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Esclarecimento: um caminho para a emancipação

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EDUCAÇÃO E POLITECNIA: UM CAMINHO RUMO À EMANCIPAÇÃO.

3.2 Esclarecimento: um caminho para a emancipação

Tida como a forma encontrada pelo ser humano para transmitir às novas gerações os conceitos científicos e a cultura elaborados pelas gerações anteriores, a educação formal, na concepção de Adorno (1995, p. 141), pode constituir uma forma de “produção de uma consciência verdadeira”.

Desta forma, a educação não seria vista como a modelagem das pessoas, visando a sua adaptação a um contexto social. Ao contrário, a educação deve apresentar-se como fator de emancipação, na medida em que esclarece o individuo de suas capacidades e de sua condição e o eleva à condição de ser ativo na luta por seus direitos universais, dentre eles, o de se expressar livremente em uma democracia.

Todavia, as condições da produção capitalista e seu prevalecimento sobre outras formas de produção não capitalistas vêm impondo às pessoas uma realidade em que o trabalhador é separado de seu trabalho para, logo em seguida, ser obrigado a vender sua força produtiva a um capitalista que lhe nega o domínio integral do processo. Essa condição impõe ao ato educativo a

função de ferramenta de adaptação dos indivíduos a esta realidade, tida como insuperável.

Para Adorno (1903-1969), no entanto, a emancipação se dá por meio do esclarecimento do individuo, ou seja, a emancipação, inicialmente nesta concepção, parte do individual para o social, enquanto permite o cidadão em processo, romper com as estruturas que lhe impõem a alienação.

No desenvolvimento do seu trabalho, Adorno remete-se a Kant (1724- 1804), para trilhar os primeiros passos rumo ao estabelecimento de uma relação entre educação e emancipação através do esclarecimento, que o filósofo define assim:

Esclarecimento é a saída do homem de sua menoridade, da qual ele próprio é culpado. A menoridade é a incapacidade de fazer uso de seu entendimento sem a direção de outro indivíduo. O homem é o próprio culpado dessa menoridade se a causa dela não se encontra na falta de entendimento, mas na falta de decisão e coragem de servir-se de si mesmo sem a direção de outrem.

Sapere aude! [Ousar saber] Tem coragem de fazer uso de teu

próprio entendimento, tal é o lema do esclarecimento. (KANT, I.; In: FERNANDES, F., 1974).

Para Kant (1724-1804), esclarecer-se é sair de uma condição de dependência consciente e consentida de um grupo de pessoas para com outras. Para ele, esta dependência, muitas vezes cômoda, permite que um grupo reduzido de pessoas se mantenha no comando da massa.

A partir deste ponto é que Adorno desenvolve seu estudo sobre a emancipação e a relaciona a uma condição de esclarecimento do individuo, que deve ter papel ativo e corajoso na busca de sua liberdade de pensar e de agir, para que assim possa, de fato, tornar-se emancipado. Por isso, Adorno (1995, p. 180), estabelece uma relação estreita entre autonomia e emancipação quando afirma que: “[...] a emancipação precisa ser acompanhada de certa firmeza do eu [...]”.

O contexto social, político e econômico, dominado pelo sistema capitalista impõe severas condições que dificultam sobremaneira a adoção efetiva de ações para a construção de uma educação realmente emancipadora. Como se pode falar em emancipação quando os trabalhadores são submetidos

ao autoritarismo do capital dentro das empresas hierarquizadas? Como se pode falar em emancipação quando a grande parte da sociedade deve se submeter a condições aviltantes de trabalho em nome de sua mera sobrevivência? Certamente essas questões apresentam as contradições impostas a qualquer tentativa de implantação de uma educação para o esclarecimento e para a emancipação.

Preocupado com este contexto inibidor do crescimento pessoal e social do trabalhador, Adorno (1995, p. 181), chama a atenção para as dificuldades desse processo quando adverte:

Se não quisermos aplicar a palavra “emancipação” num sentido meramente retórico, ele próprio tão vazio como o discurso dos compromissos que as outras senhorias empunham frente à emancipação, então por certo é preciso começar a ver efetivamente as enormes dificuldades que se opõem à emancipação nesta organização do mundo.

Ao mesmo tempo em que emergem as dificuldades impostas pelo meio estruturante da vida, importa não se perder a compreensão de que, apesar das dificuldades impostas por este contexto, a busca pela emancipação através do esclarecimento não só é possível de ser realizada, como é viável. Na expessão de Adorno (1995, p. 183):

[...] a única concretização efetiva da emancipação consiste em que aquelas poucas pessoas interessadas nesta direção orientem toda a sua energia para que a educação seja uma educação para a contradição e para a resistência. Por exemplo, imaginaria que nos níveis mais adiantados do colégio, mas provavelmente também nas escolas em geral, houvesse visitas conjuntas a filmes comerciais, mostrando-se simplesmente aos alunos as falsidades aí presentes. [...]. Assim, tenta-se simplesmente começar despertando a consciência quanto a que os homens são enganados de modo permanente, pois hoje em dia o mecanismo da ausência de emancipação é o

mundus vult decipi em âmbito planetário, de que o mundo quer

ser enganado.

O movimento que se apresenta para a educação neste sentido pode agir ao mesmo tempo, em duas frentes. Aqui como instrumento de adaptação dos indivíduos ao contexto social por um lado e, por outro lado, fazer resistência às injustiças e às formas alienantes de trabalho e de convívio social. Disso

resultará um desequilíbrio entre esta dupla função da educação: adaptar e contradizer, ao mesmo tempo.

O contexto, por si só, impõe à sociedade condições de adaptação forçada. As pessoas devem se enquadrar dentro dos preceitos do capitalismo sob pena de não construírem para suas vidas nada mais que a miséria. Todo o ambiente parece levar as pessoas a um processo adaptativo que, em última instância, não é resultado de uma livre escolha.

Desta forma é que, definitivamente, a educação emancipadora deverá ser uma educação para a resistência e para a contradição, dado que a adaptação já ocorre em todos os outros âmbitos da vida humana. Esta resistência no ato educativo deve se dar não só pelo esclarecimento do individuo, mas também pelo compromisso com a transformação que levará os indivíduos e grupos a se organizarem para vencer as dificuldades.

3.3 A produção não capitalista: alternativas para a emancipação do

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