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6 PROJETO DE ENSINO “CIRCUITO DA CIÊNCIA”

6.4 ETAPA II PRÉ-CAMPO

Os conteúdos do curso de formação em espaços de educação não formal estão mostrados no quadro 17, e foram planejados com base Gohn (2006, 2010) e Gadotti (2009, 2010). Foram abordados temáticas como um breve histórico sobre os espaços de educação não formal da cidade de Aracruz-ES, a importância de estabelecer diálogos entre os espaços de educação não formal e a escola de educação básica, a consciência e organização de como agir em grupos coletivos, os indivíduos adquirem conhecimento de sua própria prática, os indivíduos aprendem a ler e interpretar o mundo que os cerca, entre outros tópicos.

Quadro 17 - Relação de conteúdo do Projeto de Ensino Circuito da Ciência para formação inicial de professores de química em espaços de educação não formal de Aracruz-ES.

1. Um breve histórico sobre os espaços de educação não formal da cidade.

2. A importância de estabelecer diálogos entre os espaços de educação não formal e a escola de educação básica.

3. Consciência e organização de como agir em grupos coletivos.

4. A construção e reconstrução de concepções de mundo e sobre o mundo; a contribuição para um sentimento de identidade com uma dada comunidade; forma o indivíduo para a vida e suas adversidades, e não apenas capacita-o para entrar no mercado de trabalho.

5. Quando presente em programas com crianças ou jovens adolescentes a educação não-formal resgata o sentimento de valorização de si próprio (o que a mídia e os manuais de autoajuda denominam, simplificadamente, como a autoestima).

6. Condições aos indivíduos para desenvolverem sentimentos de autovalorização, de rejeição dos preconceitos que lhes são dirigidos, o desejo de lutarem para ser reconhecidos como iguais (enquanto seres humanos), dentro de suas diferenças (raciais, étnicas, religiosas, culturais etc.).

7. Os indivíduos adquirem conhecimento de sua própria prática, os indivíduos aprendem a ler e interpretar o mundo que os cerca.

8. Alguns conceitos como cidadania, planetaridade, globalização, virtualidade, transdisciplinaridade, sustentabilidade e dialogicidade.

Fonte: Elaborado pela autora (2017)

Alguns encontros foram realizadas na forma de rodas de conversas, dando oportunidade para todos os estudantes participarem. Na primeira reunião, foi criado um grupo de discussão no celular, a fim de criar mais um canal de interlocução entre o grupo de trabalho. Como uma boa parte dos componentes do grupo de trabalho estudava no turno da noite no curso de licenciatura em Química do campus Aracruz do Ifes e trabalhava durante o dia, todas as reuniões foram combinadas previamente no grupo de discussão do celular, utilizando o aplicativo WhatsApp.

Então, as reuniões/encontros do grupo de trabalho do projeto “Circuito da Ciência” aconteceram no turno da noite e as visitas aos espaços de educação não formal foram realizada no fim de semana ou nos dias em que todos pudessem participar. A figura 12 representa um dos momentos do grupo de trabalho do projeto “Circuito da Ciência”. Neste encontro foi proposto aos estudantes do grupo de trabalho do projeto “Circuito da Ciência” que respondessem um questionário contendo perguntas sobre conhecimentos/saberes prévios sobre educação não formal, movimento CTS/CTSA, a importância da prática docente no contexto escolar, entre outras (Apêndice).

A ideia era levantar alguns saberes prévios sobre o passado, presente e expectativas para o futuro da atuação docente e a relação com a educação não formal dialogada com a escolar. Na figura 13 estão apresentados alguns exemplos de perguntas e respostas dos estudantes constantes no questionário aplicado aos estudantes do grupo de trabalho do projeto “Circuito da Ciência”, realizadas durante a primeira reunião de trabalho.

Figura 12 - Encontro do grupo de trabalho do projeto Circuito da Ciência.

Fonte: Acervo pessoal da autora (2017)

Figura 13 - Alguns exemplos de perguntas e respostas dos estudantes constantes no

questionário aplicado aos estudantes do grupo de trabalho do projeto “Circuito da Ciência”, aplicado durante a primeira reunião de trabalho.

O questionário evidenciou que somente alguns estudantes do projeto “Circuito da Ciência” participaram de atividade extraclasse durante a vida acadêmica pregressa ao curso superior. Para justificar esse fato, a maior parte dos estudantes enfatizou o despreparo dos professores das áreas das ciências naturais e a falta de tempo para realizar atividade extraclasse.

Outro fato importante observado nas respostas dos questionários foi o caráter complementar no processo formativo do professor sobre o uso de espaços de educação não formal e outros conhecimentos pedagógicos. Mesmo sendo estudantes de licenciatura de um curso da área das ciências naturais, parece que o desenvolvimento de atividades além da sala de aula é algo que é complementar à formação do estudante da educação básica, considerando o contexto da disciplina de química.

De acordo com Carvalho (2004, p. 3), uma das questões mais antigas da didática das ciências refere-se ao conteúdo que se deseja ensinar, e essa questão, apesar de antiga, ainda provoca muitas discussões, principalmente quando se procura responder “por que ensinar o conteúdo proposto”. Neste contexto, além da dimensão conceitual, as dimensões procedimentais e atitudinais incluem a perspectiva dos valores do próprio conteúdo. Ainda segundo a autora, a dimensão conceitual também sofre influência das mudanças culturais da sociedade, o que estar relacionado com uma perspectiva além da ciência pura, englobando os aspectos tecnológicos e sociais relacionados à concepção de Ciência, Tecnologia e Sociedade – CTS (SANTOS e AULER, 2011).

Entretanto, de acordo com Carvalho (2004, p. 3), quando o ensino de ciências é visto pela dimensão processual, não se aceita mais transmitir para as próximas gerações uma ciência “fechada”. Assim, em contraponto com a perspectiva enciclopedista do ensino de ciências naturais, propõe-se um ensino de ciências articulado a um currículo agregando novas culturas.

Nesse caso, segundo Matthew (1994), busca-se promover a aculturação científica, isto é, o processo de modificação cultural de indivíduo, grupo ou povo que se adapta a outra cultura ou dela retira traços significativos. Em outras palavras, também é possível ocorrer a fusão de culturas decorrente de contato continuado. Segundo Matthew (1994), o conceito de aculturação científica vem em oposição à acumulação de conteúdos científicos com perfil enciclopedista, o que muitas vezes não faz sentido para o indivíduo que reproduz uma série de “conceitos” sem ter ciências dos mesmos.

Ao pensar numa aula de campo para organizar a formação de professores, buscamos promover uma metodologia que favorecesse a leitura crítica de mundo, das mudanças na paisagem, das relações entre o ser humano e o ambiente, a partir de seu ordenamento, da relação entre os seres humanos e o espaço vivido, sentido, observado (SILVA e CAMPOS, 2015, p. 17). Seguindo a filosofia da aula de campo proposta por Seniciato e Cavassan (2004), organizada em três etapas, isto é, pré-campo, campo, pós-campo, a primeira etapa aqui abordada trata-se do momento de planejamento da saída a campo, momento em que os participantes tiveram esclarecimentos do passo a passo da visita, informações quanto a segurança, transporte, vestuário, em especial algumas indagações sobre os espaços a serem visitados.