• Nenhum resultado encontrado

BANHO TURCO DE JOÃO MOUTINHO HOMEM INVISÍVEL DA ARMADA LUSA João Moutinho: Uma noite de sonho!”

3.1. Linhas mestres da investigação

3.1.2. A recolha do corpus

Tal como já foi referido anteriormente, o presente estudo pretende apresentar uma análise das imagens mescladas presentes em jornais desportivos alemães, enveredando concomitantemente por uma perspectiva sincrónica e diacrónica. Assim sendo, consultamos as edições on-line de um conjunto de jornais desportivos considerados mais proeminentes, assim como alguns sítios dedicados ao comentário desportivo, a saber:

www.kicker.de/www.bild.de/ www.sportbild.de/ www.focus.de/ www.spiegel.de/ www.sportal.de

Graças aos actuais meios informáticos e acesso à internet, foi possível consultar a base de dados e de arquivo destes jornais e sítios, facto que tornou possível realizar esta investigação. Por razões metodológicas, optámos por limitar a nossa investigação aos maiores acontecimentos futebolísticos internacionais dos últimos anos, nomeadamente, os campeonatos europeus de 2004 e 2008 (de 12 de Junho a 4 de Julho de 2004 e de 7 de Junho a 29 de Junho de 2008), e os campeonatos mundiais de 2006 e 2010 (de 9 de Junho a 9 de Julho de 2008 e de 11 de Junho a 11 de Julho de 2010). Incluímos também os dias de preparação para os eventos desportivos, assim como os dias subsequentes aos mesmos. Aquando do campeonato mundial de 2010 foi igualmente possível recolher ocorrências da revista desportiva bissemanal Kicker-Sportheft na sua edição em suporte de papel. Foi então possível identificar um conjunto representativo de imagens mescladas num total de 995 ocorrências, sendo que a análise das ocorrências foi dividida por domínio-fonte e subdividida por competição.

Decidimos não incluir as representações metafóricas que já são consideradas convencionalizadas111 ou lexicalizadas, fazendo parte integrante da denominada linguagem futebolística (Fussballbegriffe). Esta prende-se, essencialmente, com as regras do jogo, a função ou posição dos jogadores e dos restantes intervenientes no jogo, o tipo de jogadas e o espaço físico do encontro desportivo, ou seja, as diferentes áreas do campo de futebol. Aliás, as questões em torno da cunhagem dos termos futebolísticos alemães foram amplamente

111

149 investigados por Burkhardt (2008), com especial destaque para as importações directas da língua inglesa112.

Registe-se, porém, que com a crescente popularidade do futebol na Alemanha, já nos finais do século XIX e a criação da Federação Alemã de Futebol (DFB- Deutscher Fussball Bund) em 1900, a necessidade de adaptação da língua a uma nova realidade desportiva tornava-se cada vez mais imperativa. Mais ainda, destaca-se que a Alemanha estava a viver um período de exaltação nacionalista, uma tendência que advogava um posicionamento purista que levou Konrad Koch113 à criação de um conjunto de termos futebolísticos alemães, traduzidos do inglês, pelo que a “Verdeutschungsliste” (Burkhardt, 2008:72) obteve aprovação generalizada. Contudo, alguns termos ingleses revelaram-se dominantes e continuam a fazer parte da actual “Fussballsprache” ou “Fachtermini” alemã:

“centre-forward = Mittelstürmer kick-off = Anstoß

corner = Ecke linesmen = Linienrichter

corner-kick = Eckball off side = Abseits

drawn = unentschieden out! = aus

forwards = Stürmer to pass = abgeben, zuspielen

free-kick = Freistoß penalty-kick = Strafstoß

goal = Tor, Mal referee = Schiedsrichter

goal-line = Mallinie (Torlinie) shoot = Schuß (Stoß) aufs Tor

goal-post = Torpfosten, Malstange to shoot = schießen”

half time = Halbzeit

(...) In manchen Fällen erwiesen sich die englischen Originale doch als stärker als die vorgeschlagene Verdeutschung, so im Falle von ”Spielwart” für engl. captain, ”treiben” für engl. to dribble, ”anständig, ehrlich” für engl. fair, ”ungehörig, unehrlich” für engl. foul und ”fassen, halten” für engl. to tackle.“ (Burkhardt, 2008:72-73)

Note-se que Schlobinski atribui o fracasso da aceitação de algumas traduções sugeridas por Koch à ausência de impacto fonético apelativo e adequado à intensidade e paixão do jogo. O mesmo afirma:

112

“O desporto moderno deve a sua importância aos jogos desportivos, com realce para o rugby e o futebol. Mesmo que existam raízes longínquas, a forma, regras, delimitação e codificação é obra da Inglaterra do século XIX. Dá-se aí a transformação dos jogos em desportos” (Serôdio-Fernandes, 1999, p. 24). Sendo a Inglaterra o berço do futebol moderno, a terminologia futebolística alemã adoptou grande parte do seu vocabulário directamente da língua inglesa, sem qualquer tradução: “(...) dass in der Anfangszeit des Fußballs in Deutschland auf den Fußballplätzen selbst und in der frühen Berichterstattung die englische Begrifflichkeit dominierte. Valk (1935: 567f.) verweist auf einen Spielbericht der ”Vossischen Zeitung” vom 13. September 1892, der ”von englischen Ausdrücken

wie goal, captain, half time, goalkeeper” nur so ”gewimmelt” habe.“ (Burkhard, 2008:72) 113

150

“(…) so ist bei ihrer Auswahl nicht allein darauf Rücksicht zu nehmen, dass sie möglichst treffend sind; nein, sie dürfen auch nicht farblos und gekünstelt sein, sondern müssen ihr voll und kräftig ins Ohr fallen. Im Kampfe gegen das hässliche Fremdwort ,Goal‘, noch hässlicher ,Johl‘ gesprochen, hat sich unser matter Ausdruck ,Mal‘ als zu schwach erwiesen; also ersetzen wir ihn überall, wo es angeht, durch ,Tor‘.“ (Koch, 1903:170, in Schlobinski 2010:9)

Outra possível razão do fracasso da germanização da terminologia futebolística atribui- se à imprecisão terminológica dos termos alemães correspondentes. Assim, no excerto textual abaixo

“Es war kein grobes Foul, das ihn zum Ausscheiden zwang, wie überhaupt die beiden ersten Partien wohltuend fair abliefen.“ (www.kicker.de 09.06.2008)

tanto o termo inglês Foul como fair veiculam um conteúdo semântico preciso, i.e. Foul114: uma acção contra a integridade física do adversário ou desrespeito pelas regras do jogo e fair115: uma atitude que respeita a integridade física do adversário e as regras do jogo. Se substituíssemos, de acordo com a sugestão de Koch, Foul por Ungehörigkeit ou fair por anständig

Es war keine grobe Ungehörigkeit, das ihn zum Ausscheiden zwang, wie überhaupt die beiden ersten Partien wohltuend anständig abliefen.

o significado das expressões não seria idêntico, pois tanto Ungehörigkeit como anständig emergem do domínio ético e moral:

“un|ge|hö|rig <Adj.>: nicht den Regeln des Anstands, der guten Sitte entsprechend; die geltenden Umgangsformen verletzend: ein -es Benehmen; etw. in -em Ton sagen; eine -e (freche, vorlaute) Antwort geben; sich u. aufführen;

Un|ge|hö|rig|keit, die; -, -en: 1. <o. Pl.> das Ungehörigsein. 2. ungehörige Handlung,

Äußerung. (Dudenverlag, 1997, CD-Rom)

an|stän|dig <Adj.>: 1. a) sittlich einwandfrei; den geltenden Moralbegriffen entsprechend,

gut, korrekt: -es Betragen; er hat a. gehandelt; b) rücksichtsvoll, anerkennenswert: ein

114

“noun- (in sport) an unfair or invalid stroke or piece of play, especially one involving interference with an oppo- nent.” (In: http://oxforddictionaries.com/view/entry/m_en_gb0312390#m_en_gb0312390 [Consult. 18.12.2010]) "Foul, das; -s, -s (Sport): regelwidriges, unfaires, unsportliches Verhalten, Spiel: ein klares F.; ein F. [an jmdm.] mit einem Elfmeter bestrafen, ahnden." (Dudenverlag, 1997, Versão CD-Rom)

115

"without cheating or trying to achieve unjust advantage: no one could say he played fair" (In: http://oxforddictionaries.com/view/entry/m_en_gb0285240#m_en_gb0285240.044 [Consult. 18.12.2010]) "fair <Adj.> [engl. fair < aengl. fæger = schön, lieblich; vgl. asächs., ahd fagar = schön]: a) den Regeln des

Zusammenlebens entsprechend; anständig, gerecht in seinem Verhalten gegenüber anderen: ein -es Angebot

machen; das war nicht ganz f. von ihm; jmdn. f. behandeln; er hat sich mir gegenüber nicht f. benommen; b) (Sport)

151

Appell an den -en Kraftfahrer; das war a. von dir! 2. (ugs.) zufrieden stellend, durchaus genügend: -es (ordentliches) Aussehen; die Leistung war ganz a.; jmdn. a. bezahlen. 3. (ugs.) beträchtlich, ziemlich: eine -e Tracht Prügel bekommen; wir mussten a. draufzahlen.“ (Dudenverlag, 1997, Versão CD-Rom)

Conforme registado pelo DUDEN, não é possível traduzir o conceito de fair por uma única palavra verdadeiramente equivalente, recorrendo, assim, à paráfrase: den [Spiel]regeln entsprechend. Ora no discurso futebolístico, que se quer, de acordo com Koch, foneticamente apelativo, conciso e preciso, qualquer paráfrase estaria, à partida, condenada ao insucesso.

Partindo do postulado de que a língua é uma construção viva e dinâmica, também a linguagem futebolística tem vindo a evoluir, sendo que actualmente se assiste a um ressurgimento de anglicismos no mundo do futebol, sem oposição significativa por parte dos linguistas. Pelo contrário, a crescente globalização e proliferação dos media internacionais nesta era digital potencia o recurso à língua inglesa, como lingua franca, em praticamente todos os domínios da sociedade actual, como exemplificado abaixo:

“Wie wäre das Match gelaufen, wenn Frank Lampards korrektes Tor zum 2:2 anerkannt worden wäre?“ (In: www.kicker.de, 28.06.2010)

“Der ehemalige Nürnberger Profi Robert Vittek, mit zwei Toren gegen die Squadra Azzurra

Matchwinner, erklärte (...)“ (In: www.kicker.de, 27.06.2010)

“In neun Stadien wurde gekickt – so weit, so gut.“ (In: www.bild.de , 26.06.2006)

“Besonders schlimm bekommt Star-Keeper Gianluigi Buffon (32) sein Fett weg. Die Zeitung „La Repubblica“ lästert nach dem schwachen 1:1 gegen Paraguay.“ (In: www.bild.de, 15.06.2010)

“Der Goalgetter des FC Liverpool, der nach überstandener Meniskusoperation auf seinen ersten WM-Einsatz in der Startelf brennt, weiß (...)“ (In: www.kicker.de, 20.06.2010)

“Thomas Helmer war einer der letzten Kämpfer, die einen Titel holten. Beim Golden-Goal- Sieg über die Tschechen.“ (In: www.kicker.de, 29.06.2008)

Apesar de reconhecermos esta tendência como um fenómeno omnipresente na imprensa desportiva, o estudo dos anglicismos não constitui parte integrante da nossa análise, também pelo facto de que no Wörterbuch der Fussballsprache (2006a) Burkhardt sublinhar que os anglicismos, embora cada vez mais populares, só constituem um porcento da totalidade dos 2200 termos analisados116.

116

Schlobinski (2010) apresenta na sua edição do DUDEN – Keeper, Elf und Gurkenpass – uma listagem da actual “Fussballsprache” alemã. Segundo o mesmo, trata-se de uma compilação proveniente de quatro domínios:

1. a terminologia técnica – “Fachsprache” 2. o jargão do futebol – “Fussballjargon” 3. a linguagem dos adeptos – “Fansprache”

152 Finalmente, convém relembrar que o presente corpus não inclui imagens mescladas que compõem, em grande parte, a terminologia técnica117 devido ao facto de, apesar de amplamente construídas a partir domínio-fonte da guerra, terem assumido, a nosso ver, o estatuto de metáfora convencionalizada ou lexicalizada, e a sua motivação metafórica estar, consequentemente, desvanecida, tal como já foi referido anteriormente:

“Usuell gewordene Metaphern werden als neue Teilbedeutungen lexikalisiert, ”verblassen” dabei gewissermaßen und müssen dann natürlich nicht jedesmal im aktuellen Kontext neu entschlüsselt werden. (...) Zwar bleibt die Gewalt auf diese Weise im Ballsport semantisch präsent, doch sind die o.g. Metaphern inzwischen als normale Bezeichnungen von Spielsituationen und Spielhandlungen usueller Bestandteil der Sportsprache geworden und lassen so nicht ständig an ihre militärische Herkunft denken.“ (Burkhardt, 2008:75-76)

Para a construção e análise sistemática do nosso corpus aproximamo-nos dos passos sugeridos num estudo de Schmitt118 (2005:370ff) e outro por Andriessen e Gubbins (2006:11-13) sobre imagens metafóricas no âmbito do discurso empresarial (Defining social capital: A systematic analysis of metaphorical conceptualisations) mas cuja metodologia se adequa perfeitamente aos nossos propósitos:

1. Identificação do alvo da pesquisa (Identifying the Target Area for Metaphor Analysis – Schmitt (2005:369); Andriessen/Gubbins (2006:11));

2. Recolha e compilação de amostras (Unsystematic, Broad-Based Collection of Background Metaphors – Schmitt (2005:370), Sampling - Andriessen/Gubbins (2006:11));

3. Destaque e realce para as manifestações linguísticas das imagens mescladas (Highlighting all phrases related to the target área - Andriessen/Gubbins (2006:12));

4. Identificação das construções mescladas no texto (Identification of metaphors and deconstructive segmentation of the texts – Schmitt (2005:371), Identifying metaphors - Andriessen/Gubbins (2006:12));

4. a linguagem dos media – “Sprache der Fussballberichterstattung.” Também Burkhardt (2006a 2006b; 2008) procede a esta divisão: ”Mit Valk (1935: 567) verstehe ich unter Fußballsprache ”die Spezialausdrücke, deren sich alle Personen bedienen, die in irgendeiner Beziehung zum Fussballspiel stehen”, und darüber hinaus gemeinsprachliche Wörter, die im und um den Fußball spezielle Bedeutungen ausgebildet haben. Die Fußballsprache kann in Fußballfachsprache, Fußballjargon, Sprache der Fußballberichterstattung (Reportsprache) und Fansprache unterscheiden werden.“ (Burkhardt, 2008:73)

117

de acordo com uma listagem apresentada por Schlobinski (2010), seleccionamos as seguintes: Abwehr,

Abwehrspieler, Angriff, Attacke, Defensive, Feld, Feldspieler, Flanke, Flügel, Gegenangriff, Gegner, Kapitän, Niederlage, Schuss, Sieg, Sturm, Stürmer, Stürmerfoul, Sturmspitze, Taktik, (Tor)Schütze, Verteildiger, Verteildigung, Zweikampf.

118

153 5. Sintetização e agrupamento das conceptualizações metafóricas (Synthesis of collective metaphorical models – Schmitt (2005:372), Synthesising collective metaphorical concepts - Andriessen/Gubbins (2006:12)).

A fim de complementar a análise com uma abordagem quantitativa, decidimos incluir um sexto ponto, diferente das propostas de Schmitt (2005) e Andriessen/Gubbins (2006):

6. Conatbilização global (totalidade de domínios) e parcial (por cada domínio) das imagens mescladas identificadas (ponto 3.3.)

Sublinhamos ainda que todas as ocorrências metafóricas recolhidas foram estudadas e avaliadas de acordo com o processo de identificação de metáforas (MIP - preconizado pelo Pragglejaz Group (2007)) tal como descrito por Krennmayr : “(…) the search for metaphorically used words can be tackled from the bottom up (Pragglejaz Group, 2007) – without presuming a specific conceptual metaphor. Only at a later stage are conceptual metaphors derived from the linguistic expressions that have been identified. (…) Similarly, Cameron (2003) puts metaphor in use at the center of attention, emphasizing the importance of taking context into account.” (Krennmayr, 2011:25)