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7 ASPECTOS METODOLÓGICOS DO PROJETO CIRCUITO DA CIÊNCIA

7.5 SUSTENTABILIDADE AMBIENTAL COMO META UNIVERSAL

O quinto pressuposto e fundamento das Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Básica (BRASIL, 2013) trata da relação entre a sustentabilidade e a educação no contexto da formação de professores para a educação básica. O compromisso com a qualidade da educação no século XXI, em momento marcado pela ocorrência de diversos desastres ambientais, amplia a necessidade dos educadores de compreender a complexa multicausalidade da crise ambiental

contemporânea e de contribuir para a prevenção de seus efeitos deletérios e para o enfrentamento das mudanças socioambientais globais. Esta necessidade e decorrentes preocupações são universais. Tais questões despertam o interesse das juventudes de todos os meios sociais, culturais, étnicos e econômicos, pois apontam para uma cidadania responsável com a construção de um presente e um futuro sustentáveis, sadios e socialmente justos. No Ensino Médio há, portanto, condições para se criar uma educação cidadã, responsável, crítica e participativa, que possibilita a tomada de decisões transformadoras a partir do meio ambiente no qual as pessoas se inserem, em um processo educacional que supera a dissociação sociedade/natureza.

Para articular a perspectiva da sustentabilidade com a educação, buscou-se produzir reflexões sobre a perspectiva da pedagogia da Práxis de Gadotti (2010), utilizando as respectivas categorias, bem como refletir sobre as práticas realizadas durante as visitas aos espaços de educação não formal de Aracruz (quadro 23).

A partir da análise das práticas realizadas no projeto “Circuito da Ciência utilizando as categorias da pedagogia da Práxis de Gadotti (2010), foi possível encontrar correlações entre momentos do projeto de ensino com a teoria pedagógica da Práxis, indicando que a prática se aproximava de uma perspectiva de educação voltada para o futuro, capaz de formar pessoas inovadoras, emancipadas e autônomas no seu processo docente, construindo uma perspectiva de sustentabilidade social. Por exemplo, a categoria de virtualidade foi observada quando os estudantes do projeto “Circuito da Ciência” desenvolveram seus debates nas etapas de pré- campo, campo e pós-campo a partir de investigações feitas na internet, ou mesmo utilizando tecnologias informatizadas. Também foi observada a categoria de dialogicidade, à medida que avançava os debates produzidos a cada roda de conversas, mediada por leituras de trabalhos científicos e dados coletados durante a etapa de campo.

As discussões sobre a ocupação desordenada do território, a ideia de um território com cultura, política sociologia e economia própria, a discussão sobre os programas de governo e de estado, a ideia de democracia “ideal” e os interesses das relações capitalistas preencheram as categorias de planetaridade e globalização. Por fim, como exemplo, também as discussões o acesso livre aos espaços visitados, a necessidade de conservar e criar uma cultura de manutenção da fauna e flora e a necessidade de respeitar os direitos e deveres, preencheram os conteúdos de cidadania e sustentabilidade.

Quadro 23 - Análise das categorias da pedagogia da Práxis sobre as práticas desenvolvidas durante o projeto Circuito da Ciência, realizado em 2017 com estudantes do curso de licenciatura em Química do Instituto Federal do Espírito Santo.

Categorias da Pedagogia

da Práxis

Momentos do Projeto de ensino Circuito da Ciência

Cidadania

Presente nas tomadas de decisões dos grupos de trabalho, em especial durante a realização das visitas, demostrado por meio da preocupação em contribuir com ações que garantam e fortaleçam os diretos e deveres dos envolvidos com os respectivos espaços visitados.

Planetaridade

Durante as visitas aos espaços de educação não formal, houve uma evidente preocupação com o cuidado necessário para manter a saúde do nosso planeta por meio de ações curriculares que possam contribuir para o uso consciente e sustentável.

Sustentabilidade

Em virtude das características dos espaços visitados, foi demonstrado grande preocupação com a tímida presença de ações governamentais que possam contribuir para manutenção e inovação socioeconômica, sociocientífica, sociotecnológica e socioambientais dos setores da economia do município, bem como a sociocultural. Virtualidade Uma potencialidade na realização das visitas foi a presença da tecnologia que

embora, ainda deficiente, mas decisiva quanto a comunicação e registro dos dado. Globalização Percebida nas dimensões econômica, politica, cultural e social que envolvia cada

espaço visitado. Transdisciplinaridade

Os estudantes /colaboradores perceberam o potencial transdisciplinar dos espaços visitados para o ensino da ciência da natureza, versando pela transculturalidade, transversalidade, multiculturalidade e o holismo.

Dialogicidade

O diálogo foi fator preponderante no decorrer do projeto e esteve presente, por meio da intersubjetividade pesquisador/estudante/técnico, promovendo uma reflexão, sobre as informações recebidas e os conteúdos abordados no currículo.

Fonte: Elaborado pela autora (2017)

De acordo com Leff (2002), o conceito de sustentabilidade surgiu nas últimas décadas do século XX, para traduzir várias ideias e preocupações devido à gravidade dos problemas ambientais e econômicos e causavam, e ainda causam, riscos às condições de vida no planeta. A Conferência de Estocolmo de 1972, realizada pela organização das Nações Unidas com a participação de 113 países, em Estocolmo, capital da Suécia. Provavelmente foi o grande marco inicial para se discutir sustentabilidade ao abordar problemas ambientais decorrentes da poluição atmosférica, crescimento populacional e crescimento versus desenvolvimento. Durante a conferência foi concebido um importante documento político chamado “Declaração da Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente Humano” (ONU, 1972).

No âmbito da escola, quando é tratado, o assunto de sustentabilidade é tratado na forma de tema transversal, que inicialmente era dirigido ao ensino fundamental, conforme os Parâmetros Curriculares Nacionais que apresentam os Temas Transversais (BRASIL, 1998). Com a publicação das Orientações Curriculares Nacionais para o Ensino Médio da área das Ciências da Natureza, Matemática e suas Tecnologias (BRASIL, 2006), as temáticas transversais e transdisciplinares ganharam um foco maior no âmbito da educação básica. Nos últimos cinco

anos, os temas transversais e a transdisciplinaridade ganharam maior importância no cenário da educação básica brasileira, e a discussão sobre sustentabilidade foi formalizada nas Diretrizes Curriculares Nacionais para Educação Básica (BRASIL, 2013), constituindo-se como um dos fundamentos e pressupostos da educação básica. Portanto, discutir sustentabilidade no âmbito da educação não formal e divulgação científica parece ser pertinente para uma formação continuada de profissionais da educação básica como todo.

De acordo com Sachs (1993), é importante desenvolver uma visão holística dos problemas da sociedade, em contraposição da visão reducionista focada apenas na gestão dos recursos naturais. Assim, esse autor propõe cinco dimensões do ecodesenvolvimento de sustentabilidade, isto é, categorias que nos levam a produzir uma sustentabilidade na sua forma mais ampla de visão de mundo, a saber: (1) sustentabilidade social, (2) sustentabilidade econômica, (3) sustentabilidade ecológica, (4) sustentabilidade espacial, e (5) sustentabilidade cultural. No presente trabalho, nos limitamos a produzir uma análise de uma intervenção pedagógica olhando para as 5 dimensões do ecodesenvolvimento de sustentabilidade, embora Sachs (2007) tenha produzido debates mais ampliados sobre sustentabilidade, englobando 7 dimensões.

Na figura 28 está apresentado um mapa conceitual construído a partir dos debates realizados durante as rodas de conversas da prática pedagógica. Durante esta etapa, foram levantados alguns conteúdos programáticos que poderiam ser trabalhados em sala de aula, articulados ao conceito amplo de sustentabilidade. Tratou-se da articulação de conteúdos disciplinares de química [e também das ciências naturais e matemática] com a perspectiva interdisciplinar e transdisciplinar da prática pedagógica. Pensar uma intervenção pedagógica com formação inicial de professor em espaços de educação não formal, tendo a pedagogia da Práxis como base, é possibilitar um trabalho interdisciplinar, por meio do diálogo, promovendo a cidadania e a sustentabilidade que se trata da sobrevivência do planeta.

Figura 28 - Diagrama mental construído a partir dos debates realizados durante as rodas de conversas da prática pedagógica, tendo como conceito central a sustentabilidade.