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O trabalho que ora finalizamos significa um marco na produção intelectual que preferimos enveredar e traz consigo dois momentos: primeiro porque ele é a consolidação de um diálogo que começamos a construir. Diálogo porque é aberto, não se fechou em torno de uma teoria nem se encerra nessas páginas. Trata-se de uma abordagem que prioriza a temática formação de professores pensada a partir de alguns estudiosos com os quais temos afinidade na forma como concebem o professor, a cultura, o sujeito e a noção de realidade. Segundo porque, como diálogo, pretende prosseguir discutindo não apenas a mesma temática, mas avançando sobre um outro momento da vida do professor que é sua prática. Conforme pensamos, se o professor é o resultado de uma formação integral não existe, portanto, uma prática docente isolada cuja formação seja omitida. As duas caminham concomitantes. O diálogo entre formação e prática não é apenas necessário, ele é constituinte do sujeito professor. Isolar um desses aspectos seria uma tentativa de fragmentar uma unidade indissociável: formação x ação. Assim, observar essa prática, a partir de uma concepção sobre formação, seria agora um dos passos que projetamos para um momento próximo.

Ser docente num curso de licenciatura como Pedagogia é estar consciente dos inúmeros desafios e obstáculos que, historicamente persistem principalmente no que se refere aos objetivos do Curso, o que e quem ele pretende formar. A discussão que aqui fazemos é também uma contribuição para a UERN no momento em que ela discute, no Fórum das Licenciaturas, alterações no currículo de Pedagogia.

A educação brasileira, nos últimos anos, representa um vasto campo de pesquisas. Os programas de pós-graduação têm apresentado um elevado número de teses e dissertações contemplando várias discussões sobre questões muito pertinentes. Ela (a educação) tem sido um lócus rico não apenas de problemas, mas de experiências bem sucedidas que são compartilhadas com profissionais e pesquisadores. Há muitos trabalhos divulgados, no entanto necessário se faz uma melhor socialização entre pesquisador e população pesquisada, o que resultaria numa maior interação, numa significativa troca de conhecimentos, na produção de novos conhecimentos e, portanto mais pertos da possibilidade de se resolver mais facilmente muitos problemas que estão aí expostos em busca de soluções.

A Formação de Professores é apenas uma temática, entre tantas outras, onde há muito ainda o que discutir e produzir.

Entender como se dá a formação do professor partindo de sua biografia foi, para nós, um desafio, considerando a imensa quantidade de informações que os textos pesquisados apresentavam. Selecionar o que nos interessava para esse trabalho significou termos a certeza daquilo que era essencial nas falas dos professores/as dentro do queríamos considerar como elemento de análise.

Os textos foram instrumentos significativos para esse trabalho, pois entre outros aspectos que poderiam ser destacados, revelaram de forma clara as circunstâncias sociais, econômicas, escolares e culturais sobre as quais viveram e/ou vivem esses professores/as. A partir de suas falas, pudemos perceber elementos marcantes na formação de cada um deles tendo como referência os espaços de socialização que priorizamos, quais sejam, a Família, a Escola, o Trabalho e o Movimento.

A partir de uma leitura cuidadosa, foi possível perceber os elementos que procurávamos encontrar quando da nossa intenção em entender como o sujeito, singular e único, mas ao mesmo tempo, envolvido em uma cultura, portanto um ser social pode ir se constituindo sujeito e assim ser capaz de compreender e transformar sua realidade.

Dialogar com professores do campo e mais especificamente sendo esses ligados ao MST, possibilitou-nos adentrar num espaço rico de informações nos permitindo perceber como as histórias de vida revelam traços marcantes das trajetórias individuais e coletivas ao mesmo tempo em que revelam como essas experiências podem influenciar fortemente na construção do pensamento, na crença em determinados valores, no comportamento, no desenvolvimento de condutas, ou seja, na formação geral do professor.

Pelas falas que selecionamos percebe-se que o sujeito tem uma individualidade muito presente. Percebemos que suas concepções de mundo são produzidas a partir de um referencial de experiências construído a partir de situações muito pessoais.

Os primeiros grupos de socialização como a Família e a Escola são portadoras de vivências extremamente significativas para o sujeito. Torna-se evidente que essas experiências podem repercutir mais tarde em uma série de outras ações que se desencadeiam a partir dessas primeiras experiências. Daí considerarmos que elas são formadoras do sujeito à medida que se tornam referencias para a formação de valores, concepções e servem de justificativas para atitudes e ações.

Por outro lado, o indivíduo não se constrói sozinho, mas sua formação se completa a partir de um conjunto de relações que se estabelecem entre ele e o mundo. Seu discurso não é produzido por si só, mas se constrói num âmbito coletivo, pela sua vivência num conjunto de instituições, nos espaços coletivos.

Nas falas analisadas fica evidente a presença desses espaços na formação dos professores/as considerando as concepções assumidas por eles a partir dessa influência.

Conforme observamos, os quatro espaços analisados são formadores.

A Família como inspiradora de valores morais, como solidariedade, união, respeito, etc.

A Escola traz para os professores/as, inúmeras lembranças, mas não só isso, ela representa determinados aspectos como, preconceito, discriminação, rigidez, mas ao mesmo tempo é sinônimo de aprendizagens de valores.

Com relação ao trabalho, devemos considerar que, enquanto espaço de formação, foi vivenciado ainda junto a Família, seja em casa ou na roça. Então há uma tendência em associar ao trabalho, mesmo iniciado em idade escolar, aspectos positivos como dignidade, vida, bom caráter, entre outros. Interessa-nos entender que, enquanto espaço de socialização ele foi formador de concepções.

Ao se referirem ao MST, os professores/as são enfáticos ao demonstrar a influência do Movimento na forma como eles pensam a realidade. Mais do que isso, fica claro que algumas de suas ações, principalmente aquelas que envolvem o coletivo, têm sido pensadas a partir dessa formação.

O que propomos como reflexão, a partir dessa análise, é a possibilidade de pensar a formação do professor a partir dessas duas dimensões: a individual e a coletiva. É impossível pensar o educador sem atentar para essa formação ampla que se dá nessa fusão do eu pessoal, das experiências individuais que se enraízam no sujeito com o pensamento coletivo que impõe regras, comportamentos e formas de pensar o mundo e a realidade.

O conceito de formação que nos propomos discutir nesse trabalho implica em perceber uma prática docente que não está desvinculada de um contexto social mais amplo.

O professor, na sala de aula, não se desvincula de suas raízes. As primeiras lições da Família, os ideais formados pela Escola, desde os primeiros anos, não desaparecem com o passar do tempo. O que pode ocorrer são modificações na forma como o sujeito vai percebendo as coisas, mas no seu pensamento, esses espaços não perdem sua característica mais marcante, qual seja a de servir de referência na construção de suas maneiras de pensar e agir sobre o mundo.

Assim, compreender a docência, a partir do conhecimento que é produzido pelo professor significa estar atento à origem deste.

A partir disso, é possível estabelecer uma relação entre essa formação e sua ação na sala de aula. Entrar nessa temática, necessário seria levantar algumas indagações como: - Que referenciais dessa formação são utilizados na ação docente?

- Como esses referenciais são sistematizados na produção do conhecimento?

- Como convivem, na prática docente, os elementos dessa formação e os objetivos da Escola, enquanto instituição?

As questões que nesse momento apresentamos decorrem das conclusões a que nesse trabalho é possível chegar. No entanto, muitas questões surgem, a partir dos pontos abordados nesse trabalho; algumas como as que colocamos acima deverão ser sistematizadas e servem como ponto de partida para novas pesquisas.

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