• Nenhum resultado encontrado

Segundo os dados preliminares do Censo Escolar/GECCE12/SMED – Secretaria Municipal de Educação - havia, em fevereiro de 2005, 83 escolas, nas nove Regionais Administrativas que ofertavam ERN, onde se distribuíam 20.044 estudantes em 624 turmas. As Regionais que abrigavam o maior número de estudantes no ERN eram, em ordem crescente, a Nordeste, a Leste, o Barreiro e a de Venda Nova. Também em número de escolas por Regional esta era a ordem.

De posse dessa relação, agendamos reuniões e conversamos com os Diretores e Diretoras de Educação de cada uma dessas Regionais, àquela época, e, a partir dos resultados dessas reuniões, agendamos outras individuais com as Direções das escolas de ERN que tivessem em seus quadros uma maioria ou um número significativo13 de estudantes entre os 15 e os 24 anos de idade.

Solicitamos, por telefone e correspondência, a todas as escolas da RME/BH as listas de estudantes matriculados naquele ano letivo, no turno noturno. Trata-se do documento Listagem Turma/Número em Ordem Alfabética. Das 83 escolas em toda a Rede Municipal de Educação em Belo Horizonte que ofertavam Ensino Regular Noturno, 68 responderam positivamente encaminhando as listagens. Esse documento traz o nome da escola, da turma e o turno, o nome de cada estudante, o número que lhe será atribuído na turma, a data de nascimento, a idade, o status e observações. A partir da análise das listagens dessas 68 escolas podemos afirmar que 6.513 estudantes dos 12.193 registrados no total, portanto, que 54%14 deles tinham entre 14 e 24 anos de idade, por ocasião de nossa visita às escolas pesquisadas. Podemos também afirmar que, de acordo com as listagens fornecidas por essas escolas, a média de estudantes por turma é de 31,26%, uma vez que encontramos turmas com variação muito significativa do número de estudantes: a menor delas tinha 12 estudantes e a maior delas tinha 53 estudantes. Ressaltamos que fizemos este

12

Gerência de Cadastro e Estatística Escolar.

13

Chamamos de número significativo um percentual não inferior a 40% do total de matriculados no ERN da escola.

14

Utilizaremos porcentagem na descrição dos achados de nossa pesquisa por concordar com GATTI (2006) que nos informa que “Quanto aos diferentes registros de escolarização, Ferrari (2002, p. 44) comenta que ‘a área de educação poderia dar mais atenção às potencialidades, aos limites e aos métodos relacionados com o uso de dados originados de fontes como os censos, as PNAD’s e os registros escolares. Temo que, com o argumento de livrar-se do quantitativismo e dos problemas relacionados com a utilização das estatísticas educacionais, tenha-se acabado por jogar fora a criança junto com a água do banho. Se assim foi, talvez se possa ainda recuperá-la.’ O mesmo comentário pode ser aplicado quanto ao emprego de quantificação em trabalhos de escopo mais específico, em estudos de dimensão menor.” (p. 32)

ecretaria Municipal de Educação - S

contato durante os meses de março, abril e maio e que a quase totalidade das listagens é datada de maio, inclusive as duas citadas acima.

A proporção de escolas em relação a cada Regional foi a que podemos observar na Tabela que se segue:

TABELA 1

Demonstrativo do número de escolas com funcionamento no noturno, com oferta de ERN e com jovens estudantes

REGIONAL TOTAL DE ESCOLAS % ESCOLAS C/ERN % ESCOLAS C/ MAIORIA DE ESTUDANTES ENTRE OS 15 E OS 24 ANOS % Barreiro 27 100 13 48 8 61 Leste 17 100 12 70 9 75 Nordeste 30 100 12 40 8 67 V. Nova 29 100 13 44 10 77 TOTAL 103 100 50 48 35 70

Fonte: Censo Escolar/GECCE/SMED-BH.

Da reunião com cada um dos 50 diretores e diretoras de escolas que, por meio das listagens de estudantes matriculados, confirmamos tratar-se de escola com o perfil de estudante do ERN, solicitamos ser encaminhada para reunião com as Coordenações Pedagógicas. Embora possa parecer, tal caminho não reflete excesso de zelo de nossa parte. Ocorre que, no primeiro contato, em 14 escolas houve divergência entre a avaliação de diretor(a), vice e secretária e a resultante dessa com o coordenador(a). Houve situações em que, ao receber comprovação contrária à sua certeza, uma diretora afirmou: “Então, estou dirigindo a escola errada”. Muitos outros diretores afirmaram-nos que o perfil das escolas que dirigiam era "de estudantes da Educação de Jovens e Adultos", que eram "pouquíssimos os estudantes jovens" e que "mesmo estes estudantes eram jovens adultos, já por volta dos 30, trinta e poucos anos de idade".

Pautado em nossa comprovação, por meio da Listagem em Ordem Alfabética15 que recebemos de todas as Secretarias dessas 50 escolas, localizamos, a título de exemplo, em 118 estudantes classificados como tendo o

15

Documento que tem a relação de todos os estudantes matriculados por turma, com as datas de nascimento e nomes em ordem alfabética. Esse documento é produzido pela SMED, após conferência da documentação encaminhada pela escola.

perfil de Educação de Jovens e Adultos, em uma escola, 86 estudantes com idade entre os 14 e os 24 anos de idade. Numa das escolas, localizamos uma turma com um total de 53 estudantes, em que 42 deles são jovens com idades entre os 14 e os 24 anos.

Configura motivo para outra pesquisa, o fato de que, em quase metade dessas escolas, os trabalhadores em Educação desenvolvem propostas político- pedagógicas – algumas sistematizadas, outras observáveis no cotidiano – voltadas para os estudantes da Educação de Jovens e Adultos e acreditam que os estudantes jovens são minoria. “Aqui, se tiver uns cinco desses que você quer por turma é muito”, foi o que ouvi de uma professora de Português que trabalha há 12 anos numa dessas escolas. Ao fazer o levantamento, constatamos que, nas quatro turmas de 8ª série com que essa professora trabalha, temos: 19 jovens estudantes num total de 22; 15 num total de 25; 21 num total de 28, e 32 num total de 43. Conforme ouvimos em várias conversas informais, para muitos desses trabalhadores em Educação, o fato de esses estudantes terem vivências de trabalhadores, de paternidade e maternidade, de estarem no turno noturno tira deles a condição de jovens.

Outro tema para a pesquisa pode ser extraído da manifestação da preocupação de nove diretores dessas escolas ao nos dizerem que: “avalio que a atitude da SMED de juntar os mais jovens com os adultos prejudica muito a ambos”. “A gente se prepara para receber um e acaba trabalhando errado com o outro, e ninguém ajuda”. Ao ser informada pelo resultado do levantamento feito por nós sobre a idade dos estudantes com quem trabalha e sobre a idade de um deles, em especial, uma professora tomou de nossas mãos a listagem, e após conferência, comentou: “Nossa, mas como ele é acabado para idade que tem!”.

Depois da conversa com as coordenações pedagógicas, restaram, ainda, 35 escolas a serem visitadas, nas quais nos reunimos com os professores.