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Parte II Ponto de partida: enquadramento teórico-conceptual

3.4. A recensão crítica

Para este trabalho de pesquisa selecionou-se a recensão crítica como o género sobre o qual incidiria a construção do DD e da SE. A seleção deste género foi feita por diversas

razões que se prendem, fundamentalmente, com o contexto académico em que circula e com a natureza das habilidades de escrita que mobiliza. Neste contexto, sobretudo na área das letras, parece existir a prática comum de se exigir aos estudantes que apresentem, oralmente ou por escrito, a leitura (crítica) de um determinado texto. A apresentação destes textos, requeridos pelas diversas disciplinas, ou são obras literárias (romances, contos, textos dramáticos, poemas), ou obras científicas (livros e artigos), ambos considerados relevantes para a área de estudos em que as disciplinas de graduação ou pós-graduação se inserem (Dolz & Schneuwly, 2004; Pereira & Cardoso, 2013). No entanto, no caso moçambicano, são raros os estudantes universitários que conseguem fazer ou explicar o que é uma recensão, o que aponta para uma ausência de explicitação do conhecimento sobre este género e também para a inexistência de experiências na sua produção. Assim, o que parece estar a acontecer é a aplicação de uma espécie de “pedagogia do invisível” (Martin, 1992, p. 163) em que os professores, embora não se refiram explicitamente à elaboração de uma recensão crítica, não abordem as suas características, nem apresentem modelos que os estudantes possam seguir, pedem trabalhos de apresentação e apreciação das leituras realizadas. Para confirmar esta perceção, foi feito um breve inquérito, ainda que assistemático, a alguns colegas dos Departamentos de Línguas, Linguística e Literatura da Faculdade de Letras e Ciências Sociais da Universidade onde se realizou o estudo e, mais tarde, já no âmbito da realização deste estudo, foi feita a pergunta diretamente aos estudantes no grupo de discussão (cf. capítulo 4). Como prevíramos, a apresentação de obras de referência, a par do resumo, são trabalhos escritos e orais exigidos e produzidos pelos estudantes, embora, como referido, não pareça haver uma preparação dos estudantes para a realização de tais tarefas.

Assim, depois de selecionado o género em estudo e de se ter detetado a lacuna existente relativamente à explicitação do conhecimento exigido aos estudantes sobre a recensão crítica, procedeu-se à recolha das configurações do género, construindo-se para tal um “caderno de encargos (...), evidenciando, de algum modo, algumas regularidades do género” (Pereira & Cardoso, 2013, p. 44) para que, posteriormente, se pudesse proceder ao desenho da SE. Assim, das configurações da recensão e das regularidades detetadas na concretização deste género, destacam-se o contexto, o objetivo comunicativo e a sua organização discursiva.

Relativamente ao contexto, a recensão crítica circula em contextos formais, académicos, literários e científicos, mas também em contextos mais informais e comerciais, em versões simplificadas de apresentação de filmes, restaurantes e museus. Ou seja, quando o objetivo comunicativo é fazer-se a apresentação de determinado objeto, promovendo a sua fruição, concretiza-se um ato socialmente reconhecido, utilizado em múltiplos contextos, referente a múltiplos objetos. Neste sentido, parece ser necessário distinguir a recensão que circula em contextos mais comerciais e em jornais e revistas mais generalistas, da recensão que circula em contextos mais formais e académicos e em revistas e jornais mais especializados. A recensão mais comercial, apesar de mais simplificada, quer na sua estrutura, quer na sua linguagem, mantém a organização discursiva da recensão crítica mais formal, sobretudo ao nível dos movimentos retóricos, como se pode verificar nos seguintes exemplos.

i) Recensão crítica (comercial) – Movimentos retóricos

Estrutura Recensão crítica sobre um restaurante

Cabeçalho/ título

Há um novo take away de pizzas napolitanas

24/08/2015 - 17:50 | RESTAURANTES

texto : Adriano Guerreiro

O Verdachado abriu um pequeno espaço em Lisboa, tem mais de 15 variedades de pizza e preços económicos — a mais cara custa 7€.

Apresentação da pizzaria: local, especialidade e dono.

Perto da Praça da Alegria, em Lisboa, abriu no início de julho a Verdachado. O pequeno espaço na Rua Conceição da Glória faz pizzas tradicionais napolitanas para fora. Paolo Tramaglino é o responsável pela Verdachado. Em 2004, abriu uma pizzaria na Amadora, que já não existe. “Na altura tinha pensado abrir no centro de Lisboa, mas as rendas estavam muito caras", diz à NiT, com sotaque italiano. E continua: "O espaço na Amadora fechou há dois anos e como agora as rendas estão mais em conta, abri aqui”.

Descrição (caracterização): Cozinheiro

A ajudá-lo a fazer as pizzas tem o jovem Matteo Leombruni. O chef só chegou a Lisboa há seis meses, mas tem mais de dez anos de experiência a fazer pizzas em Itália. Os ingredientes são todos frescos e portugueses. Para estender a massa, que tem uma fermentação mínima de 24 horas, não é usado qualquer rolo ou máquina. “Em Nápoles, se trabalhas com rolo é porque não sabes

Comida: ingredientes, confeção, particularidades

Pratos e preços

fazer pizzas”, diz Matteo Leombruni. As pizzas são preparadas à mão na bancada enfarinhada — sim, e Matteo faz aquela brincadeira de a atirar ao ar. Depois é composta com o molho de tomate e os restantes ingredientes. Na Verdachado há 17 variedades de pizza, todas com o mesmo tamanho — uma espécie de individual um pouco maior —, ainda duas versões de calzone e por fim a pizza “faça ao seu gosto”, onde pode escolher até quatro ingredientes (7€). As pizzas começam nos 4,50€, uma Margherita (só com molho de tomate e mozzarella), e vão até os 6,50€, como a Capricciosa (com mozzarella, azeitonas, fiambre e cogumelos) ou a Verão (com presunto, rúcula e queijo grana).

Apreciação crítica e Recomendação (implícita): “cinco minutos tem a pizza pronta (...) espaço (...) pequeno .... sentar até dez pessoas (...)

entregas ao domicílio”

O forno a gás, que tem capacidade para cozer seis pizzas de uma vez, atinge os 400 graus, por isso, em pouco mais de cinco minutos tem a pizza pronta. Apesar do espaço na Verdachado ser pequeno, há três mesas e um balcão onde se podem sentar até dez pessoas. Pode comer por lá ou então levar para casa em caixas próprias. Durante o próximo mês de setembro é possível que façam entregas ao domicílio, mas só na zona.

Referência In http://www.nit.pt/article/08-24-2015-ha-um-novo-take-away- de-pizzas-napolitanas

Quadro 1 – Movimentos retóricos da recensão comercial ii) Recensão crítica (académica) – Movimentos retóricos

Estrutura Recensão crítica sobre um romance

Cabeçalho/ título

Recensão Crítica: Literatura Portuguesa/Romance

José́ Manuel Lopes, Fragmentos de uma Conspiração, Lisboa, Saída de Emergência, 2006.

Ana Cristina Tavares – Professor na Universidade Lusófona Apresentação

informações genéricas sobre género

(romance),

O título deste romance, assim como a capa, são bastante apelativos. Mas não pense o leitor mais incauto tratar-se de um romance, como muitos dos que por aí abundam — e até entrando nos topos de vendas — em que se busca o efeito fácil. Neste caso,

título, capa (apelativos), área temática (mistério e suspense), páginas (200), impressões (prendem o leitor).

trata-se de um livro de prosa ficcional, ultrapassando em pouco as 200 páginas, e que deixam o leitor preso desde o primeiro instante, devido ao ambiente de mistério e suspense sabiamente doseados e que se adensam e ramificam à medida que a leitura avança.

Descrição (caracterização) Personagem principal; localização espácio temporal do romance; resumo da história Relação da personagem principal com outras personagens e com o enredo da história Citação do livro

O leitor acompanha com prazer os pensamentos, deambulações e investigações de Adriano, cineasta pouco conhecido, preso numa conspiração que o mergulha no universo propagandístico nazi, em rituais satânicos de inspiração templária e numa clínica psiquiátrica em Sintra, de nome Lusitânia. (Re)visitamos com agrado a cidade de Lisboa dos anos 40 e 50 em que ficção e realidade documental se mesclam inextrincavelmente. Mas as deambulações geográficas levam-nos a evocar igualmente Sintra, Óbidos ou o Porto.

Mas como é que se inicia essa terrível conspiração? Muito simplesmente, quando num café da Baixa lisboeta é entregue a Adriano uma mala repleta de cenas/fragmentos cortados de um filme intitulado Lisboa, 1942. Movido pela curiosidade e pela paixão cinematográfica, Adriano entra no universo do filme, realizado em segredo com pacientes do foro psiquiátrico. No entanto, a paixão pela actriz principal, e o perigo que o vai cercando, como uma teia, mudarão o curso da sua vida.

A actriz Aida, repleta de ambiguidades ideológicas e identitárias, converte Adriano em seu confidente: «Adriano a custo conseguia acreditar na espontaneidade com que Aida lhe revelava tais confissões. Não sem um certo tom quase magoado na voz ainda lhe perguntou: “E ele?... Vindo aqui quase todos os meses, nunca lhe relembra essas sessões a dois?”...»

Sabe que está proibido de o fazer... Proibido de revelar sequer a alguém o que eu lhe acabei de contar... Há coisas, meu caro Adriano, que adquirem um valor que talvez nunca tivessem tido, por isso mesmo... pela aura de segredo que as envolve... É como quem olhasse para um tecido muito antigo e demasiadamente frágil, sabendo que ao tocar-lhe este se iria desfazer em pó... em nada, afinal...»

Apreciação crítica

Classificação do

Apesar de se ler tão bem como um romance policial, que possui mesmo uns laivos de thriller, trata-se de uma obra literária, feita por alguém que possui igualmente profundos conhecimentos

romance: subgénero (Policial, thriller), técnica literária e estilo (vocabulário descrição) e relação com outras obras do autor.

teóricos sobre a teoria literária e que os aplica com destreza, ou não fosse professor universitário e investigador no âmbito da Literatura Comparada. O estilo, apesar de fluente, é burilado, o vocabulário é escolhido criteriosamente e o autor domina com mestria a técnica da descrição. José Manuel Lopes já anteriormente (em 2001) publicara o seu primeiro romance intitulado Naufrágios e Neblinas: Forro Alto, 1927, onde se anuncia a sua predilecção em evocar ambientes de mistério e uma certa ambiguidade que caracteriza as personagens.

Recomendação adaptação cinematográfica

Faz-se aqui um convite à leitura atenta, mas sempre agradável, e por que não um convite - nesta nossa era de novas práticas estético-semióticas — à adaptação cinematográfica deste romance que tão rico é em afinidades entre as duas artes: a literária e a fílmica? Tal como nos disse Camilo Pessanha «Imagens que passais pela retina dos meus olhos, porque não vos fixais?»

Referência Babilónia, 4, pp. 267 - 268

http://revistas.ulusofona.pt/index.php/babilonia/article/viewFile/17 48/1403

Quadro 2 - Movimentos retóricos da recensão académica

O objetivo de ambas as recensões consiste em apresentar (recensear) e avaliar (criticar) um determinado objeto, para um público mais generalista, no caso da primeira recensão sobre um restaurante e, na segunda, sobre um romance, para um público específico, mais especializado.

A organização discursiva de ambos os textos compreende quatro aspetos fundamentais, presentes na maioria das recensões analisadas: organização discursiva em movimentos retóricos, construção de sequências textuais, descritiva e argumentativa, mecanismos textuais ou de textualização e presença de mecanismos enunciativos diferenciados - a voz do autor empírico, a voz do agente-produtor da recensão ou voz do expositor (Bronckart, 2003) e as vozes sociais (Adam, 2011; Casanova, 2008; Ceia, 2017; Magro & Nunes, 2014; Motta-Roth, 2001; Rodrigues, 2013).

Como foi referido, há aspetos comuns que ligam os dois tipos de recensão, mas também há outros que os distinguem. Assim, para além do tamanho das recensões apresentadas (350 e 548 palavras, respetivamente), ditado, na maior parte dos casos, por fatores exógenos ao texto e que se prendem com as exigências de formatação e espaço disponível no jornal ou revista onde circulam, pode-se detetar uma maior complexidade

discursiva e linguística na utilização dos mecanismos textuais ou de textualização (coesão e construção frásica) na recensão produzida para apresentar o romance, do que na recensão produzida para divulgar o restaurante. No entanto, este género apresenta configurações comuns, independentemente do tipo de recensão.

Neste sentido, e relativamente à sua organização discursiva, este género configura-se em quatro movimentos retóricos: (i) apresentação do objeto ou texto-fonte e do seu responsável ou autor; (ii) descrição do objeto ou do seu conteúdo; (iii) apreciação sobre o objeto ou texto em causa, discutindo e avaliando aspetos positivos e negativos e em confronto com outros objetos ou textos e trabalhos semelhantes desenvolvidos na área de especialidade e, por fim, (iv) importância e valor na área em que se insere e, tendo como base a sua relevância, a recomendação do seu usufruto ou da sua leitura ou estudo. No caso das sequências textuais detetadas, estas incluem uma sequência descritiva que abrange os dois primeiros movimentos retóricos (apresentação e descrição) e a sequência argumentativa que compreende os dois últimos movimentos retóricos (apreciação e recomendação) (Casanova, 2008; Ceia, 2017; Magro & Nunes, 2014; Rodrigues, 2013).

No que diz respeito aos mecanismos enunciativos, há diferentes vozes que podem surgir na recensão. Na perspetiva de Bronckart (2003, p. 326) as vozes “podem ser definidas como as entidades que assumem (ou às quais são atribuídas) a responsabilidade do que é enunciado”. No caso da recensão, embora o autor desta seja responsável “pela totalidade das operações que dão a esse texto o seu aspeto definitivo” (idem, p. 322), na verdade, na descrição não é ele o “responsável” pelas ideias referidas, mas apenas pela sua organização. Neste sentido, há que distinguir a voz do agente-produtor da recensão “expositor ou textualizador”(cf. exemplos 2 e 5), da voz do autor do texto a ser recenseado, a “voz que procede diretamente da pessoa que está na origem da produção textual” (idem, p. 327) ou voz da pessoa responsável pela produção ou comercialização do objeto (cf. exemplo 1). Para além da voz do recenseador, agente-produtor, responsável pela exposição e textualização, da voz do autor empírico, responsável pelas ideias expressas ou características do objeto, ainda se podem detetar vozes sociais (cf. exemplo 6). Estas vozes

“são as vozes procedentes de personagens, grupos ou instituições sociais que não intervêm como agentes no percurso temático de um segmento de texto, mas que são mencionados como instâncias externas de avaliação de alguns

Nas duas recensões analisadas, podemos detetar a presença da voz do responsável pelo objeto ou autor do texto e a voz do agente-produtor da recensão, mas também, no caso da recensão crítica mais académica, a presença de outras vozes, como é o caso da voz de uma personagem ou do narrador (exemplos 3 e 4) e ainda a voz do escritor Camilo Pessanha, convocado para sustentar a recomendação apresentada. Outros casos há em que a voz social é usada para conferir autoridade a alguns dos argumentos utilizados pelo agente-produtor da recensão.

Exemplos: Recensão crítica (comercial) - Vozes

1. “Em Nápoles, se trabalhas com rolo é porque não sabes fazer pizzas”, diz Matteo Leombruni” - voz do responsável pelo restaurante.

2. “O chef só chegou a Lisboa há seis meses, mas tem mais de dez anos de experiência a fazer pizzas em Itália.” - voz do agente-produtor da recensão Exemplos: Recensão crítica (académica) - Vozes

3. “Adriano a custo conseguia acreditar na espontaneidade com que Aida lhe revelava tais confissões. Não sem um certo tom quase magoado na voz ainda lhe perguntou: - Voz do narrador

4. “E ele?... Vindo aqui quase todos os meses, nunca lhe relembra essas sessões a dois?”...”- Voz da personagem.

5. “O estilo, apesar de fluente, é burilado, o vocabulário é escolhido criteriosamente e o autor domina com mestria a técnica da descrição.” – Voz do agente-produtor da recensão

6. «Imagens que passais pela retina dos meus olhos, porque não vos fixais?» - Voz social de Camilo Pessanha, convocada pelo agente-produtor da recensão.

Relativamente aos aspetos textuais ou de textualização, na recensão crítica sobre o restaurante, nota-se a utilização de um vocabulário mais simples e de um maior número de frases simples e coordenadas, enquanto que na recensão sobre o romance, o vocabulário é mais especializado (“laivos de thriller”, “aplica com destreza”, “fluente”, “burilado”, “mestria”, “predileção”) e a construção das frases é mais complexa (“Apesar de .... trata-

Recensão crítica (comercial) - frases

“O forno a gás, que tem capacidade para cozer seis pizzas de uma vez, atinge os 400 graus, por isso, em pouco mais de cinco minutos tem a pizza pronta. Apesar do espaço na Verdachado ser pequeno, há três mesas e um balcão onde se podem sentar até dez pessoas. Pode comer por lá ou então levar para casa em caixas próprias. Durante o próximo mês de setembro é possível que façam entregas ao domicílio, mas só na zona..” (Texto sobre Restaurante)

Recensão crítica (académica) - frases

“Apesar de se ler tão bem como um romance policial, que possui mesmo uns laivos de thriller, trata-se de uma obra literária, feita por alguém que possui igualmente profundos conhecimentos teóricos sobre a teoria literária e que os aplica com destreza, ou não fosse professor universitário e investigador no âmbito da Literatura Comparada. O estilo, apesar de fluente, é burilado, o vocabulário é escolhido criteriosamente e o autor domina com mestria a técnica da descrição. José Manuel Lopes já anteriormente (em 2001) publicara o seu primeiro romance intitulado Naufrágios e Neblinas: Forro Alto, 1927, onde se anuncia a sua predilecção em evocar ambientes de mistério e uma certa ambiguidade que caracteriza as personagens...” (Texto

sobre Romance)

A maior simplicidade da recensão mais comercial, e a presença da mesma estrutura retórica em ambas as recensões, permite trabalhar a recensão e as suas configurações discursivas e textuais de forma faseada, o que poderá permitir uma apreensão mais segura das configurações deste género textual.

Depois de analisadas as configurações do género em apreço, poder-se-á definir com maior rigor quais se poderão constituir como as dimensões ensináveis da recensão. Ou seja, tendo em atenção as configurações percetíveis da concretização do género recensão (cf. anexo 3) consideraram-se como passíveis de serem ensinadas, numa primeira SE, as seguintes dimensões: organização discursiva em movimentos retóricos; mecanismos

textuais de coesão e complexidade frásica e mecanismos enunciativos, através da presença de diferentes vozes.

Assim, e tendo em conta a perspetiva adotada (Dolz & Schneuwly, 2004), a SE, construída especificamente para a aquisição e produção da recensão crítica, contém as seguintes etapas: i) apresentação da situação; (ii) produção inicial de apresentação de um texto ou objeto; iii) contacto e desconstrução de modelos de recensão para apreensão das configurações do género; (iv) modelização do género em estudo; v) produção de recensões em trabalho colaborativo; (vi) desafio, concretizado na construção individual de uma recensão e (vii) produção final (Motta-Roth, 2001). Ou seja, partindo do esquema modelo já apresentado (Dolz & Schneuwly, 2004) para a SE (cf. cap. 3.1), a SE para a recensão crítica que este estudo propõe é o que se apresenta no Esquema 2:

Esquema 2 – Modelo de SE para a recensão crítica

De acordo com o estudo prévio feito sobre a recensão crítica, e tendo em conta a complexidade que lhe está subjacente em contexto académico, quer no que diz respeito aos textos fonte objeto da recensão (obras literárias ou artigos científicos), quer no que diz respeito à crítica (apreciação) que deverá ser produzida, entendemos que depois do momento da modelização e antes da produção individual - e convocando Vygotsky (1978a) -, a metodologia de ensino deverá incluir um momento para a produção colaborativa. Ou seja, o estudante, em interação com o professor e com os seus pares, poderá concretizar o conhecimento e experimentar habilidades linguísticas e discursivas necessárias para a produção do género em estudo, tendo em conta a finalidade a que se destina. Só depois desta fase, crucial na construção do conhecimento, como vimos, o estudante passará ao desafio individual, primeiro de experimentação para recolha do retorno corretivo escrito por parte do professor, e depois à fase da produção final do género em causa.

Apresentação da situação

Produção inicial

Contacto e

Desconstrução Modelização do género colaborativa Produção

Produção final Desafio

Embora a avaliação não seja objeto deste estudo, se tivermos em conta o contexto universitário e a necessidade de avaliação sumativa dos estudantes, a fase de produção final poderá ser também a fase em que o trabalho produzido poderá ser avaliado. Parece ser importante que esta avaliação, a ocorrer, tenha em consideração o processo desenvolvido, as produções intermédias realizadas e o produto final obtido. Estes elementos permitem não só ao professor fazer uma avaliação do produto e do processo, mas também permitem que o aluno faça uma reflexão sobre a sua aprendizagem.

Parte III - Caminho a percorrer: