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A produção não capitalista: alternativas para a emancipação do trabalhador.

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EDUCAÇÃO E POLITECNIA: UM CAMINHO RUMO À EMANCIPAÇÃO.

3.3 A produção não capitalista: alternativas para a emancipação do trabalhador.

Uma das formas mais efetivas de buscar a emancipação social, em especial, da classe trabalhadora, consiste em criar e implementar formas de produção que não estejam alicerçadas na relação injusta entre os proprietários dos meios de produção e os que vendem sua força de trabalho, os trabalhadores. Sobre esta luta pela mudança das condições estruturantes, que não é fácil de realizar, impõe-se uma luta consistente, tal como propõe Saviani (2003, p. 132): “Temos de, a partir das condições disponíveis, encontrar os caminhos para a superação dos limites do existente”.

Desta forma, uma das dimensões fundamentais da construção de uma sociedade e de uma educação emancipadoras dos seres humanos que dela participam consiste na criação, dentro de um conjunto de possibilidades concretas e dentro do contexto mesmo do sistema capitalista, de alternativas não capitalistas de produção da vida material e da construção de novas

relações sociais não baseadas na competição, no individualismo e na exploração de uma classe sobe outra.

A possibilidade de criar formas contra-hegemônicas de produção da vida material, além de oferecer alternativas de exercício do trabalho sem as condições estabelecidas pelo capitalismo, traz consigo a semente de uma relação mais solidária e cooperativa entre seus participantes e apresenta a possibilidade de mudanças reais no sistema educacional, uma vez que se criam alternativas viáveis fora do capitalismo para os trabalhadores.

De acordo com Santos (2005b, p. 24):

No inicio do século XXI, a tarefa de pensar e lutar por alternativas econômicas e sociais é particularmente urgente por duas razões relacionadas entre si. Em primeiro lugar, vivemos em uma época em que a idéia de que não há alternativas ao capitalismo conseguiu um nível de aceitação que provavelmente não tem precedentes na história do capitalismo mundial. [...] Em segundo lugar, a reinvenção de formas econômicas alternativas é urgente porque, em contraste com os séculos XIX e XX, no inicio do novo milênio a alternativa sistêmica ao capitalismo representada pelas economias socialistas centralizadas não é viável nem desejável.

De fato, após a queda do muro de Berlim (1989), que para muitos marcou a derrocada das economias socialistas centralizadas do leste europeu, a idéia de que o capitalismo havia “vencido” e de que não haveria a possibilidade de construção de um sistema produtivo alternativo passou a tomar corpo.

O renascimento da economia liberal, agora sob a denominação de neoliberalismo, baseada no individualismo, na meritocracia e na redução dos direitos dos trabalhadores, associado à derrocada das economias socialistas na segunda metade do século XX, impôs a condição aparentemente inquestionável de que o que vêm ocorrendo nada mais é que a afirmação do sistema capitalista como única e melhor forma de produção e distribuição de riquezas nesta sociedade.

Os fatos, no entanto, mostram que a exacerbação do individualismo e da competição, bem como a globalização da economia e a nova divisão internacional do trabalho, longe de serem formas igualitárias de produção e distribuição da riqueza têm, na verdade, elevado de forma drástica os níveis de

desemprego ou subemprego no interior dos países, em especial nos subdesenvolvidos, como o Brasil, e aumentado a distância nos níveis de desenvolvimento entre os países, externamente.

Ao mesmo tempo em que os países desenvolvidos do capitalismo mundial se reúnem anualmente em Davos (2006), Suíça, para discutir novas formas de manutenção das relações de poder vigentes, operadas comercialmente através da Organização Mundial do Comércio (OMC), os países periféricos do capitalismo como Brasil e Índia, entre tantos outros, vêm buscando formas alternativas de implementação de uma globalização contra- hegemônica, como as que foram discutidas nas diversas edições do Fórum Social Mundial (2001), em Porto Alegre.

A questão é buscar, dentro da realidade atual, formas possíveis de serem executadas e que, efetivamente apontem para uma mudança de rumos da globalização imposta pelos países desenvolvidos, sobre o que Santos (2005b, p. 24), afirma:

Uma vez que a globalização neoliberal foi eficazmente posta em causa por múltiplos movimentos e organizações, uma das tarefas urgentes consiste em formular alternativas econômicas concretas que sejam ao mesmo tempo emancipatórias e viáveis e que, por isso, dêem conteúdo especifico às propostas por uma globalização contra-hegemônica. [...] O que se pretende, então, é centrar a atenção simultaneamente na viabilidade e no potencial emancipatório das múltiplas alternativas que têm sido formuladas e praticadas um pouco por todo o mundo e que representam formas de organização econômica baseadas na igualdade, na solidariedade e na proteção do meio ambiente.

As alternativas de produção não capitalistas podem ser chamadas de emancipatórias, pois buscam romper com aquilo que o capitalismo traz de aviltante. Ao transformar trabalho em mercadoria e assim potencializar apenas uma classe social, a proprietária dos meios de produção, este sistema, ao mesmo tempo em que condena milhões de pessoas a viverem no “reino da necessidade”, esperando encontrar alguém que lhes compre a força de trabalho, permite a apropriação privada das riquezas produzidas coletivamente, o sistema capitalista potencializa a acumulação e a concentração da riqueza nas mãos de poucos.

Ainda que pareça contraditório falar em emancipação neste sistema que, em sua essência, sobrevive graças à ausência desta emancipação, não cabe por parte dos agentes sociais acomodarem-se ou desistirem, principalmente em tempos de renascimento do liberalismo econômico, visto que a tentativa de romper com o sistema capitalista ocorrerá num processo longo e contínuo. O próprio sistema capitalista, até chegar a hegemônico, foi gestado no seio da sociedade feudal por aproximadamente seiscentos anos.

A análise das contradições estruturais e conjunturais do capitalismo, portanto, permitirá vislumbrar alternativas mais solidárias e igualitárias de construção da vida humana. O capitalismo, como sustenta Santos (2005b, p. 28), traz consigo características negativas que são suficientes para que se pense em sua superação, tais como:

Em primeiro lugar, o capitalismo produz sistematicamente desigualdades de recursos e de poder [...]. As mesmas condições que tornam possível a acumulação geram desigualdades dramáticas entre classes sociais, no interior de cada país, e entre países, no sistema mundial. [...] Em segundo lugar, as relações de concorrência exigidas pelo mercado capitalista produzem formas de sociabilidade empobrecida, baseada no benefício pessoal em lugar de na solidariedade. [...] Em terceiro lugar, a exploração crescente dos recursos naturais em nível global põe em perigo as condições físicas devida na Terra.

Na tentativa de romper com essas características inerentes ao capitalismo, diversos movimentos sociais vêm propondo e implementando novas formas de lidar com o mundo e com a produção da vida material das pessoas, o que abre perspectivas promissoras de ruptura com o sistema vigente.

Movimentos ecológicos buscam alertar para a degradação da natureza, que em última instância é o substrato indispensável para a vida humana, buscam formas alternativas de produção sustentável. Os movimentos feministas, por sua vez, vêm alertando para a exploração do trabalho da mulher e sua inserção no mercado de trabalho como mão-de-obra barata. Outros movimentos buscam criar formas de remuneração que tornem o trabalhador menos dependente do trabalho assalariado, tais como as cooperativas, em que todos os participantes possuem os mesmos direitos e deveres frente ao grupo.

Além disso, novas formas de pensar e realizar o trabalho humano, dentro de preceitos de igualdade, solidariedade e respeito à natureza, também favorecem o estabelecimento de novas formas de interação social, não mais calcadas no egoísmo, na competição e no medo.

Porém, o fato de se buscar alternativas ao capitalismo hegemônico que não rompem frontalmente com sua estrutura ou que, muitas vezes são até compatíveis com uma economia de mercado não devem ser vistos como reformistas ou acomodativas, pois, segundo Santos (2005b, p. 31):

[...] ao encarar valores e formas de organização opostas aos do capitalismo, as alternativas econômicas geram dois efeitos de alto conteúdo emancipador. Em primeiro lugar, no nível individual implicam frequentemente mudanças fundamentais nas condições de vida dos seus atores, como mostram os estudos sobre a transformação da situação dos coletores e recicladores de lixo na Índia e na Colômbia [...]. Em segundo lugar, no nível social a difusão de experiências bem-sucedidas implica a ampliação dos campos sociais em que operam valores e formas de organização não capitalistas.

De qualquer forma, ao se estabelecerem outras formas de trabalho não baseadas nas relações de exploração e de alienação pode-se supor que tais ações abram um campo de ação com características emancipadoras, ao permitir que novas formas de sociabilidade se estabeleçam e, assim, o ser humano e o trabalhador, portanto, deixem de ser vistos como mercadoria privilegiada na multiplicação da mais-valia pelo capital.

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