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2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

2.4 A PEDAGOGIA DA PRÁXIS E A EDUCAÇÃO CIENTÍFICA

Diante da intenção de trabalhar com uma proposta pedagógica que caracterizasse esta pesquisa, encontrou-se na pedagogia da Práxis, elementos que a identifique, por ser esta uma abordagem que propicia a ação e reflexão da prática docente a qual visa contribuir para o desenvolvimento e transformação social, política e econômica. Nesta ótica, Gadotti (2010), respondendo a questão porque pedagogia de Práxis? A pedagogia de Práxis pretende ser uma pedagogia para a educação transformadora. Ela radica nunca antropologia que considera o homem um ser criador, sujeito da história, que se transforma na medida em que transforma o mundo.

Diante disto, observa-se que Gadotti (2010) dialoga com as ideias de Freire, expondo que diante do conflito é possível construir uma solidariedade democrática. Para além de uma práxis pedagógica, de uma escola cidadã, Gadotti (2009), traz a temática de educar para a sustentabilidade e diz que a preservação do meio ambiente depende de uma consciência ecológica e a formação da consciência depende da educação.

Nessa perspectiva, Gadotti (2004) propõe que uma educação transformadora voltada para o futuro do jovem deve levar em consideração algumas categorias, a saber: cidadania (autonomia - educação pela e para a cidadania ativa), planetariedade (ecopedagogia; ecoformação; cidadania planetária), sustentabilidade (Cultura da sustentabilidade; uma educação sustentável para a sobrevivência do planeta), virtualidade (era da informação; novos espaços da formação), globalização (globalização da economia, da cultura e das comunicações), transdisciplinaridade (transculturalidade; transversalidade; multiculturalidade; complexidade; holismo), e dialogicidade (dialogicidade).

Partindo desse pressuposto, o trabalho aqui proposto, procura mapear as potencialidades pedagógicas dos espaços de educação não formal da cidade de Aracruz, estado do Espírito

Santo para o ensino de ciências, a partir de atividades de formação inicial, organizadas em um projeto de ensino com estudantes do curso de Licenciatura em Química do Campus Aracruz do Ifes, tendo em vista a educação para a sustentabilidade, por meio de uma aprendizagem colaborativa, com enfoque no movimento CTSA, buscará usufruir das potencialidades pedagógicas dos espaços elencados para o enriquecimento do processo de ensino-aprendizagem na efetivação da educação científica a qual contribuirá para consolidação da educação ambiental, Gadotti (2010), reforça que,

[...] sem uma educação para uma vida sustentável, a Terra continuará apenas sendo considerada como espaço de nosso sustento e de nosso domínio técnico-tecnológico, um ser para ser dominado, objeto de nossas pesquisas, ensaios e, algumas vezes, de nossa contemplação (p.63).

Para a efetivação da educação científica pressupõe um processo no qual perpassa pela alfabetização científica, que segundo Chassot (2010), ser alfabetizado cientificamente é saber ler a linguagem em que está escrita a natureza. Dessa forma, a proposta maior desse trabalho é a de contribuir de alguma forma para despertar nos futuros professores o sentimento de pertencimento, para que suas futuras práticas docentes contribuam para a preservação e conservação da nossa casa maior (MORIN, 2006), o planeta Terra, que para Gadotti (2010).

[...] a Terra é nossa primeira grande educadora. Educar para um outro mundo possível é também educar para encontrar nosso lugar na história, no universo. É educar para paz, para os direitos humanos, para a justiça social e para diversidade cultural, contra sexismo e racismo. É educar para consciência planetária. É educar para que cada um de nós encontre o seu lugar no mundo, educar para pertencer a uma comunidade humana planetária, para sentir profundamente o universo (p. 107).

Nesse sentido, a escola cidadã é um projeto de “criação histórica”, como também uma crença, na qual o professor precisa acreditar que pode exercer a sua função de educar. Assim, uma escola cidadã é democrática para todos, na sua gestão, acesso e permanência. É popular, de caráter social comunitário, espaço público para elaboração da sua cultura; deve valorizar as iniciativas pessoais e os projetos das escolas; cultiva a curiosidade, o interesse pelo estudo, pela leitura e produção de textos escritos ou não; favorece o protagonismo, substituindo uma aprendizagem mecânica por uma aprendizagem criativa; propõe a espontaneidade e o inconformismo; é um espaço aberto, unida ao mundo exterior pelos espaços sociais do trabalho; escola onde o estudante sente prazer em ir, estudar e construir a cultura elaborada; prioriza pequenas ações continuadas em prol de eventos espetaculares e passageiros (Gadotti, 2010).

Com base num estudo realizado por Mognhol et al. (2016), baseado num projeto escolar sobre a produção de café na cidade de Venda Nova do Imigrante, no estado do Espírito Santo, foi possível estabelecer relações entre a prática pedagógica e as potencialidades da pedagogia da Práxis (quadro 6). De acordo com Gadotti (2010), o grande desafio da escola pública é garantir, para todos, um padrão de qualidade e, simultaneamente, respeitar a diversidade local e sociocultural. Diante do trabalho apresentado, pode-se estabelecer uma relação com a proposta desta pesquisa que também utilizou as categorias de analise de dados da pedagogia da Práxis.

Quadro 6 - Exemplo de uma análise das categorias da pedagogia da Práxis identificadas no Projeto Escolar Café do Imigrante, realizado numa escola pública secundária da cidade de Venda Nova do Imigrante, Estado do Espírito Santo - Brasil.

Categorias da

Pedagogia da Práxis Momentos do Projeto Escolar Café do Imigrante

Cidadania

Durante as oficinas, buscou-se trabalhar a autonomia dos estudantes no processo de criação dos roteiros, na realização das visitas com intervenções nas entrevistas, sugerindo, opinando, e questionando sobre os fatos evidenciados.

Planetaridade

Ao visitar os espaços da produção do café, foi possível evidenciar as conexões do trabalho do campo com a vida urbana, com a vida escolar, permitindo a ecoformação dos estudantes.

Sustentabilidade

Foi evidenciado o necessário equilíbrio socioeconômico necessário com questões sociocientíficas, sociotecnológicas e socioambientais dos setores da economia da produção do café, a fim de que permaneça a sociocultura por muitas gerações. Virtualidade

Todas os dados coletados pelos estudantes foram processados em grupo utilizando as tecnologias da informação e comunicação, evidenciando os vários espaços de aprendizagem.

Globalização

Os estudantes perceberam globalização da economia, da cultura e das comunicações à medida que imigrantes da Itália deixaram a herança da cultura conectada ao processo de produção de café. Os eventos da cidade, as tecnologias utilizadas na lavoura, as formas de comercialização do café, a exportação do café, entre outras questões.

Transdisciplinaridade

Os estudantes perceberam a complexidade do processo de produção do café, da lavoura até a venda do produto final, perpassando por transculturalidade, transversalidade, multiculturalidade e holismo.

Dialogicidade Os momentos de debates e entrevistas realizados ao longo do Projeto Escolar Café do Imigrante propiciaram dialogicidade e dialeticidade.

Fonte: Mognhol et al. (2016).

2.5 O MOVIMENTO CTS/CTSA

O currículo de Ciências Naturais com ênfase em Ciência, Tecnologia e Sociedade - CTS vem sendo desenvolvidos no mundo inteiro desde a década de sessenta. Tais currículos apresentam como principal objetivo (SANTOS E MORTIMER, 2002): “preparar os estudantes para o exercício da cidadania por meio de uma abordagem crítica de conteúdos científicos no seu contexto social”.