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Momento de Inflexão Queda do Turismo, Críticas e Mobilização Popular

141mento central para a identificação e ação política do

10. Discurso e Prática em Intervenções Urbanas em Áreas Centrais Históricas As experiências de Salvador e Recife

10.1. Centro Histórico de Salvador Do Programa de Recuperação do Centro Histórico ao Plano de Reabilitação do Centro Antigo

10.1.4. Momento de Inflexão Queda do Turismo, Críticas e Mobilização Popular

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das fachadas, para garantir a ambiência histórica, porém, alterando-se a composição interna.

O fato é que, ao mesmo tempo em que o

conflito resultante da problemática habitacional ocor- ria, representado pelas reivindicações da população moradora, que colocou em xeque o até então mode- lo de intervenção pautado na remoção da população local para dar lugar a um público de maior renda, outra problemática também tomava conta da área. Observava-se o insucesso do Programa a partir da queda do movimento turístico, uso tão almejado e até então a intenção mais importante da intervenção. De fato, este preocupante quadro de decadência e abandono da área, como as novas revisões viriam demonstrar, era na verdade a motivação principal

para uma necessária reflexão e busca de alternati- vas para a forma de condução do mesmo.

Outro elemento importante, que teve papel

fundamental na decisão de mudar o perfil da inter- venção, dizia respeito ao acesso aos recursos do Programa Monumenta. O impedimento que havia nesse sentido era decorrente das críticas até então direcionadas ao projeto, considerado um modelo es- gotado e excludente, que deveria “(...) reintroduzir a função residencial visando ao uso permanente e contínuo da área” (MOURAD, s.d.).

A partir deste contexto, no final de 2007,

iniciou-se um processo de revisão e reformulação da intervenção. Este se deu a partir da criação de um novo conselho para gerenciar a área, o Conse- lho Gestor do Centro Antigo (CAS), coordenado pelo

Escritório de Referência do Centro Antigo, chefiado

pela arquiteta Beatriz Lima.

Nesse sentido, os conflitos estabelecidos,

que obrigariam à reformulação de aspectos relativos à sétima etapa de intervenção, foram apropriados pelo novo discurso, anunciados como elemento a

partir do qual se faria uma reflexão mais abrangente

sobre o Programa de Recuperação como um todo. Tomando como mote a problemática habitacional, assumindo que as etapas até então realizadas ha- viam sido negligentes ao não atenderem à demanda social local, estabeleceu-se a necessidade de revi- são do Programa e de seu foco de atuação.

Na realidade, os rumos tomados pela nova proposta, como a retomada das ações de interven- ção viriam demonstrar, continuariam carregados da

dificuldade em conciliar o interesse econômico às

necessidades que o aspecto social impõe. Ainda assim, é necessário reconhecer a participação da AMACH, e as conquistas por ela alcançadas, como um elemento fundamental às reformulações do Pro- grama.

Ainda que este novo projeto esteja ainda hoje em processo de desenvolvimento e implemen- tação e, portanto, podendo ainda vir a sofrer alte-

rações, fica evidente a tese de que a participação

popular constitui-se em importante agente de trans- formação das formas de intervir e meio para o res- gate de aspectos culturais que se perdem em muitas propostas. Mesmo que o novo plano de intervenção mantenha a promoção do turismo como ideal a ser atendido, o movimento organizado pela AMACH ga- nhou visibilidade e se tornou um interlocutor com o qual o diálogo se faz obrigatório, constituindo-se em referencial importante ao questionamento das for-

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mas de intervir neste centro histórico e que podem contribuir para a ampliação do debate sobre este tema em outras Áreas Centrais Históricas que pas- sam por processos similares de intervenção urbana.

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A partir da necessidade de revisão das for- mas de intervir até então adotadas pelo Programa de Recuperação do Centro Histórico de Salvador, pas- sou-se a uma fase de reformulação das bases de in- tervenção, estabelecendo-se um novo projeto, este denominado Centro Antigo de Salvador. Plano de Reabilitação Integrado e Participativo. Este proces- so de revisão se pautou em aspectos que incluíam desde a redistribuição de atribuições entre os órgãos envolvidos, alteração da área de abrangência, até as novas propagandas veiculadas sobre o projeto56.

Em relação à Articulação Institucional, os principais problemas a serem solucionados diziam respeito à superposição de atribuições entre os ato- res na gestão da área, a convergência de ações e

projetos e identificação e articulação dos parceiros potenciais. A solução proposta baseia-se na defi- nição de funções, com articulação com a iniciativa privada e o levantamento de projetos existentes e

não implantados. Quanto à redistribuição das atribui- ções de cada órgão e entidade dentro do Plano, os compromissos assumidos foram divididos em cinco

instrumentos ficando, cada um deles, responsável

pela realização de um objetivo. O Decreto número

10.478/07 estabelece as diretrizes a aprova os pla- nos estratégicos; o Acordo de Cooperação Técnica elabora o Plano de Reabilitação; o Convênio entre

56. Os dados apresentados a seguir foram retirados de Conselho Ges- tor do Centro Antigo (2008) e Governo do Estado da Bahia (2010).

Ministério das Cidades e SEDUR (Secretaria de De- senvolvimento Urbano da Bahia), por sua vez, elabo- ra e implementa a primeira etapa do Plano; através do auxílio da UNESCO, foi determinada a elabora- ção do “plano de sustentabilidade para a reabilita-

ção, preservação e valorização”; por fim, o SEBRAE

é responsável por desenvolver ações em parceria

(segundo dados do Plano de Reabilitação, 20% das

atividades desenvolvidas na área são destinadas ao

comércio e 29,3% aos serviços, nesse sentido, as

ações previstas visam capacitar a mão de obra local, diminuir a incidência de atividades informais e incen- tivar negócios ligados a atividades culturais).

A estrutura de funcionamento também foi alterada e agora passa a se dividir em quatro níveis de atuação. O primeiro deles é o Estratégico que, de responsabilidade do Grupo Executivo, tem por atri- buição coordenar as ações, diretrizes, deliberação e aprovação. O segundo, Operacional, é de responsa- bilidade do Escritório de Referência do Centro Antigo de Salvador (ERCAS) e tem como função a gestão, articulação e execução. Em seguida está o nível Par- ticipação, que diz respeito às Câmaras Temáticas57. Por fim, o nível Técnico, realizado pelos grupos de trabalho, é responsável pelo Estudo, Planejamento e Suporte Técnico.

57. Estas são divididas em Cultura, Educação, Turismo e Lazer (1); Planejamento, Comércio, Serviço, Emprego e Renda (2); Direitos Hu- manos, Segurança, Cidadania e Justiça (3); Habitação, Infra-estrutura,

Meio Ambiente e Mobilidade (4).

10.1.5. Uma Nova Proposta? O Plano de Reabilitação e a Retomada da Sétima