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Educação profissional nos tempos da Abertura Política (1984): a possibilidade de superação da dualidade na educação através da

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A TRAJETÓRIA DA EDUCAÇÃO PROFISSIONAL BRASILEIRA: EM BUSCA DA SUPERAÇÃO DA DUALIDADE.

2.5 Educação profissional nos tempos da Abertura Política (1984): a possibilidade de superação da dualidade na educação através da

politecnia

O fim do Regime Militar e o período de abertura iniciado em 1982 alteraram também as políticas educacionais. Com a morte de Tancredo Neves, que não chegara a tomar posse, assume a presidência do Brasil o vice- presidente José Sarney, cuja trajetória política confunde-se com o próprio Regime Militar e com os interesses dos grupos dominantes na época da ditadura.

Mais uma vez se confirma no Brasil o que Vieira (2003, p.74) denomina “revolução dentro da ordem”. Esta ambigüidade acaba por transferir-se para as discussões no campo da educação, e aparece em políticas esparsas e sem contorno definido. Um fato importante desta fase é o Dia D da Educação, realizado em 1985, e que visava levantar a discussão sobre quais rumos deveria seguir a educação brasileira na pós-ditadura.

A Constituição de 1988, marco da fase de abertura política apresenta o mais extenso texto sobre a política para a educação no Brasil. Dentre outras conquistas, esta Carta traz a educação como direito público subjetivo, a oferta de ensino noturno regular e o ensino fundamental público e gratuito. Neste

mesmo momento, inicia-se a discussão para a aprovação de uma nova LDB, através do projeto de lei nº. 1.258/88.

O campo da educação foi um dos que, certamente, gerou grande interesse de diversos setores da sociedade. Pela primeira vez, em mais de vinte anos, docentes, estudantes e pesquisadores da área puderam tornar públicas as suas idéias e vê-las com a possibilidade concreta de serem adotadas.

A fase que se estendeu da criação da Assembléia Nacional Constituinte (1987) até a promulgação da nova Carta Magna do Brasil (1988) foi uma fase de intensas discussões e de esperança na mudança de rumo da educação brasileira como um todo, e da educação profissional, em particular.

Dentre os assuntos ligados ao campo da educação, foi neste momento histórico que a discussão sobre a educação politécnica teve mais espaço e mais possibilidades de adoção no sistema educacional brasileiro. O que se desejava era romper com a educação profissional fragmentada e baseada nos princípios produtivos tayloristas/fordistas, reforçados pelo regime militar, tal como afirma Saviani (2003, p. 140):

A proposta de profissionalização do ensino de segundo grau da lei 5692/71 (Brasil, 1971), de certa forma, tendia a realizar um inventário das diferentes modalidades de trabalho, das diferentes habilitações,como a lei chama, ou das diferentes especialidades. A escola de segundo grau teria a tarefa de formar profissionais nas diferentes especialidades requeridas pelo mercado de trabalho. E é por isso que, no apêndice do parecer 45/72, listavam-se mais de uma centena de habilitações, e ainda ficava em aberto a possibilidade de se incluírem outras que tinham escapado à argúcia ou à capacidade inventariante dos conselheiros. Os conselhos estaduais também poderiam acrescentar outras habilitações consideradas necessárias nas regiões sob sua jurisdição. Caso se entendesse a questão nesses termos e se a politecnia fosse o conjunto da totalidade das técnicas disponíveis, haveria uma relação sempre incompleta, sempre sujeita a acréscimo.

Na realidade, o que os setores mais progressistas ligados à educação queriam era a instituição de uma educação essencialmente politécnica, que tomasse o trabalho como princípio educativo desde os primeiros anos da vida escolar.

Porém, mais uma vez, o Brasil assistia ao embate entre as forças conservadoras, em busca da acomodação através da adoção de medidas superficiais, e as forças progressistas na luta por mudanças estruturais na sociedade. Sobre este momento histórico, Frigotto (2006, p. 39), assinala que:

O confronto no âmbito da concepção de práticas educativas na escola dá-se entre o tecnicismo, economicismo, fragmentação, dualismo e a perspectiva da escola pública, gratuita, laica, universal, unitária, omnilateral, politécnica ou tecnológica.

O que é curioso é verificar que, num dado momento dos debates da Assembléia Constituinte, os representantes do capital passaram a fazer coro com os representantes da classe trabalhadora em favor de uma educação politécnica. Uma análise superficial dos fatos pode levar à falsa idéia de que, finalmente, a sociedade como um todo desejava uma mesma coisa. Pelo contrário, o que o capital queria era uma educação polivalente, capaz de “produzir” um trabalhador preparado para as novas demandas do mundo do trabalho, determinadas pela inserção da microeletrônica na produção de mercadorias.

Em meio aos debates sobre a educação profissional, uma das propostas mais polêmicas foi a mudança na forma de administração e uma nova função para as instituições que compõem o denominado “Sistema S” (SENAI e SENAC, entre outras). Até então, essas instituições estavam sob a gestão do empresariado, sendo que a proposta era de uma gestão tripartite, entre empresas, Estado e trabalhadores.

Não foi preciso muito tempo para perceber que não fazia parte dos projetos da elite econômica brasileira ceder espaços significativos para a classe trabalhadora. As forças conservadoras conseguiram derrubar com a ampla coleta de assinaturas a seu favor, esta e outras propostas.

Gradualmente, o entusiasmo dos progressistas com a abertura política foi cedendo espaço para a decepção e o conformismo com mudanças que, se logravam algum êxito para os trabalhadores, representavam aquilo que Fiori (2002 apud FRIGOTTO, 2003, p. 41) denominou “modernização do arcaico”, em que algo se muda para que não mude a essência. Ainda sobre isso, argumenta Florestan Fernandes (1992 apud FRIGOTTO, 2003, p. 41):

A educação nunca foi algo fundamental no Brasil, e muitos esperavam que isso mudasse com a convocação da Assembléia Nacional Constituinte. Mas a Constituição promulgada em 1988, confirmando que a educação é tida como assunto menor, não alterou a situação.

Assim, ao final do processo de construção de uma nova Constituição para o país, o saldo que ficou foi mesmo a frustração dos progressistas com as derrotas obtidas, especialmente, na parte da educação profissional, como bem refletem as palavras de Florestan Fernandes, então deputado constituinte.

2.6 Educação profissional de Collor a Fernando Henrique Cardoso: de

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