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A Estruturação de Novas Bases de Intervenção A Demanda Social e a Tendência ao Turismo

171dizem respeito à dificuldade de intervenção em áre-

10.2. Bairro do Recife Do Plano de Revitalização do Bairro do Recife ao Complexo Recife-Olinda

10.2.2. A Estruturação de Novas Bases de Intervenção A Demanda Social e a Tendência ao Turismo

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objetivos. Estes estão pautados na necessidade de Reabilitação Funcional (resgatar a vitalidade da área através de novos usos e funções), Reabilitação Fí- sica (aproveitando-se da estrutura funcional e física existente) e Preservação da População Local (por meio da defesa do uso habitacional para as cama- das mais populares) (Prefeitura do Recife, ERBR, 2001, p. 20). Alegam, desta forma, atender às de- mandas contemporâneas de promoção o uso contí- nuo dos espaços na cidade, garantia da preservação do Patrimônio Cultural (através da conservação do Patrimônio Arquitetônico e reprodução do Patrimô- nio Imaterial) e exercício da função social através da permanência da população local, notadamente a de menor renda.

A partir destes núcleos, que constituíram

diretrizes abrangentes, foram definidos os objetivos específicos do Plano de Revitalização, dentre eles:

(...) preservação das características essenciais do conjunto, entendidas além das características físicas: o popular; o povo na sua expressão de convivência, na sua forma de se ex- pressar; a festa dos espaços comuns; a afetividade que liga o povo ao lugar, o cotidiano da cultura. (Prefeitura do Recife, ERBR, 2001, p. 20)

Lacerda, Marinho e Zancheti (s.d., p. 33 - 35), destacam que os objetivos resultantes da leitura

da área serviram de base para identificar as poten- cialidades do Bairro, considerando o aspecto local e o contexto da cidade e metropolitano. Estes objeti- vos foram divididos em quatro tópicos principais, e

voltam-se à busca pela preservação e valorização do patrimônio ambiental e construído e integração das economias local e urbana do Recife.

O primeiro objetivo diz respeito à conserva- ção do Patrimônio Cultural e ambiental, permitindo recuperar a imagem do Bairro e conciliar novas fun- ções urbanas com a manutenção do passado. Neste item, além da questão da preservação do patrimônio histórico e arquitetônico da área, entende-se que, como parte da cidade, este é um espaço que não pode ser visto de forma estagnada e que, portanto, deve-se buscar meios para conciliar a preservação com o caráter dinâmico da área.

No segundo objetivo é possível identificar

o viés econômico que a intervenção passaria a ter, posto que diz respeito à recuperação da função eco- nômica central do Bairro em relação à cidade, atra-

vés de novas atividades econômicas, diversificando

os usos para esta área (destaque para atividades de lazer, cultura, turismo, comércio e habitação).

O Plano parte do pressuposto de que é necessário inserir a cidade nas ver- tentes que alimentam o dinamismo das economias modernas e que pos- sam aproveitar o ambiente natural e a cultura social acumulada historica- mente pela cidade. O acervo constru- ído, a ociosidade de sua utilização e a perspectiva de uma utilização racio- nal do espaço levaram a selecionar as atividades com carga inovadora como

aquelas capazes de redefinir o atual

estilo de ocupação do Bairro do Reci- fe. (LACERDA, MARINHO, ZANCHE- TI, s.d., p. 35)

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Ainda que dentre os usos apontados fosse proposto o resgate do uso habitacional, a forma de conciliação deste com as atividades de lazer e turis- mo não foi apresentada. Esta incompatibilidade de usos é reforçada pelo terceiro objetivo, que fala da transformação da área em um “espetáculo urbano”, através da valorização dos espaços públicos como área de recreação,convívio, diversão e lazer. Ainda que neste item o lazer seja apresentado também em relação à população local, ele aponta para a tendên- cia de não mais contemplar questões referentes à habitação e aos aspectos sociais anteriormente le- vantados como fundamentais.

Esta alteração no Plano fica clara quando

da leitura do quarto objetivo, “Tornar o Bairro do Re- cife um centro de atração turística nacional e inter- nacional” (LACERDA, MARINHO e ZANCHETI, s.d., p. 33). Com isso, sedimenta-se que as intervenções que se seguiriam a partir da fase de implementação do Plano de Revitalização do Bairro do Recife se vol- tariam, sobretudo, ao turismo.

A previsão era de que estas atividades, que passam a ser implantadas sob a coordenação de Sílvio Zancheti, fossem realizadas entre os anos de 1993 e 2005 (Prefeitura do Recife, ERBR, 2001, p. 21-23; LACERDA, MARINHO, ZANCHETI, s.d., p. 35-37). Estavam previstas ainda a realização de re-

visões constantes, a fim de garantir a credibilidade

do Plano, a mudança da imagem do Bairro e a conti- nuidade das ações estipuladas, independentemente da administração municipal (VIEIRA, 2008, p. 127)62.

62. Esta revisão, prevista para 2005, bem como a continuidade da in- tervenção, não ocorreram.

A elaboração do Plano Diretor do Bairro do Recife, no ano de 1997 (Lei número 16.290), estabe- leceu os pólos de interesse na área, que passariam a receber as ações de intervenção. A composição deste foi o ponto de partida para a implementação do Plano de Revitalização. A partir da consolidação da estruturação das ações de intervenção, com a

definição dos grupos de diretrizes, objetivos espe-

cíficos e a delimitação das áreas de atuação, pode-

se observar o desvirtuamento da intenção inicial do Plano. Este, que a princípio apresentava o aspecto social como primordial, passa a se apoiar cada vez mais em ações de intervenção que têm no turismo o foco principal. Na medida em que nos detivermos no estudo dos Pólos Bom Jesus, Alfândega e Pilar, esta constatação aparecerá de forma mais clara.

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Para que as ações de intervenção propos- tas pelo Plano de Revitalização do Bairro do Recife fossem viabilizadas, foram previstos projetos para a melhoria da infra-estrutura urbana de redes de água e esgoto, energia elétrica e telefonia, serviços estes

que mais tarde se revelariam insuficientes para a

demanda da área (VIEIRA, 2008, p. 156).Outro as- pecto considerado fundamental para a viabilização do Plano foi a composição de um sistema viário prin- cipal. Este se tornaria responsável pela reestrutu- ração do sistema viário existente, com abertura de vias e o reordenamento dos espaços públicos e do

sistema de transporte, a fim de facilitar a circulação e evitar uma convivência conflituosa de outras ativi- dades com o porto.

O plano de intervenção passou a ser con- duzido dividido em três setores63 (Figura 10), Revita-

lização, Renovação e Consolidação, considerando- se o agrupamento das novas funções propostas de acordo com o caráter principal que apresentavam (serviços, turismo, cultura e lazer, preservação do Patrimônio Arquitetônico e ambiental e habitação), a

fim de garantir a convivência através do uso misto.

Nestes setores estão inseridos os pólos de interven- ção selecionados neste estudo.

Os Pólos Bom Jesus e Alfândega fazem parte do primeiro setor de intervenção, denominado

63. Os dados referentes aos Setores de Intervenção foram retirados das seguintes referências, Prefeitura do Recife, ERBR, 2001, p. 21-23; LACERDA, MARINHO, ZANCHETI, s.d.

Setor de Revitalização, reunindo grande parte das

edificações de interesse histórico, com incentivo aos

proprietários para reformar os imóveis. Neste setor

é possível identificar dois aspectos fundamentais, um voltado às edificações e outro ao espaço urbano. Quanto às edificações, estas seriam, através de res- tauro e recomposição, dotadas de serviços moder- nos, comércio varejista e habitação, de acordo com parâmetros contemporâneos de uso, melhorando as condições de utilização das mesmas. No que se refere ao espaço urbano, a intenção era realçar a qualidade da paisagem urbana, prevendo, para tan- to, o tratamento do desenho urbano e da estrutura urbana existente, através de melhoria do passeio pú- blico, mobiliário urbano e arborização, garantindo a qualidade ambiental da área e trazendo conforto aos usuários. Com isso, objetivava-se gerar um retorno

financeiro aos investidores.

O Pólo Pilar, por sua vez, está localizado no Setor de Renovação que, diferentemente do an- terior, seria passível de transformações no ambiente urbano. Neste setor, intencionava-se a criação de um novo ambiente, através da implantação de novos usos (comércio varejista, habitação, serviços tradi- cionais e remanescentes do comércio atacadista) e padrão de ocupação e construção. Neste setor estão incluídas prospecções arqueológicas do Forte São Jorge e a área que engloba a Igreja do Pilar.

10.2.3. Plano de Revitalização do Bairro do Recife. Pólos de Intervenção e