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2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

2.3 EDUCAÇÃO NÃO FORMAL E SUSTENTABILIDADE

Segundo Gohn (2010), embora a educação não formal não substitua a educação formal, ela pode complementar os saberes escolares, dando maior sentido aos conteúdos programáticos apropriados na escola. Esses saberes desenvolvidos pela educação não formal estão relacionados ao aprendizado das diferenças, onde se aprende a conviver com os demais, socializando-se o respeito mútuo; a adaptação do grupo a diferentes culturas por meio do reconhecimento dos indivíduos e do papel do outro; a construção da identidade coletiva de um grupo; e o balizamento de regras éticas relativas às condutas aceitáveis socialmente. No que diz respeito à relação com a educação, trata-se de um espaço de educação não formal.

Segundo Gohn (2006, p. 29), ao tentar os questionamentos - Onde se educa? E qual o espaço físico territorial onde transcorrem os atos dos processos educativos? é possível demarcar o conceito de educação não formal como aquela que se aprende “no mundo da vida”, via os processos de compartilhamento de experiências, principalmente em espaços e ações coletivos, onde há interação com o outro em espaços fora da escola, transformando a concepção de mundo dos indivíduos.

Utilizou-se o quadro 4, como exemplo das análises das categorias de educação não formal de Gohn (2006), nas quais foram possível encontrar sincronismos entre a educação não formal e os momentos da aula de campo, realizada no Museu do Inhotim, no município de Brumadinho do Estado do Minas Gerais, com estudantes do mestrado profissional em educação em ciências e matemática - Educimat, tais como a promoção de saberes relacionados ao aprendizado das diferenças, onde se aprende a conviver com os demais, socializando-se o respeito mútuo; a adaptação do grupo a diferentes culturas por meio do reconhecimento dos indivíduos e do papel do outro; a construção da identidade coletiva de um grupo; e o balizamento de regras éticas

relativas às condutas aceitáveis socialmente. Assim, foi possível perceber o sucesso da formação continuada de profissionais da educação.

Nessa perspectiva, considerando a relevância da formação de profissionais da educação, tanto da educação básica como da educação profissional, foi planejado um estudo sobre pedagogia da Práxis num museu, tomando como base uma aula de campo no Museu Inhotim da cidade de Brumadinho, Minas Gerais, Brasil.

Quadro 4 - Exemplo de uma análise das categorias da educação não formal de Gohn, identificadas nas práticas realizada durante a aula de campo, no Museu Inhotim, Estado do Minas Gerais – Brasil, em 11/2016.

Categorias da Educação Não Formal Contexto da Aula de Campo

Consciência e organização de como agir em grupos coletivos.

A visita ao Museu Inhotim desenvolvimento de alguns estudos colaborativos e cooperativos temáticos por grupos de trabalho. Dada a grande extensão geográfica da exposição, eles se organizaram e traçaram um itinerário dos ambientes visitados, havendo decisões deliberadas coletivamente, buscando um consenso, respeito mútuo e aprendizagem colaborativa.

A construção e reconstrução de concepções de mundo e sobre o mundo; a contribuição para um sentimento de identidade com uma dada comunidade; forma o indivíduo para a vida e suas adversidades, e não apenas capacita-o para entrar no mercado de trabalho.

A apreciação pedagógica das inúmeras obras artísticas e culturais do Museu Inhotim permitiram a (re)construção de novas concepções sobre a nossa civilização. A interpretação das “vozes” ecoadas pelos trabalhos expostos sedimentou o sentimento de orgulho da atividade docente e sua relevância para a formação das futuras gerações, apesar dos grandes desafios impostos à carreira do magistério em nosso país.

Quando presente em programas com crianças ou jovens adolescentes a educação não-formal resgata o sentimento de valorização de si próprio (o que a mídia e os manuais de autoajuda denominam, simplificadamente, como a autoestima).

Essa experiência propiciou um sentimento de autonomia e liberdade aos visitantes do Museu. Em primeiro lugar dada à arquitetura dos espaços que permitiram um livre circular com uma impactante e surpreendente aprendizagem a cada ambiente visitado. Em segundo lugar condicionou a autonomia e o reconhecimento de que cada ser humano é capaz e dispõe de talentos individuais que podem contribuir coletivamente para uma humanidade melhor.

Condições aos indivíduos para desenvolverem sentimentos de autovalorização, de rejeição dos preconceitos que lhes são dirigidos, o desejo de lutarem para ser reconhecidos como iguais (enquanto seres humanos), dentro de suas diferenças (raciais, étnicas, religiosas, culturais etc.).

O Museu do Inhotim tem por característica atrair um público eclético das mais diversas formações e campos do conhecimento. A convivência e o contato com as variadas culturas e saberes possibilitaram aos participantes uma ampliação da visão de mundo, desconstruindo antigos dogmas e estabelecendo novos paradigmas de respeito mútuo entre as diferentes identidades e grupos culturais.

Os indivíduos adquirem conhecimento de sua própria prática, os indivíduos aprendem a ler e interpretar o mundo que os cerca.

Todo o processo de formação, que teve como ápice a visita ao Museu do Inhotim, contribuiu para a reflexão sobre a prática pedagógica de cada professor/estudante. Além disso, possibilitou uma (re)leitura do mundo a partir de novas interpretações que ampliaram o campo de visão acerca do relevante papel da educação no processo de transformação da sociedade.

De acordo com Leff (2002), o conceito de sustentabilidade surgiu nas últimas décadas do século XX, para traduzir várias ideias e preocupações devido à gravidade dos problemas ambientais e econômicos causavam, e ainda causam, riscos às condições de vida no planeta. A Conferência de Estocolmo de 1972, realizada pela organização das Nações Unidas com a participação de 113 países, em Estocolmo, capital da Suécia. Provavelmente esse evento tenha foi o grande marco inicial para se discutir sustentabilidade, ao abordar, problemas ambientais decorrentes da poluição atmosférica, crescimento populacional e crescimento versus desenvolvimento. Durante a conferência foi elaborado um importante documento político chamado “Declaração da Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente Humano” (ONU, 1972).

De acordo com Sachs (1993), é importante desenvolver uma visão holística dos problemas da sociedade, em contraposição da visão reducionista focada apenas na gestão dos recursos naturais. Assim, esse autor propõe cinco dimensões do ecodesenvolvimento de sustentabilidade, isto é, categorias que nos levam a produzir uma sustentabilidade na sua forma mais ampla de visão de mundo, a saber: (1) Sustentabilidade Social, (2) Sustentabilidade Econômica, (3) Sustentabilidade Ecológica, (4) Sustentabilidade Espacial, e (5) Sustentabilidade Cultural. Embora o autor mais recentemente discuta 7 dimensões (SACHS, 2007), no presente trabalho limitar-se-á analisar as 5 dimensões do ecodesenvolvimento de sustentabilidade.

Santos (1977), em seu livro “A totalidade do Diabo: Economia Espacial”, faz uma grande crítica ao modelo capitalista e um alerta sobre seus efeitos na sociedade. Usando o termo “totalidade do diabo”, o autor faz alusão aos terríveis efeitos do sistema econômico imposto à sociedade, produzindo desigualdades sociais, o mau aproveitamento do espaço territorial, a concentração de renda, a busca por mais lucro e o abandono aos pobres entre outros e algumas empresas dividem o trabalho de produção de modo desumano. Ao pensar nesse conceito de totalidade, procuramos estender o conceito de sustentabilidade na perspectiva da totalidade, considerando uma prática pedagógica desenvolvida em um espaço de educação não formal, isto é, numa prática além da sala de aula.

Dessa forma, a formação inicial e continuada de profissionais da educação em educação não formal, com certeza vai ampliar e oportunizar a realização de diversos debates importantes para o fator de desenvolvimento humano e econômico, cujo processo educativo está centrado nos pilares do saber ser, saber fazer, saber conhecer e saber conviver, e integra de forma geral, os

construtos de relações sociais diretas e o desenvolvimento humano individual (DELORS, 1996). A análise das categorias da educação não formal de Gohn (2006), enfatizou a correlação das etapas da aula de campo com a apropriação dos conteúdos de educação não formal, o que evidenciou o sucesso da intervenção pedagógica.

Para contribuir mais com essa discussão, a questão proposta por Moura (2005), é uma boa sugestão do muito que se tem ainda para discutir. Nela, a pesquisadora refletindo sobre a educação, defende que não são propriamente os espaços, sejam formais ou não formais, que vão determinar se a educação é formal ou não. Sendo essa outra questão, que pode auxiliar no entendimento da ocupação desses espaços. Nesse esforço de se tentar definir espaços não formais de educação é que reside, em justa medida, o empenho nesse empreendimento. Aqui duas categorizações são aceitáveis: locais institucionalizados e locais não institucionalizados.

No primeiro, podemos incluir aqueles que são regulamentados e oficializados, possuindo equipes técnicas as quais tem responsabilidades e respondem pelas atividades que são realizadas. Nesse caso temos, por exemplo: os museus, os parques, os planetários, os Institutos de Pesquisas, outros. Englobando as categorizações não institucionais temos os teatros, casas, ruas, praças, praias, cavernas e muitos outros espaços.

Na categoria Instituições, podem ser incluídos os espaços que são regulamentados e que possuem equipe técnica responsável pelas atividades executadas, sendo o caso dos Museus, Centros de Ciências, Parques Ecológicos, Parques Zoobotânicos, Jardins Botânicos, Planetários, Institutos de Pesquisa, Aquários, Zoológicos, dentre outros. Já os ambientes naturais ou urbanos que não dispõem de estruturação institucional, mas onde é possível adotar práticas educativas, englobam a categoria Não Instituições. Nessa categoria podem ser incluídos teatro, parque, casa, rua, praça, terreno, cinema, praia, caverna, rio, lagoa, campo de futebol, dentre outros inúmeros espaços (JACOBUCCI, 2008, p. 56-57).

Segundo Chassot (2010), hoje, o conhecimento chega às escolas de todas as maneiras e com as mais diferentes qualidades, tornando evidente outras posturas por parte dos professores. O autor afirma que, o transmissor de conteúdo já era. Precisamos mudar de informadores para formadores e os espaços não formais aliados às escolas tornam-se um marco de construção científica e de produção de conhecimento. Se há esse consenso, é importante considerar na cultura científica da comunidade e na globalização dos conhecimentos escolares que os espaços não formais são importantes veículos para produção e disseminação das inovações no campo da educação.

[...] não temos dúvidas do quanto à globalização confere novas realidades à educação. Talvez, para uma facilitação, pudéssemos dirigir nosso olhar para duas direções.

Primeira, o quanto são diferentes as múltiplas entradas do mundo exterior na sala de aula; e a outra direção, o quanto essa sala de aula se exterioriza, atualmente, de uma maneira diferenciada (CHASSOT, 2003, p. 89).

As múltiplas entradas que nos propiciam e facilitam o conhecimento científico, seja nos espaços formais e nos espaços não formais são corroboradas pelo autor quando diz que:

[...] a nossa responsabilidade maior ao ensinar Ciência é procurar que nossos estudantes e alunas se transformem, com o ensino que fazemos, em homens e mulheres mais críticos. Sonhamos que, com o nosso fazer educação, os estudantes possam tornar-se agentes de transformações – para melhoria – do mundo em que vivemos (CHASSOT, 2010, p. 31).

Considerando as palavras de Chassot e com a intenção de propor atividade que consiga articular tanto a temática da aula de campo como a aprendizagem colaborativa em espaços de educação não formal usou-se como embasamento a análises dos dado de uma aula de campo, de acordo com as categorias das respectivas temática abordadas.

Quadro 5 - Exemplo de uma análise da aula de campo realizada no Museu de Inhotim tendo em vista as cinco categorias da sustentabilidade de Sachs (1997). A aula de campo foi realizada com uma turma de mestrado de uma instituição de ensino superior de Vitória-ES.

Categorias de Sustentabilidade

de Sachs (1997)

Contexto Momentos da Aula de Campo

(1) Sustentabilidade Social.

Visita à galeria Miguel Rio Branco, que retrata a realidade do Pelourinho, em Salvador, por meio de fotografias obtidas no bairro do Maciel. Questões socioculturais foram abordadas como a prostituição local, seus personagens e suas histórias de violência.

(2) Sustentabilidade Econômica.

Uma reflexão feita sobre o valor da entrada do museu e o acesso ao público. Também foram pensados nos custos de manutenção do local, em termos de pessoal, qualificação, produtos e serviços. A visita à loja que vendia produtos personalizados do Inhotim e o investimento para garantir esse tipo de serviço. (3) Sustentabilidade

Ecológica.

Visita à galeria Marilà Dardot, que disponibiliza blocos de argila em formato de letras e sementes de plantas para manipulação, de forma interativa, para refletir a relação homem – natureza. As brincadeiras de escrita de palavras produzem reflexões sobre o pertencimento humano e o empoderamento social

(4) Sustentabilidade Espacial.

A utilização do mapa do Museu Inhotim e a necessidade de se locomover na instituição, para acessar as exposições artísticas contemporâneas e contemplar ampla vegetação, representando diversos ecossistemas da terra.

(5) Sustentabilidade Cultural.

Visita à galeria Claudia Andujar, que reúne fotos sobre o povo indígena Yanomami, produzindo reflexões sobre as questões socioculturais brasileiras, os desafios da vida contemporânea, como as condições de vida, a necessidade de preserva a cultura no espaço e tempo.

Diante das observações realizadas, por meio das análises das categorias da sustentabilidade de Sachs (1997), e das categorias da educação não formal de Gohn (2006), com dados coletados numa aula de campo ao museu do Inhotim na cidade de Brumadinho, Minas Gerais, em novembro de 2016, na qual autora deste trabalho participou e pode ver a efetividade a que se dá este tipo de atividade e quão produtiva. Dessa forma a pesquisadora tomou como possíveis exemplos a serem reproduzidos.