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2 O PROJETO DE EDUCAÇÃO MUSICAL DA UFC

2.5 Reformulação do Projeto Pedagógico de Fortaleza 2015

O projeto de reformulação do PPC do curso de Música de Fortaleza traz como princípios norteadores:

• Democratização do acesso ao conhecimento musical: o acesso à música e às artes em geral é um direito de todos e, aliado à ausência de uma Educação Musical consolidada na escola básica, o curso de música entende que o melhor é não adorar o teste de habilidade específica para ingresso nesta Licenciatura.

• A Criação Musical como base do processo formativo: entende a criação musical como uma necessidade formativa, no sentido de contribuir para o desenvolvimento da consciência crítica e autonomia.

• Compromisso para com o contexto local e para com a Formação de Professores para 26

a Educação Básica: para além da obrigatoriedade que a legislação já impõe , o projeto 27

expressa que compreender os desafios e possibilidades dos contextos da educação básica é um princípio fundamental, um compromisso para com a sociedade.

• Construção do Conhecimento Musical com base no trabalho coletivo enfatizando a

aprendizagem musical compartilhada: trazendo docência no currículo do curso de

Música atrelada à construção coletiva e compartilhada de saberes diversos, especialmente os saberes práticos de realização musical e demais saberes teóricos das diversas áreas abordadas pelas disciplinas do curso.

O texto original utiliza o termo “profissionais”, mas para não haver engano quanto à atuação e formação deste 26

profissional, substituímos por “professores”.

Resolução nº 2 de 01 de julho de 2015 do Conselho Nacional de Educação, Conselho Pleno, Ministério da 27

Educação. Define as Diretrizes Curriculares Nacionais para a formação inicial em nível superior (cursos de licenciatura, cursos de formação pedagógica para graduados e cursos de segunda licenciatura) e para a formação continuada.

• Interdisciplinaridade, Ensino, Pesquisa e Extensão: neste eixo há uma breve descrição de como a interdisciplinaridade está presente no curso, especialmente a partir de atividades de criação e execução de arranjos, que necessitam de mobilização de conhecimentos adquiridos ao longo do curso em várias disciplinas. Também destaca-se a possibilidades de cursar disciplinas de outros cursos (livres) e projeta a criação de disciplinas de caráter interdisciplinar na unidade acadêmica em que se situa, o Instituto de Cultura e Arte. Também dá-se relevo aos esforços de aproximação e interligação entre ensino na graduação, pesquisa em grupos e através de disciplinas conjuntas com a pós-graduação, e extensão universitária a partir de projetos que unam a docência e o desenvolvimento de projetos artístico-musicais.

Destacamos que o curso também apresentou um aumento de sua flexibilidade curricular, na qual o projeto de 2005 apresentava apenas 5% de flexibilização – ou seja, a possibilidade, a partir de disciplinas optativas, de desenhar a própria formação – para 38,4% da carga horária do curso.

Outra diferença em relação ao projeto anterior é a visibilidade das práticas percussivas, antes uma disciplina optativa, sendo, agora, uma disciplina obrigatória do primeiro semestre do curso.

Dada a força que essas práticas possuem na Música Brasileira e Nordestina, constituindo-se elemento primordial da identidade do fazer musical em nosso país, é inconcebível pensar uma proposta curricular voltada à nossa realidade onde não haja espaço para o contato com a música percussiva (PPC MÚSICA- FORTALEZA, 2015, p. 17).

Na reformulação, está ainda mais reforçado no projeto a intenção de formar o profissional da Educação:

Por se tratar de um curso de formação de professores, o Curso integra, em sua estrutura curricular, disciplinas de fundamentação e aprofundamento sobre as questões educacionais. Para o aluno do curso de licenciatura em Música da UFC tais matérias serão fundamentais para que este se reconheça e se instrumentalize como um trabalhador da educação e não como um músico que dá aulas. Nesse sentido é fundamental que o aluno se inteire dos debates atuais em torno das questões educacionais do nosso país, contextualizados em ambientes reais de ensino- aprendizagem (PPC MÚSICA- FORTALEZA, 2015, p. 18).

Percebemos o Projeto de Educação Musical da UFC expresso através da trajetória que relatamos até o momento, iniciada com o Coral da UFC e os diversos esforços para a instituição de um processo de educação musical na instituição – para citar, o Curso de Canto Coral, o Curso Superior de Música, o projeto de Multiplicação de Corais, os encontros Nordeste, o projeto Ópera Nordestina, o Curso de Extensão em Música e a criação dos cursos

de licenciatura. Toda essa preocupação com a formação dos professores de música e músicos da região têm influências profundas advindas da atuação integral, compartilhada e utópica de Izaíra Silvino.

O processo educativo, todo ele, é um processo dialético, no qual a tradição e a novidade devem fluir lado a lado. O novo deve ser o velho que, cansado de assim o ser, renovou-se. Assim, o novo é o velho que virou criança, ao invés de caducar. (…) E, neste contexto, cada indivíduo é um ser único e insubstituível. Para tanto, basta que todos aprendam, apreendam, compreendam, vivam como seres que sabem compartilhar, que fazem compartilha com o outro, seu igual. Estes são os movimentos centrais do processo educativo que eu sonho. Do processo educativo de um novo tempo. Um processo que nos fará aprendizes da compartilha, seres solidários. (SILVINO, 2007, p.37).

A seguir, apresentamos o conceito de Habitus Conservatorial, desenvolvido pelo professor e pesquisador Pereira (2013) em sua tese de doutorado. Tal conceito nos ajuda a compreender a dinâmica de disposições incorporadas por nós que fomos formados através de processos convencionais de ensino de música e que atuamos como agentes ativos no fortalecimento de posturas pedagógicas por vezes incongruentes com os princípios de educação musical que se baseiam na democratização da música, no estímulo às práticas coletivas e na inserção do ensino formal de música no contexto escolar.