos para lojas de artesanato, butiques, joalherias, restaurantes, cafés, bares, entre outros. O Estado e o Município instala-

ram bancos, escolas primárias e profissionalizantes

bem como prédios públicos (IPAC, Museu da Cida- de, Solar do Ferrão), correio, posto de saúde e de polícia.

Na Figura 06 estão representadas as duas fases de intervenção acima mencionadas, bem como são apresentados os dados sobre as diferentes eta- pas que as compõem.

10.1.3. Programa de Recuperação do Centro Histórico de Salvador. Fases de