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Do Estado do Bem-estar social ao neoliberalismo: a volta aos preceitos do liberalismo econômico.

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GLOBALIZAÇÃO, NEOLIBERALISMO E TEORIA DO CAPITAL HUMANO: AS MUDANÇAS NO MUNDO DO TRABALHO.

1.2 Do Estado do Bem-estar social ao neoliberalismo: a volta aos preceitos do liberalismo econômico.

A compreensão dos acontecimentos que levaram ao renascimento dos preceitos do liberalismo econômico começa com um recorte histórico feito no ano da Grande Depressão, nos Estados Unidos, com a quebra da bolsa de valores de Nova York, em 1929. Resultado da elevação nos níveis de produção de bens sem que a respectiva capacidade de demanda também fosse aumentada, a Depressão levou à quebra da Bolsa de Nova York, nos Estados Unidos. Mais do que explicar os motivos que levaram a esta depressão econômica, é importante entender o que aconteceu depois desse momento, no âmbito econômico e na concepção de Estado.

No século XVIII, com o surgimento do capitalismo como sistema de organização da produção, as idéias que prevaleceram no início foram as de que o sistema emergente tinha a capacidade de se auto-regular, atingindo um natural equilíbrio de forças entre os diversos atores envolvidos. No capitalismo denominado liberal, os movimentos do capital e do mercado se encarregariam de, naturalmente, estabelecer o equilíbrio de forças.

Até 1929 acreditava-se nesta capacidade do mercado de regular toda a relação econômica e social até que a Depressão Americana alertou para uma incapacidade do capitalismo de se auto-regular, por tratar-se de um sistema econômico intrinsecamente acumulador e concentrador e, em conseqüência, gerador de distorções sociais e crises cíclicas.

Em meio ao movimento de autopreservação, que o dinamizava, o capitalismo busca alternativas ao laissez-faire do liberalismo econômico que havia dado sinais de esgotamento, sem, no entanto, negar sua lógica de exploração e acumulação. Esta alternativa de sobrevivência do capitalismo foi fundamentada nas idéias de Keynes (1883-1946), que introduz o intervencionismo do Estado na economia, como teoria, tal como define Bianchetti (1999, p.24):

A teoria econômica desenvolvida por Keynes, que deu um novo sustento ao modelo do Estado Benfeitor a partir da chamada Grande Depressão, sustenta como um de seus pilares básicos a idéia de que o Estado deve intervir na economia de mercado com o fim de diminuir o desemprego involuntário e aumentar a produção [...]

Para a teoria keynesiana o Estado deve ter papel ativo na economia, intervindo em diversos setores com o objetivo de equilibrar as relações entre capitalistas e trabalhadores. Para manter uma máquina intervencionista, o Estado passa a se sustentar na cobrança de tributos que acabam abocanhando grandes parcelas dos rendimentos da sociedade, que são por ele reinvestidas em ações de amparo social e fomento da economia, realizando grandes compras de produtos e serviços. A idéia norteadora do Estado do Bem-estar social é a redistribuição das riquezas produzidas na economia de forma mais justa e igualitária.

Por volta de 1973, o modelo keynesiano começou a dar, na concepção dos capitalistas neoliberais, sinais de esgotamento. O grande golpe sofrido pelo Estado do Bem-estar social foi a crise recessiva sofrida pelas economias capitalistas desenvolvidas na década de 1970. Pela primeira vez na história se viu a combinação de baixas taxas de crescimento com altas taxas de inflação. Neste momento, os Estados orientados pela teoria de Keynes, em meio a uma nova crise do capitalismo, constituíam-se em prova “viva” de que o intervencionismo não era a solução ideal. Na verdade, não só não constituía a solução desejada como se apresentava como o fator de uma nova crise.

O modelo intervencionista de Keynes e sua extrema preocupação com o desemprego e o amparo social haviam criado uma classe trabalhadora forte demais, na visão dos capitalistas neoliberais. Organizada em sindicatos e

atuante dentro de um modelo de produção “taylorista-fordista”, esta classe trabalhadora havia conquistado poder perante o capital, que se refletia em conquistas salariais e ações do Estado cada vez mais voltadas para os gastos sociais.

Então, em meio ao descontentamento com o Estado do Bem-estar social, surgem as idéias neoliberais fortemente fundamentadas na teoria de Friedrich Hayek (1899-1992) e, posteriormente nas de Milton Friedman (1912- 2006), que passaram a defender a idéia de que todos os males por que passava o capitalismo, naquele momento, eram resultado da extrema rigidez e da burocracia gerada pelo modelo intervencionista vigente.

A concepção de Estado neoliberal, que sucede à concepção keynesiana e que a ele se opõe, é a chamada teoria do Estado mínimo, no que diz respeito às políticas sociais, e máximo, no que diz respeito à defesa dos movimentos do capital, inclusive quando este movimento significa a redução da proteção à classe trabalhadora. Estas são as marcas desta teoria.

O Estado Neoliberal, que busca reviver os preceitos do liberalismo econômico, teve sua “inauguração” na Inglaterra com a eleição da primeira- ministra Margareth Thatcher, em 1979. Nos Estados Unidos, o neoliberalismo foi defendido e implementado pelo governo de Ronald Reagan (1980). Outros países de economia capitalista, na Europa e, principalmente, na América do Sul, ao longo da década de 1990, também aderiram a este movimento, opção esta que refletiu na eleição de candidatos alinhados com as idéias neoliberais.

O neoliberalismo vê-se refletido, ainda, nas políticas de Estado que visam um forte controle monetário, na elevação das taxas de juros, na forte redução da tributação sobre o capital, e na redução dos controles sobre o movimento financeiro. Além disso, elas impõem uma nova condição de desemprego em massa, com conseqüente redução do poder da classe trabalhadora e dos sindicatos, em paralelo com a redução dos gastos sociais. Finalmente, elas defendem a privatização das empresas estatais, consideradas pelo Estado neoliberal como um resquício do modelo de Estado keynesiano.

A grande motivação neoliberal se constitui na retomada do crescimento econômico, supostamente impedido pelo Estado do Bem-estar social e pelas

suas políticas de amparo social, de altos gastos governamentais, os quais se refletem na crescente tributação. Seu principal objetivo, que é o de retomada do crescimento econômico, parece não ter sido alcançado da maneira esperada. A razão desse efeito inesperado, para Anderson (1994, p.16) se dá por que: “[...] a desregulamentação financeira, que foi um elemento tão importante do programa neoliberal, criou condições muito mais propícias para a inversão especulativa do que produtiva”.

Assim, o neoliberalismo se mostrou um modelo de capitalismo extremamente preocupado com o movimento do capital e pouco afeito à proteção da classe trabalhadora. Se o Estado do Bem-estar social era considerado injusto, pois desvinculava os gastos sociais do mérito individual, o neoliberalismo se defende, dizendo dar a cada um aquilo que lhe cabe.

No Brasil, a aplicação do receituário neoliberal ganhou sua plenitude nos dois mandatos do Presidente Fernando Henrique Cardoso (1995-2002). Em sua primeira campanha à presidência da República, em 1994, Cardoso apresentou seu programa de governo, ressaltando as metas prioritárias de seu governo, que eram: agricultura, educação, emprego, saúde e segurança. Além das metas do plano de governo, sua proposta se baseava em várias reformas, sendo que as principais foram: reforma administrativa, reforma fiscal, reforma da previdência e privatização das empresas estatais.

O primeiro mandato de Cardoso (1995-1998) deu forte prioridade às questões do capital, em detrimento dos interesses da classe trabalhadora. Os sindicatos perderam, gradativamente, sua importância, e a “guerra fiscal”, que possibilitava a cada unidade da federação conceder isenção de impostos, permitiu a flexibilidade do capital na escolha de onde alocar suas operações, na medida dos benefícios fiscais que pudessem obter.

Em seus dois mandatos, Cardoso (1995-1998) e (1999-2002) realizou o maior processo de privatização de empresas estatais nunca antes visto no Brasil. Várias organizações estatais foram vendidas à iniciativa privada. A quebra de monopólios, como o das telecomunicações, também abriu setores tipicamente estatais ao setor privado e à sua lógica exploradora.

Apesar de ter logrado a estabilidade da moeda nacional, o período de Cardoso (1995-2002) na presidência do Brasil, também apresentou outros indicadores que, se não foram ao encontro de suas propostas iniciais, foram bastante coerentes com os preceitos do neoliberalismo. Em 1980, o Brasil tinha 1,7% dos desempregados do mundo, saltando para 7% em 2000, de acordo com o Jornal Tribuna da Imprensa de 29/05/2002. Este dado demonstra a elevação das taxas de desemprego, típicas das economias neoliberais, que retiram do trabalhador o poder de negociação e visam à redução da dependência do capital privado da habilidade do trabalhador.

Além disso, apesar de ter reduzido a instabilidade da economia e obtido um pequeno crescimento, as políticas não foram (e nem poderiam ser) capazes de reduzir a concentração de renda e o conseqüente abismo entre os ricos e os pobres brasileiros, mantendo o Brasil entre os países com menores índices de desenvolvimento humano.

1.3 O renascimento da Teoria do Capital Humano: a promessa da

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