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3.1 Escolas Pedagógicas: abordagem histórica

3.1.3 A Pedagogia Renovada

Em 1902, Dewey escreveu um livro intitulado “The child and the curriculum”. Nele, segundo SILVA (1999b, p. 23), esse autor mostrava sua preocupação com a construção da democracia que era significativamente maior que seu interesse pelo funcionamento da economia. Contrastando com a visão de Bobbitt, Dewey considerou de fundamental importância o reconhecimento e o trato das vivências dos estudantes.

Quando John Dewey escreveu, em 1897, que “a educação é um processo de vida, e não uma preparação para a vida futura, e a escola deve representar a vida presente – tão real e vital para o aluno como o que ele vive em casa, no bairro ou no pátio” foi por entender que “todo conhecimento verdadeiro deriva

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Sugerimos a leitura de MIZUKAMI, Maria da Graça Nicoletti. Ensino: As Abordagens do Processo. São Paulo: E.P.U., 1986.

de uma necessidade. A humanidade desenvolveu-se tratando de obter conhecimentos que satisfizessem as suas necessidades.43” Dessa forma, contrapondo-se a Herbart que defende a educação pela instrução, Dewey defende a educação pela ação, propondo que a escola não seja como uma preparação para a vida, mas a própria vida. Segundo Libâneo (1994)

“A educação é o resultado da interação entre o organismo e o meio através da experiência e da reconstrução da experiência. A função mais genuína da educação é a de prover condições para promover e estimular a atividade própria do organismo para alcance seu objetivo de crescimento e desenvolvimento. Por isso a atividade escolar deve centrar-se em situações de experiência onde são ativadas as potencialidades, capacidades, necessidades e interesses naturais do aluno. O currículo não se baseia nas matérias de estudo convencionais que expressam a lógica do adulto, mas as atividades ocupacionais da vida presente, de modo que a escola se transforme num lugar de vivência daquelas tarefas requeridas para a vida em sociedade. O aluno e o grupo passam a ser o centro de convivência do trabalho escolar”. (p. 62)

Sempre com inspiração nas idéias de Rousseau, o movimento de renovação da educação ou Pedagogia Renovada, recebeu diversas denominações, como Educação Nova, Escola Nova, Pedagogia Ativa, Escola do Trabalho. Essa tendência pedagógica desenvolveu-se nos finais do século XIX e início do século XX, embora nos séculos anteriores tenham existido filósofos e pedagogos que propugnavam a renovação da educação vigente, tais como à época do Renascimento, Erasmo, Rabelais, Montaigne e outros já citados nesse trabalho como Comênio e Pestalozzi. Como elementos comuns todas as correntes desse movimento apresentam, segundo LIBÂNEO (1994),

... a valorização da criança, dotada de liberdade, iniciativa e de interesses próprios e, por isso mesmo, sujeito da sua aprendizagem e agente do seu próprio desenvolvimento; tratamento científico do processo educacional, considerando as etapas sucessivas do desenvolvimento biológico e psicológico; respeito às capacidades e aptidões individuais, individualização do ensino conforme ritmos próprios de aprendizagem; rejeição

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de modelos adultos em favor da atividade e da liberdade de expressão da criança. (p. 62)

Uma das mais destacadas correntes do movimento de renovação pedagógica ou movimento escolanovista é a Pedagogia Pragmática ou Progressivista, tendo como principal teórico Dewey. A influência de Dewey notadamente se destaca na América Latina e, principalmente, no Brasil, onde educadores como Anísio TEIXEIRA, Fernando de AZEVEDO e LOURENÇO FILHO, entre outros, formam o Movimento dos Pioneiros da Escola Nova. Isso ocorre no início da década de 1930 e este movimento tem atuação decisiva na proposição da política educacional, na legislação, na pesquisa acadêmica e na prática escolar.

Como já foi dito, o movimento escolanovista defende a educação pela ação e a rejeita pela instrução. Para seus adeptos a escola é a própria vida. O ser humano e o meio interagem a partir da vivência e da reconstrução da vivência. E isso, segundo os teóricos deste movimento é educação. A prática escolar deve pautar-se em situações de vivência que ativem as potencialidades, as capacidades, as necessidades e os interesses naturais do estudante.

Diante da pedagogia tradicional – estruturada no tripé formalismo e moralização, didatismo e competência, autoritarismo e disciplina –, a pedagogia escolanovista enfatiza o interesse, a atividade, a liberdade, a autonomia e a vivência do estudante. Se antes era o professor o centro do processo educacional, tal centro desloca-se completamente para o estudante e todas as novidades que se incorporam às aulas estão a serviço desse novo centro. Da mesma forma, o eixo desloca-se das necessidades da economia para as necessidades do indivíduo.

Então, em contraposição à escola tradicional, essa concepção de educação desloca o eixo da aprendizagem do aspecto lógico para o aspecto psicológico. Segundo SAVIANI (1985:13), “em suma, trata-se de uma teoria pedagógica que considera que o importante não é aprender, mas aprender a aprender”.

No Brasil, para os vários desdobramentos do escolanovismo, segundo MARTINS (2002, p. 14), quer seja o da corrente vitalista com Montessori, quer seja o da corrente cognitivista, o da corrente fenomenológica, o da corrente interacionista com PIAGET, seja com FROEBEL, PESTALOZZI, CLAPAREDE,

DECROLY44 e outros, o estudante e o grupo são os centros de convergência do trabalho escolar e o currículo se pauta nas vivências, desejos e necessidades, da vida presente, de modo que a escola se transforma num espaço de viver o que se vive nos demais espaços da sociedade.

Em relação ao estudante, o movimento escolanovista busca fundamentos na Psicologia, convencendo-se de que o enfoque que se dá à educação depende da concepção de estudante – quer criança ou jovem – que se tenha. Se a Escola Tradicional vê com pessimismo a natureza humana, o Escolanovismo entende que é necessário se ver com absoluta confiança a natureza do estudante. O processo educativo, então, não deve ser pensado para alterar o comportamento do estudante, mas para respeitar suas vivências. Não se educa “adultos do futuro”, mas sim estudantes do presente. A escola, portanto, não prepara para a vida. A escola é a vida mesma dos estudantes. O “aprender fazendo” é um dos pilares do escolanovismo. Ele traduz a idéia de que a ação deve preceder a representação e dar direção a ela. Essa idéia perpassa todas as correntes escolanovistas.

Quanto à relação professor e estudante, a estrutura poder e submissão é substituída pela ação, afeto e camaradagem que pode, inclusive, extrapolar o espaço escolar. Nesse sentido, no lugar da palavra do professor, se supervaloriza sua conduta. O professor é ainda um modelo, mas um modelo vivo, atual, presente, o que contrasta com os modelos oferecidos aos estudantes pela Escola Tradicional que eram os “vultos da História”.

Quanto à relação estudante e estudante, estimula-se a atitude solidária entre as crianças e os jovens, uma vez que as turmas e as escolas são grupos, comunidades. Além disso, as atividades em sala são desenvolvidas freqüentemente, em grupo e isso alimenta as relações pessoais com conflitos, buscando soluções.

O movimento escolanovista introduz procedimentos além do grupo de trabalho, a saber, atribuição de diferentes papéis dentro dos grupos, decisões coletivas, auto-avaliação e avaliações coletivas, clube de leitura, cantinho de ciência e outros. SAVIANI (1991) renomeia o escolanovismo como “pedagogia da existência”. Essa pedagogia, segundo esse autor, valoriza mais a

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Sugerimos a leitura de ROCHA , Eloisa A C. A Pesquisa em Educação Infantil no Brasil: Trajetória recente e perspectiva de consolidação de uma Pedagogia da Educação Infantil. Florianópolis: UFSC – Centro de Ciências da Educação. Tese (doutorado) – Núcleo de publicações , 1999 e de FREITAS, Marcos Cézar (org) História Social da Infância no Brasil. SP: Cortez, 1997.

capacidade que o estudante desenvolve de “aprender a aprender” e as atividades que o colocam em contato com a natureza e a sociedade – o “aprender fazendo”. O esforço aqui é valorizado também. Entretanto esse é entendido como conseqüência natural do interesse que a aprendizagem deve despertar. Aí reside a importância da “problematização” das situações de aprendizagem, levando o próprio estudante à observação, levantamento de hipótese, experimentação, generalização e aplicação dos conhecimentos científicos.

A forma como o escolanovismo aborda o conteúdo fundamenta-se no convencimento de que as experiências cotidianas da aprendizagem acontecem dentro e fora da sala de aula, isto é, na vida. Tal vivência estimula muito mais e desperta temas, construções mentais e aprendizagem mais significativa que as apresentadas nos livros. Essa mudança na fonte inspiradora dos conteúdos foi acompanhada da mudança na forma de trabalhá-los.

A corrente cognitivista do movimento escolanovista vê o conhecimento como resultado da interação do homem com o mundo. Mais recentemente, Emília FERRERO45, intérprete de Piaget, difundiu o “construtivismo”. Essa ramificação da corrente cognitivista pressupõe que os estudantes é que constroem o seu próprio conhecimento. Nesse sentido, propõe uma atividade mais livre, onde o papel do professor é o de criar condições para que o desenvolvimento dos estudantes se processe em interação com o mundo e com os outros sujeitos envolvidos nesse processo.

3.1.4 A Escola Tecnicista