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4 O FEITO: EM ANÁLISE O PROCESSO DE ENSINO-APRENDIZAGEM DOS

4.2 O QUE DIZEM OS ALUNOS E OS PROFESSORES?

4.2.3 Sobre as práticas pedagógicas

4.2.3.2 A prática da pesquisa

Baseados nas DCNEPTNM (2012), em que se anuncia a pesquisa como princípio pedagógico, a compreendemos como uma atividade escolar necessária na educação dos que vivem/viverão do próprio trabalho. Ao adotar a pesquisa enquanto princípio

pedagógico, o professor deve deixar de ser um transmissor de conhecimento para ser um mediador, facilitador da aquisição de conhecimentos, o qual poderá estimular a realização de pesquisas, a produção de conhecimentos e o trabalho em equipe, instigando o aluno à curiosidade e inquietude diante do mundo que o cerca.

No processo de ensino-aprendizagem em que utilizamos da prática da pesquisa, esta deve ser guiada por questões investigativas por meio das quais buscaremos respostas em um processo autônomo de (re)construção de conhecimentos. Dessa forma, a relevância deixa de estar no fornecimento de informações pelo docente, mas no desenvolvimento da capacidade de pesquisa do aluno para que busquem e (re)construam os conhecimentos.

A pesquisa como princípio pedagógico ganha um significado muito mais abrangente do que a pesquisa enquanto exclusiva finalidade didática de ampliar um conhecimento, conceito, uma teoria, apresentar ou complementar um conteúdo que foi ou será estudado em determinada disciplina.

A pesquisa escolar, motivada e orientada pelos professores, implica a identificação de uma dúvida ou problema, na seleção de informações de fontes confiáveis, na interpretação e elaboração dessas informações e na organização e relato sobre o conhecimento adquirido. Muito além do conhecimento e da utilização de equipamentos e materiais, a prática de pesquisa propicia o desenvolvimento da atitude científica, o que significa contribuir, entre outros aspectos, para o desenvolvimento de condições de, ao longo da vida, interpretar, analisar, criticar, refletir, rejeitar ideias fechadas, aprender, buscar soluções e propor alternativas, potencializadas pela investigação e pela responsabilidade ética assumida diante das questões políticas, sociais, culturais e econômicas (BRASIL, 2012, p. 164).

Portanto, a pesquisa como princípio pedagógico, potencializada pela investigação e pela responsabilidade ética assumida diante das questões políticas, sociais, culturais e econômicas pode, assim, propiciar a participação do estudante tanto na prática pedagógica quanto colaborar para o relacionamento entre a escola e a comunidade.

No PPI do IFES (2019/2 – 2024/1, p. 79, grifo nosso), anuncia-se que

[...] o Ifes busca cumprir seu papel de Instituição de Ensino, Pesquisa e Extensão, articulando a produção do conhecimento acadêmico com a difusão científica, tecnológica e cultural; aplicando as pesquisas no desenvolvimento científico e tecnológico, estendendo seus benefícios e aproximando-se da sociedade em busca de se consolidar como uma

instituição de excelência no desenvolvimento técnico-científico (IFES, 2019, p. 79, grifo nosso).

Essas definições nos auxiliarão na análise das respostas dadas pelos alunos e professores, na medida em que buscaremos identificar de que forma essa prática esteve presente durante o percurso formativo dos alunos, assim como, qual foi a percepção dos alunos e professores sobre ela.

1) Nas vozes dos alunos

Perguntamos aos alunos: Durante o curso, houve a prática da pesquisa? Como foram realizadas? Foi possível agrupar as respostas conforme demonstramos abaixo:

Fonte: Elaborado pela autora (2019)

Destacamos algumas das respostas dos alunos em que a prática da pesquisa foi percebida enquanto exclusiva finalidade didática complementar ao conteúdo:

A2: Pesquisava sobre um determinado assunto que o professor falava.

Escrevia e o professor avaliava, teve várias outras matérias que isso foi recorrente.

A4: Sim. O professor falava sobre um tema e a gente pesquisava na internet e apresentava ou entregava por escrito.

A15: Sim. Mas às vezes é muito mecânico o jeito como faz, por exemplo, apresentação de slides, eu dividindo trabalho com mais 3 pessoas sobre, produção de maçãs, e eu pego a parte de transporte de maças, leio sobre o transporte de maças e apresento só sobre o transporte de maças, então meio que eu só vi uma parte, eu realmente não me engajei naquilo ali. É feito de uma forma tão mecânica, que talvez não seja uma ferramenta tão boa pra o entendimento de uma problemática.

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Gráfico 11 - Pergunta 9: Sobre a realização da prática da pesquisa durante o curso

Forma de ampliar o conhecimento, com a finalidade de apresentar ou complementar um conteúdo que foi ou que seria estudado em determinada disciplina

Apontaram para projeto de iniciação científica visando à melhoria da coletividade e do bem comum

Apontou a medicação do professor, o desenvolvimento do pensamento crítico e da autonomia

A23: Sim. Tem pesquisas bem assim que os professores passam só por questão de nota mesmo ou da matéria não ter sido passada direito e a gente ter que fazer pesquisa daquele assunto.

Inferimos, a partir dos relatos, que a prática da pesquisa se mostrou tímida na busca por informações de determinado conteúdo, com a consequente apresentação destas informações para o professor. Nesse sentido, não cumpre seu papel de desenvolver o pensamento crítico e a (re) construção dos conhecimentos. Pelo contrário, mostra-se como uma prática em que os alunos revelam dependência e falta de autonomia, uma vez que se resume em buscar informações sobre determinado assunto e apresentá-lo para o professor, em troca de uma nota.

Além disso, a pesquisa escolar deve ser motivada, e orientada, pelos professores, não devendo ser vista como algo para ser realizado apenas pelo aluno. O professor, quando pede que o aluno pesquise um conteúdo ou um assunto, determina uma data para entrega e aplica uma nota, não está exercendo seu papel de mediador. Nessa perspectiva, o que importa é a entrega do trabalho final e não o processo de construção daquele conhecimento.

Desse modo, a pesquisa não se caracteriza como um princípio pedagógico, por não potencializar a discussão sobre o assunto estudado, buscando o desenvolvimento da responsabilidade ética dos alunos diante das questões políticas, sociais, culturais e econômicas. A pesquisa que deveria ser um ponto inicial para o debate e discussões sobre determinada temática, torna-se, pelo contrário, ponto final. Para Demo (2006), a pesquisa como princípio educativo é uma conquista e não uma domesticação. Ela faz parte do processo emancipatório, por meio do qual o aluno torna-se crítico e autocrítico. Pesquisa é diálogo e processo diário integrante do ritmo da vida, da escola, é ferramenta para enfrentar a vida de modo consciente.

Destacamos alguns relatos em que identificamos proximidade da prática da pesquisa enquanto princípio pedagógico, apontando para projetos de iniciação científica visando à melhoria da coletividade:

A6: Eu participava até mês passado, do projeto da incubadora, da iniciação científica, que a gente desenvolveu uma plataforma robótica para competir na Olimpíada Brasileira de Robótica e o intuito do projeto era que a gente

desenvolvesse uma plataforma alternativa, a geralmente usada. Por exemplo: No Sesi, principalmente, eles utilizam lego, que é muito caro, custa mais de 3 mil reais. Então a plataforma era desenvolver algo de baixo custo para escolas públicas terem acesso.

A8: Eu fiz projeto de iniciação científica, na verdade, termina agora em dezembro. E alguns colegas também fizeram. É sobre discriminação no contexto escolar, a gente estuda as perspectivas dos sociólogos acerca da discriminação em geral na sociedade brasileira e fazemos a análise dentro do contexto escolar, como esse processo se dá. A proposta do nosso projeto é mostrar como que o preconceito e a discriminação existem dentro das escolas de uma forma incubada e nem sempre as pessoas se dão conta. Então a nossa ideia é mostrar que isso acontece e propor formas para amenizar essas questões.

A17: Vou falar de pesquisa baseado na minha iniciação cientifica. É muito interessante, muito importante. Pesquiso sobre as hortaliças, de você produzir por meio de um resíduo que é produzido aqui em Cachoeiro, com esse resíduo você possibilita que hortaliças, que não são tão comuns em Cachoeiro, sejam produzidas com enfoque, com mais força aqui, por meio desse experimento.

A20: Acho que a pesquisa é o que faz a gente realmente pensar sobre um assunto, porque provas, quase assim, muitas vezes, as pessoas só decoram certo conteúdo pra fazer aquilo ali e não colocam em prática o conhecimento.

Acho que com pesquisas e análises a gente consegue realmente pensar sobre, não ficar só naquela coisa mecânica de decorar. Eu fiz pesquisa de iniciação cientifica, eu fiz durante 2 anos. Uma de máquinas hidráulicas, de desenvolver máquinas hidráulicas e a última de fazer uma máquina de biodiesel. Eu acho que o projeto contribui bastante com a sociedade, pois essas máquinas vão ser utilizadas por outros alunos de outras disciplinas. Essa última que estamos desenvolvendo, uma máquina pra fazer biodiesel de óleo já utilizado, já contribui bastante para a questão ambiental, pra fazer um combustível menos agressivo.

Uma vez que, nas respostas dos alunos, os projetos de iniciação científica foram citados, buscamos no PDI sua caracterização. Trata-se de uma política de fortalecimento da pesquisa que apresenta como finalidade “[...] desenvolver o pensamento científico e a iniciação à pesquisa, bem como estimular os estudantes ao desenvolvimento e à transferência de novas tecnologias e inovação. Contribuem, desta forma, para uma formação integrada do cidadão [...]” (PDI, 2019/2-2024/1, p.

80).

Identificamos nos relatos dos alunos, ao se referirem à iniciação científica, o desenvolvimento da pesquisa enquanto colaboradora para a sociedade, conforme proposto nas DCNEPTNM (2012) e PPI (2019/2 -2024/1). As citadas pesquisas de iniciação científica demonstraram sua potencialidade na construção do conhecimento, saberes, bens e serviços, que, orientados pela ética, têm a finalidade de melhorar as condições materiais da vida cotidiana, percebidas nas investigações tais como as de

máquinas hidráulicas, com a finalidade de produzir um combustível menos agressivo e o projeto sobre discriminação escolar, que tem utilidade social, ética e política.

Em relação à prática da pesquisa, mediada pelo professor, guiada por questões investigativas, fundada nas dimensões política, sociais, culturais e econômicas que permeiam o contexto a ser estudado, a qual desenvolve habilidades do aluno para interpretar, analisar, criticas, refletir, rejeitar ideias fechadas, aprender, buscar soluções e propor alternativas com responsabilidade ética (DCNEPTNM, 2012), ela foi identificada na resposta do A14, que trouxe considerações em relação à pesquisa seguida do debate ou de uma análise crítica no âmbito das disciplinas de Biologia, Sociologia e História. No relato a seguir, observamos a presença do professor enquanto mediador e o aluno exercendo seu papel de argumentar e criticar o que estudam.

A14: Acho que a pesquisa amplia nosso conhecimento sobre determinado assunto. Eu percebi isso muito nas aulas de biologia, em que a gente tinha que ampliar o conhecimento que era adquirido em sala de aula e às vezes tinha que procurar na internet, em outros livros e depois a gente debatia sobre aquilo. Nas aulas de sociologia também, propondo trabalho, pesquisas para a gente discutir depois. História, fizemos muitas atividades voltadas para a análise crítica mesmo. E geralmente a pesquisa era pra gente olhar na internet, procurar outras fontes, teve até casos da gente fazer entrevistas. Nas aulas de História o professor propôs que fizéssemos um debate político. Eu achei muito interessante. Foi uma coisa que fez com que eu pesquisasse mais sobre o candidato em que eu estava defendendo e mesmo que não compactasse com a minha ideologia, foi importante porque eu pude conhecer mais e comentar mais sobre isso.

Ressaltamos, porém, que sentimos falta de uma a articulação entre as disciplinas para realizações das pesquisas e das discussões de suas proposições e resultados.

Apontamos como necessária a estratégia da interdisciplinaridade entre as disciplinas para, ao abordar uma temática, discuti-la a partir das questões políticas, econômicas, sociais e culturais. Dessa forma, a prática da pesquisa pode ser ainda mais potencializada no currículo integrado.

Diante do total das respostas dos alunos, chegamos à conclusão que houve pesquisas que se aproximaram e pesquisas que se distanciaram da finalidade de proporcionar ao aluno o desenvolvimento do pensamento crítico e da autonomia. Nesse sentido, a pesquisa enquanto princípio pedagógico depende muito da postura do professor enquanto mediador do processo de ensino-aprendizagem como no indicam as

DCNEPTNM (2012). Demo (2006) propõe desmitificar a separação entre ensino e pesquisa, a qual cria uma divisão entre professores que ensinam e os que pesquisam.

A pesquisa pode levar o aluno à autonomia por meio de sua própria elaboração.

2) Nas vozes dos professores

Buscamos identificar como a prática da pesquisa é percebida e executada pelos professores através da pergunta: Nas suas aulas, você utiliza da prática da pesquisa para trabalhar com seus alunos? Como você faz?

No total dos 10 (dez) professores entrevistados, em nenhuma das respostas os professores se utilizaram de descritores como: busco ser o mediador do conhecimento, proponho questões para serem analisadas a partir de diferentes perspectivas, proponho debates sobre os temas fazendo a mediação, o que indicaria a pesquisa como princípio pedagógico. Essa análise nos ajuda constatar que a pesquisa se apresentou como espaço de ampliação de informações sobre o conteúdo da disciplina.

Destacamos alguns relatos os quais ajudam a confirmar as constatações:

P1: Sim. Por exemplo: eu pedi pra que eles pesquisassem, artigos científicos, que fossem estudo de caso sobre demissão, ética no processo de demitir pessoas, ai eles explicaram no seminário o que eles tinham encontrado.

Depois disso, eu comecei a passar quais eram as regras de demissão, o que diz a lei, como que isso chega no final do processo de rescisão. Eles viram o processo do ponto de vista dos trabalhadores, dos gestores, depois o que diz a lei, as regras, como que você demite uma pessoa, como calcular a folha de pagamento de um processo rescisório. Então eu fiz a partir da pesquisa deles, eu fiz essa continuação.

P2: Às vezes. Eu ministro o conteúdo, dou uma introdução pra eles e quando eu peço uma produção de trabalho, eu já deixo direcionado pra eles o site que eles vão utilizar, onde eles já vão encontrar um recurso melhor explicado.

Acho melhor do que eles ficarem soltos pesquisando na internet. Então eu já passo o conteúdo e já indico pra eles onde eles vão conseguir produzir o trabalho deles, através de qual recurso, através de qual plataforma.

P7: Eu utilizo da pesquisa das seguintes formas: quando eu vou começar um conteúdo, eu faço uma sondagem inicial do que eles acham sobre isso, então isso pra mim é uma forma de pesquisar, eu faço aquela sondagem, o que eles têm a respeito daquele conteúdo, daquele conhecimento e, a partir daí, a gente vai agregando e aquilo que ficar apontado que precisa ser complementado, ai eles vão pesquisar. Ou eu falo, eu preciso que vocês pesquisem sobre tal assunto, enfim e aí eles fazem essa pesquisa e apresentam. São apresentados em forma de seminários, trabalhos de grupo.

Enfim, eu utilizo muito porque só o professor como fonte didática é muito pouco.

P8: Não. Minhas aulas não são aulas de conteúdo, são aulas de atendimento.

O que eu faço é atender os alunos, orientar e corrigir. Eles já têm os conteúdos das outras disciplinas, a minha aula é de produzir, e ter dúvidas, na medida que eles têm dúvidas, que eles procuram, eu soluciono.

Ressaltamos que pesquisar, enquanto princípio pedagógico, é ir além de encontrar dados sobre um tema proposto. A pesquisa enquanto princípio pedagógico preocupa-se com o depreocupa-senvolvimento da autonomia, do pensamento crítico, da responsabilidade ética do aluno em relação à temática que é estudada. Dessa forma, a prática pedagógica fundada na pesquisa precisa ser incentivada junto aos docentes, no sentido de discutir por que, e para que desenvolvê-la.

Destacamos a resposta específica do P6 que aponta para a pesquisa de iniciação científica e para a realização de discussões com os alunos. Podemos inferir que sua prática se aproxima, enquanto princípio pedagógico, na medida que, apontada pelos alunos, como colaboradora com a sociedade e com a mediação da professora nas discussões, permite o desenvolvimento da autonomia e do pensamento crítico.

P6: Então, a gente formulou um trabalho de pesquisa que se iniciou no ano de 2018, e ele tem 2 anos, que é um projeto de pesquisa que fala sobre discriminação no contexto escolar, esse projeto de pesquisa se iniciou pela livre, eu fui nas salas, convidei os alunos, perguntei quem gostaria de participar, os alunos se dispuseram a participar, estão comigo a 2 anos, sendo que no final de 2018 eu concorri no edital da FAPES e aprovei o projeto, então a gente está desde o início de 2019 até agora fazendo esse trabalho a partir do projeto, então o que a gente faz é discutir entre os alunos, a gente escolheu como sujeito de pesquisa os alunos, e a gente discute esses processos com os alunos.