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4.3 Olhar negativo a respeito da juventude

4.3.2 Juventude e ditadura militar

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No Brasil, os estudos sociológicos têm, na década de 60, um marco fundamental, no qual as formas de participação da juventude são vistas como questionadoras da ordem social vigente e, portanto, revolucionárias dos costumes e propositoras de outros modelos sociais, econômicos e políticos. A geração dessa década e suas mobilizações tipificaram a “juventude engajada”, sendo o movimento estudantil sua formatação mais característica. Entretanto, essa juventude crítica – questão central de estudos importantíssimos no Brasil, como Ianni (1968) e Foracchi (1972)100, é composta, fundamentalmente, por jovens das classes médias, cujos questionamentos culturais e políticos deram relevância à juventude naquele momento de nossa história, segundo as análises elaboradas após aquele período. Em nosso país, na década de 60, diferenciando-se da juventude transviada norte-americana e dos rebeldes sem causa europeus dos anos 50, os movimentos juvenis representavam mais que uma ruptura entre adultos e jovens ou uma violência sem direção social definida como se quer crer que tenham sido aqueles outros movimentos. Eles foram vistos como expressão de uma certa politização que pautava em seu imaginário a construção de um novo modelo de sociedade.

Uma das representações do imaginário social sobre a juventude mostrava uma geração mobilizada por sonhos, como o socialismo, o pacifismo, a liberdade e a igualdade, além de outros. Essa juventude concretizou o que até aquele momento era caracterizado como utopia juvenil. Essa utopia materializou-se no movimento hippie, no movimento pacifista, no movimento estudantil, nas bandas de rock, nos movimentos anti-bélicos, entre tantas outras manifestações.

No Brasil, os jovens das classes médias, principalmente os estudantes universitários, engajaram-se na luta contra o Regime Militar, o mesmo ocorrendo na quase totalidade dos países da América do Sul. Aqui, o caráter eminentemente social dessa transgressão, foi evidenciado, pois se tratava de

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Sugerimos a leitura de IANNI, Otávio. O jovem radical. In: BRITO, Sulamita de. Sociologia da juventude – I, da Europa de Marx à América Latina de hoje. Rio de Janeiro: Zahar, p. 225- 242, 1968, e de FORACCHI, Marialice Mencarini. A juventude na sociedade moderna. São Paulo: Pioneira/EDUSP, 1972.

jovens estudantes politizados, idealistas, comprometidos com questões sociais e pertencentes às classes médias, segundo as produções acadêmicas posteriores. Segundo Abramo (1997, p. 30), os movimentos liderados pelos jovens objetivavam a luta contra toda a forma de dominação imposta pelas ditaduras militares. Essa atitude dos jovens inaugurou, de certa forma, a imagem de uma geração idealista, criativa, comprometida com a mudança social. Contudo, aquela pesquisadora assinala que os jovens que participavam deste movimento eram representantes de classe média, e afirma:

Nos anos 60, a juventude em evidência eram os jovens de classe média, empenhados em propostas de mudança, tanto mudanças políticas como comportamentais e de valores: estudante do ensino secundário e universitário, envolvidos nas suas entidades e manifestações públicas, e jovens envolvidos em movimentos culturais e contraculturais, hippies, “tropicalistas”, etc. Os jovens que, a partir do endurecimento do regime e do fechamento dos canais de participação democrática, se envolvem na guerrilha, vivendo na clandestinidade, fazendo ações armadas, sendo presos, torturados, exilados e muitas vezes mortos, são de fato, a face mais dramática desta juventude genericamente vista como em busca de mudança. (ABRAMO, 1997, p. 33)

Naquele momento, jovens de outras classes sociais se envolviam com outras situações como atestam os estudos de Cohen (1972)101, de Hall e Jefferson102 (1996) e quem elaborou uma retrospectiva histórica bastante esclarecedora para quem se interessa pelo tema, foi Carles Feixa, autor de De

jovenes, bandas y tribus, publicado na Espanha pela Editora Ariel.

A juventude do movimento estudantil disponibilizava-se a ações coletivas e dispunha, em certa medida, de recursos para garantir suas demandas ou, no mínimo, para ser reconhecida como uma ameaça a ser combatida. Portanto, essa juventude aparecia como crítica à ordem estabelecida e promotora de uma prática transformadora.

Os sujeitos desses movimentos receberam da sociedade respostas punitivas como reação à sua ação contestatória. Essa reação priorizava mecanismos de censura e repressão, inclusive física. A mobilização da juventude estudantil influenciava ou, na maioria das vezes, fortalecia a formação de grupos políticos de esquerda, com o objetivo de pôr fim ao regime em vigor. Em resposta a essa ação, as políticas direcionadas à juventude eram

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Stan Cohen é autor de Folk devils and moral panics.

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Stuart Hall e Tony Jefferson são autores de etnografias do início dos anos 60 no Resistance through rituals: youth subcultures in post-war Britain. London: Routledge, 1996.

notadamente de controle social, com enfoque no controle da mobilização e na sua superação por meio da repressão.

Nota-se que, a partir da releitura histórica, psicológica e sociológica, feita já na década de 1980, é que as ações dos jovens dos anos 60 e 70 os tornaram o modelo ideal de juventude. Passaram, então, a ser consideradas características naturais da juventude a capacidade de sonhar, de idealizar, de inovar, de se rebelar e de conceber a utopia. Essa forma de conceber a juventude continuou como referência de análise, o que significou, para muitas reflexões posteriores, a desqualificação das manifestações juvenis dos anos subseqüentes, que eram vistas como expressões de alienação, pois tais reflexões se referenciavam na juventude revolucionária. (MARTINS, 1979)103 Essa desqualificação relaciona-se, basicamente, ao fato de que, nos anos 70, e, principalmente, durante toda a década de 80, os jovens se organizaram em torno de movimentos culturais que se apresentavam socialmente com um estilo de vida que tinha, na chamada cultura juvenil, especialmente na música, na arte e nos esportes, sua marca de identificação.

Contudo, essa releitura acontece como contraponto à imagem que se construiu socialmente da juventude dos anos 80, como de sujeitos apáticos, despolitizados, alienados e desmobilizados, que se manifesta em letras de música como “Anos 80”, de Raul Seixas104, ou como “Geração Coca-Cola”, de Renato Russo105, pois com a visibilidade que ganharam nos processos de democratização ocorridos na década de 80, as juventudes daquela geração garantiram a presença das questões juvenis na agenda pública. Entretanto, somente a partir do final dos anos 80 e do início dos anos 90 é que a juventude pobre ganha destaque nas páginas de nossos jornais, porém, quase sempre, nas páginas policiais.