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4 O FEITO: EM ANÁLISE O PROCESSO DE ENSINO-APRENDIZAGEM DOS

4.2 O QUE DIZEM OS ALUNOS E OS PROFESSORES?

4.2.2 Sobre a formação omnilateral – trabalho, Ciência, tecnologia, cultura e

4.2.2.3 A dimensão da cultura

Sobre a dimensão da cultura, a compreendemos

como o processo de produção de símbolos, de representações, de significados e, ao mesmo tempo, prática constituinte e constituída do e pelo tecido social, como norma de comportamento dos indivíduos numa sociedade e como expressão da organização político-econômica desta sociedade, no que se refere às ideologias que cimentam o bloco social, significa entender cultura em seu sentido o mais ampliado possível, ou seja, como a articulação entre o conjunto de representações e comportamentos e o processo dinâmico de socialização, constituindo o modo de vida de uma determinada população (BRASIL, 2012, p. 229).

A cultura é um conceito complexo, para além das práticas artísticas, das tradições ou crenças religiosas, constitui-se uma dimensão da vida cotidiana de determinada sociedade. A temática foi observada a partir da sua compreensão e da sua presença no ambiente escolar através dasfalas dos entrevistados. Dessa perspectiva, a cultura pode ser compreendida como uma teia de significados, tecida pelo homem. Sendo assim, o homem é um animal atrelado às teias de significados que ele mesmo teceu, sendo a cultura essa teia. A experiência humana é uma sensação significativa,

interpretada e aprendida. Sendo tudo isso a cultura, ela pode ser interpretada como um texto o é (GEERTZ, 1979).

1) Nas vozes dos alunos

Perguntamos aos alunos: Como você compreende a cultura? Você considera que o Ifes contribuiu para sua compreensão de cultura? De que forma?

Nas respostas dos 27 (vinte e sete) alunos entrevistados, constatamos a compreensão da cultura através da presença de um ou mais descritores como:

costumes, crenças, manifestações, conjunto de características que são expressas por um grupo social, produção, prática e conhecimento passado pelas gerações. Cultura como identidade, como aquilo que se tem em comum em relação a um povo, uma localidade, foram esses os descritores identificados no conjunto das entrevistas. Em relação a contribuição do Ifes apresentamos os dados no gráfico a seguir:

Fonte: Elaborado pela autora (2019)

Destacamos alguns trechos das entrevistas para melhor observarmos a participação dos alunos:

10

10 7

5 3

2 1

1 1 1

Gráfico 7 - Pergunta 6: Contribuição do Ifes para a compreensão da cultura

Através da convivência com pessoas de diferentes lugares e realidade

Através das aulas de Sociologia

Através de eventos como: Jacitec e Seminário de Humanidades

Através das aulas de História Poderia ter contribuido mais

Através das aulas de Ética e Legislação Profissional Através das aulas de Geografia

Através das aulas de Filosofia Através das aulas de Artes

Através da feira de Inglês sobre as culturas dos países

A1: Eu acho que é o conjunto de costumes, não tem algo que se rotula como cultura. Acho que são os costumes, as crenças. Sim, mas tem isso de matérias muito especificas que isso é muito mais visto, ética, geografia, sociologia e história, mas principalmente, nas semanas de eventos, nas palestras do que dentro de sala.

A2: Eu acho que é algo que as pessoas têm em comum de um determinado lugar, acho que é isso. Sim, um pouco, porque junta pessoas de todos os lugares, aí você conhece crenças e costumes dos outros.

A4: Cultura são os costumes de um povo ou de uma localidade, conhecimento, práticas. Sim, acho que sim. Em eventos, como Jacitec e seminários.

A5: Tudo aquilo que une um povo. Aquilo que as pessoas produzem e deixam pra outras gerações. Sim. Na disciplina de Artes que a gente faz intervenção. Na disciplina de Sociologia.

A8: A minha ideia de cultura são todas as práticas, de todos os povos que significam alguma coisa para aqueles indivíduos. As práticas culturais são muito ricas e nem tem nem como você falar, ah isso aqui é cultura e isso aqui não é. O Ifes me ajudou muito nisso também, de encontrar pessoas diferentes e convivendo com essas diferenças você aprende que cultura não é só o que você conhece, não é só sua percepção, são culturas.

A10: É algo amplo. Não tem como definir uma cultura, temos diversas.

Sim, principalmente nas aulas de Sociologia, e também, eu me lembro, de um evento que a professora de inglês fez, que era uma feira cultural de vários países.

A11: Um conjunto de hábitos, de crenças, de danças. Pode ser tantas coisas de um determinado grupo. Sim. É muito nas aulas de humanas que a gente aprende sobre cultura. Eu sinto falta de aprender culturas mais específicas. A gente acaba aprendendo cultura, mas é a nossa, porque a gente tá inserida. Eu acho que faltou um pouco, de saber de outras culturas, por exemplo, a cultura indígena.

Percebemos nas entrevistas concedidas pelos alunos certa aproximação com o nosso referencial de cultura apresentado. Compreendem a cultura como um texto e nisso se incluem modos de vida que conferem unidade a um povo, identificando uma sociedade. Dessa forma, os alunos demonstram ter conhecimento conceitual sobre cultura. Para eles, esse conhecimento foi potencializado por meio das disciplinas de humanas, principalmente nas aulas de sociologia, através de eventos e da convivência heterogênea que a escola proporciona.

Apontamos para o primeiro aspecto levantado: a contribuição do Ifes em relação à compreensão do conceito de cultura principalmente nas aulas de sociologia. Essa relação revela uma constituição histórica da cultura como objeto das ciências sociais.

Dessa forma, evidencia-se que a esfera da cultura é vista dentro do contexto escolar,

não na sua totalidade, mas recortada no âmbito, principalmente, da disciplina de sociologia. Essa visão se contrapõe ao pressuposto curricular, vez que, como dimensão do currículo, deveria ser abordada como um universo presente na ciência, na tecnologia, na economia, nas relações sociais. O não entrelaçamento da cultura às demais disciplinas do currículo nos indica uma fragmentação do saber em detrimento de uma perspectiva mais integradora dos fenômenos culturais.

Moura (2010, p. 3) nos esclarece que o Ensino Médio Integrado, apoiado no conceito de politecnia,

[...] estaria orientado para explicitar não só como a ciência e a tecnologia se convertem em potência material no processo produtivo, mas também como são influenciadas pela cultura e, ao mesmo tempo, a influenciam. Ao produzir símbolos, representações e significados, a cultura determina as práticas sociais e, ao mesmo tempo, é determinada por essas práticas, constituindo-se no modo de vida de uma dada sociedade ou grupo populacional (MOURA, 2010, p. 3).

A citação revela a importância de se interpretar o tecido social como a teia de sentidos que enreda os atores sociais. Isso evidencia uma perspectiva que deve ser construída, gradativamente, para a integração das dimensões para compreensão dos fenômenos sociais em sua totalidade. Os alunos também citaram os eventos: Jacitec, Seminário de Humanidades, a feira proposta pela disciplina de Inglês, em que é abordada a cultura de diversos países. Consideramos esses momentos relatados como possíveis potencializadores para integração das disciplinas. É como se a mostra cultural, os eventos e os seminários funcionassem como espaços interdisciplinares para o diálogo de muitas formas de culturas.

A convivência com a diversidade para apropriação da cultura também foi apontada pelos alunos. Dessa forma, ela pode ser aproveitada pela escola como espaço de debates em relação a origem cultural, social, política e econômica dos padrões estabelecidos. Defendemos o discurso do respeito, mas devemos estabelecer questionamentos e debates com nossos alunos sobre a origem das atitudes discriminatórias, como produto da cultura, uma vez que, as distinções não existem em si mesmas.

2) Nas vozes dos professores

Questionamos aos professores: Como você compreende a cultura? De alguma forma a cultura foi abordada nas suas aulas? Se sim, como?

Do total de 10 (dez) professores entrevistados, percebemos nas respostas, a presença de um ou mais descritores que têm proximidade ao conceito de cultura exposto neste estudo, como: processo amplo; diversidade; influência social;

conhecimento, prática que é transmitido de geração em geração. Sobre a abordagem do tema nas aulas, três informaram não abordar, três responderam não abordar especificamente e quatro informaram abordar.

Apresentamos algumas das falas:

P2: Cultura é aquilo que as pessoas carregam com elas no decorrer do tempo, são práticas, é algo que fica marcado. Igual à cultura indígena foi sendo construída. A cultura é algo que é construído, é a formação da mente.

Algumas teorias dizem isso, não me recordo aqui o teórico, mas falam que a cultura é o social que forma a mente humana. Não trabalho nas minhas aulas.

P1: Não especificamente. Cultura eu não trabalho nas minhas aulas, porque não tem muito a ver. O que eu tento mostrar de alguma forma é que dependendo da área de trabalho, da região, de onde a pessoa mora e tudo mais vão haver diferenças significativas que fazem parte da cultura local. Mas não é específico da disciplina, é mais assim, ao longo da relação com os alunos, depende do tema que surge. Eu mostro pra eles alguns casos de empresas. Mostrei casos de empresas americanas e alemãs, relacionando com a cultura de empresas. Eu trabalho a questão do toyotismo, então eu falo: uma coisa é você aplicar a mentalidade Toyota, a produção Toyota no Japão, outra coisa é você aplicar em empresas no Brasil, então não dá pra você pegar, clicar e arrastar. Então eu falo pra eles: você vai ter que aplicar a realidade local, daí eu conto no caso da Ford em Camaçari, que eles tiveram que adaptar algumas questões exatamente pela cultura local e que depois que eles perceberam que tinham que mudar algumas coisas na gestão, o negócio foi fluindo, resolveram os problemas que eles tinham principalmente por falta de funcionários, mas eu busco mostrar a relação, de certa forma, com as culturas.

P4: De maneira formal não foi abordado. A não ser em discussões que surgem de perspectivas de vida. E cultura eu vejo na verdade como culturas, porque são várias. Vejo a cultura como algo que é construído de maneira social. É bastante diverso, mas que eu acabo trabalhando muito pouco as questões culturais.

P6: A cultura a gente fala muito sobre essa questão, falando do sentido de você lidar com o outro, com o diferente, como é esse processo, essa tolerância, a questão do respeito as diferenças a questão das desigualdades etc. Isso vem sendo trabalhado de forma extensa na disciplina.

P7: Cultura é um conhecimento que a gente discute o tempo inteiro. O que é cultura? Se você olhar no dicionário vai dizer que cultura é todo o conhecimento que foi feito, adquirido pelo ser humano e que ele passa ao

outro através da linguagem. Isso é cultura. Então é isso que transita, por isso não tem melhor, pior, inferior, superior, não tem cultura desse tipo. Temos culturas diferentes e aí o que precisa ser feito é perceber que a minha cultura não é melhor que a sua, começa a perceber que existem diferenças e igualdades que eu preciso aprender a respeitar essas diferenças e aproveitar essas igualdades. Então, nas aulas, a gente discute muito isso. Eu trabalho muito essa questão de perceber a carga cultural que a gente tem, valorizar essa carga cultural que a gente tem, e não entender a cultura como folclore, porque a gente tem a cultura como uma dança típica um carnaval do boi de Muqui, uma Festa da Polenta de Venda Nova, isso é um dos elementos, mas todo esse fazer que você tem que você sabe, isso é cultura, que você passa pra um, pra outro, então as aulas quando eles falam do que eles gostam ou não gostam a gente tá trocando esses elementos culturais.

Eu acho que quando eu chego na hora, saio na hora, dou a prova, corrijo a prova, dou meus prazos, eu posso cobrar do meu aluno esse dado cultural de responsabilidade com a escola por exemplo.

Entendemos que, na perspectiva de uma formação integrada, os jovens devem ter não só acesso aos conhecimentos científicos e tecnológicos, mas também devem poder refletir criticamente sobre a cultura, para além do limite das temáticas artísticas ou estéticas, trazendo para o centro de debates as mudanças culturais decorrentes dos avanços científico-tecnológicos. Dessa forma, a cultura deve perpassar por todas as disciplinas, não como conteúdo específico de determinada disciplina, mas como dimensão que constitui o ser humano e é por ele constituída, como uma teia tecida pelo homem, da qual ele não pode se desvincular.

Os 4 (quatro) professores que informaram abordar a temática são docentes da base comum. Os que informaram não abordar especificamente, ou não abordar, são professores da área técnica e do núcleo diversificado.

É necessário que os professores tenham o conhecimento da cultura enquanto dimensão estruturante do currículo. Defendemos que no processo de formação dos alunos, através do eixo profissional se abordem além das dimensões científico-tecnológica, as dimensões sociais, políticas, econômicas e culturais que compõem a profissão.

O que significa refletir sobre a base científico-tecnológica que constitui determinada profissão e também refletir sobre o profissional em relação às demais dimensões.

Discutindo, por exemplo, da perspectiva econômica, sobre a produção de riquezas que aquela atividade pode possibilitar para sociedade. Na dimensão social e política,

é possível abordar os valores, as normas de acesso, a ética a ser cumprida que pertence àquele grupo profissional, quais as relações de poder que são estabelecidas.

Numa dimensão sobre cultura de grupo, poderia ser discutido de que forma os profissionais de determinada área se reconhecem entre si, numa relação de pertencimento e de formação de identidade com aquela profissão.

Nesse sentido, todas as dimensões estruturantes (do trabalho, da ciência, da tecnologia, da cultura e da cidadania) se abrigam no eixo da formação profissional, implicando, portanto, a formação humana reconhecida profissionalmente, capaz de realizar uma leitura ampla da realidade.

É a partir dessa perspectiva, de uma formação que se pretende ampla, em todos os sentidos, comprometida com o desenvolvimento de um ser humano integral, que se caracteriza a formação omnilateral. Segundo Ciavatta (2012, p. 86), essa formação pode ser compreendida “por formar o ser humano na sua integralidade física, mental, cultural, política, científico-tecnológico”, o que permitirá ao jovem se aproximar da realização de uma leitura ampla da realidade em que vive.