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3.3 Como a Rede Municipal gestou o filho que não reconheceu

3.3.2 De dia de estudo a horário pedagógico e eleições: construção

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A partir de 1984, a Escola Municipal Senador Levindo Coelho - EMSLC61, situada no Bairro Serra, entre o Parque das Mangabeiras62, o Aglomerado da Serra e o bairro Serra, e atendendo a estudantes de 1ª a 4ª série do Ensino Fundamental residentes nas Vilas Marçola, Cafezal, Fátima, Conceição, Aparecida, Novo São Lucas63 e ainda alguns poucos da Região da Baleia,

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Escolhemos tratar desta escola para exemplificar os muitos passos dados pela Rede que acabaram por construir uma caminhada na mesma concepção da Escola Plural, por ser esta a primeira escola da Rede a realizar a eleição direta para diretor e vice-diretor, a instituir o horário pedagógico, a trabalhar com equalização de tempos das disciplinas e a ter em sua composição de Colegiado Escolar a presença de estudante. Essa escolha se deve também à nossa lotação neste estabelecimento de ensino há 24 anos, sendo os dois últimos em licença para a conclusão do Doutoramento.

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Inaugurado em maio de 1982, o Parque das Mangabeiras está localizado na Serra do Curral, que foi escolhida pela população como símbolo de Belo Horizonte. É a maior área verde da capital, com 337 hectares. Além de ser uma unidade de conservação aberta ao público, é um ponto de encontro de milhares de pessoas, palco de inúmeras atividades culturais e habitat de várias espécies vegetais e animais. Seu projeto paisagístico foi elaborado por Roberto Burle Marx e equipe. O gerenciamento do Parque é feito pela Prefeitura Municipal de Belo Horizonte através da Secretaria Municipal de Meio

Ambiente e Saneamento Urbano. Contato mangaba@pbh.gov.br

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O Aglomerado da Serra é um conjunto de seis vilas situadas na encosta da Serra do Curral em Belo Horizonte, cujos nomes oficiais, segundo dados da URBEL, 1997, são Vitório Marçola, Nossa Senhora de Fátima, Nossa Senhora da Conceição, Nossa Senhora Aparecida, Morro do Cafezal e Novo São Lucas. É um dos maiores aglomerados da Região Metropolitana de Belo Horizonte ocupando 1.495.579 m². Situado nas encostas da Serra do Curral, faz limites com os bairros Mangabeiras, São Lucas e Santa Efigênia. De acordo com os dados levantados pelo CENSO 1996/IBGE, a população total das vilas gira em torno de 37.600 pessoas, e a população com menos de 24 anos de idade gira em torno de 21.500. Segundo o Programa Criança Esperança do UNICEF,

pautado em reflexões sobre o alto índice de evasão e de reprovação dos estudantes aos quais estava ligada construiu, com as famílias destes estudantes64, com lideranças comunitárias e religiosas uma parceria que objetivava reduzir estes índices. Àquela época esse estabelecimento escolar contava com 13 salas de aula funcionando por turno. No turno da tarde estavam as 1ª e 2ª séries e pela manhã ficavam as 3ª e 4ª séries. A entrada anual era de 5 turmas de 1ª série novata e já se havia cauterizado a presença de 3 turmas repetentes. Observa-se, então, um conjunto que evidenciava ao máximo a enorme evasão e a enorme reprovação daqueles estudantes. Esse conjunto era de 8 turmas de 1ª série e 5 turmas de 2ª série, sendo 3 novatas e 2 repetentes. Essa parceria se materializou com o nome de Projeto Dia de Estudo.

Durante os anos de 84 e 85 outras escolas de 1ª a 4ª série da Rede passaram a adotar também esse Projeto e, a partir de 86, também uma primeira escola de 5ª a 8ª série se organizava assim. Tal Projeto consistia no “dia de estudo”65 dos estudantes, às sextas-feiras, ser de duas horas e trinta minutos e das outras duas horas serem “dia de estudo” dos professores. No caso de escolas de 1ª à 4ª série, era muito comum a participação de pais, mães ou responsáveis pelos estudantes coordenando atividades com grupos de estudantes na escola durante essas últimas duas horas. Com a mesma freqüência, representantes desse segmento participavam do “dia de estudo” dos professores. Durante este período, observa-se o debate, a discussão e a reflexão pautados em situações vividas por aqueles sujeitos em sala de aula e de alguns textos trazidos por alguns professores como subsídio. A partir das reflexões elaboraram-se projetos de intervenção.

o espaço de mesmo nome funciona desde julho de 2003 no Aglomerado da Serra, aquela concentra 47 mil moradores e destes, 6.327 são jovens de 12 a 18 anos. http://www.unesco.org.br

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A EMSLC foi a primeira escola da Rede Municipal em Belo Horizonte a instituir o “Horário Pedagógico”, “Tempo Pedagógico” ou “dia de estudo” como o denominávamos inicialmente. Ressalto que naquele momento, embora o contato com as famílias dos estudantes e com membros da comunidade escolar fosse muito forte, somente a partir de 1986 é que a nossa organização escolar promoveu a participação efetiva dos estudantes, mesmo assim somente os de 3ª e 4ª série podiam participar dos órgãos decisórios daquele estabelecimento educacional.

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O texto do projeto trazia essa expressão pela compreensão ali presente de que dia de estudo era uma concepção mais includente que dia letivo, pois entendíamos que letivo estava relacionado a lecionar e não queríamos nos vincular a esta prática, e sim à prática de construção de conhecimento pautado em estudo.

É possível localizar hoje, ações do poder público municipal que derivam de projetos elaborados naquele momento66. Um deles é o Programa “Meninos no Parque”, sobre o qual nos fala BRANDÃO, (2005)

desenvolvido desde 1993, funcionando com suas diversas oficinas e atividades dentro da área do Parque das Mangabeiras. Atende hoje cerca de 200 crianças e jovens de famílias de baixa renda, moradoras das vilas situadas no entorno do Parque, na região chamada “aglomerado da Serra”. As oficinas abrangem áreas da cultura, artes, esportes e educação ambiental. Desenvolvem-se oficinas de horticultura através de uma horta medicinal e outra de plantas condimentares e comestíveis, ambas com fins educacionais e nutricionais. A horta de plantas medicinais tem como objetivo gerar oportunidades de pesquisa, conhecimento, resgate, ampliação ou apropriação da cultura científica e popular dos fitomedicamentos, em benefício de toda a comunidade.

O caráter inovador desta prática se evidencia quando lembramos que ações tais como o trabalho interdisciplinar, o trabalho coletivo67, oficinas de cultura, de esportes, de artesanato, de brincadeiras foram planejadas por nós durante o “dia de estudo”. A partir de 88, quase todas as escolas da Rede já haviam adotado essa prática, mas então o nome do Projeto já era “Tempo Pedagógico”. Desde então é possível localizar um sem número de práticas desenvolvidas nesse tempo. Também, observa-se, o caráter diverso de tais práticas que são algumas promotoras do direito à educação de qualidade social, outras tem este objetivo sem concretizá-lo e outras não o têm.

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O Projeto Meninos no Parque foi planejado, aprovado, proposto e desenvolvido pela EMSLC em parceria com o Parque das Mangabeiras, de 1990 a 1993. Nesse projeto três professoras da Escola, por turno, trabalhavam com estudantes da escola, desenvolvendo oficinas diversas de cultura, artes, esportes e língua estrangeira na área do Parque. Eram atendidos 240 estudantes distribuídos em dois grupos semanais. Outro projeto também planejado, aprovado, proposto e desenvolvido pela EMSLC em parceria com o Parque das Mangabeiras de 1990 a1993 foi o “Horta Cidadã”. Nesse projeto, um professor da extinta disciplina Técnicas Agrícolas e duas auxiliares de escola desenvolviam com 60 estudantes distribuídos em seis grupos atividades de horticultura através de uma horta medicinal e outra de plantas condimentares e comestíveis, ambas com fins educacionais e nutricionais. A horta de plantas medicinais tinha como objetivo gerar oportunidades de pesquisa, conhecimento, resgate, ampliação ou apropriação da cultura científica e popular dos fitomedicamentos, em benefício de toda a comunidade. Havia um conjunto de cinco mulheres membros da comunidade escolar (duas mães, uma avó, uma madrinha e uma irmã mais velha de estudantes da escola) que participava ativamente como voluntárias.

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Certamente, nesse relato, não denomino coletivo à totalidade dos profissionais daquela escola. Havia sim um grupo propenso à mudança, um grupo resistente a ela e um grupo alheio aos acontecimentos. Entretanto, a marca daquela escola, naquele momento de sua história e da história da Rede que ela compunha, talvez por constituirmos a maioria do quadro de profissionais que ali atuávamos, era dada pelo primeiro grupo.

Era muito comum naquele momento de construção da história da RMEBH verificar-se a compreensão de que a qualidade da educação é resultado de uma ação pedagógica intencional realizada dentro de um processo coletivo. E cada estabelecimento de ensino, cada comunidade escolar estaria inserida na sociedade, mesclada e mesclando, portanto tal modelo social. Nessa perspectiva, a exigência da garantia, do reconhecimento e do respeito à autonomia pedagógica de cada escola pautaria a ação cotidiana tendo como perspectiva a compreensão de que, uma vez que o fracasso de cada estudante se constitui no fracasso da instituição escolar, caberia a essa instituição construir alternativas que promovessem o sucesso desse estudante que seria, conseqüentemente, de acordo com o que elaborávamos naquele momento, o sucesso da escola e de toda a comunidade escolar.