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Parte IV A experiência do caminho percorrido: os companheiros de viagem

7.3. Perceções da aprendizagem realizada

Depois de analisados os resultados, quer relativamente à presença das categorias selecionadas, quer relativamente à forma como essas categorias se concretizaram em alguns textos, analisemos agora as perceções (cf. cap. 2) dos estudantes, reveladas no GD, relativamente à aprendizagem da recensão.

Ao analisar o conteúdo desta discussão, podem-se retirar ilações sobre a forma como os estudantes percecionaram a SE e a aprendizagem da recensão e como se sentiram quando esta experiência de ensino e aprendizagem da recensão foi desenvolvida. Como foi

dito anteriormente, os seis estudantes que participaram neste grupo de discussão, foram reagindo aos estímulos do investigador e dizendo o que pensavam sobre o tema em análise. Relativamente à recensão crítica, os estudantes referiram que nunca tinham ouvido falar deste género na escola secundária ou na universidade e que nunca tinham feito a apresentação de nenhuma obra ou texto. A a aprendizagem deste género textual foi uma experiência completamente nova.

Investigador - E a recensão, alguma vez tinham trabalhado? Todos – Não

MJMPtg316GD - Nem nunca ouvi falar

Investigador - Alguma vez tinham feito a apresentação de alguma obra, de algum livro, de alguma coisa, mesmo que o professor não tivesse falado de recensão? Havia alguma atividade na escola secundária que vocês pudessem dizer que tinham feito uma coisa parecida?

Todos – Não.

Investigador – Então, de recensão nunca tinham ouvido falar ? Todos – Não.

Investigador - Nem nunca tinham ouvido falar de apresentar um texto? Todos – Não.

JJOPtg316GD– Foi uma experiência nova. Investigador - Completamente nova? Todos – Sim.

Neste grupo de discussão foi possível ainda perceber a avaliação que os estudantes fizeram do DD sobre a recensão. Quando o investigador perguntou se haviam sentido utilidade na aprendizagem da recensão, os estudantes foram unânimes em concordar que havia sido uma experiência produtiva não só para o trabalho desenvolvido na disciplina de Português, mas também para outras disciplinas.

Agora quando o professor manda resumir um texto ou falar de qualquer texto, eu primeiro vou à procura do autor, depois vou à procura de informações sobre o autor, ver quais são as obras que o autor escreveu para poder relacionar com o texto sobre que vou escrever. E acho que a recensão crítica foi muito útil. (CPCPtg316GD)

Noutra cadeira de literatura portuguesa, o professor pediu que produzíssemos recensões críticas. Então foi fácil produzir, porque já sabíamos como é que devíamos fazer a recensão crítica. Então foi muito fácil. Nós já sabíamos que

Esta diferença foi também sentida em relação aos colegas que não tinham tido a disciplina de Português e não tinham aprendido a recensão:

Outros foram pegar recensões da internet. Eles foram tirar o resumo das próprias obras e entregaram ao professor como se fosse uma recensão. Eles tinham muita dificuldade em fazer uma recensão. Não sabiam o que era isso.

(NASPtg316GD)

Neste grupo de discussão, o investigador tentou ainda perceber se tinha havido algumas alterações relativamente às perceções que estes estudantes tinham relativamente à escrita. Recorde-se, a este propósito, que no inquérito aplicado a esta população (cf. capítulo 6) se constatou a inexistência de experiências de escrita, em situação de sala de aula. Estes estudantes não escreveram, nem foram confrontados com quaisquer modelos de escrita que pudessem apreender e reproduzir, para além dos manuais, aos quais nem todos conseguiram ter acesso. Assim, face à questão colocada pelo investigador sobre se depois da aprendizagem do DD sentiam alguma diferença face à forma como encaravam a escrita, os estudantes reconheceram que haviam perdido o medo da escrita: “Para mim particularmente, acho que agora já é mais fácil escrever. Já não temos aquele sentimento de medo” (DKLPtg316GD).

Nesta sequência da conversa, os estudantes reconheceram ainda a progressão feita na sua escrita:

Eu evoluí muito. Eu tinha sérios problemas de escrita, sérios problemas de parafrasear. Na verdade eu não sabia o que era parafrasear. De lá para cá evoluí muito. Eu me considero outra estudante. Evoluí pela positiva mesmo...

(CPCPtg316GD)

Para mim também foi muito importante, não só para a aula de Português mas também para as outras cadeiras, porque dantes nós só liamos (JJOPtg316GD)

Nesta progressão, os estudantes destacam aspetos particulares da aprendizagem desenvolvida, como por exemplo, terem aprendido a organizar o pensamento ou a fazer o resumo, parafraseando:

(...) agora para falar de um assunto, ou abordar algum tema eu tenho que primeiro partir do princípio, ter uma certa organização. Ou seja, eu tenho que ter coerência das ideias, ligadas, tenho que primeiro falar da caracterização de algo para depois tocar já no assunto e também fazer uma reflexão, fazer um enquadramento teórico, sobre aquele mesmo tema...e é por aí.

(NASPtg316GD)

Eu evoluí muito mais na escrita, no uso da linguagem. Porque eu não sabia escrever e organizar as ideias. Sempre fui uma pessoa de fazer salada... (risos)

(SFNPtg316GD)

Eu acho que evoluí muito, porque na verdade eu não sabia o que era resumo. Sabia, mas não do jeito que a professora nos ensinou. Agora, eu consigo resumir, não só para a disciplina de português, mas também para as outras disciplinas, consigo resumir, parafrasear sem problemas, sem stress. É como se fosse, como dizem por aí, festa...(risos) (DKLPtg616GD)

Sim, muita diferença. (...) Escrevemos muito, lemos muito, Falámos muito... Então, acho que foi uma cadeira que permitiu que todas as competências que o aluno precisa desenvolver nesse curso, conseguimos desenvolver. E por isso acho que evoluímos muito, sim...de lá para cá...(NASPtg316GD)

Nesta avaliação da aprendizagem da escrita, e especificamente sobre a escrita da recensão, a maioria dos estudantes que participou neste grupo de discussão considerou a aprendizagem da recensão importante e modificadora não só das suas perceções face à escrita, como vimos, mas também da sua forma de escrever e de aprender. Dois anos depois da aplicação deste DD, estes estudantes recordam ainda aprendizagens mais específicas ou mais gerais, mas também competências essenciais no seu desempenho académico. Compreendem as estratégias aplicadas e valorizam os resultados obtidos. Nas palavras da estudante que a seguir se transcreve, a recensão foi um “prato cheio, com muitos ingredientes”:

(...) a recensão crítica permite trabalhar vários aspetos dentro da sala de aula. Primeiro porque o aluno precisa investigar sobre o autor, sobre o tema, sobre várias coisas relacionadas com o texto ou com o tema da aula, permitindo que ele tenha novos horizontes, que tenha uma cabeça mais ampla, de interagir com os textos, conhecer mais pessoas. Segundo, trabalha muito a escrita na parte de resumir o texto, condensar as ideias, ligar e, por fim, o aluno já tem aquela oportunidade de exprimir aquilo que ele sente, qual é o seu parecer, a sua ideia em relação ao texto. Então, eu acho que é um “prato cheio, com muitos ingredientes” que nos permite fazer muitas coisas ao mesmo tempo.

Parte V - Ponto de chegada e