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Possivelmente é na realidade onde o professor está inserido que vamos encontrar os elementos da cultura responsáveis, em parte, pela sua formação. Entendemos que é nos espaços de formação onde podem estar algumas possibilidades de compreendermos quem é o professor e o conhecimento que ele produz. Não há como saber de qual professor estamos falando se não tivermos como ponto de partida esse referencial de formação.

Pensando assim, optamos por pensar sua formação a partir de quatro espaços de socialização. No nosso entender, esses espaços não apenas socializam o indivíduo, mas são neles que encontramos as raízes das suas formas de pensar e agir. Neles, estão algumas explicações sobre o porquê de suas concepções, de suas crenças, de seus saberes, de suas práticas.

Delizoicov, Angotti e Pernambuco (2002) destacam a importância dos espaços de socialização. Entre aqueles que os autores indicam, três deles parecem ideais dentro do que queremos analisar. São eles: a Família, a Escola e o Trabalho. Optamos por privilegiar mais um: o Movimento Social no qual os professores pesquisados estão engajados: o MST. Entendemos que esses quatro espaços respondem, em grande parte, pela formação do professor e, portanto têm um significativo papel na vida de cada um deles.

Analisados pelo aspecto da socialização, notadamente, todos têm essa função socializadora, uma vez que, é por elas que o sujeito se integra a outros espaços. Mais do que socializar é neles que o indivíduo apreende valores, normas, comportamentos, modos de pensar e desenvolve formas de ação.

Para pensar a família do ponto de vista da formação, utilizamos a concepção adotada pelos já citados autores, Delizoicov, Angotti e Pernambuco (2002) quando a

denominam de unidade familiar o amplo grupo de relações que sustentam material e afetivamente o cotidiano (DELIZOICOV, ANGOTTI, PERNAMBUCO, 2002, p. 137). Para os autores existem quatro tipos de organização familiar, mas para esse trabalho tomamos como referência apenas dois deles: a família nuclear, formada por pais e filhos, e a família extensa formada por avós, tios, primos e outros parentes. Consideramos que esses dois tipos estão mais fortemente presentes nas falas dos professores pesquisados. O que se percebe é que ao se referirem à família são a esses dois tipos a quem os mesmos se referem. Considerar a família como um espaço de formação significa atribuir à mesma a possibilidade de desenvolver no sujeito determinadas condutas, pensamentos, valores, princípios etc. É na família que as primeiras regras sociais são estabelecidas, é nela que os valores morais, éticos e de conduta aparecem em primeiro lugar. A partir dela, o sujeito cria raízes comportamentais e valorativas que se estenderão a outros grupos, a outros espaços de convivências. É nela também em que ele passa grande parte de sua vida e em todo esse percurso pode absorver idéias que o seguirão em toda sua existência. Delizoicov, Angotti e Pernambuco (2002) afirmam que a família:

Por estar limitada a um número relativamente pequeno de pessoas, por sua permanência ao longo do tempo (...) pela intensidade e pela freqüência com que as trocas materiais e afetivas ocorrem, acaba gerando regras de convivência, valores, expectativas, conhecimentos e ate vocabulários que lhe são próprios, ao mesmo tempo que reproduz comportamentos, hábitos e regras da vida social mais ampla. (DELIZOICOV, ANGOTTI, PERNAMBUCO, 2002, p. 137)

Assim, a família não forma sozinha, mas o que ela defende resulta de um espaço maior que é a comunidade na qual ela está inserida. Trata-se de um movimento onde as idéias são produzidas e reproduzidas numa troca constante.

Da mesma forma que a família é socializadora e criadora de regras de conduta, a escola também assume essas características. Para boa parte dos sujeitos ela é um dos primeiros grupos, depois da família, a que ele tem acesso. Pelas suas características, ela se constitui em um outro espaço de sociabilidade bem como um local onde se aprendem valores, regras e modos de convivência social (DELIZOICOV, ANGOTTI e PERNAMBUCO, 2002, p. 141).

Na escola, o sujeito não aprende apenas o conteúdo formal, curricular, mas dela retira uma série de lições de vida originadas nas relações que estabelece com os colegas de turma, com os professores, na relação da família com essa instituição, na forma como é visto pela escola e como vê a escola.

Em todas essas situações há relações sociais que revelam aprendizagens e delas ele retira conclusões. Assim, a escola, enquanto espaço de relações sociais, é formadora de atitudes e de pensamento.

O trabalho é outro espaço de formação que aparece em nossa análise. Considerando que o trabalho, enquanto forma de produção material ocorre em um tempo e espaço determinados e sendo esse espaço um local onde os membros estabelecem relações sociais, onde regras de convivência são postas em prática, valores são estabelecidos, é notável que o trabalho seja considerado um espaço de socialização, portanto de formação. Os textos dos alunos demonstram esse caráter formador quando se referem ao trabalho como local de aprendizagem e que dele retiram lições.

Além desses três espaços apontados pelos autores, optamos por escolher mais um: o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra. Movimento social ao qual os alunos do curso estão vinculados. Percebendo-os enquanto membros do Movimento entendemos que, seria relevante observar como eles têm sido influenciados pelas idéias defendidas pelo

mesmo, pois o MST, enquanto espaço formador, tem em si o perfil de um sujeito pedagógico. O Movimento traz consigo uma dimensão educativa de formação que se respalda, entre outros princípios, na formação do sujeito identificado como Sem-Terra (CALDART, 2004).

Enxergando-os como membros de um movimento social e sendo certamente influenciados pela organização burocrática, cultural e educacional que este propõe consideramos relevante entendê-los a partir dessa perspectiva.

A forma como organizamos a apresentação e análise das falas dos professores/as segue à seguinte seqüência: começamos pelo MST por considerarmos que no momento da pesquisa esse era o principal espaço de formação em que eles estavam e mais ainda é desse contexto, o do Movimento, que eles certamente expressam suas opiniões sobre os demais espaços formadores, entre eles os que privilegiamos nessa pesquisa. Em seguida continuamos com a Família, depois a Escola e por último, o Trabalho. Optamos por essa ordem pensando na cronologia da vida do sujeito, quando, na maioria dos casos, seu percurso de vida obedece a essa ordem.

Gostaríamos de novamente estar chamando a atenção para essa relação entre suas falas e o local de onde eles hoje falam. Isso é importante ser observado porque não é possível omitir a presença do ideário formador do Movimento nas suas falas. Acreditamos que as opiniões que os mesmos escrevem sobre os espaços formadores trazem consigo uma concepção que já apresenta elementos adquiridos nas discussões, leituras e nas demais atividades educativas do MST bem como podemos entendê-las como resultado de sua participação, como alunos, no curso Pedagogia da Terra.