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Educação profissional na Primeira República (1889-1930): a revolução dentro da ordem.

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A TRAJETÓRIA DA EDUCAÇÃO PROFISSIONAL BRASILEIRA: EM BUSCA DA SUPERAÇÃO DA DUALIDADE.

2.2 Educação profissional na Primeira República (1889-1930): a revolução dentro da ordem.

Os primeiros anos da República no Brasil, iniciada em 1889, são marcados pelo entusiasmo com o futuro do país. Neste momento, desenvolviam-se as primeiras indústrias, a rede ferroviária e os portos. O regime escravagista havia dado lugar ao assalariado, abrindo caminho para o trabalho dentro das recém-criadas empresas e para o surgimento de uma nova classe média urbana.

Instaurada por força dos militares, a república no Brasil conta com o apoio dos setores da sociedade ligados à elite econômica, os quais estavam insatisfeitos com a política comercial conduzida pelo imperador. Mesmo não tendo nascido de movimentos sociais de cunho popular, a república brasileira logrou uma importante mudança em nossa sociedade, qual seja, a instauração da democracia. Na expressão de Ghiraldelli (2006, p. 32):

A República não foi uma conquista gerada por grandes movimentos do nosso povo, mas não se pode concluir daí que ela não tenha trazido ganhos democráticos. Com ela, desapareceu o poder moderador do Imperador, tivemos o fim do voto censitário, os títulos de nobreza terminaram e houve certa descentralização do poder.

Nesta fase da história política brasileira é promulgada uma nova Constituição (1891), que, apesar de não tratar de forma explícita o campo da educação, atribuía-lhe um caráter positivo: a laicidade do ensino em todos os seus níveis.

Questões nevrálgicas à realidade educacional brasileira, como a formação de profissionais da educação não ganharam muito espaço nesta fase. Por outro lado, a época foi marcante no que se refere à consolidação do ensino de segundo grau e superior privados, uma vez que o Estado não se comprometia com a educação de todos. Isso significava que, para dar continuidade aos estudos após o ensino básico, o estudante, ou sua família, deveriam, nesta fase, dispor de recursos financeiros para fazer frente às próprias despesas com o próprio ensino, a partir de então.

Assim, se por um lado as camadas populares da sociedade encerravam sua vida escolar após o básico, sem chances de prosseguir nos estudos, os estudantes mais abastados permaneciam estudando, o que, conseqüentemente, lhes garantia empregos mais vantajosos e conseqüentemente, maior destaque no quadro social.

A grande marca do início do período republicano foi a profusão de reformas, as quais visavam reestruturar o sistema educacional brasileiro, sem, contudo, realizar mudanças estruturais significativas que pudessem alterar a lógica excludente que prevalecia até então. Contrariamente, as reformas acabavam por realizar pequenas acomodações de interesses que, no final, mantinham intactas as relações duais e desiguais. Algumas destas reformas foram: A Reforma Benjamin Constant (1890), Epitácio Pessoa (1901), Rivadávia Corrêa (1911), Carlos Maximiliano (1915), João Luis Alves (1925).

A opção por um modelo de gestão baseado em reformas era, pois, conveniente num ambiente de intensa turbulência nas relações entre conservadores e progressistas. Havia, naquele momento, o anseio por parte dos progressistas de revolucionar a sociedade em seus vários campos e, por outro lado, o desejo dos conservadores de contemplar algumas mudanças que não causassem grandes alterações na estrutura social. Para os conservadores, as mudanças não deveriam ser estruturais. O que se desejava era, como afirma Vieira (2003, p.74),: “[...] uma revolução dentro da ordem, onde algo se muda para não mudar tudo”.

As reformas demonstraram, então, não possuir senso de organicidade, como observa Vieira (2003), referindo-se, cada uma delas, a assuntos específicos e esparsos. Dentre elas, destaca-se a Reforma Rivadávia Corrêa (1911), que desmantelou o sistema educacional brasileiro da época, dando liberdade aos estabelecimentos de ensino, de todos os níveis, de criar novos cursos, de estabelecer formas de avaliação e certificação, suprimindo o controle estatal e o caráter oficial do ensino.

No governo de Nilo Peçanha (1909-1910), o Decreto nº. 7.566 de 23 de setembro de 1909 cria as Escolas de Aprendizes e Artífices, a serem implantadas por conta do erário público em cada uma das dezoito capitais dos

estados brasileiros e em Campos, cidade interiorana do Rio de Janeiro. A função destas escolas era, de acordo com Kuenzer (2005, p. 27),:

[...] antes de pretender atender às demandas de um desenvolvimento industrial praticamente inexistente, obedeciam a uma finalidade moral de repressão: educar, pelo trabalho, os órfãos, pobres e desvalidos da sorte, retirando-os da rua. Assim, na primeira vez que aparece a formação profissional como política pública, ela se faz na perspectiva moralizadora da formação do caráter pelo trabalho.

Acerca da educação profissional realizada nessas escolas, Amaral e Oliveira (2007, p.169) esclarecem que elas concebiam o trabalho como “um elemento regenerador da personalidade e formador do caráter [...] em 1911 essas instituições passaram a ser denominadas de liceus e, no ano seguinte, se transformaram em Escolas Técnicas Industriais”, evoluindo posteriormente para as Escolas Técnicas Federais (1959), criadas pelo Decreto nº. 47.038 e, depois, para os CEFETS (1978), criados a partir da transformação das Escolas Técnicas Federais de Minas Gerais, Paraná e Rio de Janeiro em Centros Federais de Educação Tecnológica.

A Escola Normal de Artes e Ofícios, criada no Distrito Federal (1917), ministrava cursos nas áreas de eletricidade e mecânica, entre outros. Em 1920, pela Lei nº. 3.991, de 5 de janeiro, o Governo Federal criou a despesa geral da União, pela qual eram destinadas verbas ao Ministério da Agricultura, que era responsável, naquele momento, pela educação profissional.

A evolução do capitalismo brasileiro, que carrega consigo características típicas dos países periféricos, como a extrema dependência do capital externo e a posição subalterna na divisão mundial do trabalho, passa a exigir a criação de um ramo de educação profissional para alimentar a crescente indústria nacional de trabalhadores adestrados para o trabalho repetitivo e desqualificado das indústrias tayloristas/fordistas.

Os diversos movimentos políticos e sociais da década de 1920, por sua vez, viriam tornar claro o anseio de diversos setores da sociedade pela construção de uma sociedade mais justa e igualitária, para que a educação atuasse como um dos seus fundamentos.

Neste contexto, o Movimento da Escola Nova, defendido no Brasil por Fernando de Azevedo (1894-1974) e Anísio Teixeira (1900-1971), criou o Manifesto dos Pioneiros da Educação, que, em 1932 representaria o desejo de construção de uma nova sociedade e uma nova educação, fundamentada na democracia e na educação integral, universal, laica e gratuita, em todos os seus níveis.

Neste momento, a chegada ao poder de Getúlio Vargas, marcou a queda definitiva da oligarquia rural brasileira e, por seu caráter golpista e autoritário, fez esmorecer o entusiasmo da sociedade civil organizada pela instituição de uma nova política educacional que rompesse definitivamente com a dualidade estrutural da sociedade brasileira.

2.3 Educação profissional da era Vargas (1930-1945) ao Golpe Militar

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