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2 O PROJETO DE EDUCAÇÃO MUSICAL DA UFC

4.5 A Prática Instrumental Violão no Curso de Música da UFC em Sobral

A prática instrumental Violão, como o próprio nome já sugere, é um espaço de construção de aprendizagens, desenvolvimento de habilidades e competências pedagógico- musicais desenvolvidas a partir do estudo violonístico, o que implica, a partir do nosso modo de trabalhar, em um desenvolvimento a nível da instrução – especialmente no que tange ao desenvolvimento técnico-mecânico, aproximação com o universo musical relacionado ao instrumento – assim como a reflexão e a apropriação desta prática como inserida dentro de um projeto pedagógico específico e que, por sua vez, está inserido dentro de um contexto sócio-cultural mais amplo, do qual todos, professores e alunos, fazem parte.

Dentro da proposta pedagógica do curso de Música da UFC em Sobral, é necessário que o graduando escolha uma Prática Instrumental na ocasião de seu ingresso no curso. Dentre as possibilidades para a escolha dos estudantes, estão disponíveis as práticas instrumentais de teclado, sopros, cordas friccionadas e violão. A prática instrumental obrigatória possui quatro semestres – o curso de Licenciatura em Música possui 8 semestres – e, para os interessados, também é disponibilizado 4 práticas instrumentais optativas que podem oportunizar o aprofundamento dos estudos do instrumento durante todo o período do Curso. Destacaremos a seguir, especificamente, as ementas práticas instrumentais obrigatórias que envolvem o violão.

Prática Instrumental I - turma B - (Violão) – Considerações gerais sobre o instrumento. Desenvolvimento de técnicas de execução violonística. Leitura básica de cifras. Estudo de Acordes em estado fundamental. Estudo coletivo, ordenado e

progressivo de exercícios e obras para violão. Prática musical em conjunto e prática de acompanhamento ao violão (UFC, 2014,p.19).

Prática Instrumental II - turma B - (Violão) – Desenvolvimento da prática instrumental I em nível crescente de complexidade. Estudo da técnica violonística. Repertório violonístico brasileira, suas raízes, matizes e autores. Estudo de acordes em primeira e segunda inversões. Prática musical em conjunto e prática de improvisação (UFC, 2014, p.22).

Prática Instrumental III - turma B - (Violão) – Desenvolvimento da prática instrumental II em nível crescente de complexidade. Estudos básicos de harmonia aplicados à prática violonística. Estudo de acodes invertidos ao instrumento. Aprimoramento da técnica da mão direita. Prática Musical em conjunto e prática de improvisação (UFC, 2014, p.25).

Prática Instrumental IV - turma B - (Violão) – Desenvolvimento da prática instrumental III em nível crescente de complexidade. Produção de arranjos para grupo de violões. Dimensões técnicas e didáticas para a formação de grupos de violão. Estudo de arranjos e composições de música brasileira para violão solo. Prática musical em conjunto (UFC, 2014, p.28).

A Prática Instrumental Violão é uma disciplina eminentemente técnica de caráter prático, para que o estudante possa se apropriar do universo relativo ao instrumento e desenvolvimento de habilidades e competências técnico-musicais. No entanto, considerando o contexto de formação de professores no qual se insere a referida prática, faz-se necessária uma estreita ligação com a didática do instrumento no sentido da formação de professores, especialmente no contexto da iniciação musical. Dessa maneira, durante o processo de aprendizagem e desenvolvimento do trabalho nas disciplinas de violão, os estudantes são estimulados a refletir sobre como aprenderam – para os que já possuem experiência prévia com o violão – e como aprendem, inclusive vislumbrando maneiras de como poderão ensinar determinados aspectos técnicos-musicais e como contribuiriam para o aprendizado do instrumento quando do exercício da docência. Isto ocorre, mais detidamente, dentro da sala de aula entre os próprios estudantes e com aqueles alunos que atuam como monitores do projeto de extensão universitária Oficina de Violão. Também ocorrem relatos de estudantes que passam a lecionar violão enquanto cursam a licenciatura, relatos esses que contribuem para as reflexões, ampliando-as tanto no que concerne às aprendizagens ocorridas em sala de aula, na disciplina, quanto àquelas que decorrem de suas atuações como professores fora da universidade.

Apresentaremos a seguir alguns eixos que fundamentam as atividades na Prática Instrumental Violão no Curso de Licenciatura em Música da UFC em Sobral. Destes eixos derivam diversas atividades, individuais e conjuntas, que perpassam os 4 semestres de

disciplinas obrigatórias. Tais atividades podem ter grande potencial na promoção da Aprendizagem Musical Compartilhada, especialmente para a concretização de realizações musicais conjuntas, no desenvolvimento de um espírito solidário durante aprendizado técnico- musical e para a mobilização do potencial criativo e reflexivo tanto no campo musical quanto no campo educacional.

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Estudo de Acordes: Uma forma de conhecer o “braço do instrumento”,

conseguindo localizar, de diversas maneiras, as notas no violão e abrindo novas possibilidades interpretativas. São utilizadas tétrades – acordes de quatro notas sendo, fundamental, terça, quinta e sétima – no máximo de possibilidades de execução no instrumento, incluindo as inversões de acordes . (APÊNDICE D) 70

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Repertório de Acompanhamento: uma das formas de utilização do violão

mais consagradas na música brasileira é no acompanhamento de canções. Assim, decidimos trabalhar com os estudantes a preparação e manutenção de um repertório comum de acompanhamento de canções que utilizasse as possibilidades de execução estudadas anteriormente quando nos dedicamos aos acordes. (APÊNDICE E)

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Estudo de Cadências/Sequências de Acordes: Este eixo substitui o que antes

seria o eixo Harmonia Básica e Improvisação, que tinha como foco a identificação das relações harmônicas, nomeando-as (tônica, dominante, subdominante, dominante individual etc.). Assim, posteriormente, nas disciplinas de Harmonia que constam no currículo do curso os estudantes trabalharão as relações harmônicas das sequências de acordes abordadas na Prática de Violão. O objetivo das sequências de acordes é trabalhar com os estudantes as sequências harmônicas mais utilizadas na música brasileira e apontadas em livros como do violonista e professor da UFRJ, Marco Pereira (PEREIRA, 2011), além de outras sequências construídas por nós mesmos. Neste eixo, os acordes anteriormente estudados isoladamente são colocados em contextos harmônicos que serão utilizados posteriormente como base harmônica para as Rodas de Improvisação. (APÊNDICE F)

Produzimos alguns videos complementares ao material impresso e aulas presenciais que podem ser acessados 70

nos links: https://youtu.be/gmiuhPhnptk; https://youtu.be/Mm5eUwrvo4k; https://youtu.be/J5WHKk0h4Y4; https://youtu.be/iwSxUyEVz44.

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Rodas de Improvisação: este eixo é resultado de nossa pesquisa anterior que 71

mostrou a importância da improvisação para o desenvolvimento do discurso musical (Swanwick, 2003) do estudantes em contextos coletivos de aprendizagem desde a iniciação ao instrumento. Neste contexto, a improvisação é utilizada como ferramenta pedagógica, ou seja, tem o objetivo específico de trabalhar aspectos técnico-musicais simultaneamente à expressividade do estudante (OLIVEIRA, 2012). A improvisação em grupo é constituída de dois momentos, nos quais, primeiramente, realizamos uma sessão de improvisação em grupo com todos organizados em um grande círculo, e em sequência, realizamos um momento de discussão coletiva, no qual os estudantes discutem os diversos aspectos vivenciados na Roda de Improvisação.

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Repertório Coletivo: Conjunto de arranjos e composições para grupo de

violões destinado à prática artística e apresentação no EncontraMus . Este é o produto 72

mais artístico da disciplina de violão nos primeiros semestres. No início, a maior parte dos arranjos e composições eram feitas por mim. Com o passar dos anos, umas das atividades finais da Prática Instrumental Violão – no quarto semestre, mais especificamente – tornou- se a criação de um arranjo ou composição para grupo de violões feita pelos próprios estudantes, o que passou também a alimentar a própria Prática Instrumental de Violão, além dos demais projetos de extensão direcionados à prática musical em grupo utilizando o violão como instrumento base. (ANEXO D)

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Repertório Solo: No quarto semestre – o último semestre de Prática

Instrumental obrigatória – os estudantes também desenvolvem uma das referências do violão brasileiro, o violão solista. Executando a harmonia e a melodia simultaneamente, trabalhamos aspectos interpretativos deste tipo de realização musical, além dos aspectos estilísticos do repertório violonístico brasileiro, em especial . 73

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Técnica: diferindo um pouco de algumas propostas de ensino do instrumento

Dissertação de Mestrado intitulada “A Improvisação Musical no Ensino do Violão” defendida no Programa de 71

Pós-Graduação da Faculdade de Educação da Universidade Federal do Ceará em 2012, também lançada em livro em 2015 pela Editora Prismas.

O EncontraMus é uma mostra de parte da produção do curso de Música da UFC no Campus de Sobral. 72

Constitui-se de atividades acadêmicas no período da tarde (mesas redondas, mini-cursos, palestras, oficinas) e atividades artísticas no período da noite. Têm o formato de três dias, buscando congregar a comunidade da Região de Sobral com as atividades ligas à Universidade e ao Curso de Música.

É possível visualizar a execução de tais arranjos com a turma de Violão IV no link: https://youtu.be/ 73

amplamente conhecidas, a técnica instrumental não possui um papel tão preponderante na Prática Instrumental obrigatória. Explicamos: no que alguns autores costumam chamar de “modelo conservatorial”, o grande objetivo do estudo do instrumento é o aprimoramento técnico-mecânico-musical. Assim, o trabalho é realizado com base na execução de “peças consagradas” do repertório violonístico de concerto enfatizando o aspecto técnico- mecânico através de exercícios específicos. No entanto, na abordagem da Prática Instrumental do curso de Música da UFC em Sobral, o objetivo da técnica instrumental é preparar a musculatura do instrumentista para uma prática saudável, ergonômica. Também faz parte do objetivo da técnica instrumental da maneira como abordamos o desenvolvimento da fluência, a utilização de diferentes sonoridades e da apropriação da mecânica básica do instrumento. Caso o estudante tenha interesse em executar algum efeito sonoro mais específico, nós o orientamos como realizar o estudo autônomo, além de prestarmos assistência individualizada quando solicitado. Utilizamos, principalmente, o estudo de independência das mãos e dos dedos para a execução de escalas, arpejos e ligados . (APÊNDICE G) 74

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Apreciação: uma maneira de ampliar as referências musicais de todos os

envolvidos na Prática Instrumental - Violão, incluindo o professor, é dedicarmos um momento para ouvirmos juntos algumas gravações de violonistas consagrados, com especial enfoque aos violonistas brasileiros. O objetivo é que os estudantes e professor desenvolvam referências de sonoridade do instrumento, além de encontrarem elementos expressivos que ampliem suas possibilidades de expressão artística.

Reiteramos que os eixos acima apresentados estão em constante aprimoramento. Sempre ao final do semestre letivo os estudantes realizam uma avaliação da disciplina, na qual destacam os aspectos relevantes para seus aprendizados e também sugerem aprimoramentos para a condução do trabalho, além de outros aspectos que julgarem necessário na disciplina de prática de violão. Assim, é muito provável que nos semestres posteriores à publicação deste trabalho continuem a ocorrer mudanças nesta organização e seleção de conteúdos de acordo com o contexto e com as especificidades dos grupos com os quais trabalharmos.

Produzimos alguns vídeos complementares ao material impresso e aos encontros presenciais, que pode ser 74

acessado no link: https://youtu.be/hzFDGNa4MxM; https://youtu.be/nrRnvU0jq-o; https://youtu.be/ SM158FO2h9Q. Também utilizamos, no Violão II, o material do prof. Abel Carlevaro em sua Série Didactica para Guitarra, especialmente os Cadernos 1 (escalas), 2 (arpejos) e 4 (ligados).

Nos primeiros anos, por exemplo, a sessão Repertório Coletivo era direcionada à execução de arranjos apenas pela memorização das respectivas vozes. Para a leitura de música dedicávamos uma sessão de “Leitura de Partituras”, nas quais os estudantes eram avaliados separadamente. No entanto, esta sessão não se mostrou proveitosa, sendo incorporada às demais sessões. Assim, a leitura de partituras passou a estar diluída e, por ter uma utilização muito mais prática e cotidiana, tem se mostrado melhor desenvolvida.

Para avaliar se os conhecimentos a serem construídos em conformidade com o programa das disciplinas foram efetivamente alcançados, utilizamos diversos instrumentos tais como trabalhos individuais, trabalhos em grupo, testes (provas), apresentações públicas e produções musicais escritas e/ou gravadas. Tais avaliações ainda estão muito influenciadas por um habitus conservatorial que ainda predomina no tratamento de alguns conteúdos, assim como a avaliação da aprendizagem relacionada a eles. No entanto, cada vez mais, a partir da tomada de consciência sobre este habitus conservatorial e das reflexões sobre Educação e Didática, progressivamente nos aproximamos de outros instrumentos avaliativos mais coerentes com o Projeto de Educação Musical da UFC, de maneira a privilegiar a imersão em experiências significativas de aprendizagem em lugar da mera quantificação de conteúdos relatados em provas.

Em nossa pesquisa de campo, foi possível perceber que ainda há elementos avaliativos que privilegiam a quantificação na Prática Instrumental Violão II, como foi o caso da Avaliação Progressiva I. No entanto, com a Avaliação Progressiva II – prova em duplas, privilegiando a compartilha de saberes – e a Avaliação Progressiva III – auto-avaliação –, é possível apontar uma busca por alternativas de verificação e acompanhamento de aprendizagem mais condizentes com a proposta de Aprendizagem Musical Compartilhada. No caso da Prática Instrumental Violão IV, na Avaliação Progressiva I – produção/composição de arranjos para grupo de violões – e na Avaliação Progressiva II – interpretação dos arranjos para grupo de violões e violão solo – já se encontra mais claro este intuito de superar o

habitus conservatorial.