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Almeida, Órfão, Teixeira (2010), “Mündlichkeit in der Sportpresse”

3. Mapeamentos do domínio religioso em cenas do futebol

2.2.2. Almeida, Órfão, Teixeira (2010), “Mündlichkeit in der Sportpresse”

Neste estudo, as autoras propuseram-se aferir as marcas de oralidade em textos retirados da imprensa desportiva alemã e portuguesa e submeter os exemplos reunidos a uma análise qualitativa, à luz do modelo das redes mentais de Brandt (2004a) e Brandt/Brandt (2005a), e quantitativa, à luz da teoria dos actos de fala (Speech-act Theory) de Searle (1979, 1998).

Numa primeira análise, as autoras reconheceram a existência de um elevado número de marcas de oralidade na imprensa desportiva, e consideram que este fenómeno se deve, essencialmente, às características dinâmicas, próprias do desporto, que conduzem a que a

124 notícia desportiva seja “ständig mit mündlichen Äusserungen der Hauptakteure des Sports, nämlich der Trainer und der Spieler, verstrickt, so dass paradoxerweise geschriebene Nachrichten durch die Integration zahlreicher sprechsprachlicher Interaktionssituationen gekennzeichnet sind.” (Almeida/Órfão/ Teixeira, 2010:49), como também devido ao facto das novas tecnologias de informação multi-mediática terem alterado o conceito tradicional de notícia: “Zusätzlich muss man auf die multimedialen Formate der Sportnachrichten in den Neuen Medien hinweisen, denn die multimedialen Formate im Internet führen zu einer Neubestimmung der Funktion von Schrift und Bild (...).“ (op.cit.)

No que diz respeito à imprensa portuguesa, são frequentes as marcas de oralidade, devido ao facto das interacções verbais favorecerem a representação de situações próprias do mundo do futebol. É frequente a notícia ser construída e estruturada em forma de diálogo com o intuito de criar uma realidade virtual, mesmo que a situação real seja ou tenha sido, de facto, diferente. O primeiro exemplo em análise (op.cit. p. 51) foi retirado do jornal desportivo A Bola:

(4) Alex Ferguson esteve em Alvalade e deu a notícia Alô Manchester, Simão voltou! (A Bola, 3.11.2006)

Trata-se de uma encenação fictícia de uma chamada telefónica - activada pela expressão característica de um início de conversação por telefone, ‘alô’ - entre o treinador do Manchester United, Alex Fergusson e, provavelmente, a restante equipa e direcção do clube, com o propósito de transmitir a última notícia: o jogador Simão Sabrosa voltou, i.e. esteve lesionado, já está recuperado e fez um excelente jogo (voltou da lesão e voltou a ser um excelente jogador). Por isso, e nas vésperas do jogo entre o Benfica e o Manchester United, é preciso ter cuidado com este jogador. Neste sentido, sugere-se a seguinte rede conceptual:

Figura 19: “Diagramm 2” (Almeida/Órfão/Teixeira, 2010:51) (tradução própria) Cuidado com o Simão! Alô Manchester, Simão voltou! Frame de conversas telefónicas Boa exibição de Simão (opinião de Ferguson) Alô Manchester, Simão voltou! Texto

125 O próximo exemplo diz respeito ao jogo de despedida do jogador do Benfica, Rui Costa, no qual é activado o frame da despedida integrada no contexto de interacção directa (face-to-face interaction):

(2) Esta noite, na Luz, o maestro despede-se dos relvados Foi um prazer, Rui! (A Bola 25.5.2008)

Figura 20: “Diagramm 3” (Almeida/Órfão/Teixeira, 2010:52) (tradução própria)

O elogio a Rui Costa pela sua brilhante carreira futebolística (mescla 2) é fruto da construção “Foi um prazer, Rui” (mescla 1) que resulta do mapeamento entre o jogo de despedida de Rui Costa (espaço de referência) e a sequência de despedida “Foi um prazer, Rui” (espaço de apresentação), estabilizada pelo frame da despedida habitual num acto comunicativo “Foi um prazer” (espaço de relevância).

O último exemplo resulta do mapeamento entre o cenário da oferta de uma bebida tipicamente brasileira, uma caipirinha (espaço de apresentação) e o bom desempenho dos 23 jogadores brasileiros dos clubes de futebol do Sporting e do Marítimo (espaço de relevância). A mescla é estabilizada pelo espaço de referência que consubstancia a oferta de uma bebida como um gesto positivo. Daí que: “An dieser Szenerie des Anbietens eines Caipirinha (=Blend 1) lässt sich weiterhin ablesen, dass dieselben brasilianischen Spieler wahrscheinlich auch zukünftig in den Spielen in Portugal sehr gut spielen werden (= Blend 2)“ (op.cit)

Carreira excepcional, Rui! Foi um prazer, Rui! Frame da sequência de despedida Jogo de despedida de Rui Costa Foi um prazer, Rui! Texto

126 Figura 21 “Diagramm 4” (Almeida/Órfão/Teixeira, 2010:53) (tradução própria)

Relativamente aos exemplos retirados da imprensa desportiva alemã Sportbild online, aquando do campeonato europeu de 2008, foram analisados os actos de fala de acordo com o postulado teórico de Schmitz (2004):

“[...] Menschen [...] mit Symbolen (insbensondere mit Sprache) ja nicht nur Vorstellungswelten [schaffen], sondern auch „institutionelle Tatsachen“ (Searle 2001: 160), innerhalb deren sie sich dann intentional bewegen: das macht ihr gesellschaftliches Leben aus. Alle Möglichkeiten durch Sprechen zu handeln, die sich daraus ergeben (z.B. Gesetze verabschieden, Prognosen verkünden) kommen in den modernen Medien auch vor [...].“ (Schmitz, 2004:21)

As autoras defendem que as selecções nacionais são encaradas como instituições nacionais. Neste sentido, as declarações de treinadores e jogadores são encaradas como normas discursivas institucionalizadas. Parte-se, então, do pressuposto de que, neste quadro discursivo institucionalizado, os actos de fala assertivos traduzem a ideia de competência em termos técnicos e tácticos por parte dos intervenientes. Daí que, raramente se encontram actos de fala dominados por uma grande carga emocional. Mais ainda, não se pode menosprezar que os actos de fala não surgem isoladamente, mas sim integrados em sequências discursivas de actos de fala de tipologia variada.

De acordo com Searle (1979), as autoras destacam a seguinte classificação no que concerne os actos de fala: a assertiva, a directiva, a comissiva, a expressiva e a declarativa (Almeida/Órfão/Teixeira, 2010:55). Os três exemplos apresentados (declarações dos treinadores Joachim Löw e Luis Aragonês e do jogador alemão Thomas Hizlsperger) corroboram a tese das autoras:

Será que continuarão assim? Vai uma caipirinha? Frame da oferta de uma bebida Exibição dos jogadores brasileiros Vai uma caipirinha? Texto

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“Dementsprechend überrascht es nicht, dass beide Personengruppen sich vor und nach den Spielen am häufigsten assertiv äussern. Sie tun dies mit dem Ziel, Vertrauen in ihre jeweilige Taktik und Spieltechnik zu schaffen. Unserer Analyse gemäß werden emotionsfreie Behauptungen – im Gegensatz zu emotionsgeladenen Äusserungen, die als Expressiva betrachtet werden – als Assertiva klassifiziert (...)“ (op.cit. p.56).

Após análise quantitativa exaustiva, as autoras concluíram: “Durch die quantitive Analyse der Gesamtzahl von 452 Sprechakt-Vorkommen im Korpus wurde festgestellt, dass Assertiva 71% aller Sprechakte ausmachen. Expressiva beschränken sich hingegen auf 23% und Kommissiva auf kaum 5% aller Sprechakte.“ (op.cit.)

Em suma, as duas abordagens teóricas acima explanadas, aplicadas aos textos jornalísticos portugueses e alemães, respectivamente, conduziram aos seguintes resultados:

“Mit den Mitteln der kognitiven Semiotik konnten wir bezüglich unseres portugiesischen Korpus von Texten aus der Sportzeitung A Bola feststellen, dass mündliche Interaktionsituationen (Telefongespräche, Verabschiedungssequenzen und Sequenzen beim Getränkanbieten) beim Konzipieren von Fussaballnachrichten, d.h. bei der Gestaltung von Vorstellungswelten über Fussball, eine entscheidende Rolle spielen. Mittels der Theorie der Sprechakte von Searle (1979, 1995, 1998) wurden häufig vorkommende Sprechakte, wie sie während der Euro 2008 gegenüber der Zeitung Sport Bild online geäußert wurden, untersucht. Bei deren Analyse stellte sich heraus, dass die Sprechakte der Trainer und Spieler vornehmend konventionalisierte Äusserungen sind, wobei besonders bei den Trainern die assertiven Äusserungen eine führende Rolle spielen.“ (op.cit. p.57)

2.2.3. Almeida/Sousa (2010), Imagens mescladas nos jornais desportivos portugueses e