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Conceituando a emancipação

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EDUCAÇÃO E POLITECNIA: UM CAMINHO RUMO À EMANCIPAÇÃO.

3.1 Conceituando a emancipação

Antes que se inicie o desenvolvimento da idéia de uma educação emancipadora, faz-se importante conceituar o termo. Sabe-se, de antemão, que não existe um consenso sobre o conceito de emancipação, nem se é capaz de libertar o indivíduo e a sociedade a que pertence da alienação e da repressão, mas, ainda assim, é preciso buscar esclarecimento sobre o que ela é e sobre quais os seus limites.

Segundo Pizzi (2005, p. 4), o termo emancipação origina-se:

[...] do latin emancipare e significa declarar alguém como independente, ou seja, representa o processo histórico, ideológico, educativo e formativo de emancipar indivíduos, grupos sociais e países da tutela política, econômica, cultural ou ideológica. Sua meta é a autodeterminação do sujeito, ou seja, “a liberdade política, jurídica, econômica e social, garantindo seus direitos fundamentais, sua participação na vida política, a igualdade de oportunidades e o livre acesso à educação e ao trabalho”.

A emancipação, neste sentido é a libertação por parte do individuo e do grupo social da tutela de um ente maior, que determina de forma repressora seus caminhos e, consequentemente, seus pensamentos e atitudes. Ela pressupõe a liberdade do ser para tomar decisões e produzir a sua vida.

Na fase iluminista, do século XVIII, o conceito de emancipação esteve intimamente ligado à idéia de liberdade individual. O momento histórico do Iluminismo foi marcado pelo renascimento das artes e o surgimento das ciências, as quais se constituíam na única forma real de libertação do homem

do mundo metafísico e seu ingresso no mundo da “verdade”. A racionalidade era a ponte que conduzia da dependência à liberdade.

Neste sentido, um mundo de indivíduos livres e emancipados era condição indispensável para a confirmação do projeto iluminista e da ideologia liberal sustentada pela recém surgida burguesia. Com o aparecimento de uma nova organização social, na qual a burguesia exerceu papel fundamental, fazia- se necessário um novo ideário, de liberdade e igualdade, que rompesse definitivamente com o regime feudal e que justificasse as desigualdades entre os homens, agora resultantes de uma ação livre e individual. Sair da dependência e emancipar-se era conseqüência de uma vontade individual de libertar-se.

Portanto, o que se viu, no liberalismo burguês foi que o projeto da Revolução Francesa, de liberdade, igualdade e fraternidade, ficou restrito aos integrantes da nova classe dominante. Em outras palavras, só era livre e igual aquele que tivesse condições materiais de sê-lo. Para a maioria da população, destituída dos meios de vida, o exercício da cidadania de forma livre submetia- se à necessidade.

Na teoria marxista, a emancipação é um projeto coletivo, só possível de ser alcançado quando todos os seres humanos, coletivamente, puderem exercer seu direito de se desenvolver. Para Marx (1978 apud BOTTOMORE, 1997, p. 124) “Dentro da comunidade terá cada indivíduo os meios de cultivar seus dotes e possibilidades em todos os sentidos”.

A idéia de emancipação marxista é antes uma emancipação humana de forma geral e irrestrita, dado que prescinde completamente de quaisquer controles vindos de uma classe social para com as outras. Para concretizar a idéia de uma comunidade na qual cada um de seus integrantes tenha os meios de se desenvolver plenamente, em todas as suas dimensões, então este grupo social não pode estar sob o domínio deste ou daquele grupo.

Além disso, as relações injustas de produção e apropriação da riqueza, típicas do sistema capitalista, são incompatíveis com este projeto de emancipação, dado que são incompatíveis com a liberdade, a necessidade e a dependência. Assim como esclarece Feitoza (2007, p.2):

Para Marx, emancipação difere da perspectiva liberal, para a qual liberdade significa ausência de coerção e ação individual. No marxismo, ser livre é ser autodeterminado, com base no que também propuseram Spinoza, Rousseau, Kant e Hegel. Há, portanto, uma relação direta entre liberdade e emancipação, pois, para os marxistas, a emancipação se dá quando vão sendo eliminados os obstáculos à liberdade, pela associação entre homens e mulheres.

Não é preciso se deter muito no conceito marxista para compreender que, para ele, capitalismo e emancipação, ao contrário do projeto burguês de liberdade, são incompatíveis. A emancipação é resultado da superação do modo capitalista de produção, uma vez que este sistema se sustenta na exploração do trabalhador e na apropriação privada das riquezas produzidas coletivamente.

Mas, se a emancipação humana em geral só pode ser alcançada fora do sistema capitalista de produção, como falar neste conceito em um mundo cada vez mais envolvido por este modo de produção? A princípio, falar em superação do capitalismo como condição para a emancipação pode ser um projeto distante o suficiente da vida cotidiana das pessoas, a ponto de gerar o conformismo e a letargia.

O que se deve ter em mente é que, mesmo no contexto alienante do capitalismo, pode ser possível a construção de uma sociedade que busca a emancipação pela conscientização individual e coletiva sobre os meios de exploração e de alienação. Sobre isso, Adorno (1995) é enfático em dizer que a emancipação é um projeto que só pode ser alcançado se aqueles que estão comprometidos com a sua realização praticarem uma educação voltada para contradição e para a resistência.

Também, neste sentido, recentemente Santos (2005b) vem ressaltando que se faz necessário, em um momento de hegemonia capitalista, nunca antes vista na história da humanidade, um processo de resistência local, capaz de gerar a emancipação social pela criação de condições de produção e apropriação da riqueza mais democráticas e solidárias. Assim, para este autor, a emancipação é um processo que se constrói de dentro para fora do sistema capitalista.

Em suma, a questão da emancipação e, consequentemente, o conceito de emancipação suscita invariavelmente o debate e a profusão de idéias. De um lado o ideal burguês de individualismo e da propriedade privada sustenta a emancipação justamente na posse e usufruto dos meios de produção. Só é emancipado quem é proprietário e quem usa a razão. Na perspectiva marxista, a emancipação, pelo contrário, só é alcançada fora do capitalismo, coletivamente e não individualmente.

No meio destes dois projetos antagônicos vêm surgindo propostas de emancipação que, se acontecem em meio ao contexto do modo capitalista de produção, também são capazes de apontar caminhos reais e factíveis para a lenta construção da superação das relações de exploração, alimentado a esperança de uma real emancipação.

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